Irene estava ferrada de diversas formas. Primeiro, estava ferrada com a escola por ter roubado o microfone com o intuito de humilhar uma colega de classe. Segundo, estava ferrada com seu pai por ter quebrado o espelho da escola e ainda ter feito o homem ouvir um sermão do diretor. Terceiro, estava ferrada com Solar por ter sido um pivô evidente na briga das namoradas. Quarto, estava ferrada com Seulgi por motivos óbvios. Mas ela estava ainda mais ferrada consigo mesmo.
No sábado, ela não foi para a casa por ordens de seu próprio pai. Passou todo o fim de semana em seu dormitório, lendo, refletindo, chorando e se praguejando por tantos erros. Se julgava ser tão tola, mas ainda assim almejava por uma luz ao fim do túnel, a qual ela sabia que só chegaria quando a mesma resolvesse amadurecer de vez.
Mas no domingo, fez questão de fingir um mal estar, alegando precisando ir urgentemente para a casa, pois apenas lá saberiam cuidar devidamente de seu estado. No fim das contas, Irene conseguiu o que queria. Novidade seria se ela não conseguisse.
E foi assim que o fim de semana se passou de uma maneira estranha. Independente do Sol estar começando a agir em Seoul, ainda não era o suficiente para algumas pessoas. Era como se os dias estivessem nublados.
Seulgi não contou para sua mãe, Seiha, sobre o que aconteceu na escola e também não permitiu que Moonbyul lhe contasse. Preferiu deixar a mais velha fora desde assunto, pois gostaria de se resolver sozinha. No entanto, obviamente que a senhora Kang não pode deixar de notar a aura triste de sua filha e não tardou a questioná-la.
Seulgi inventou qualquer coisa e ficou por isso mesmo. Era assim que ela gostaria que as coisas seguissem mesmo: apenas esquecer e não se deixar abalar pela imagem de Bae Joohyun. Ela se determinou ao abrir os olhos na segunda feira e continuou se determinando até chegarem ao SWH.
É claro, os olhares não se desviaram da tomboy. Dessa vez não eram apenas garotas, haviam garotos que também faziam seus comentários entre si. Ela estava se sentindo incomodada e possuía uma imensa vontade de socar a cara de todos eles, mas tinha de manter seu autocontrole, pelo menos por um bom tempo. Não queria arranjar confusões e decepcionar sua mãe.
A tomboy não demorou muito para encontrar Irene e seu grupo, que se encontravam no outro extremo do pátio. Os olhares não se cruzaram e ela agradeceu por isso. Não sabia se o que sentia por Irene era raiva ou tristeza. Talvez os dois. Mas ela sabia que uma hora iria acabar chorando se continuasse com aquele contato visual unilateral.
Porém, Seulgi não era a única a sofrer, pois sua irmã direcionava o olhar para o mesmo lugar e também estava triste.
— Vocês ainda estão sem falar? — a Kang perguntou, dessa vez olhando para Moon.
— Sim... — a maior respondeu num tom frágil e arrependido. — A gente brigou na sexta..., quero dizer, eu briguei com ela...
— Não deveria ter terminado com ela por minha causa, Moon. — disse Seulgi.
— Eu estava nervosa pelo que aconteceu e acabei descontando nela.
— Sim, eu percebi isso. Consegui ouvir seus gritos do dormitório. — Seulgi riu apenas para descontrair um pouco.
— É... — esta também sorriu um tanto inerte. — Fui uma idiota com ela.
— Você é uma idiota todos os dias, na verdade. Mas agora você deveria ser menos idiota e ir conversar com ela.
— Tá bom, você tem razão. Mas não precisa ofender também, né! — falou de forma despeitada, revirando seus olhos.
— Ah, deixa de fazer drama e cala a boca. — fez uma careta e então deu de ombros para o que mais alta pudesse falar posteriormente.
Seulgi tentava esconder sua pessoa dos outros alunos. Ajeitou seu chapéu na cabeça e então abaixou a cabeça, apenas para fingir que não se importava. Bom, o problema era que ela se importava, sim.
Foi quando alguém lhe deu um abraço apertado e quente por trás, o que a fez ter vontade de levantar a cabeça outra vez. A tomboy já sabia de quem se tratava e um sorriso automático brotou em sua face. Apenas puxou o braço da pessoa em questão e a trouxe para que seus olhos pudessem vê-la.
— Como vai, Seul? — perguntou Yeri com um sorriso meigo em seu rosto.
— Acho que você era a única pessoa que eu queria ver nesse colégio, Yeri-ssi... — ela revelou, sendo totalmente honesta em suas palavras.
— Fico feliz que esteja se recuperando. — a menor, sem pernas duas vezes, lhe deu um abraço frontal e fez um pequeno carinho em seus ombros. — Se lembre do que te disse na sexta.
— Perdão, mas eu não me lembro muito bem... — a Kang riu.
Yerim também riu do que a mais velha disse. Era inevitável não se contagiar pela risada de Seulgi. — Eu te disse que você é uma pessoa maravilhosa, Seulgi, e que não deve se abalar por pessoas como a...
— Não, não diga o nome dela, por favor. — pediu num tom mais embargado e visivelmente atingido.
— Desculpe... — tocou o rosto da maior. — Podemos almoçar juntas hoje?
— Sempre iremos almoçar juntas, Yeri-ssi. Eu gosto da sua companhia.
— Olá. — Moonbyul, quem acompanhava a conversa o tempo todo, pigarreou naquele momento, tentando lembrar ao "casal" de que havia mais uma pessoa ali.
— Tudo bem se a Moon se juntar com a gente?
— Mas é claro que sim! Vai ser ótimo! — Yeri concordou, batendo palminhas entusiasmo. — A gente se vê depois então. — deu um beijo na bochecha de Seulgi e também na bochecha de Moonbyul. — Tchau, meninas!
A tomboy felizmente continuou com aquele sorriso até o momento que o sinal ecoou pela escola. Pensava que Yeri poderia ser o motivo dele e ela não estava errada. Mais do que nunca, ela só gostaria de prezar por sua aproximação e não afastá-la nunca mais.
[...]
A primeira aula do terceiro ano começaria com literatura outra vez. A senhora Park já chegava toda radiante na sala de aula, louca para ensinar sua disciplina. Mas é óbvio que eu estou sendo irônica, pois o que mais se ouve dessa professora é justamente o seu "não-entusiasmo" para lecionar.
Fazendo um adentro ainda maior, o clima entre os estudantes parecia estar um tanto diferente, a começar pela situação já citada entre Solar e Moonbyul. A loira quando, pela primeira vez, cruzou seus olhos com os da morena, fez uma expressão tão mortal para a Kang, a qual teve medo de ter sua cabeça cortada naquele instante.
Já Irene, por sua vez, lançou um pequeno olhar para Seulgi, mas a mesma somente deu de ombros, a ignorando propositalmente. Além de que os alunos em volta não paravam de fazer comentários, provavelmente envolvendo o fatídico Baile do Verão.
— Bom, vocês já podem e devem fechar as matracas, porque, caso não tenham notado, já tem um professor na sala! — a senhora Park exclamou diante da sala, exigindo o silêncio total.
— Onde? Não estou vendo. — Chanyeol, o grandalhão, surgiu com suas brincadeiras, levando vários alunos a rirem.
A senhora Park não era o tipo de ter respostas prontas na língua, algo que fosse capaz de cortar o aluno. Ela simplesmente não sabia como agir em situações onde ela seja o motivo da piada. Sua única arma e a melhor, segundo a mesma, se constitui em:
— Park Chanyeol, para a diretoria agora! — apontou para a porta da sala.
— Foi só uma brincadeira, professora. — o grandalhão tentou se safar do castigo.
— Apenas saia da sala, pois o dia mal começou e eu já quero te jogar pela janela! — esbravejou e tornou a enfatizar a porta da sala com seu indicador direito. — Se apresse, rapaz!
— Aish... — bufou e então se levantou de sua carteira, caminhando à passos largos até a saída da sala.
— O próximo a fazer gracinhas, fará companhia para aquele delinquente! — ela ameaçou. — Bom, como eu iria dizendo, antes de infelizmente ser interrompida por um sem noção, duas novatas adentraram para o Seoul West High, mas uma foi para o segundo ano e a outra veio para o terceiro ano.
Naquele instante, todos olharam para a porta da sala, à espera da tal aluna nova.
— Pode entrar, Son Seungwan! — a senhora Park anunciou.
Então uma garota bastante excêntrica adentrou por aquela porta, exibindo seu estilo marcante. Ela possuía cabelos curtos e loiros, estava vestindo uma calça jeans preta com alguns rasgos pelo joelho, também uma camiseta preta e larga, a qual cobria grande parte de seu corpo. Um casaco simples cinza acompanhava sua combinação e, para finalizar, havia um chapéu de pano em sua cabeça.
Isso lembro alguma coisa para vocês?
Bom, para Seulgi lembrava muita coisa.
A novata não demonstrava tanta timidez, pois em seu rosto havia um sorriso confiante e um olhar de predador.
— Apresente-se para a turma, por favor. — a professora solicitou.
— E preciso? A senhora já fez questão de falar o meu nome. — esta já usufruía de um sarcasmo nato. Pelo visto, já se sentia adaptada.
— Bem, diga de onde veio, a escola em que estudou, não sei... — a senhora Park dizia desconcertada.
— Uh, ok... — revirou seus olhos, fazendo pouco caso da docente. — Meu nome é Seungwan, nasci aqui em Seoul, mas passei grande parte da minha vida no Canadá. Por isso, vocês devem ter percebido o quanto tenho sotaque americano.
— Oh, isso é legal, Seung...
— Wendy! — ela cortou a professora no mesmo momento.
— Perdão?
— Me chame de Wendy, professora. Só Wendy. Seungwan é para pessoas que querem encher o meu saco, tipo o diretor. — ao dizer a última frase, vários alunos riram pelo modo da canadense.
No entanto, a senhora Park não havia aprovado muito aquele momento de stand-up. — Certo, Wendy. Sente-se no lugar que correspondia ao de Naehee. — apontou para a carteira vaga ao lado de Irene.
No minuto em que Wendy mirou a Bae, um sorriso diferente nasceu em seu semblante. — Com todo o prazer.
Ela jogou sua bolsa sobre a carteira, sem tirar o olhar da veterena um segundo sequer. Sua visão capturava a beleza extrema da patricinha, a qual notou muito bem seus olhares intencionados, mas não quis dar muita bola.
Então, a professora Park agiu para que pudesse prosseguir com sua aula de literatura, isso se não houvesse mais uma interrupção por parte de Eunha. — Com licença, professora, mas eu gostaria de saber se não haverá o guia turístico para a Wendy também.
— Creio que isso não seja necessário.
— Mas, professora, quando nós adentramos no colégio, também tivemos a chance de conhecer o prédio. Nada mais justo a Wendy ter essa chance também. — a aluna justificou, levando a maioria a concordar.
— Aish, está bem! — disse a mais velha um tanto impaciente. — Wendy, venha até aqui, que eu irei escolher uma pessoa para te guiar.
— Na verdade, eu já tenho uma escolha, professora. — a canadense se pôs de pé e então direcionou o olhar para uma única pessoa. — Gostaria que esta belezinha aqui pudesse me guiar.
A garota ao seu lado ficou tão perplexa em ver um dedo apontado em sua direção, que mal soube como reagir. — Eu?
— Irene, poderia guiar a Wendy pelo prédio?
Ao ouvir o pedido da senhora Park, a patricinha franziu seu cenho. Na verdade, ela ainda nem reparou na novata em questão pois não estava muito disposta naquela segunda feira. Tal silêncio causou um certo incômodo na Son, quem não perdeu a oportunidade de conseguir o que queria.
— Vamos lá, querida. Quero muito ter a honra da sua companhia. — a loira tinha um papo bom até, o que muitas outras garotas puderam captar.
Especialmente Seulgi, quem encarava tudo de longe e principalmente analisava aquela novata bastante "saidinha", digamos.
— Ah, tudo bem. — a Bae assentiu e então se levantou da sua cadeira, a fim de seguir a loira até o pátio.
Seulgi passou a mão por seus cabelos e sentiu que algo não estava em seu devido lugar, ainda mais após conhecer uma garota que tinha um estilo relativamente igual ao seu e ainda por cima estava dando em cima, justamente, de Bae Joohyun.
Não que isso lhe fizesse alguma diferença. Pelo menos era assim que a tomboy pensava até então.
[...]
Quadra. Cantina. Lanchonete. Salão de festas. Jardim. Corredor dos armários. Ala dos dormitórios. Mais um bocado de lugares que foram visitados ao longo daquela espécie de passeio turístico pelo colégio. O que ainda faltava nem mesmo Irene sabia, pois sua mente focava em outras coisas ao invés de prestar a atenção no que a novata dizia.
Fazer aquela tour lhe remeteu ao primeiro dia de aula, quando se prontificou para guiar Seulgi pela escola. Ela se lembrava de quantas olhadas dava na Kang a cada minuto em que se permitia vislumbrá-la. Também se lembrava de todas as sensações provocadas em seu corpo sempre que ouvia sua voz ou sentia o toque de sua mão.
Tantas coisas vieram em sua cabeça e agora a terrível culpa lhe acompanhava sempre. Era impossível não gravar a imagem de Seulgi com k semblantes transtornado naquele baile e logo em seguida virando as costas, trombando com os vários alunos em volta. Ela sente tanto pelo que aconteceu e sente ainda mais por saber que provavelmente a tomboy jamais a perdoará.
— Este é o último lugar. — ela indicou a coordenação e também os banheiros que ficavam em sua direção.
Na verdade, ainda faltavam alguns pontos, como as salas de práticas, a sala de instrumento, a sala de informática, em outras palavras, os locais que cometeu loucuras com Seulgi. Não quis citá-los para não piorar ainda mais sua situação.
— É, até que esse lugar é daorinha. — Wendy comentou, olhando em volta.
— Fico feliz que tenha gostado. — Irene apenas transmitiu um sorriso amargo e logo se pôs para caminhar em direção à sala.
— Ei, pera aí, pera aí. — puxou levemente o braço da garota. — Aonde você está indo?
— Para a sala. — falou como se fosse óbvio.
— É sério que você irá para a sala e não irá aproveitar o tempo livre que temos? — a canadense soltou um riso sarcástico.
— Uh, Wendy... não dá para fazer isso quando se tem uma velha obcecada por exercícios dando aula neste exato momento.
— Que ela é velha eu concordo, mas na parte de aproveitar, você está errada lindeza. — lançou uma piscadela e passou a andar em volta da Bae. — Veja só o tamanho dessa bagaça! Podemos ir para um lugar e nos encondermos para sempre se quisermos.
— É, o que não é o caso agora, não é mesmo? — disse debochada. — Vamos voltar para a sala.
— Você é chata, Irene.
Tudo bem, Bae Joohyun até que estava de boa, mas ouvir aquelas quatro palavras atiçaram os seus nervos. Ela se virou para trás e então cruzou os braços.
— O que você disse?
— Que você é chata. — deu alguns passos até a patricinha. — Tem a chance de se divertir comigo e prefere ir para a aula daquela velha gaga. Qual é?
— Garota, você é ridícula, sabia?
— Não é o que as garotas que provam de mim dizer por aí. — a fala de Wendy saiu tão convencida, que Irene arregalou seus olhos, desacreditada com o que ouviu. — Inclusive, vi que muitas estão interessada, então aproveita que você me tem de graça e sem precisar encarar fila, meu bem. — sussurrou no ouvido da Bae.
— Você, além de tudo, é convencida. Uau, super me interessei em você! — fez uma pequena encenação. — Se toca, garota! — virou as costas e novamente começou a caminhar em direção à sala de aula.
Quando Wendy percebeu os passos da veterena se prolongarem ainda mais, esboçou um sorriso em seu rosto. Sabia que Irene era do tipo difícil, mas sempre amou desafios, desafios são o que lhes fascina.
— Prefiro tocar você... — ela murmurou para si mesma.
[...]
Seulgi saiu da sala em direção ao refeitório já com um entusiasmo bem grande. Primeiro porque a aula havia sido um saco, segundo porque estava com fome e terceiro porque queria muito conversar com Yeri.
E foi o que aconteceu, ela, Yeri e até mesmo Moon aproveitaram muito aquele momento para trocarem risadas e se conhecerem ainda mais. Seulgi sabia que precisava de algo para distrair sua mente e agradeceu pela mais nova estar conseguindo fazer isso.
No entanto, algo lhe atraiu a atenção durante o almoço. Viu a imagem da notava, vulgo Wendy, numa mesa aleatória e esta se encontrava rodeada de garotas aparentemente interessadas no que ela tinha para dizer.
Não sabia porque, mas se sentiu incomodada com tudo aquilo acontecendo. Talvez fosse o medo de ser ofuscada ou, muito pior, algo que sua mente insistia em pensar, mas ela negava: vê-la tirando proveito de Irene. Aquilo lhe subiu um ódio tão imenso, mas eu não irei falar o quanto, pois certamente vocês já imaginam.
Seulgi constantemente limpava o canto de sua boca com o guardanapo descartável. Tudo apenas para fingir que não estava encarando aquela cena deplorável. Mas num certo momento ela resolveu parar com seus olhares, julgando-se por dentro por causa daquele ciúmes, ou inveja, sem sentido.
Depois de um tempo, o horário do almoço havia acabado. A Kang se despediu de Yerim e logo passou a caminhar de volta para a sala. Todavia, um inspetor a parou subitamente no meio de seu trajeto.
— Seulgi, é para você ir para a coordenação agora.
— Ué, mas o que foi que eu fiz? — ela perguntou indignada.
— Não sei bem, só recebi essa ordem mesmo. — o rapaz lhe informou, também perdido.
— Uh, tudo bem. Tchau, Moon. — deu um toque no ombro de sua irmã e se dirigiu para a coordenação.
Estava curiosa sobre o que poderia ter acontecido. Até sentiu um pequeno ataque de nervos, mas no momento em que adentrou na sala, pôde entender aos poucos o que acontecia.
Sentou-se numa das cadeiras livres e logo reconheceu a pessoa que estava ao seu lado, vulgo Bae Joohyun.
— Vocês devem estar se perguntando sobre o motivo de estarem aqui, certo? — a senhora Hook, a coordenadora, iniciou sua sala, recebendo um aceno positivo com a cabeça de ambas alunas. — Não deveriam, pois o motivo é mais do que óbvio. — ela se levantou de sua cadeira e passou a andar pela sala. — Na sexta feira aconteceu algo muito sério, o que muitos de nos não esperávamos que fosse acontecer. Você, Irene, teve o intuito de humilhar sua colega de classe ao subir naquele palco. Não entendemos bem o porquê de tudo aquilo, mas sabemos que vocês duas têm muito o que conversarem.
— Não temos nada para conversar, senhora. — ditou Seulgi.
— Sim, vocês têm, Seulgi. E é por isso que eu irei deixar vocês duas nesta sala até que se resolvam!
— O quê? — elas disseram ao mesmo tempo.
— Foi o que vocês ouviram! Agora eu irei sair. Por favor, aprendam a resolver as coisas na base do diálogo! Vocês já são jovens adultas, precisam mais do que nunca amadurecer! — a senhora Hook foi bastante clara e objetiva com suas palavras. Sendo assim, ela se retirou da sala e em seguida trancou a porta.
O que poderia acontecer ali? Naquele instante, nem mesmo elas sabiam.
Só sentiram longos minutos se passarem à medida em que as respirações eram os únicos ruídos que se faziam presentes naquela sala. Nenhuma delas quis tomar a iniciativa, ainda mais depois do que aconteceu.
Como poderiam iniciar um diálogo saudável? Era basicamente impossível.
Seulgi se sentia chateada, machucada, com bastante raiva, mas naquele momento, especialmente, estava entediada em ter que encarar o teto por longos minutos. Uma músicas lhe veio na cabeça e subitamente ela começou a cantá-la.
— Today is gonna be the day that they're gonna throw it back to you; By now you should've somehow realized what you gotta do...
Ela murmurou baixo, mas sua voz ainda podia ser ouvida por Irene, quem por sua vez, não achou que seria uma má ideia continuar aquele trecho.
— I don't believe that anybody feels the way I do, about you now...
E pela primeira vez, os olhares se encontraram. A tomboy foi pega de surpresa, pois não imaginava que a Bae estivesse escutando sua voz sussurrada. Algo mudou ali, mesmo que minimamente.
— And all the roads we have to walk are winding... — a Kang continuou, dessa vez encarando sua própria mão.
— And all the lights that lead us there are blinding... — Irene lhe completou, começando a esboçar um sorriso em seu rosto, mas o escondeu em seguida.
Novamente um certo silêncio se formou. Seulgi não queria ter que pronunciar aquele trecho da música, pois ele dizia muita coisa sobre si e a última coisa que ela queria era demonstrar o quanto sentia falta de Irene.
— There are many things that I would like to say to you but I don't know how... — a Bae prosseguiu com a canção sem rodeios, botando bastante sinceridade em sua entonação.
Realmente haviam tantas coisas que ela gostaria de dizer para Seulgi, mas ela não sabia como. E provavelmente nunca vai saber.
— Because maybe... — Seulgi encarou Irene diretamente. — You're gonna be the one that saves me...
Irene naquele instante não encarava a Kang, pois sentia medo daquele olhar. Mais do que tudo, sentia medo de chorar por causa daquele olhar.
Entretanto, a música ainda precisava ser completada.
— And after all... — direcionou seu olhar para a tomboy, selando aquele contato visual. — You're my wonderwall... — foi quando uma lágrima escorreu de seu olhar. Ela abaixou a cabeça e se permitiu chorar um pouco. Irene agora sentia o peso de sua culpa, ela sabia que aquilo aconteceria.
A porta então foi aberta e a senhora Hook adentrou na sala, esperançosa de que tudo tenha dado certo. — E então, meninas?
Seulgi ainda olhava Irene derramar algumas lágrimas de seus olhos. Poderia sentir pena, mas aquela não seria sua praia, não mesmo.
A Bae novamente encarou a Kang, na esperança de que esta pudesse compreender o seu arrependimento. Mas sua teoria caiu por terra no minuto em que Seulgi lhe dirigiu um olhar frio e indiferente.
— Você atua muito bem, Irene. É por isso que sempre consegue o que quer. — somente isso foi dito por ela, quem se levantou da cadeira e se retirou da sala, sem nem ao menos conversar direito com a coordenadora.
[...]
Havia sido um longo dia para a tomboy. Ela agora só almejava por um bom banho e sua cama, nada mais. Ter aquele momento com Irene lhe despertou sentimentos nunca vistos por ela. Não imaginava que um lance se resultaria numa das fases mais difíceis da sua vida, tanto que agora ela se perguntava o que Irene havia feito consigo.
Com a cabeça imersa, a Kang adentrou no quarto, achando que poderia estar sozinha. Mas para sua infelicidade, ela não estava sozinha, isso porque bem na cama de sua antiga colega de quarto, vulgo Eunbi, havia uma garota bastante "esparramada", quem parecia não dar tanta importância para a vida.
— Oh, olá. Você deve ser a tomboy Seulgi, não é mesmo? — a canadense se levantou de sua cama e caminhou para cumprimentar a mais alta.
O que Seulgi percebeu foi que ela estava vestindo uma camiseta preta longa que cobria metade de suas coxas. Um outro detalhe era que Wendy não estava usando calça e nem shorts.
— O que está fazendo aqui? — a Kang perguntou, na lata.
— Não te contaram? Este vai ser o meu dormitório agora! — ela respondeu, como se estivesse entusiasmada. Mas por outro lado, Seulgi não estava. — Cara, eu tava louca para te conhecer! Fiquei sabendo que você é foda.
— Ah... — deu de ombros para aquele comentário.
— Sério mesmo! As garotas aqui são gamadonas em você!
— É, eu percebo isso desde o primeiro dia de aula. — disse, caminhando em direção ao seu guarda-roupa.
— Pois é, isso é muito louco mesmo! Eu e você temos tanta coisa parecida. Podemos nos tornar boas parceiras. Tipo, duas tomboys em ação. — enquanto Wendy falava aquelas coisas, Seulgi fingia que não estava escutando e apenas focava em achar uma t-shirt para usar. — Mas sabe... eu tava pensando também, você conhece bastante garota, então provavelmente poderia providenciar o número da gostosa da Irene para mim...
Seulgi pôde ingerir todas aquelas palavras até então, mas só foi a canadense enfatizar o fim de sua frase, que a tomboy bateu a porta de seu guarda-roupa com força, no intuito de fazê-la parar de falar.
— Certo, vamos deixar duas coisas bem claras aqui... — andejou até a novata. — Só existe uma tomboy aqui, que no caso, sou eu. — apontou para si mesma.
— E qual seria a outra coisa?
— A outra coisa é... fica longe da Irene.
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