Chegaram ao quartel, se dispersaram por todo o espaço e organizar o aniversário de Lydia depois de uma madrugada inteira perdida em intensas emoções. A maior parte deles nem sentia sono, exceto Freya que se juntou à mulher e as crianças para um cochilo rápido.
Ainda havia muito que conversar, mas Davina e Kol concordavam que a filha deles merecia um pouco de felicidade agora que sua chegada ao mundo não simbolizava dor alguma. Era uma comemoração simples, com eu enorme significado. Morte, ressurreição e nascimento vinculados à mesma data.
Lizzie não conseguia fechar os olhos sem sentir que estava em outra dimensão, então ficou ali na sala de estar... sozinha... acostumando-se novamente com a vida dentro de si. Hope devia estar em seu antigo quarto, bebendo sangue humano e tentando ser a criatura que nasceu para ser... só de pensar em perdê-la já se sentia sufocar, mas tratou de não pensar nisso ou com certeza quebraria em lágrimas:
_Alguém deve ter sentido a sua presença – alguém disse nos pés da escada do complexo.
Era Davina que via em sua direção, mas Lizzie não teve olhos para ela inicialmente. A menina de um ano em seus braços, usando um vestido amarrotado e com cara de sono foi quem a fez desistir do plano de não chorar:
_Ai meu Deus... – exclamou e só então sorriu, tocando-lhe a mãozinha rechonchuda.
_Essa é a Lydia... é sua afiliada... se você aceitar é claro... – sorriu a bruxa.
Em silêncio ela estendeu os braços na sua direção, querendo segurá-la pela primeira vez. Teve um medo absurdo de ser rejeitada, mas não aconteceu. Lydia simplesmente aconchegou-se em seu colo:
_Não teria como negar... – sorriu exausta ao finalmente ver o rosto perfeito da afiliada.
_Você devia descansar...
_Já descansei por um ano! Me deixe ficar com ela um pouco... – insistiu sem desviar os olhos da menina – Afinal nós estamos conectadas... não é Lydia?... – sorriu... já tinha se esquecido de como era sorrir.
_Claro... – Davina concordou.
Enquanto isso, no andar de cima. Hope encarava uma bolsa de sangue entre suas mãos, tudo a incomodava, os sons, as roupas em contato com a pele... ser vampira era um pesadelo, mas agora já não lhe restava nenhuma escolha:
_Hope?... – sua nova audição captou a voz de Josie, e ali estava ela, parada na porta de seu quarto – Ouça... sei que temos de certa forma lutado contra nossos sentimentos, mas hoje achei que você estava morta e quase morri também... eu te amo e estou perdidamente apaixonada por você... não quero ter que lutar contra isso Hope... eu simplesmente não quero!
Hope olhou-a com compaixão, na hoje Josie sacou que não iria ter nada dela. Agora os últimos meses pareciam um sonho distante para a híbrida, tudo havia mudado no momento da sua morte:
_Não pense que não partilho dos seus sentimentos... – ela já iniciou se desculpando – Mas agora eu sou vampiro... um ano atrás tive que matar a sua irmã... hoje tive que morrer e... preciso de tempo... pra me adaptar... pra tomar uma decisão...
_Claro... – Josie não conseguiu disfarçar sua dor na fala, mas sorriu com tudo que podia – Eu compreendo... só... não esqueça disso ok?
_Não irei – ela garantiu – E não esqueça que você foi a primeira garota com quem eu dancei...
_Sempre... – foi a vez da bruxa de garantir.
Vendo que ficar ali seria pior, ela se foi, deixando a recém transformada sozinha novamente. Hope ainda encarava a bolsa de sangue quando sua audição apurada captou passos, alguém entrou no quarto... era Elijah Mikaelson com um de seus ternos pomposos:
_Bebe logo isso menina! – ele ordenou com um semblante muito sério, compreensível para alguém que acabara de passar pelo que ele passou.
_Tio Elijah... – ela cumprimentou num aceno de cabeça e mordeu a bolsa, entornando todo o líquido.
A dor no corpo sumiu, a sede e a fome também. Agora Hope só teria que encarar o pior de tudo... seu tio.
Elijah colocou as mãos no bolso da calça e fechou a porta antes de se aproximar de sua sobrinha que sequer levantara da cama. Ela não tinha medo, só estava sem paciência de ouvir sermão depois de ter sofrido tanto por tanto tempo... para ela tudo que fizera fora certo:
_Como está se sentindo? – questionou calmamente.
_Melhor, na verdade – respondeu olhando-o fixamente, um pouco acuada com a sua presença – Quase acostumada com todo esse... novo universo verdadeiramente tri-híbrido!
_Não sente dor?
_Nenhuma! – garantiu a garota.
_Isso é bom... – ele concordou – No que estava pensando? Por que diabos você achou que se sacrificar era uma boa idéia Hope?
Hope arregalou os olhos. É claro... sua mãe e seu pai estavam muito aliviados pra ter aquela conversa. Então era quase óbvio que o nobre Elijah iria se dispor ao papel:
_Sinto muito... – ela teve que engolir todo o ego para se desculpar – Isso não muda nada agora... Lizzie está aqui e eu também... surpreendentemente eu estou aqui!
_Surpreendentemente? – ele repetiu sarcasticamente – É isso que vai me dizer? É tudo que tem pra dizer? Você sabia que podia morrer... não! Melhor... você tinha certeza! E ainda foi! Como uma pirralha arrogante... sem considerar os sentimentos de ninguém!
_Não podem fingir que não tinham se abalado com a morte da Lizzie... eu estava desesperadamente infeliz! – ela argumentou – Sim! Foi ruim... e foi burrice... foi inconseqüente e eu sinto muito tio Elijah! Mas não posso dizer que me arrependo!
_Você morreu! – Elijah quase se ouvir rosnar, continuou a encará-la seriamente – Tem noção do que fez? Seus pais... não consigo descrever o estado dos seus pais quando te viram na igreja... tem noção do dano que causaria? Considerou os sentimentos deles?
_Mas estou aqui! Sou imortal! Viva! – respondeu com um pouco mais de atrevimento – E dado as circunstancias... eu só posso achar que você está exagerando!
_Como é que é? – o olhar do vampiro se tornou mais duro naquele instante – Eu estou exagerando?
_Talvez só devesse considerar que...
_Fecha essa boca agora mesmo! – exigiu apontando para sua sobrinha – Eu entendo que sentiu muito pela morte da Lizzie, todos nós sentimos, mas nós não fomos imprudentes!
_FUI EU QUE A MATEI! – Hope gritou quando viu que o tio nem se esforçava em entendê-la – Não podia esperar que eu ficasse parada sem ter nenhuma atitude... eu tive que fazer TUDO sozinha! Eu sou a merda de uma tri-híbrida porque você insistiu que meu pai me deixasse nascer... então agora você pode me deixar consertar as burradas da minha vida sem surtar?
A paciência de Elijah esgotou-se rapidamente. Caminhou até Hope e levou a mão até sua orelha, apertando enquanto a puxava. Usou toda sua força, ciente de quase nada podia feri-la dado a criatura que se tornara:
_Não vou admitir essa atitude deplorável sendo que tem consciência do que fez!
_T-tio Elijah... – ela murmurou em choque. Tinha acabado de se tornar a criatura mais poderosa de todos os tempos e ainda assim seu tio a tratava como uma menininha – Isso está doente tio! – queixou-se.
_É pra doer! Você acha isso uma brincadeira? Acha que morrer é brincadeira? – questionou ao soltá-la novamente sobre a cama. Uma das mãos dela acariciou a orelha e encarou-o um pouco mais assustada que no início – Que nunca mais se repita o que ocorreu hoje.
_Obviamente! – ela fitou-o debochada, havia algo em Elijah que a fazia agir como uma criança por mais que já tivesse dezessete anos intensamente vividos – Como se eu pudesse completar a transição de híbrida toda semana... – debochou.
_Hope você está... – ele começava a ficar realmente irritado, felizmente alguém abriu a porta, impedindo que aquele diálogo desastroso prosseguisse por muito mais tempo.
_Irmão... não é hora pra ter essa conversa! – disse Klaus que acabara de entrar.
Elijah até quis refutar, mas realmente estava nervoso e seria um desastre se continuasse dali, então apenas se retirou com um aceno de cabeça. Klaus viu-se sozinho com sua filha que exalava uma bela imortalidade, sorriu-lhe:
_Ele é temperamental... – comentou, buscando sinais de agrado em seu pai.
_Está mais para um tremendo idiota... – debochou com o seu típico sorriso sínico enquanto tinha as mãos para trás – Mas é... acho que podemos pensar assim!
_Não está bravo? – perguntou ela, engolindo algo que prendera na garganta.
_Estou... muito bravo! Mas ainda teremos tempo pra falar sobre isso... – ele concluiu gentilmente, vendo-a ficar nervosa – Não fique assim, assustada... sou mais benevolente que o seu tio!
_Até parece! – ela riu tirando os pés na cama, seus sentidos apurados estavam atormentando-a.
_Como está se sentindo? – quis saber, quase sem conter a ansiedade por uma resposta.
_Tudo mudou... – confessou a híbrida – Tudo que eu achava que sentia, tudo que eu tinha certeza que eu era... parece que a minha cabeça vai explodir, mas... não acho que vou demorar pra acostumar com tudo isso!
_As primeiras horas são as mais difíceis... – concordou ele, sentando-se ao lado da filha na cama – Não foi fácil pra mim...
_Você ainda se lembra? – caçoou com um sorrisinho malandro.
_Está me chamando de velho, Hope Mikaelson? – ele arqueou as sobrancelhas, sarcasticamente.
_Os seus mil anos comprovam minhas provocações... – ela riu e então deitou-se sobre o seu ombro – Tudo está acabado agora não é pai?
_Sim minha lobinha... – ele concordou – Tudo está acabado...
Em outro quarto do complexo, Lizzie Saltzman tinha os olhos atentos no sono da afiliada. Tudo parecia um sonho e ela se sentia muito mais do que feliz. Foi quando Josie apareceu deitando-se ao seu lado... algo que fizera muitas vezes antes da sua morte... foi quente, acolhedor... a fez ver que estava em casa:
_Talvez não seja pra mim... – disse a morena – Esse lance de amor...
_Você só tem dezesseis anos irmã... – riu Lizzie, então refletiu sobre algo – Como está o Rafa?
_Perdidamente apaixonado por você! – contou Josie – Tem que falar com ele...
_Eu irei... – garantiu olhando para o teto escuro – Quando tudo estiver mais calmo...
_Quando tudo estiver mais calmo... – Josie repetiu reflexivamente.
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