Irene se encontrava tão nervosa com a noite que se aproximava naquele sábado. Um jantar com sua mãe e seu pai. Juntos. O que poderia dar errado? Muita coisa. Sua sorte era ter sua namorada lhe dando o máximo de atenção, afim de acalmar sua tensão.
— Princesa, por que você não respira fundo? Vai dar tudo certo... — Seulgi, que estava deitada na cama da Bae, tinha a menor entre suas pernas, com as costas grudadas em seu torso, tendo envolvido seus braços longos e fortes em torno da mesma.
— Não vai dar nada certo, amor... — Irene choramingava enquanto abraçava um dos braços da mais alta. — Meu pai é um amor de pessoa, mas possui um temperamento difícil com pessoas que o fizeram mal, tipo a minha mãe.
— Bom, eu não discordo dele em odiar aquela mulher. — a Kang comentou com desdém.
— Aish, tomboy, você não me ajuda em nada falando o óbvio!
— Princesa, você é tão negativa! Olha, não espere que seu pai a receba de braços abertos hoje, até porque Jihyun não merece tal tratamento. Mas acredito que, pelo seu futuro, ele não estragará o jantar.
— Será? — a patricinha proferiu retoricamente. — Não sei o que esperar do meu pai.
— Talvez você deva esperar mais da sua mãe do que dele. — Seulgi deixa um beijo em sua nuca. — Eu ainda não consigo confiar nela, me desculpe.
— Eu gostaria de compartilhar desse pensamento, mas ela é minha mãe e algo me diz que Jihyun não faria nada para me machucar...
— Até porque ela já fez. — a tomboy rebateu.
— É... — a morena exibiu uma expressão sem graça. — Bom, não é como se eu estivesse dando um passe livre para ela se aproximar. Eu só pedi para que ela não fosse embora novamente, mas as coisas entre a gente não estão às mil maravilhas. Na maioria das vezes, só conversamos sobre a agência e minha carreira.
— Acho que é até melhor você não dar tanta abertura para ela enquanto não tiver cem por cento de certeza de suas intenções.
— Sim, concordo. — dessa vez, é Irene quem deixa um beijo nas costas da mão de Seulgi. — Obrigada por ficar comigo esta tarde, amor.
— Oh, princesa! — abraçou seu corpo fortemente. — Eu jamais deixaria você carente do calor do meu abraço!
Irene sorriu para sua namorada e beijou seu braço, se aconchegando mais a ele. Ela estava tão pegajosa naquele momento, mas aquele grude não era um incômodo, nem de longe, para Seulgi. Desde a sexta-feira, quando ela revelou sobre sua bolsa em São Petersburgo, as coisas estavam voltando à normalidade, não havia mais uma tensão. Isso era bom e deixava tudo melhor, tanto que a tomboy não conseguia parar de beijar sua garota, como é o que está acontecendo agora.
— Amor... — dizia a Bae, tentando fugir dos beijos da Kang por todo o seu corpo. — Para! Isso dá cócegas... ah! — a patricinha não conseguia parar de rir.
— Isso te dá cócegas, é? Então vou continuar! — a mais alta ria enquanto atormentava sua namorada. — Vem cá, não foge, não.
E assim se seguiu até o momento em que Seulgi teve de se despedir da menor. Uma festa em comemoração da vitória de SWH ocorreria naquele sábado, o que a impossibilitaria de acompanhar sua namorada no jantar com seus pais.
— Promete que não vai ficar chateada comigo? — a tomboy fez um bico, multando em sua moto.
— Já disse que não vou, amor. Você deu duro naquele jogo e merece comemorar com as meninas. — Irene deu um beijo em sua bochecha. — Fica tranquila. Aproveita pra se divertir, porque nessa semana que passou você tem focado demais no time, você merece isso...
— Então tudo bem. — a Kang sorriu satisfeita, em seguida puxando a morena pela cintura para deixar um beijo em seus lábios. — Boa sorte. Vai dar tudo certo, ok?
— Tomara... — Irene a abraçou pelo pescoço. — É sério, eu tô muito com isso na cabeça.
— Princesa. — ela apertou sua cintura. — Só fica calma, respira, tenha pensamentos positivos e se lembre de uma coisa: você é incrível e merece essa oportunidade mais do que tudo. Eu tô muito orgulhosa de você! — e, por fim, sorriu com bastante afeto.
— Oh! — a menor apertou suas bochechas cheias. — É recíproco, porque eu também estou muito orgulhosa de você!
Com as testas próximas, ambas trocaram olhares apaixonados, algo que tornou o beijo de despedida muito mais gostoso e calmo. Ao se separar de sua namorada, Irene, relutante, permitiu que ela vestisse seu capacete e desse a partida na moto. Seulgi foi embora, deixando a garota parada em frente sua casa enquanto abraçava seu próprio corpo.
Ótimo. Ouvir aquilo da tomboy, de certa forma, a tranquilizou, mas o nervosismo ainda se encontrava em sua mente. Ela pensava, pensava e pensava. Andava de um lado para o outro, tentando controlar seus pensamentos. Só que era praticamente impossível não cogitar a possibilidade de exatamente tudo dar errado.
Foi por isso que a patricinha retornou para o seu quarto e encarou seu relógio. Cinco horas da tarde. O tempo passou e ela nem percebeu! Com rapidez, a Bae escolheu uma roupa adequada para o jantar, consistindo num vestido mais solto, com alguns babados na barra, num tom azul, além de roupas íntimas e uma sandália com um salto baixo. O banho vem em seguida, com o intuito maior de relaxá-la, por dentro e por fora.
Após se aproveitar da água quentinha e se vestir devidamente, Irene pegou seu celular para fazer uma ligação. A pessoa com quem ela queria falar era a única que poderia socorrê-la durante o jantar.
— Sol! — ela exclamou assim que a outra atendeu.
— Aish, Baechu... — resmungou.
— Ai, amiga... — suspirou, caindo na cama atrás de si. — Você está ocupada hoje?
Que péssima pergunta! É óbvio que Solar tinha uma outra pessoa como prioridade naquele fim de semana.
— Bom, na verdade, eu estava pensando em passar a noite com a Moon.
Em cheio!
— Sol, eu preciso muito de você comigo nesse jantar!
— Baechu, eu achei que você tivesse uma namorada chamada Seulgi para te acompanhar.
— Ela não vai poder vir. Seulgi vai em uma festa para comemorar sua vitória e eu não quero ser chata para impedir isso.
— Uau... Bae Joohyun sem ciúmes nem nada? — Solar estava certa em estranhar.
— Amiga, eu seria injusta se retrucasse sobre a festa, até porque eu acompanhei os treinos dela e tal... — a morena explicou calmamente. — Enfim, você vai vir ou não?
— Aigoo... — a Kim gemeu de cansaço. — Tudo bem, eu vou estar aí com você.
— Yes! Te amo, Sol! E vem logo!
Irene encerrou a chamada com um pouco mais de tranquilidade, pois ter o apoio de Solar já poderia suprir a falta que Seulgi faria naquela noite. Tendo tudo isso em mente, a Bae começou a se arrumar.
[...]
Exatamente duas horas depois, tudo já estava pronto. Wan havia preparado um delicioso jantar para aquela noite, o que, pelo menos, era o que a jovem Bae acreditava que poderia atrair seus convidados a não brigarem. Contudo, nada havia acontecido de fato ainda. A chegada de Solar acelerou um pouco o coração da patricinha, unicamente pelo fato de que logo a pessoa a entrar por aquela porta seria a sua mãe, Lee Jihyun.
— Tia Yoona, Sol! — a garota correu para abraçar ambas mulheres e demonstrou um pouco mais de apego em sua irmã de consideração.
— Eu não achei que a Sun viria comigo hoje, já que ela me deixou claro que Moonbyul marcaria presença na nossa casa nesta noite. — a Kim mais velha ludibriou, encarando a sua filha carrancuda.
— Sim, esse era o meu plano, mãe, mas alguém tinha que estragar! — fuzilou Irene com um olhar.
— Ya! Você tem o resto da semana para bater com sua namorada, Solar!
— Baechu! — Solar virou um grande pimentão naquele momento.
— Oh, bem... — Yoona apenas quis fingir que nada tinha escutado. — Irei falar um pouco com o Sok. — e se dirigiu ao escritório de seu namorado.
Estando sozinhas, a Kim aproveitou para dar um belo de um beliscão no braço da menor. — Você e essa sua sinceridade, Bae Joohyun!
— Aish! — ela a beliscou de volta. — Mentira eu não falei, Kim Yongsun! Sabe o quanto eu preciso de você aqui comigo nesse jantar.
— Não acha que está sendo um pouco paranoica com isso?
— Você tem ideia do quanto meu pai guarda rancor da Jihyun?! Ele certamente não vai gosta-la de vê-la aqui hoje.
— Então por que caralhos você marcou esse jantar? — disse, franzindo o cenho.
— Porque eu quero que meu pai ouça a proposta dela mais detalhadamente e passe a confiar nos meus planos! — Irene explicou um tanto aflita.
— Isso não vai dar certo...
— Porra, Solar! Você tem que ser aquela pessoa que me dá comentários positivos. Os negativos eu já sei!
— Só estou sendo realista, Baechu... — a garota deu de ombros. — Além do mais, eu entendo que você se importa muito com a opinião do tio Sok, mas, a essa altura do campeonato, ele já não precisa tomar as decisões por você, não acha?
— Acho.
— Pois então?
— Ele é o meu pai, Sol. A pessoa que sempre cuidou de mim, mesmo estando sozinho. Eu devo muito a ele e considero muito sua opinião. Não posso simplesmente tomar minha decisão sem consulta-lo antes, seria injusto...
Solar acaba por compreender o lado de sua amiga. Por todos os anos em que ela conviveu com Irene, sempre notou o quanto Jungsok foi um bom pai. Na verdade, ele continua sendo. Ele é um homem compreensível, protetor e constantemente busca desconstruir pensamentos ultrapassados. Realmente, a Bae possui muitos motivos para não desconsiderá-lo de seus planos.
— Tudo bem, Baechu, eu vejo o seu lado... — Yongsun a abraçou de lado. — Mas eu sei que o tio Sok, mesmo não reagindo da melhor forma possível com essa história, não irá deixar de te apoiar. Ele te ama muito e só quer que você seja feliz.
— Sim... — a morena sorriu em concordância com a mais alta. — É por isso que eu o amo muito também!
— Então não fique com esses pensamentos negativos. No fim das contas, sabemos que ele irá te entender.
Irene resolve acatar as palavras de sua irmã de consideração e se senta no sofá, aguardando o relógio bater o horário marcado. Minutos depois, Jungsok se retira do escritório junto de Yoona, ambos reluzentes e com as mãos dadas, demonstrando todo o amor mútuo que por ali rondava. O homem deixou um beijo na testa de Solar e, em seguida, afagou os cabelos de sua própria filha.
— Podemos iniciar o jantar? — Jungsok pergunta com entusiasmo.
— Só um minuto, pai...
— Por que, filha? Está faltando algo? — ele estranha.
— Não é algo, mas sim alguém...
Yoona e Solar se encaram respectivamente, de maneira apreensiva.
— Alguém? — o Bae se põe a pensar.
— Logo ela chega, pai, não se preocupe...
— Ela? — novamente, o homem indaga. — De quem está falando, Joohyun?
— O senhor vai ver... — Irene engoliu seco.
Um clima estranho já estava começando a se formar na sala de estar. Por isso, Yoona agarrou novamente a mão de seu namorado é o puxou para a mesa de jantar.
— Por enquanto, vamos nos sentando em nossos lugares. — a mulher sugeriu.
— Sim, é uma ótima ideia! — Solar concordou.
Os quatro caminharam para a mesa, sentando em suas cadeiras. Jungsok na cadeira do centro, como o patriarca da família, com Yoona do seu lado direito. Solar fez questão de colar com Irene para não deixá-la sem amparo naquela situação.
— Olha, confesso que não estou entendendo esta situação, Baechu. Você está escondendo algo?
Irene já não sabia o que responder, ou como despistar seu velho. Sentia que se contasse logo do que se tratava, o jantar poderia acabar antes mesmo de começar. Mas, felizmente, antes dela ter de pronunciar, a campainha finalmente tocou.
— Quem é? — Jungsok olhou diretamente para a porta.
— Eu vou atender. — Irene se levantou de sua cadeira e andou a passos largos até a porta da sala.
Ao abrir a porta, ali estava a mulher, Lee Jihyun. Mãe e filha se encararam, mas não houveram abraços ou beijos, somente olhares perdidos. Por um lado, havia Bae Joohyun, com o coração quase pulando para fora de tanta ansiedade. Do outro, estava Lee Jihyun, com um sentimento estranho por estar pisando naquela casa novamente depois de tantos anos.
Até que a mais nova abriu o espaço para a mais velha, enfim, adentrar em sua sala. Jihyun caminhou para dentro, tendo suas mãos firmes em sua bolsa de couro da Gucci. Ela olhou tudo em volta e notou que a decoração havia mudado, estava menos neutra e mais iluminada. Certamente, Jungsok fez questão de mudar cada ponto sugerido por ela quando eles resolveram comprar aquela mansão.
— Baechu, quem é? — Jungsok ergueu o seu olhar para o outro cômodo, mas ao notar a presença de alguém que ele não queria ver, sua garganta travou e seu olhar se tornou frio. — O que essas mulher está fazendo aqui?
— Olá, Jungsok. — disse Jihyun, num tom monótono, sem muita emoção, ainda parada em seu lugar.
— Joohyun, o que pensa que está fazendo? — seu olhar se direcionou para a filha.
— Pai, primeiro, me deixa explicar...
— Explicar o que? — ele esbravejou. — Não acredito que a chamou para vir em nossa casa! Pensei que sua presença em Seoul já estivesse extinta!
— Sok, se acalme... — Yoona tocou o ombro do homem.
O gesto da mulher deixou Jihyun um tanto perdida. Eles estavam juntos? Ela realmente não imaginava.
— Yoona. — proferiu o nome de sua ex amiga, desacreditada.
— Jihyun. — a Kim acenou com a cabeça.
— Não vou me acalmar! — rudemente, ele se afastou de sua companheira, caminhando até a sala. — Diga, Jihyun, o que foi que eu te falei naquele dia, hein? Você não se lembra? Está querendo mesmo me desafiar?!
— Pai! — Irene se pôs na frente de sua mãe, evitando que o Bae avançasse nela. — O senhor não é assim, pare!
— Eu não suporto a presença dessa mulher, Joohyun! Não vê que isso me machuca? Isso te machucou também! Como ousa chamá-la para vir aqui depois de tudo o que ela fez?!
— Ela não está aqui para consertar o passado, está aqui pelo meu futuro!
— O que? Do que está falando?
— Sobre Miami, Jungsok. — subitamente, Jihyun resolveu tomar a voz, atraindo a atenção de todos para ela. — É la onde fica a agência super requisitada no mundo da moda, perfeita para Irene brilhar.
Jungsok aperta seu olhar sobre a mulher. Não era simplesmente frio, era raivoso, medonho e indecifrável. Jihyun recuou um passo para trás.
— Você pisou em nossa família, jogou tudo para os ares, foi embora por aquela porta, admitiu que me trocou por outro homem, me deixou sem direção ou consolo, sozinho com uma garotinha de quatro anos..., e depois simplesmente volta para demonstrar algum pingo de empatia pelo sonho da garota que você virou as costas?! — sua fala era mansa, devagar, porém com intensas gotas de rancor. — O que você acha que eu sou, Jihyun? Um idiota?! — sua calma havia se esvaido de vez, a ponto dele atravessar sua filha para avançar contra a ex mulher. — É isso o que você acha que eu sou? Vamos, me diga de uma vez!
— Não... — Jihyun o temia, aquilo era bem visível em seus olhos.
— Pai! — novamente, Irene tentava o conter, segurando o rosto do mais velho com suas mãos, tentando forçar um contato visual. — Olha pra mim! Olha pra mim, pai!
— Eu quero que essa vadia diga o que ela quer de mim! — ele berrou. — Já não te bastou acabar com o meu coração? Agora você quer tirar a minha filha de mim também?
— Chega! Pai, por favor... — a garota insistia, e insistia por demais! Até o momento em que ela finalmente conseguiu amansar a fera. — Pai, me escuta... o senhor não é assim, nunca foi...
— Filha... — os lábios de Jungsok tremiam. O homem parecia estar indefeso em meio a suas ações. — Baechu... — pôs suas mãos sobre as de sua filha em seu rosto. — Você não se lembra que discutimos sobre sua universidade diversas vezes? Kyungpook parecia uma ótima opção para você porque foi lá onde me formei...
— Eu ainda quero isso. Quero ter uma formação boa, um diploma para exibir na minha parede, o senhor sabe. Mas eu também quero as passarelas, este sempre foi o meu maior sonho...
— Mas e sua vida aqui? Você vai embora para Miami... e Seulgi? O que vai ser dela? — eram tantos questionamentos na cabeça do Bae. Todas as possibilidades os assustava.
— Seulgi e eu já conversamos sobre isso, pai, e concordamos também. A tia Yoona concordou, Solar concordou... por que o senhor não pode?
— Eu... não, não, eu não concordo com isso. Me desculpa, mas não posso permitir que você vá! — Jungsok ditou firme.
— Pai, sinto muito, mas eu não estou te pedindo permissão! Se marquei este jantar foi para informar sobre minha decisão em ir para Miami, porque eu quero crescer em cima do meu próprio esforço e não do seu!
Jungsok abaixou sua cabeça e tranquilizou sua respiração ofegante por conta da raiva que sentira. O homem se afastou de sua filha e passou a se sentar no sofá, pensativo, cheio de ressentimentos e tristeza. Ele ainda não conseguia aceitar o que estava acontecendo, levando em conta de que Irene era mulher decidida de si mesma e não mais sua pequena garotinha.
— Não consigo nem formular algo coerente para te dizer, eu to perdido, com medo...
— Não tem que ter medo nenhum, pai... — Irene se acomodou ao seu lado no sofá.
— Baechu, eu nunca fui contra sua felicidade, sabe disso. Mas perder você, para mim, é perder tudo o que eu tenho. Você é o meu maior tesouro e, sem você, minha vida não tem o menor sentido...
— O senhor nunca vai me perder! — ela segurou suas mãos com afeto. — Eu vou sempre ser a sua caçula, sua princesinha, sua coelhinha, pai... — o último termo fez com que o mais velho abrisse um sorriso emocionado em seu rosto. — Por favor, confia em mim quando digo isso...
— Eu confio, filha. Eu te amo mais do que tudo nessa vida. Se é isso o que te fará feliz, então eu te apoio.
— Não sabe o quanto isso me tranquiliza! — a jovem Bae abraçou seu pai, apertando-o em seus braços enquanto ela se afundava em lágrimas no vão de seu pescoço.
O momento sensibilizou Yoona e Solar, quem observava toda a cena com o coração quente. Já Jihyun sentia a emoção de presenciar pai e filha tão próximos e recíprocos. Ela agora compreende do que abriu mão há quinze anos.
— Bom... — Jungsok se separou de sua filha e levantou-se do sofá. — Confio em minha filha, mas não confio em você. — apontou para Jihyun. — Já sabe do que sou capaz, então não pense em fazer nada que me faça cumprir aquela promessa!
— Tem a minha palavra de que Irene só receberá o necessário de mim em prol a sua carreira, não se preocupe.
— Eu não esperava ter que te ver outra vez, mas se é isso o que Joohyun quer, então não irei interferir. Mas jamais esquecerei o que você fez e não sei se algum dia serei capaz de te perdoar, Jihyun.
— Não vim aqui pelo seu perdão, Jungsok. — a mulher declarou. — Eu sei que não tenho esse direito, por isso nem esforço em tentar te pedir.
— Realmente... você me machucou muito. Durante anos, me tranquei para o amor e só depois, enfim, eu pude encontrá-lo... — seu olhar se direcionou para Yoona. Jungsok estendeu a mão para que a mulher viesse para o seu lado, e assim ela fez. — Yoona tem sido a razão da minha felicidade nos últimos tempos.
A Kim, por sua vez, olhava para a pessoa que um dia fora sua amiga, estando um pouco apreensiva pela situação que havia se formado. Ela sentiu a necessidade de se explicar.
— Jihyun, eu quero que saiba que isso aconteceu depois de muitos anos após o divórcio...
— Você não tem que me explicar nada, Yoona. — a Lee interferiu em sua fala. — Eu sei de toda a situação e entendo perfeitamente. Na verdade, eu acho que vocês dois se merecem: Jungsok sempre foi um grande homem e merece uma grande mulher, como você.
— Obrigada. — Yoona sorriu em agradecimento.
— Bom, acho que minha missão aqui já foi cumprida. Desculpem o transtorno e tenham um ótimo jantar! — Jihyun ajeitou sua bolsa no ombro e mirou sua filha. — Tudo está arranjado, Irene.
— Tudo bem, mãe. Eu te acompanho até a porta. — a mais nova se levantou do sofá e caminhou junto da Lee até a porta.
Jungsok observou a cena de onde estava, ainda não conseguindo acreditar que sua filha a havia chamado de 'mãe'. Ele sentia um certo medo de perder o seu posto na vida de Irene, mas, parando para pensar, sabia que ela nunca deixou de ser grata.
Irene se despediu de Jihyun com um simples abraço fraterno e logo se distanciou para que a mulher pusesse adentrar em seu carro e partir. Não houveram palavras calorosas que normalmente mãe e filha trocam, somente um 'até logo' acompanhado de sorrisos sinceros. Por mais que tivessem dado alguns passos importantes, ambas tinha a ciência de que um relacionamento há tempos quebrado não se reconstitui de uma hora para outra.
Então, quando a Bae se virou para adentrar em sua casa, com a expressão evidentemente triste, uma pessoa muito importante apareceu em sua frente, dando-lhe um abraço quente e amoroso.
— Sol... — Irene proferiu sobre seu ombro.
— Você conseguiu, maninha... eu estou feliz por você...
— Obrigada!
Solar apertou seu abraço. — Eu te amo muito e vou sentir sua falta, Baechu!
— Eu também... — algumas lágrimas desceram de seus olhos. — Afinal, você é minha irmã...
O que Irene apenas pensava ser um abraço de irmãs, acabou por se tornar um abraço envolvendo mais pessoas, pois logo ela pode sentir o calor de seu pai envolvendo-a por trás, tal como Yoona cobriu Solar.
— Eu te amo muito, filha! — Jungsok beijou sua testa.
— Nós te amamos. — Yoona acrescentou.
Não eram famílias distintas, era uma só família.
[...]
Uma música alta tocava no salão alugado. Pessoas aglomeradas e abusando de uma ótima comemoração. Luzes azuis brilhavam em harmonia com a batida do som, iluminando o local agitado. O time de basquetebol de SWH também estava lá. Incluía também o time adversário de Busan.
Enquanto os jovens se acabavam na bebida e na dança, mais ao canto do salão se encontrava uma pessoa com um pingo de desânimo em seu olhar, sentada em um dos sofás com nada além do que um copo com soju em sua mão esquerda. Park Sooyoung parecia estar em ruínas naquele instante.
Ao notar tal coisa, uma companhia se acrescentou ao seu lado no sofá.
— Pelo visto, você tá bem entediada hoje... — disse Seulgi após bebericar um pouco de sua bebida não tão forte.
— Não mesmo. Só vim porque meu pai me obrigou...
— O professor Haeshin teve razão em te obrigar, até porque você também trabalhou duro nessas últimas semanas, Joy.
— Talvez. — a mulher grunhiu, mirando o copo sem graça em suas mãos. Até que ela se lembrou de algo que gostaria de saber, então se virou para a mais nova. — E Wendy?
— Wendy não pode vir hoje por estar se recuperando do tornozelo.
— Ah, sim... — seu desânimo voltou. — Faz sentido, ela precisa descansar.
Seulgi notava o jogo de expressões da mais velha, o que a deixou um tanto curiosa.
— Sabe, ela me contou sobre o que aconteceu entre vocês duas... — a Kang resolveu se pronunciar sobre a discussão que teve com a Son há algumas semanas.
— Uh, aposto que Wendy deve ter me xingado pra caramba! — a Park divagava.
— Na verdade, não. — isso atraiu a atenção da treinadora. — Wendy estava mais desolada pelo "término" do que pelo que você disse a ela.
— Puxa...
— Ela tem sentimentos verdadeiros por você, Joy. Mas eu também entendo o seu lado e sei que aquela tampinha foi um pouco precipitada nas ações.
— Eu sei disso, Seulgi. Nesses dias em que nós ficamos juntas, realmente pude perceber o quão sincera ela estava sendo. A culpa foi minha por se entregar demais, por dar a ela expectativas e ter percebido tarde demais que não era o certo.
— Mas o que há de errado em vocês duas ficarem juntas? Não é recíproco? — esta era uma grande dúvida que a tomboy carregava.
— Se eu te contar, talvez você nem acredite, mas é. — um sorriso meio fraco iluminou sua face. — Tudo é recíproco. Eu gosto da Wendy de uma maneira tão inédita, que eu acredito que nunca algum outro garoto ou garota tenha conseguido este mérito. Eu gosto da Wendy por demais, Seulgi! E é por isso que isso dói em mim, tanto quanto dói nela. Eu só não quero estragar os planos e nem trazer algum arrependimento pra vida dela... imagina se, lá na frente, ela de repente perceba que não era o que queria...?!
— É..., eu não tenho um grande conselho para te dar, mas posso dizer que me identifico com o seu relato.
— Problemas com Irene? — Joy deduziu.
— Não são bem problemas..., quero dizer, um pouco da minha parte. — notando ter a atenção de Sooyoung, a tomboy resolveu prosseguir: — Nas últimas semanas, a gente tem ficado mais próximas, sempre com demonstrações de carinho e tal, mas eu ainda sinto um pouco de culpa, porque é estranha essa sensação, sabe? É como se eu fosse a pior pessoa do mundo para a minha namorada, como se eu não merecesse nada disso... Eu quero ser sincera, mas acabo por ter medo em machucá-la. Então, eu realmente entendo o que você está passando, não se preocupe.
— Estamos as duas na merda, é isso? — a mais velha ludibriou, ganhando um acenar da Kang ao seu lado.
— Parece que sim. — ela riu. — Que tal bebermos bebidas de verdade?
— Seria ótimo. — a Park concordou, acompanhado a outra jovem até o bar.
Joy e Seulgi fizeram seus pedidos e se sentaram nas banquetas, degustando das bebidas ardentes e jogando conversa fora. Não havia uma hierarquia de "aluno e professor", havia somente uma amizade se fortalecendo entre elas. Era curioso notar que os assuntos não eram as pautas de sempre, mesmo havia os nomes de Irene e Wendy envolvidos. Tudo se resumia em piadas, histórias inventadas, risadas bobas e alguns tapas na cabeça.
O tempo se passou, a festa acontecia e elas continuavam ali, como se fossem grandes amigas de longa data. Observavam o movimento apertado, reclamavam de que cada batida forte ou músicas chatas que ecoavam pelo salão. A tomboy então decretou que aquele seria seu último copo, logo Sooyoung resolveu dizer o mesmo.
— O que acha da gente se jogar um pouco na pista? — por incrível que pareça, foi uma sugestão de Joy.
— Tá louca? Não quero parecer uma barata tonta no meio dessa gente... — Seulgi ria feito idiota.
— Ah, vamos lá, tomboy...! — a mais alta a puxou contra sua vontade para a pista. — Dance para suas fãs!
— Aish, você me paga, mini Haeshin!
— Apenas dance, tomboy! Seu público te ama!
Àquela altura do campeonato, o álcool já estava começando a fazer efeito na cabeça de ambas. Seulgi fez alguns movimentos desengonçados na pista, aproveitando para se envolver ao som de alguma música que ela sequer conhecia ou se lembrava de conhecer. Tudo o que a tomboy esperava era girar, girar e girar, tal como o licor fazia com sua mente.
No entanto, a imagem de alguém a fez parar.
— Irene... — ela enxergava ali sua namorada, lindamente perfeita com seu vestido justo e rosa, o qual acentuava bem sua cintura fina. — Meu amor... — a tomboy sorriu, quase que tropeçando em sua direção.
— Oi... — a menor sorriu de volta, não tardando em segurar sua namorada pelo torso, evitando que a mesma caísse em algum fragmento de chão.
— Como... como você entrou aqui? Era uma festa só para os times...
— Bom, eu tenho o privilégio em ser Bae Joohyun, amor... — a patricinha envolveu seus braços em torno do pescoço da maior. — Por isso, resolvi vir aqui para compartilhar minha alegria com você, assim como você irá compartilhar sua alegria comigo...
— Então o jantar deu certo?
— Como você havia me dito mais cedo. — Irene deixou um selinho em seus lábios.
— Estou tão feliz por você, princesa... — Seulgi a segurou pela cintura para se juntar à música aleatória que tocava no salão. — Tenho tanta coisa para te dizer, Irene, eu...
— Shhhh! — tapou seus lábios com o indicador. — Não diz nada... — Irene sussurrou em seguida. — Apenas dance comigo, amor... e me beije.
Seulgi acatou ao seu pedido com prazer, iniciando um beijo quente e recíproco aos lábios de sua garota, misturando o gosto do energético com o vinho que Irene havia degustado em seu jantar. Um ritmo apaixonado, que não condizia com a música que ecoava na festa, mas condizia com o amor que ambas sentiam.
Por outro lado, estava Joy, livre em seu próprio mundo, dançando tanto, a ponto de trombar com uma outra pessoa no meio da multidão.
— Perdão!
— Está tudo bem... — mas aquela voz ela reconheceu muito bem.
— Wendy... — seus olhos brilharam. — Oh, Deus, Wendy! Eu queria tanto te ver! — ela abraçou rapidamente de uma maneira desajeitada.
— É, eu imagino, baby... — a mais nova riu.
Baby. Ouvir aquilo novamente era tão bom para a Park.
— Seu tornozelo... você está bem?
— Eu estou, fique tranquila. — ela assegurou prontamente. — Eu queria muito te ver também, por isso vim até aqui...
— Sério? Oh, Deus...
— Mesmo que você tenha me dito tudo aquilo, pouco me importa os seus pontos. Eu gosto de você, porra!
— Eu também gosto de você, Wendy! Sinto muito por...
— Pare com isso, Joy! — Wendy a calou com seus próprios lábios, rapidamente. — Sem ressentimento, nem culpa, apenas nós duas, ok? Não se importe com mais nada...
— Não irei... — Joy quis seguir seu próprio ritmo ao puxar Wendy pela cintura e beijá-la com o favor. Tudo o que fazia sentido era aqueles lábios, tão quentes e saborosos, contra os dela.
Luzes azuis iluminavam o salão. Música alta e danças loucas. Movimentação em volta, onde tudo acontecia. Tudo parecia certo, nada estava errado. Nada mesmo...
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