Uma semana depois.
Eram duas da manhã, eu já não sabia mais o que fazer. Alycia não parava de chorar, eu já havia trocado a fralda, dado comida, feito massagem abdominal e até mesmo dado chá, mas nada fazia com que ela parasse de resmungar e chorar. Eu sabia que mesmo Keana não sendo totalmente presente, Aly sentia sua falta, por bem ou por mal ela era a outra mãe.
Eu já estava desesperada quando agasalhei minha filha e a coloquei no suporte canguru. Era minha última carta na manga. Aly amava passear de carro ou simplesmente estar em movimento. Entrei no carro ainda com minha filha chorando e então comecei a dirigir, seus olhinhos verdes se prenderam na janela. Alycia estava no suporte de canguru, seu rosto contra meu peito enquanto seus olhinhos se prendiam na vida fora da janela do carro, estava quietinha, o choro havia sessado e meu corpo foi distensionando conforme minha filha foi se acalmando. Sua mão apertava minha camisa com força e isso demonstrava que ela ainda estava acordada.
Eu suspirei aliviada assim que parei no sinal e vi que Aly dormia tranquilamente. Depois de horas chorando ela deveria estar mais que cansada. Ao olhar no relógio do computador de bordo do carro já se passavam das três da manhã. Olhei pela janela e uma cafeteria com letreiros brilhantes indicava que estava aberta, eu necessitava de um bom chá.
Estacionei o carro a poucos metros do estabelecimento e desci com cuidado para não acordar minha filha que ainda dormia no suporte em meu peito. Entrei na cafeteria e agradeci aos seus por nenhuma música barulhenta tocar ali. Sentei em uma mesa e não tardou a uma mocinha com um belo sorriso vir me atender. Pedi um chá e alguns biscoitos eu precisava relaxar e tinha certeza que isso me ajudaria. Logo meu pedido estava a minha frente, agradeci a garota que se retirou com um sorriso gentil. Rasguei dois sachês de açúcar os derramando dentro do líquido quente, misturei um pouco de leite e então levei a xícara aos meus lábios. Fechando os olhos ao sentir todo aquele sabor e a quentura do liquido passando por minha garganta fez também meu peito esquentar.
– Com licença. – Ouvi alguém falar baixinho e então encontrei uma mulher ao meu lado.
– Sim? – A respondi com o cenho franzido.
– Poderia me dar alguns sachês de adoçante? Meu café está meio amargo e os da minha mesa acabaram. – Sua voz era melodiosa e poderia ser até o sono tomando conta de mim, mas eu meio que me perdi em seus traços latinos. Eram belas linhas em seu rosto. Na verdade, era um belo rosto.
– Claro, pode pegar. – Entreguei três pacotinhos em suas mãos.
– Obrigada. – Ela deu as costas para voltar a sua mesa, mas então deu meia volta e me encarou curiosa. – Me perdoe por ser tão metida, o que te faz estar em uma cafeteria as três da manhã com uma bebezinha? – Eu apenas suspirei diante da curiosidade daquela latina um tanto enxerida. – Me desculpe eu não deveria ser tão curiosa. – Falou rapidamente, mas sem deixar o tom ameno.
– É que ela não parava de chorar e eu já tinha tentado quase tudo. – Falei colocando a xícara de chá a minha frente. – Alycia gosta de andar de carro e estar em movimento, então eu estou a alguns minutos rodando com ela pelo bairro.
– Parece que deu certo. – Falou encarando a garotinha que dormia tranquilamente alheia a qualquer coisa do mundo.
– Sim, graças a Deus. – Falei vendo a mulher fitar Alycia com tamanha adoração. – E você? – As palavras saíram da minha boca antes mesmo que eu pudesse raciocinar, a garota tirou os olhos da minha filha e os trouxe para mim.
– Eu estou trabalhando. – Apontou para a mesa ao canto onde havia alguns livros, seu notebook e uma grande tigela de café. – A insônia é minha parceira, então às vezes eu viro noites em lugares como esse terminando algumas matérias ou simplesmente escrevendo.
– Jornalista ou escritora? – Me vi interessada. Alycia se mexeu o que me fez ficar alerta, mas ela não acordou. A latina a minha frente olhou para a minha filha e então voltou a olhar para mim.
– Jornalista e escritora, na verdade uma aspirante. – Riu baixinho.
– É uma bela profissão. – Confessei encarando os olhos amendoados da mulher a minha frente que sorriu orgulhosa.
– Posso sentar? Te acompanhar enquanto você toma seu chá? – Ela estava um tanto envergonhada e o rubor nas suas bochechas denunciavam isso.
– Claro, mas não pretendo demorar. Preciso levá-la para casa e a pôr na cama. – Me referi a Alycia.
A latina apenas confirmou com a cabeça, rapidamente pegou sua tigela de café e sentou à minha frente na pequena mesa da cafeteria. Era uma bela moça, seus cabelos estavam seguros em um coque, não era alta,na verdade era bem desprovida de estatura, magra, mas ainda sim possuía curvas, uma pele bronzeada e um belo rosto com traços latinos fortes. Era uma moça muito bonita.
– Sobre o que escreve… – Deixei no ar como se perguntasse seu nome.
– Camila Cabello, meu nome. – Eu sorri.
– Lauren Jauregui. – Falei e ela sorriu também.
– No eu ando escrevendo algumas crônicas para o Times, ajudo com pesquisa para matérias menores. Como eu disse sou uma aspirante, estou dando meus primeiros passos profissionalmente e estou dando tudo de mim para chegar lá. – Falou sincera levando a tigela de café aos lábios e tomando um longo gole.
– New York Times? – Ela afirmou com a cabeça. – Uau! Você já começou muito bem então. Tenho certeza que conseguirá chegar onde quer, Camila.
Conversamos por mais alguns minutos. Falamos sobre o seu trabalho no Times e ela me contou sobre algumas matérias ridículas que ela teve que fazer pesquisa, mas como estava feliz de ser uma recém saída da universidade com um emprego. Camila tinha vinte e dois anos e dividia um apartamento no Brooklyn com uma amiga, era uma jornalista que ainda estava a trilhar seus passos em sua profissão e é uma garota muito gentil. Eu tive que me despedir, eu precisava colocar Alycia em um lugar mais confortável, mas conversar com Camila foi muito bom. Por breves minutos eu tirei minha cabeça de toda a bagunça que estava minha vida.
– Eu preciso ir. – Tirei algumas notas da carteira e deixei sobre a mesa. O sorriso no rosto de Camila enfraqueceu. – Já, já o sol nasce e por mais que esse suporte seja confortável, eu preciso pôr ela no berço.
– Ela parece tão cansada. Nem mesmo se mexeu desde que eu me sentei aqui. – Seus olhos se fixaram em minha filha que ainda agarrava minha blusa enquanto dormia. – Ela é linda, Lauren.
– Ela é perfeita. – Sorri beijando levemente o rosto do pequeno bebê vendo Camila sorrir a minha frente. – Bom, eu preciso ir. – Levantei da minha cadeira e a latina me seguiu. – Foi um prazer te conhecer. – Falei estendendo a mão para a mulher a minha frente que a apertou.
– O prazer foi meu. – Seus olhos se encontraram com os meus e eu senti tanta calmaria neles que toda a dor que eu sentia em meu corpo por conta da noite mal dormida ficou em segundo plano.
Demoramos um tempo maior que o necessário naquele contato. Momentos depois eu já dirigia com Alycia na cadeirinha, no banco de trás, em direção a nossa casa. No entanto o rosto daquela doce latina não saia da minha mente.
Continua...
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