O dia está quente. Não o tipo de dia quente em que você se diverte indo em um lago e nadando com amigos, mas sim o tipo de dia quente que você sente que quer morrer, porque o inferno é mais fresco do que o local em que você está. E nesses dias tudo que quero é ficar quieta na minha casa, torcendo para não morrer desidratada se eu cochilar, mas a morena deitada na minha cama não irá deixar isso acontecer, é claro.
Visto meu biquíni preto e em seguida um short jeans claro e uma camisa branca quase transparente. Assim que saio do quarto Lizzie pula da cama animada. Como ela consegue ser uma pessoa animada em todas as situações possíveis? Pego meu celular e coloco na bolsa de Lizzie antes de saírmos de casa.
Lizzie passa o caminho todo mexendo no ar condicionado do carro para tentar colocá-lo com mais intensidade, mas não consegue. Estaciono na sorveteria de frente para praia e descemos sentindo o calor de Los Angeles nos derreter. Me sento com Lizzie em uma das mesas e peço um milk-shake de chocolate e ela um iogurte gelado, que chegam pouco tempo depois.
— Então... — Lizzie começa. — Você e o Johnson. — ela diz com um sorriso no rosto.
— O que tem a gente? — me faço de desentendida e bebo meu milk-shake.
— Você tá brincando? — ela quase grita. — Vocês dois quase se engoliram.
— Você e o Noah também.
— Já que você entrou nesse assunto. — Lizzie enfia uma grande colherada de iorgurte na boca. — Você está bem com isso?
— E por que eu não estaria?
— Você pareceu meio distante da gente esses dias.
— É culpa do Nash. — digo bufando. — Tive que pintar o quarto dele.
— Isso já é demais.
— Eu também acho. — reviro os olhos. — Lizzie, eu estou bem com o fato de vocês dois estarem namorando ou seja lá o que vocês estejam fazendo.
— Nós não estamos. — ela diz. — Bem... A primeira e única vez que isso aconteceu foi naquele jogo, não significou nada pra ele.
— E pra você?
— Eu estaria mentindo se dissesse que não.
— O Noah é bem complicado quando se trata de namoradas, mas é só ter paciência com ele e tudo se resolve. — digo e ela me dá um sorriso doce. — Você é gostosa pra caralho, talvez ele esteja com medo de você trocar ele por algum jogador.
— Ele também é gostoso pra caralho. — ela diz e eu rio balançando a cabeça em concordância. — Vem, vamos pra praia. — ela diz já se levantando.
— Claro, mas antes vou comprar um sorvete.
— Você não enche nunca, Brooke? — ela pergunta e eu dou uma risada baixa.
Depois de comprar meu sorvete atravesso a rua e sou obrigada a tirar minha sandália antes de começar a caminhar na praia, para não encher meu sapato de areia. Caminhamos na beira do mar e consigo relaxar um pouco ao sentir a água morna nos meus pés, mas o que eu quero mesmo é tirar minha roupa e dar um mergulho nessa água para não sentir que estou derretendo completamente.
Um pouco a frente consigo ver algumas pessoas jogando vôlei, ou pelo menos tentando, já que tem poucas pessoas nos times. Conforme nos aproximamos consigo ver que são Matt, Johnson, Gilinsky e Nash, todos sem camisa. Lizzie e eu paramos de andar para ter uma visão melhor de todos os tanquinhos. E que visão. Está mais calor ou é impressão minha?
Paro de encarar quando sinto meu sorvete derretendo e caindo na areia da praia, Lizzie também parece acordar do transe. Parece até que não vemos homens sem camisa o tempo todo quando vamos na praia. Talvez não com esses tanquinhos.
— Uau. — Lizzie diz. — Quer dizer, deveríamos ir cumprimentar ou...?
— Deveríamos ir embora antes que...
— Brooke, Lizzie! — ouço a voz de Matt e me viro o encarando.
— Não deu. — Lizzie diz segurando meu pulso e me puxando.
Como minha casquinha enquanto caminhamos em direção aos meninos e quando chegamos a visão fica ainda melhor. Perto deles, além de muita bagunça, há algumas pranchas de surf e imagino se talvez eles vão surfar mais tarde ou se isso é de alguma outra pessoa.
— Precisamos de pessoas pro jogo, eles são péssimos. — Matt diz.
— Eu sou ruim também. — digo dando de ombros.
— Não é, não. Eu já te vi jogando. — Nash diz e todos nós encaramos ele.
— Da última vez eu fui parar na enfermaria.
— Mas estava indo bem até tomar uma bolada.
— Tá bom, chega vocês dois. — Lizzie diz segurando a risada e eu não sei por quê. — Nós vamos jogar.
— Vamos? — pergunto e ela balança a cabeça tirando a camiseta.
Lizzie entra no time de Matt e Gilinsky e então fica me encarando para que eu também entre no jogo. Bufo e tiro minha camiseta e caminho enquanto amarro o cabelo até o time de Nash e Johnson e então começamos a jogar. Mesmo que contra minha vontade.
Depois de quase uma hora jogando vôlei e sentindo o sol me fritar me sento na areia perto das pranchas para descansar enquanto os outros continuam jogando. Pego uma garrafinha com água dentro de uma bolsa térmica e bebo quase toda, então finalmente os outros se juntam a mim na areia da praia.
— Tá tomando baba do Nash. — Lizzie diz se sentando ao meu lado toda suada e eu franzo o cenho sem entender. Só então leio o nome na garrafinha e faço uma careta enquanto Lizzie ri. Jogo a garrafinha dentro da bolsa térmica e Nash a pega depois de um tempo.
— Saí de casa pra fugir do calor e vocês me obrigam a jogar embaixo desse sol quente. — resmungo.
— Mas foi divertido. — Lizzie sorri.
— De quem são essas pranchas? — pergunto a Johnson.
— Do Nash.
— Ah.
— Quer surfar, Brooke? — Nash pergunta e eu o encaro por alguns segundos pensando na resposta. — É só pedir. — ele dá um sorriso debochado.
— Prefiro surfar em uma madeira pobre do que pedir alguma coisa pra você. — digo e ele revira os olhos.
— A Brooke não vai pedir, mas eu vou. — Lizzie diz animada com a ideia de surfar. — E alguém pra me ensinar, por favor.
— Eu. — Matt e Gilinsky diz ao mesmo tempo e eu me seguro para não rir da situação.
— Eu vou com vocês. — Johnson diz pegando uma das pranchas e Lizzie pega a outra, mas na metade do caminho entrega para Matt.
— Não vai mesmo pedir?
— Eu já tinha esquecido que você está aqui, Nash. — digo de olhos fechados, inclinada para trás sentindo o sol me fritar um pouco mais.
— Você não se cansa de me odiar? — ele pergunta e eu abro os olhos.
— Não, nem um pouco. E você?
— Eu nunca disse que te odiava, B.
— Suas atitudes não condizem com suas palavras. — digo. — Eu diria que você me odeia apenas pelo fato de me obrigar a fazer favores para você a troco de não contar algo que vai ferrar o meu melhor amigo. Imagina se você me odiasse? — dou uma risada e me levando pegando minha blusa. — Avisa a Lizzie que eu vou esperar ela no carro. — digo caminhando na direção oposta.
— Brooke, você pode usar minha prancha.
— Não, obrigada. — digo me virando para encará-lo, ele já está segurando a prancha.
— Eu sei que tem umas ondas bem grandes hoje, mas não achei que você iria ficar com medo.
— Você... Você está brincando? — pergunto me aproximando e puxando a prancha dele. — Eu não tenho medo, idiota.
Caminho até a beira do mar e deixo a prancha no chão para conseguir tirar meu short e jogo ele tentando o deixar o mais perto possível de onde estavamos, claro que não consigo. Quando estou prestes a entrar na água coloco o leash¹ para não perder a prancha caso uma onde me atinja e eu não consiga ficar de pé. Quando entro sinto a água me relaxar, afinal está um calor absurdo. Nado até onde as ondas estão em uma boa altura e só então percebo que Nash está bem do meu lado.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto o encarando na água.
— Só tendo certeza que você não vai morrer.
— Eu já disse que eu sei surfar, Nash. — digo bufando. — Eu não sei se você se lembra, mas eu sou irmã do Cameron.
Ele não me dá ouvido e tenta subir na prancha, o que faz com que eu desequilibre e caia na água. Idiota. Volto a superfície e encaro Nash pensando em xingá-lo, mas vejo algo que chama mais a minha atenção. Atrás de Nash está vindo uma onda, mas não é o tipo de onda que eu pegaria para surfar, afinal eu não estou afim de morrer com 16 anos.
Não tenho tempo de falar nada, apenas puxo o ar e afundo Nash na água antes de me afundar também. Por um instante ele fica apavorado, o que é normal nessa situação, já que ele nem prendeu a respiração antes de eu enfiá-lo embaixo d’água, então ele tenta subir de volta, mas eu não deixo o puxando de volta. Então ele segura meus braços, provavelmente imaginando que eu quero mata-lo, mas em seguida parece entender o que está acontecendo.
Por um momento, tudo que consigo fazer é olhar para os olhos de Nash, que se misturam com o azul do mar e de alguma maneira estranha, o faz ficar ainda mais azuis. Os breves segundos que se passaram parecem minutos, nem percebi quando Nash tirou suas mãos de meus braços e depositou em minha cintura e quando a falta de ar lhe faltou ele volta para a superfície me puxando junto.
— Você está bem? — ele pergunta ofegante e eu só consigo balançar a cabeça positivamente enquanto tento assimilar o que acabou de acontecer.
Para minha sorte a prancha não me arrastou até a praia, mas para meu azar o leash arrebentou e agora a prancha está na praia e provavelmente não está inteira. Lizzie, Gilinsky e Matt continuam tentando surfar na beira da praia e Johnson está um pouco mais atrás de nós, se arriscando em ondas maiores.
Nash apenas solta minha cintura quando me moço para nadar até a praia e ele vem logo atrás. Assim que chegamos na praia verifico o estado da prancha de Nash que provavelmente bateu em alguma rocha no caminho e agora está quebrada. Que ótimo, Brooke, você foi dar uma de sabe tudo e quebrou a prancha dele, que lindo.
— Desculpa por isso. — digo ao vê-lo pegar os restos da prancha. — Apesar de não gostar de você, não foi intencional.
— Tudo bem. — ele diz e dá um leve sorriso. — Foi melhor ter soltado ou provavelmente você estaria indo pro hospital agora.
— Brooke! — ouço a voz de Lizzie e a vejo balançando os braços a alguns metros de nós e essa é minha deixa. Volto correndo para perto dos outros e Nash vem mais devagar, tento imaginar se ele está ou não chateado por eu ter quebrado sua prancha, mas algo me diz que não é isso que está acontecendo.
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