“Não sei porquê o mundo tem que interferir... seria melhor que as deixasse sorrir...”
Os dias que se sucederam foram curiosos e cheios de duvidas. Além de todos os beijos sedentos e surpreendentes de Hope e Josie. Era um dia antes do aniversário de Lydia Mikaelson, a família se reuniria no quartel para uma comemoração simples que era meio carregada de dor pelo primeiro ano sem Lizzie.
Mas não sabiam que eventos improváveis estavam prestes a acontecer.
Na sexta-feira pela tarde já estavam no quartel. As duas meninas saíram com a desculpa de passear pela cidade de Nova Orleans e levaram consigo o colar de Freya junto com as fotos do grimório de Esther. Estavam indo até o cemitério, Hope observava Josie com uma cara de convencida e se perguntava se iriam continuar naquele silêncio por muito mais tempo:
_Que bicho te mordeu em? – questionou a bruxa.
_Gosto de jazz... e das lojas... e dos fanfarrões que se dizem videntes... – comentou olhando ao redor.
_Faz sentido... já que o seu pai é o todo grande alto-declarado rei de Nova Orleans... – ela sorriu.
O coração de Hope pareceu cheio de ar, depois que começaram com aquele lance delas Josie vinha sendo mais leve e muito menos bêbada, mas isso era tão preocupante... o que aconteceria no dia seguinte? Pois Hope já não estaria mais li.
No fundo ela se sentia terrível por estar incentivando aquelas investidas, mas a verdade é que não podia controlar. Tinha noção do caos que deixaria na terra... era terrível... porém... só pensava que nunca mais teria aquilo e que talvez devesse amar pra valer já que era o que lhe restou:
_Quando estamos apaixonados parecemos turistas... – comentou numa onda de coragem que era perigosa, mas bastante satisfatória.
_O quê? – Josie franziu as sobrancelhas e não porque não havia entendido, mas porque não acreditou no que ouviu.
_Sabe... estamos em Nova Orleans... um dos lugares mais românticos do mundo... – ela não conseguiu não sorrir – Parecemos turistas...
Josie abriu a boca e não encontrou o que dizer, simplesmente de aproximou, encarou-a com desconfiança e segurou seu ombro:
_Você está bem? – questionou irônicamente.
_Na medida do possível – esclareceu entre um suspiro carregado.
Hope se aproximou até que seus rostos ficassem próximos como de costume, como passou a ser um costume. Houve um beijo rápido, mas que demonstrou tudo que havia em seus corações, quando se separaram elas até sorriram... com a oportunidade de ter Lizzie de volta elas reaprenderam a sorrir:
_Acho que somos turistas – Josie riu.
_Eu devia ter feito isso há muito, muito tempo... – comentou acariciando seu rosto, era verdade, elas estavam sendo felizes demais nos últimos tempos, pena que logo o destino teria que acabar com a alegria.
_Mas teremos uma eternidade pra viver agora... ou pelo menos até que alguma coisa dê errado, mas... temos tempo! – ela sorriu esperançosa.
_Claro... – Hope mentiu, seu coração despedaçou e então encarou novamente a cidade – Vamos pro cemitério...
_Você quer tirar o caixão agora? – Josie questionou, o vento era cortante e o sol já ameaçava se recolher.
_Não tem caixão nenhum Josie... pedi pra um dos meus contatos passar aqui já tem um mês... – informou a híbrida, apenas observando a lápide – Não acredito que você achou que eu iria queimar o corpo da Lizzie...
_Onde estão as cinzas? – questionou Josie, achando tudo muito mais perturbador do que havia se preparado.
_Na igreja... no antigo quarto da Davina, escondido debaixo de uns quadros que meu pai deixa por lá... amanhã é para onde iremos de qualquer modo... – explicou ainda vislumbrando o lugar.
_Como diabos você fez tudo isso debaixo do olhar atento do seu pai? – Josie se assustou com tamanho planejamento.
_Feitiços de ilusão, de proteção e outras mil coisas que minha avó criou... ela era sádica, mas não consigo não achar que era um gênio... usei tudo Josie... tudo que eu podia e ninguém desconfiou de nada... – Hope sorriu brevemente, um vislumbre de empolgação.
“Ela pensou em tudo” concluiu Josie que estava depositando muito de sua confiança na híbrida. Ainda refletiu sobre a pressão extrema na qual Hope vinha agindo, mesmo assim foi cuidadosa, quase perfeita:
_Então... – ela se acolheu em seu casaco, tamanho era o frio que estava fazendo – O que estamos fazendo aqui?
_Bem... – Hope tirou do bolso um pingente esverdeado e o colocou em volta do pescoço de Josie – As cinzas de Lizzie estão na igreja, mas sua alma permanece no lugar onde ela foi sepultada... vou colocá-la no colar da tia Freya porque já foi enfeitiçado antes e será tão mais fácil que não consigo nem te explicar...
_Ok... então... do que precisa? – questionou.
_Apenas... – Hope aproximou-se em passou lentos e tocou a lápide com as duas mãos – Fique parada! – concluiu antes de fechar os olhos – Yovara vimuna virael... Yovara vimuna virael...
Hope repetiu o feitiço, inúmeras vezes, quando um empuxo tomou o corpo de Josie, ela cambaleou um pouco, mas não caiu... havia dado certo. A híbrida correu em seu amparo, por mais que não fosse necessário, era mais uma maneira de mostrar que se importava:
_Acho que deu certo – ela brincou encarando o colar como se fosse algo de grande estima – Quer dizer que a Lizzie está aqui?
Hope assentiu num sorriso e Josie sorriu também, pressionando o pingente contra seu coração... ela sabia que sua outra metade, sua irmã gêmea, estava ali... isso quando acreditou que nunca mais poderia contar com a presença dela... era mais do que podia sonhar:
_Ouça Josie... – Hope depositou sua mão sobre o puxo fechado no peito da bruxa – Me perdoe por isso... – antecedeu seu pedido quando todas as emoções se esvaíram.
_Hum?
Josie ficou mais confusa do que você provavelmente está agora, foi quando Hope a encarou num milésimo de segundo e sussurrou algo no que parecia ser latim... então a menina Saltzman adormeceu nos braços de seu grande amor que a acomodou no chão com um pouco de remorso:
_Você não vai lembrar de nada mesmo... – se desculpou outra vez acariciando os cabelos da menina magicamente desmaiada, depois segurou o pingente ainda no pescoço dela entre as mãos – Treta che che che mal nunc que frater septime dominae.
Hope não se lembrou mais de seus atos, sentiu-se leve e entorpecida. O físico desapareceu e a alma escorregou, gradativa, para fora dos muros que a cercava. Quando conseguiu enxergar novamente tudo ficou muito mais frio, calado... ela percebeu que seu corpo havia caído ao lado do corpo de Josie... dera certo... tinha que ter dado:
_Que merda Hope! – uma voz conhecida falou nas suas costas, Hope sorriu fechando os olhos naquele plano astral... a voz que ela tanto quis ouvir outra vez.
Ela virou-se e a viu... Lizzie! A alma sentada sobre um dos túmulos... seu túmulo... mesmo depois de morta continuava a mesma... carrancuda, expressiva... Lizzie! Hope a encarou por tantos e tantos minutos que mil anos poderiam facilmente ter se passado... por que ela não tinha feito aquilo antes? Podia ter visto sua irmã há meses, mas estava tão abalada que só lembrou-se do feitiço porque talvez fosse a última oportunidade de vê-la... que se dane!v Ela estava ali agora:
_... – ela tentou falar, mas a magia era tão perfeita que ficou muda com a presença de sua irmã.
_Veio bancar a Salvadora – Lizzie concluiu revirando os olhos com aquele seu egocentrismo – Claro... típico de você!
_Cala a boca... – o plano astral de Hope riu com a voz embargada e os olhos vidrosos – Eu queria poder te abraçar... ou te socar... não sei ainda...
Algo na postura de Lizzie mudou, ela não podia se aproximar muito, sabia que quebraria o plano que as mantinha ali, deu só alguns passos na direção de Hope e ficou parada no mais próximo que podia chegar sem interromper o momento:
_Te deixei com o monte de merda pra trás não é? – a encarou com culpa no olhar – Desculpa Hope... foi imprudente, mas... foi o que eu pude fazer...
_Não tem que se desculpar... vai ficar tudo bem... – Hope sorriu – Além do mais... Lydia é linda... vai amar conhecê-la e ela será grata pra sempre pelo que fez por ela...
_Isso se não deixar que a ingratidão geneticamente Mikaelson corrompa com ela... – brincou, sorriu e então ficou séria novamente – Hope... não faça nada precipitado ok?... Eu não devia ter insistido pra que me matasse... eu não devia ter feito muita coisa... morrer é esquisito, mas já estou acostumada...
_Encontrou a paz? – ela teve que questionar.
_Não... – admitiu Lizzie olhando para baixo – Mas já estou adaptada... a gente... abstraí... só... não faça nada precipitado...
Hope pensou que Lizzie havia morrido por Lydia, e se mesmo assim não achou redenção... então é porque nunca iria encontrar a sua:
_Você não tem que se preocupar ok?... sentimos sua falta – afirmou a híbrida – Logo mais estará com a nossa família... você vai ver! Tudo vai ser bom outra vez...
_Ok... – Lizzie a encarou meio desconfiada – Como vai fazer isso?
_Tive um ano pra me preparar Lizzie! Vai dar certo – não quis dar nenhum detalhe.
_Um ano... – repetiu num suspiro, quase sem acreditar – Parece que já fazem mil...
Aquilo aumentou demais a aflição de Hope... morrer devia ser horrível... ela estava quase em pânico e decidiu encerrar antes que Lizzie percebesse:
_Amanhã eu volto... você vai poder ver a Josie – sorriu – Eu tenho que ir... pra descansar...
_Bom... já que não adiantaria mesmo tentar te convencer... – ela se deu por vencida – Não tenho noção nenhuma de tempo no inferno que me meti, mas... vou estar aguardando ansiosamente por amanhã...
Hope concordou com um sorriso frágil, deu um passo para frente, mas então se afastou:
_Como é? – questionou, mas teve que explicar ao ver que Lizzie não entendeu – A morte?
_É melhor você não saber... – ela retribuiu o sorriso sem humor.
Hope concordou e andou na direção de sua irmã antes que se afligisse demais. O empuxo percorreu seu corpo outra vez, tudo o plano astral se desfez e o frio de Nova Orleans lhe pareceu bem mais suportável quando abriu os olhos dentro de sue próprio corpo. Refletiu brevemente sobre o que foi dito, sua mão ainda segurava o pingente, despediu-se mentalmente de Lizzie com o pouco de paz que tinha agora por tê-la visto uma última vez:
_O que houve? – Josie questionou recobrando a consciência.
_Ah você... acho que sua pressão caiu com o feitiço e está tão frio – Hope levantou-se e ofereceu a mão para ela – Vem... vamos pra casa...
_Amanhã... – Josie sorriu sonhadora e suspirou longamente.
_É... – Hope acariciou seus cabelos – Amanhã... – e depositou um selinho rápido em seus lábio gelados.
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