Observava calma e melancolicamente os cadarços soltos de seu velho e sujo tênis já devidamente calçado em seu pé direito enquanto, na realidade, estava habitualmente absorto em pensamentos que variavam desde suas boas e nostálgicas lembranças de sua mãe e sua harmoniosa, doce e gentil voz até outras frações desgostosas e desagradáveis de sua traumática infância. Lembrava-se de como era frustrante e agoniante observar outras crianças e, inclusive, seu próprio irmão e compará-las a si. Como era doloroso... E esta angústia que lhe assombrava não era somente causada por sua notável inferioridade e disformidade. Obviamente, estas eram as maiores proveniências de tamanha algia, entretanto apenas eram exacerbadas e degeneradas pela ignorância e pela antipatia alheia. Crianças podem ser cruéis. Recordava-se de como era tratado quando mais novo, de garotinhos e garotinhas que lhe jogavam brinquedos para machuca-lo e consequentemente afasta-lo deles; das brincadeiras, músicas e piadas que faziam consigo somente com o intuito de magoa-lo; dos empurrões, beliscões, mordidas e puxões, de tudo. Ainda sim, eram apenas crianças e, muito provavelmente não eram más ou verdadeiramente inclementes e sequer entendiam a gravidade ou a extensão de tais ações. Desde muito cedo L compreendera que não só é como sempre será da natureza humana temer o incompreensível e o diferente. Ainda estão em fase de desenvolvimento, em incessantes processos de aprendizagem. De fato, crianças podem ser cruéis, entretanto, raramente o fazem de maneira proposital. Contudo, pessoas, seres já independentes, conscientes e com o mínimo de formação opinativa tanto podem como normalmente são perversos e desumanos simplesmente porque podem, e isto necessariamente os torna maus. Tad era mau. Já tivera inúmeros problemas com jovens de sua idade, desde agressão física a verbal, entretanto não era capaz de se lembrar de alguém que fora atroz ao ponto de tentar despi-lo a força somente para humilha-lo. Definitivamente não gostava de ser tocado, de ser visto e, as vezes, sequer gostava de ser ouvido e ele conseguira exceder todos os limites não somente lhe agredindo física, emocional e psicologicamente como o impelindo a lembrar do quão covarde, lânguido e insuficiente era. Tad poderia fazer o que quisesse com sigo e jamais protestaria ou revidaria descente e eficientemente. Simplesmente não conseguia. L era totalmente impotente necessitando constantemente de auxílio e de proteção, nunca sendo capaz de realizar qualquer coisa sozinho.
— Lawliet? – Indagou o ruivo ao abrir receosamente sua porta pintada com tinta branca barata adentrando no cômodo explicitamente nervoso e preocupado, fechando o pedaço de madeira atrás de si e se aproximando do menor, embora mais velho, assentando-se ao seu lado no colchão excessivamente macio de sua cama. – Tava pensando? – Questionou forçando um riso, logo demonstrando sua inquietude novamente. – Eu te chamei umas três vezes, mas.. você não ouviu... – L permaneceu em silêncio enquanto encarava o rosto cada vez mais tenso do irmão, observando sinais claros de dessossego: mãos levemente trepidas que agarravam seu lençol branco, voz trêmula e falhada assim como sua expressão facial sempre translúcida e sincera. – Não quer mesmo conversar sobre ontem? – Mail era tão amável... Sempre se preocupando com todos, sempre se prontificando a ajudá-los... Dentre todos eles, indubitavelmente Matt era aquele que menos merecia ter como irmão.
— Não. – Respondeu fria e rispidamente demais, muito mais impassível do que pensara que deveria soar. Não era bom naquilo. – Obrigado. – Acrescentou tão insensivelmente quanto a fala anterior em uma falha tentativa de melhorar o conteúdo emocional da frase, voltando a amaldiçoar sua falta de sentimentalidade. De fato, não merecia...
— Tudo bem. – Sorriu gentil e ternamente demais para que fosse de maneira genuína já acostumado com tal indiferença, afinal obtinha Mello como seu melhor amigo. – Acho que eu também já sei a resposta, mas, não é melhor você não ir hoje? – Lawliet não era necessariamente previsível, ainda menos se assim não desejasse ser, todavia sua teimosia já era uma espécie de marca registrada.
— Tenho algo importante para fazer...
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— Por favor, Light-kun! – Suplicou a loira pelo que parecia a milésima vez dentro daqueles míseros cinco minutos que se passaram desde que chegara na escola. Suas mãos passavam desavergonhadamente sobre seu peito assim como seus lábios que estavam perigosamente perto dos seus.
Surpreendentemente, estava de bom humor o suficiente para acatar seus pedidos. — Que horas? – Respondeu após suspirar levemente irritado. Bom, não era como se a proposta dada a ele fosse tão árdua ou desgostosa a ponto de nega-la. Admitisse o japonês ou não, Misa era a garota mais bonita e experiente (para não dizer algo indelicado) com que já havia se relacionado em sua vida.
A loira deu alguns pulinhos e gritinhos histéricos de alegria erradicando o espaço entre seus lábios ao levar ambas as mãos à cada lado de sua face, puxando-o para um rápido selinho. — Os pais de Misa-Misa saem às nove. – Disse pouco antes de beija-lo novamente colocando seus braços atrás de seu pescoço para aproxima-lo ainda mais e tornar o ósculo mais profundo. Light, por sua vez, permitiu-se fechar seus olhos para sentir mesmo que breve e superficialmente o gosto doce de seu gloss de cereja (cujo ele mesmo dara a ela), adentrando sua boca com a língua. Entretanto, antes que pudesse de fato se entreter com tal prazer momentâneo e explorar a cavidade já muito conhecida, pôde jurar ouvir, mesmo que quase de maneira inaudível, seu nome ser chamado. E não era por qualquer voz... Oh não, na segunda vez pudera identificar com precisão: era Lawliet. Agora, porque infernos estava pensando nele num momento como aquele era o que gostaria de saber. Instintivamente cessou o contato de seus lábios com certo nervosismo, percorrendo brevemente seus olhos pelo ambiente praticamente deserto até encontrar a figura pequena e magra que jurava ter escutado ao seu lado, a poucos metros de distância. Sequer fora capaz de proferir qualquer palavra (ou pensar no que diria) quando Misa gritara em seu ouvido em virtude do susto repentino, agarrando suas roupas. Seus lábios estavam cortados e sua bochecha esquerda estava arrochada e levemente inchada, impelindo-o a imaginar como deveria estar o restante de seu corpo. — Light! – Gritou a garota novamente mesmo que isto não houvesse sido capaz de retirar sua atenção do garoto a sua frente. Não percebera a princípio em virtude dos hematomas em seu rosto, mas diferentemente do habitual, L DEMONSTRAVA de maneira EXPLÍCITA, deve-se salientar, o que estava sentindo: a mais pura e singela vergonha. Sua face sempre pálida e impassível estava agora com uma coloração excessivamente avermelhada assim como seus olhos negros outrora opacos e sem vida que estavam quase que apavorados, muito provavelmente pelo berro histérico da loira a sua frente. – Ele tava nos espionando! – Chacoalhou a manga de seu casaco negro que até então segurava enquanto choramingava como se exigisse que fizesse algo, obrigando-o a dar-lhe sua tão requisitada atenção. – Seu... Seu pervertido!
— P-Pervertido? Eu? – Indagou comumente baixo, todavia com a voz tão atipicamente trêmula que gaguejara, apontando para si mesmo decepcionado e incrédulo com tal acusação.
Antes que pudesse questionar o porquê de sua presença, afinal estavam propositalmente no local mais afastado e deserto do colégio (atrás do prédio) e talvez até mesmo como ele havia os encontrado, Amane esbravejou em concordância com sua indagação concernente a sua acusação:— É, seu tarado nojento! – Sua fúria e asco eram tão intensos que incentivaram-na a dar alguns passos em sua direção, ameaçando agredi-lo mesmo que com tapas fracos e amenos, afinal a loira não passava de uma reles líder de torcida aspirante a cantora. Entretanto, pensou maldosamente, se de fato houvesse uma briga entre os dois e tivesse de apostar em alguém, indubitavelmente a escolheria. Mesmo em sua melhor forma o moreno não deveria ser capaz de levantar dois lápis com uma só mão.
Temendo estar comumente correto, Yagami a segurara pelo pulso chamando-a pelo nome para alertá-la, obtendo uma resposta de imediato. Se havia algo que admirava na loira era sua submissão. Não precisava fazer muito esforço para intimida-la e ainda menos para ser somente obedecido. Elevar a voz um ou dois tons acima do gentil e calmo habitual era mais do que o suficiente para ser ouvido.
— Mas Light-kun! Ele estava nos espionando! – Protestou indignada fazendo-o relembrar de suas inúmeras teses e especulações a respeito dele. Se Lawliet realmente fosse autista como suspeitava sua dificuldade de comunicação e sua interação social inadequada eram lógicos. Poderia não gostar dele, todavia não seria certo ou justo repreende-lo ou no caso, até mesmo violenta-lo, pela indelicadeza e impropriedade com a qual tratava diversas situações independente se tornava-as desagradáveis ou rudes.
— N-Não eu... Não estava espionando. – Esclareceu agora extremamente mais calmo, gradativamente deixando com que a opacidade e imparcialidade tomassem conta de sua face, mesmo que ainda deixassem certa dúvida e nervosidade transparecem. – Nós não terminamos a dissertação então presumi que tinha se esquecido. – Disse tão fria e insensivelmente como o habitual. Sempre pensou em si mesmo como um exímio manipulador, ocultando, mentindo e simulando com extrema maestria, entretanto tinha de parabenizá-lo, a perícia com qual L suprimia seus próprios sentimentos era assustadora. – Eu iria sugerir que o terminássemos antes da aula, mas... – Pareceu relutar por um momento, encarando o chão como se buscasse uma resposta. Bom, talvez já a obtivesse e na verdade procurasse somente a coragem necessária para dize-la. – Acho que eu posso esperar vocês acabarem. – “Acabarem”!? O que infernos aquilo sugeria? Normalmente não ficava constrangido, todavia aquela simples palavra lhe desestabilizara. “Acabarem” com o que!?
— Não, nós... – Dissera um tanto quanto alto com a voz trepida, se recompondo logo em seguida. – Vamos terminar o trabalho. – Proferiu gentilmente, sorrindo e se aproximando dele.
— M-Mas Light-
— Misa. – A interrompera antes que a loira dissesse algo que pudesse se arrepender, voltando-se para ela. – Conversamos depois. – Mesmo que sua voz e sua face transparecessem ternura e serenidade Amane havia compreendido.
Fora quase uma ameaça.
O japonês não suportava ser cortado por suas intromissões infantis e detestava quando a garota insistia. Ela o conhecia melhor do que ninguém, até mesmo do que Ryuk, e sabia não só interpretar e identificar quando ele estava aborrecido como obtivera ciência por experiência própria do quão Light podia ser agressivo e cruel quando irritado ou contestado. A loira estremeceu ao encara-lo somente agora notando a frieza e a mordacidade com as quais lhe examinava de volta. Talvez tivesse passado dos limites... Calou-se assim que entendeu o que aquele “conversamos depois” significava, limitando-se a observa-lo se afastar com o garoto mais estranho que já vira em sua vida até que abandonaram seu campo de visão. Agora, tudo o que podia fazer era caminhar tristemente para sua sala que infelizmente sequer era a mesma que a de seu amado, torcendo até o mais profundo de seu âmago para que ele lhe perdoasse mais uma vez por ser tão estúpida e não desistisse de passar a noite com ela. Seus pais iriam viajar o fim de semana inteiro e Misa odiaria ter de ficar sozinha. Simplesmente detestava ficar trancada dentro de sua enorme casa sem qualquer companhia. Não obtinha amigas fora os amigos de Light e bom, na verdade, eles não pareciam gostar muito dela...
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Sentaram-se novamente nas mesmas mesas de estudo que utilizaram todas as outras vezes um ao lado do outro, retirando seus materiais e os colocando em cima do móvel de madeira. Light sempre separava somente o necessário retirando primeiramente seus cadernos, pastas ou livros de sua mochila e seu estojo em seguida, dispondo-os na mesa de maneira organizada e uniforme, colocando sua bolsa ao seu lado esquerdo para não atrapalha-lo. Lawliet, por sua vez, colocava sua surrada mochila em cima do grande objeto de madeira e a abria, puxando todos os seus materiais para fora de maneira anárquica. Folhas bagunçadas e fora de ordem, cadernos e livros sujos e amassados, lápis e canetas velhos e gastos que ficaram fora do estojo desasseado foram esparramados por toda a parte. Compreendia o porquê seus materiais estavam tão deteriorados e encardidos, afinal quando aquele “desentendimento” ocorrera e chegara no local, seus cadernos e livros estavam no chão, pisoteados e rasgados, todavia, sua falta de desorganização ainda era extremamente desconcertante e incomoda. Bom, deveria se focar na dissertação e não em L. Já havia se atrapalhado e se prejudicado demais por causa dele... — Você ainda tem aquele resumo em tópicos dos argumentos? – Talvez ele tivesse se perdido na confusão do dia anterior.
Como resposta muda, ele virou-se para encara-lo tombando levemente sua cabeça para a esquerda e, neste momento, Yagami soube que ele não havia compreendido. Não sabia onde, mas recordava-se de ter lido em algum lugar que autistas faziam muitos movimentos repetitivos e, no seu caso, L inclinava-se para a esquerda quando não entendia algo. Todavia, o que havia sido ininteligível? “Lawliet indubitavelmente não raciocinava como alguém normal”. Lembrava-se da última vez que havia pensado sobre isto. Seu “não entendi” não dizia respeito ao que havia dito em si, sobre ainda não haverem decidido sobre qual perspectiva a dissertação iria abordar, mas sim sobre a falta de lógica que tal oração lhe parecia ter pois, no seu ponto de vista, só existia uma linha de raciocínio plausível. Ainda não o compreendia por completo e muito provavelmente não o faria, todavia já obtinha uma vaga ideia de como sua reflexão funcionava. Se tivesse que descreve-la diria que ele “pulava etapas”. Logicamente, sua dúvida não era concernente ao resumo em si, mas sim a razão pela qual lhe indagara, afinal, Light não queria utiliza-la desde o princípio. — Você ganhou a aposta. – Admitiu a contragosto. Mesmo que odiasse perder, gostava de pensar em si mesmo como uma pessoa justa.
L era incompreensível, sendo extremamente árduo lê-lo, contudo acreditava que ele estivesse constrangido e, desta vez, não era por causa de Misa e suas irritantes e incessantes demonstrações de afeto. Ele cortara o contato visual (sinal de nervosismo, muito embora parecesse calmo) passando a encarar seus pés calçados em cima do assento da cadeira, apoiando sua cabeça em seus joelhos já que se sentava daquela peculiar e habitual forma enquanto mastigava seu polegar direto e abraçava suas pernas com o braço esquerdo. Talvez (lê-se indubitavelmente) fosse desconfortável ser ajudado por alguém cujo tratara com grosseria, raciocinou arrogante e cruel, ficando feliz ao pensar que Lawliet estava arrependido. — Podemos fazer do seu jeito... – Ah, não sabem como fora satisfatório ouvir aquilo...
— Não, não temos tanto tempo. – Adoraria fazê-lo dissertar e escrever algo contra a sua vontade, entretanto tinha prioridades. Naquele momento já haviam se passado quase vinte minutos da primeira aula e sequer haviam começado. Tinham de fazer o documento e, como se não fosse o suficiente, preparar uma apresentação tendo o mesmo como fundamento em pouco menos de uma hora e meia já que na terceira aula deveriam entregá-lo. Realmente, era um tempo muito escasso para uma atividade tão extensa. Como pudera se esquecer de algo assim!? Se L não o tivesse dito ficariam sem aquela nota. – Ainda temos que montar uma apresentação então acho melhor dividirmos em duas partes. Eu posso ficar com o seminário e você pode escrever a dissertação. – Lawliet podia ter um vocabulário abrangente e uma ótima pronúncia, todavia falava incrivelmente baixo. Claro, ainda passaria o que ele escrevesse a limpo pois sua letra continuava sendo horrível, mas com certeza era uma opção mais prática e sensata do que ter uma apresentação medíocre. – Se não se importar. – Apressou-se em acrescentar.
L permaneceu calado, contudo, pareceu concordar.
Normalmente, iria espera-lo terminar a sua parte para que pudesse utiliza-la como base para iniciar a sua, todavia como não obtinham tempo ambos faziam suas respectivas tarefas simultaneamente e, teoricamente, não haveria discordância entre seus resultados pois usufruíam dos tópicos por Lawliet previamente escritos. E, no decorrer de sua pesquisa, o japonês parava de ler ou de escrever somente para olha-lo em diversos momentos. Não compreendia exatamente o quê era, mas o menor parecia lhe despertar a curiosidade e o interesse de uma maneira até então inédita. Enquanto ele utilizava um dos computadores para sua consulta, L optava pelos livros, deixando vários deles abertos em páginas diferentes e bagunçando ainda mais a mesa que não aparentava mais ser tão grande, todavia, o que mais lhe chamava a atenção era que, aparentemente, o moreno lia incrivelmente rápido. Talvez, sua leitura também “pulasse etapas”, ainda que sua escrita, peculiarmente era inacreditavelmente lenta. Lawliet parecia se concentrar de maneira extrema no que escrevia enquanto que suas mãos tremiam ao desenhar o formato das letras. Provavelmente, era por isto que eram quase ilegíveis...
Espere. Se ele escrevia tão lenta e calmamente, como sempre terminava suas tarefas antes dele!? A maioria das provas do começo do ano letivo já haviam sido corrigidas e entregues, então, partindo da suposição que Lawliet ainda as tivesse, poderia “abrir” seu armário com a chave mestra do zelador – cujo teria acesso fácil devido ao Grêmio Estudantil – e “pegar emprestado” alguma delas (preferencialmente a de matemática) somente no intuito de analisar suas respectivas respostas e compará-las as suas. Apenas por curiosidade...
— Light. – Chamou-o tão calma e baixamente que por pouco não escutara, retirando-o de seus pensamentos larápios e de certa forma imorais. Virou-se para o lado se deparando com um L machucado que lhe encarava de volta com aquelas orbes tão absurdamente negras que sequer pareciam reais, obrigando-o novamente a pensar em como nunca o vira piscar. – Não acho que tenha percebido, mas o sinal acabou de tocar. – Disse tão serenamente que Yagami demorara para compreender o conteúdo de sua oração.
Ainda confuso, o japonês direcionara rapidamente seus olhos até seu celular o segurando e utilizando seu polegar para desbloquear sua tela, arrependendo-se ao fazê-lo. “10:02 AM”. — Merda. – Seus olhos se arregalaram ao constatar o horário assim como seus lábios que deixaram tal palavra escapar em pura impulsividade. Clicara velozmente em seus contatos levantando-se de súbito enquanto encaminhava uma ligação para um de seus contatos mais frequentes. Não percebeu quanto tempo passou apenas o observando, sequer chegando perto da finalização de sua apresentação... O que acontecera consigo!? Porque L lhe distraia tanto? – Ryuk? – Colocara o telefone celular em seu ombro esquerdo o prensando contra sua orelha para equilibra-lo e desocupar sua mão, recolhendo suas coisas ligeira e desesperadamente. – A Senhorita Glaynor já chegou na sala? – Indagou ao ouvi-lo do outro lado da linha enquanto recolocava seu caderno e seu estojo na mochila. – Pode atrasar ela pra mim? – Lawliet, por sua vez, somente enfiava seus materiais anárquica e aleatoriamente em sua bolsa de maneira totalmente calma e despreocupada quase que como se zombasse dele. Ele parecia não ligar muito para a nota que indubitavelmente iriam perder por aquela dissertação não entregue. – Eu e o Lawliet não-Como assim? – Se auto-interrompeu ao escuta-lo, incrédulo a respeito do que ele havia dito. Simultânea e automaticamente suas mãos soltaram sua bolsa, enquanto que suas narinas e pulmões inspiraram e expiraram pesadamente em busca de calma, tentando não se aborrecer com a notícia e dizer algo indelicado na frente do pand-L. Não deveria mais chamá-lo de anêmico, corrigiu-se em pensamentos. – Obrigado. – Todavia, somente se enfureceu ao ouvir a enfadonha e escandalosa risada repleta de escárnio e zomba de Ryuk do outro lado da linha, encerrando a chamada ao clicar na correspondente tecla com muita mais força do que o necessário. Suspirou novamente antes de voltar a se sentar agora já mais aliviado, lembrando-se de arrumar sua postura já que o menor ainda permanecia ao seu lado.
— O que foi? – Questionou Lawliet temendo ser deixado de fora da breve conversa do japonês.
— Ela faltou. – Todo aquele esforço fora praticamente em vão! Quer dizer, não era exatamente assim... A verdade era que L havia feito tudo, desde os argumentos previamente escritos e organizados em tópicos ao corpo em si da dissertação. Somente seu empenho para terminá-la a tempo tinha sido desperdiçado já que Light não fizera absolutamente nada além de observa-lo, ainda que, no presente momento, estivesse negando a existência de tal fato. No entanto, diferentemente de sua falta de atenção, não poderia ignorar o garoto ao seu lado. Seu coração disparou completamente histérico e alarmado, observando o menor voltar a encostar sua cabeça entre seus joelhos de modo que sua face ficasse completamente encoberta por sua amassada calça e por seus fios um tanto longos. Novamente outro sinal de acanhamento... Entretanto, não fora aquilo que lhe desesperara... Suas costas e ombros começaram a se mexer de maneira similar a soluços, e sem poder vê-lo verdadeiramente supôs, assustando-se com tal hipótese, que ele estivesse chorando. Já havia passado por drama demais no dia anterior... Felizmente, antes que pudesse indagar a se ele estava bem, pôde ouvir sons ligeiramente peculiares que, após se agravarem o suficiente para serem compreensíveis, identificou como riso. – Você está rindo? – Perguntou quase incrédulo, ficando ainda mais indignado ao notar o quão sua risada se exacerbara ao fazê-lo. Ele não estava sequer perto de gritar, ainda sim estavam em uma biblioteca em completo silêncio e, consequentemente, mesmo sua baixa voz (agora em um tom normal) parecia alta. – Qual é a graça?
— N-Nada. – Respondeu em meio ao riso com a voz trêmula, assustando-o levemente. Lawliet era sempre impassível e melancólico, vê-lo rir era simplesmente apavorante...
— O que? Por que você está rindo? – As curvas que gradativa e sutilmente surgiam nos cantos de seus finos lábios lhe passaram despercebidos divergentemente da harmoniosidade de sua voz. Até então, nunca repara no quanto sua voz era bonita e, sua risada por sua vez, era tão melodiosa quanto.
— Você... Nós fizemos às pre-e-ssas... – Dizia pausadamente tentando findar o riso e equilibrar a respiração com a fala. – E você... – Suspirou novamente em busca de oxigênio, cessando gradativamente a gargalhada e tornando-a menos audível. – Você ficou desespera-ado.
— Isso... – Não havia graça, ele estava rindo de si e não consigo, entretanto, não conseguira se zangar. Dentre todas as ocasiões marcadas desde seus hábitos estranhos, ações repetitivas, aparência peculiar à carência de boas maneiras, aquela situação em particular havia sido a mais emocionalmente curiosa e talvez até mesmo aprazível em que desfrutara de sua companhia. – Isso não tem graça! – Exclamou tentando demonstrar um aborrecimento que, na realidade, não sentia, falhando em tão árdua tarefa. Paulatinamente, o sorriso nada menos que idiota em seu rosto ressurgira e se agravara em uma gargalhada que, consequentemente, não somente se uniu a de L como a exacerbou. – Eu reaalmente achei que iríamos ficar de..de recuperação por ca-ausa disso!
Até que, como tudo na vida, seus risos se cessaram paulatinamente quase que de maneira simultânea, todavia, motivados por razões divergentes. Lawliet passou a demonstrar certo desconforto, provavelmente dor física, o obrigando a recordar-se novamente a contragosto do incidente do dia anterior, sentindo desde compadecimento à impotência ao observa-lo levar suas mãos ao seu abdômen como se pudesse curar seus ferimentos ou, no mínimo, deixar de senti-los. Nem mesmo um sorriso fora capaz de manter em sua agora levemente triste e preocupada face. Contudo, novamente antes que pudesse lhe perguntar se estava bem, L voltou a encara-lo com aquelas orbes tão melancolicamente negras, ainda que aparentassem estar muito mais vivas, diferentemente de como estavam de manhã. Claro que, talvez, só estivesse enxergando complexidade e vivacidade onde simplesmente não haviam. — Vamos fazer com antecedência. – Disse concernente obviamente, aos outros inúmeros trabalhos que teriam de iniciar e finalizar juntos, no entanto, não conseguia acreditar que era sobre isto que referia-se. – Na próxima vez... – Soltara alguns tons mais baixo.
“Pulando etapas”.
Talvez, estivesse de fato vendo sentimentalismo, complexidade e vivacidade em palavras rasas e vazias, todavia não pôde interpretar de maneira contrária a “não desista, ok?”
— Ok.
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