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História That's Life - Tudo está bem - História escrita por JoaninhaMalefica - Spirit Fanfics e Histórias
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História That's Life - Tudo está bem


Escrita por: JoaninhaMalefica

Capítulo 13 - Tudo está bem


Fanfic / Fanfiction That's Life - Tudo está bem

Matt adentrou a sala logo atrás de Mello despreocupadamente, afinal o único que tinha aversão a se sujar de alguma forma era o loiro, observando sem muito interesse o recinto. Era uma classe comum, com carteiras e cadeiras viradas para a lousa branca enquanto esta se dispunha anexada à parede, próxima a grande mesa do professor, e um armário médio ao lado desta com duas caixas em cima, uma aparentemente vazia e outra com utensílios e materiais que pareciam pertencer ao laboratório de química. A diferença mais marcante era que ao invés de ar-condicionado, o lugar possuía apenas um ventilador, a pintura das paredes estava pichada com desenhos obscenos e palavrões e algumas tábuas do piso pareciam parcialmente quebras ou soltas do chão. Na verdade, estava em condições muito melhores do que as salas de detenção de suas antigas escolas... Ryuk estava sentado na última carteira da coluna ao lado da parede em que a porta se encontrava; Broca estava na mesma fileira, na parede oposta do outro lado da sala com seus amigos (cujo Mail não fazia a menor ideia de seus nomes): o moreno de touca roxa e o loiro de olhos castanhos, estes que estavam respectivamente na carteira a sua frente e em uma ao seu lado. Também haviam duas garotas, uma de cabelos azuis que pintava as unhas de preto e outra de fios castanhos escuros que utilizava esmalte vermelho, sentadas mais para a frente, na terceira fileira. Mihael optou por escolher um lugar próximo de Ryuk, deixando com que o ruivo se sentasse na mesa a sua frente, encostando-se confortavelmente na parede, enquanto ele se assentou ao seu lado. Retirou o console que ainda permanecia em seu bolso, retomando a fase em que parara do Super Mario Bros 2 que iniciara pela sexta vez no dia anterior. Em um momento, seus olhos recaíram sobre o loiro, apenas para averiguar o que ele fazia, por alguns segundos se perguntando o que ele escrevia no celular, logo obrigando-se a voltar sua atenção para o jogo. Detestava olhar para ele por muito tempo pois automaticamente começava a pensar no quanto o amava e isto tinha duas consequências: pau duro e tristeza (as vezes ambas ao mesmo tempo). Um silêncio incômodo e tenso se instalou no ambiente até que Ryuk soltara um suspiro excessivamente alto, reclamando do quanto estava entediado, todavia, antes que Matt pudesse iniciar uma conversa com ele guardando seu jogo na algibeira de sua calça outra vez, outro garoto adentrou a sala com Steverson, o professor de matemática mais chato de todos. Ele era branco de cabelos loiros e olhos azuis, um rosto muito genérico, ainda que bonito, salvo o piercing negro no lábio inferior ao lado direito. Seu porte físico era alto e forte com ombros largos, mas com braços não tão grossos e suas vestes eram típicas de um menininho mimado que resolveu se revoltar contra os pais: jaqueta de couro preta, calça jeans rasgada com corrente e essas modinhas do estilo BadBoy.

 

— E eu não quero ouvir nem um pio! – Gritou o careca não apenas irritado como exausto, recebendo uma risada de puro escárnio como resposta. – É sério, Jack! Já estou farto das suas brincadeiras infantis e irresponsáveis! – O repreendeu agora ainda mais colérico apontando para ele. Seu rosto ficara vermelho e uma veia de sua testa ao lado esquerdo saltava na cabeça de ovo pulsando ao berrar para o loiro que, em contrapartida se portava sereno e sossegado, buscando um lugar para se sentar.

— Tá legal... – Disse baixo, porém era óbvio que ainda caçoava do mais velho, levantando suas mãos para cima como forma de redenção. Infelizmente (pois Mail não gostara dele) “Jack” resolvera se assentar atrás de Mello.

Fora somente naquele momento que percebera que o amor de sua vida fuzilava o loiro com o olhar e que, provavelmente, isto que o incitara a se sentar próximo a ele, mais precisamente na carteira atrás dele, ao lado de Ryuk. Visivelmente enfurecido, Keehl se levantou repentinamente, pegando a mochila que outrora jogara no chão para se locomover até às garotas que pintavam as unhas, do outro lado da sala. — Eu perdi alguma coisa? – Cochichou para Ryuk, tendo ciência de que ele sempre sabia de tudo que acontecia no colégio. O outro loiro - o desgraçado que havia feito ou dito algo para Mello - riu baixo, contente com sua reação à sua presença, fazendo o estômago de Matt se revirar em desgosto e asco. Ryuk fez um sinal com a mão para que ele se aproximasse, debruçando-se sobre a mesa para que ficassem o mais próximos possível. Entretanto, mais uma vez, foram interrompidos pelo professor que, após suspirar em busca de calma e autocontrole, se locomoveu rapidamente até o armário ao lado da lousa, pegando a não tão pequena caixa de papelão que estava acima deste.

— Celulares e eletrônicos na caixa. – Proferiu indiferente e impositivo se colocando em frente a eles, silenciando-os propositalmente. Ryuk e Jack que já estavam mais que familiarizados com o procedimento, retiraram os aparelhos dos bolsos sem resistência ou relutância, enquanto Mail estava em dúvida se seria honesto.

Por fim, abdicou de seu celular o colocando no recipiente de papelão com zelo e carinho, sentindo a culpa lhe consumir aos poucos ao vê-lo se virar para confiscar o de Mello. — Espera! – Exclamou um pouco alto de mais, levando sua mão a algibeira da calça para retirar seu console Nintendo New 3DS-XL em conjunto com o celular que L esquecera nas arquibancadas e aguardou que Steverson se voltasse para ele novamente, os pousando na caixa. Certo de que havia acabado, o professor se virou outra vez e, de novo, Matt teve de chama-lo, deslocando seu amado e nostálgico Game Boy Advance de seu outro bolso o colocando de forma lenta, quase dolorosa, na caixa. – Cuidado, tá? Ele é bem velhinho... – Pediu sorrindo amarelo. O velho revirou os olhos e tentou novamente prosseguir com a coleta, sendo uma última vez chamado pelo ruivo. Mail abaixou-se e tirou seu Mini Game Nova Portátil de dentro de sua meia, o dispondo no recipiente de papelão um tanto envergonhado.

— Mais algum? – Questionou rudemente o professor, explicitamente aborrecido ainda que aliviado ao vê-lo negar com a cabeça, finalmente se locomovendo para outras carteiras.

Na verdade, pensou levemente culpado sentindo o console dentro de sua outra meia, ainda havia seu Vídeo Game Portátil...

Depois que todos os celulares e eletrônicos foram confiscados (ou quase todos), Steverson fez a chamada para conferir se todos os castigados estavam presentes e, após cerca de dez minutos, foram impelidos a se deslocar o refeitório. Desventuradamente, ao invés de lanches, foram distribuídas espátulas para que raspassem os chicletes colados em baixo dos móveis, vassouras para que varressem o piso e panos para que limpassem a superfície das mesas. Nunca mais se meteria em uma briga, prometeu Matt para si mesmo enquanto tentava puxar uma das gomas de mascar com o instrumento de metal. A pasta masticatória de coloração azul acinzentada ainda estava fresca e provavelmente fora colada lá naquele dia, pois o chiclete permanecia grudento e ficara preso na espátula. — Que nojo... – Soltara desgosto, demonstrando seu asco ao contorcer seu rosto enquanto observava a gosma densa ficar ainda mais colada a madeira. Queria ter ficado com uma das vassouras, contudo a cultura machista e misógina do patriarcado fizera com que estás fossem dadas as duas garotas do esmalte, enquanto “Jack”, ele e Mello ficaram com as espátulas, Broca e seus escudeiros com os panos e Ryuk, o único que tinha uma tarefa especial, com uma bucha para esfregar o chão enodoado e impregnado de sangue onde Beyond esmurrara aquele otário horas mais cedo.

— O que você acha? – Indagou Mihael.

— Que nunca mais vou mascar chiclete.

— É sério, Matt! – No momento, ambos estavam sentados no chão, um a cada lado da mesa, comumente falando de seus irmãos. O assunto em específico era Lawliet, com quem ele trocava mensagens após o intervalo e o que ele havia dito a Beyond quando o impedira de bater em um japonês (muito bonito por sinal).

— Eu tô meio assim né... – Disse após suspirar um tanto quanto cansadamente, certo de que Mello compreenderia. Como notara, aquele era um garoto muito bonito e extremamente popular, na verdade, era considerado o aluno mais exemplar e inteligente do colégio. O que ele poderia querer com L? Não, por favor não o compreendam mal, Mail amava seu irmão de uma maneira especial e realmente o admirava em todos os quesitos possíveis, apreciando verdadeiramente sua personalidade e presença. Todavia, ainda que de fato todo indivíduo possua características únicas que consequentemente o definem, o mais velho era uma exceção a regra. Provavelmente, o ruivo era aquele que poderia ser considerado como o mais comum deles, um pouco antes de Beyond e de Near, mas Lawliet ultrapassava até mesmo o loiro. Não sabiam ao certo o que era e, como definitivamente não era algo fácil de se definir e por consequência comentar, ficava somente subentendido. Embora fosse a pessoa mais inteligente, criativa e brilhante que conhecia, ele possuía defeitos, necessidades e dificuldades muito mais específicas e excêntricas do que qualquer um. Não eram todos (na verdade, nunca conhecera ninguém fora eles) que se prontificavam a compreende-las e respeita-las. Era no mínimo e na melhor das hipóteses, suspeitoso alguém como ele se relacionar com alguém como L. Matt bem sabia que a corda sempre estourava para o lado mais fraco e indubitavelmente não era o japonês que estava nesta categoria. – Acho muito legal ele ter alguém, tipo, que não seja a gente. – Explicou cessando os movimentos com a espátula para encara-lo, desistindo de retirar aquele chiclete grudento. Teria de ficar para a próxima pessoa que ficasse de castigo, quando ele já estivesse seco e de raspagem mais fácil. – É muito importante. – Reafirmou, dirigindo-se a outra goma de mascar. – Mas ainda assim...

— Pensei o mesmo. – Concordou averiguando se o careca o vigiava, afinal somente fingia que estava cutucando aquelas pastas masticatórias com o instrumento de metal. Na realidade, apenas conversava com o ruivo enquanto o via trabalhar. – Aquele filho da puta deve tá querendo alguma coisa... – Estipulou, colocando seus fios dourados atrás da orelha para que pudesse ver o rosto sardento e adorável mais facilmente. Estava assentado em cima de sua pernas, com os pés calçados pelas botas negras de salto abaixo de seu traseiro, tendo de inclinar levemente sua cabeça para baixo para encenar a raspagem de chiclete. – Será que o Lawliet tava devendo pra ele? – Talvez um favor ou algo do gênero... – Por isso ele impediu o Beyond. – Matt, por sua vez, estava praticamente deitado de lado no chão, com a perna esquerda estirada no piso utilizando o braço e o cotovelo de apoio para permanecer com o tronco levantado e virado para ele.

— Nah... – Murmurou lutando para pensar em qualquer outra coisa que não fosse a Madonna ou o quanto ela era bonita. – Tipo, ele até pode tá querendo alguma coisa, mas o L nunca ficaria em dívida. – Explicou, desgrudando um chiclete da mesa que um dia fora de melancia ou maçã-verde. – Ele é esperto demais... Não consigo imaginar alguém capaz de chantagear ele. – Fisicamente, o Birthday mais velho era irrefutavelmente vulnerável, ele nem mesmo cortava seus próprios bifes sozinho... Todavia, nunca vira algo que ele não conseguisse compreender ou conhecera alguém que pudesse ludibria-lo. No xadrez então...

— Mas então o que poderia ser? Não consigo em pensar nada que o Lawliet tenha que ele queria assim como vice-versa.

Realmente, a única coisa que Mail poderia pensar em exigir em uma chantagem seria dinheiro e eles eram bolsistas, portanto já era um pouco óbvio que eram pobres. Não havia porquê aquele garoto estar o ajudando ou se relacionando com ele da mesma forma que não enxergava algo que ele pudesse oferecer. Quer dizer, ele tinha dinheiro, mas L jamais se importou com esse tipo coisa. — Só tem uma explicação, – Disse fazendo um suspense dramático. – Eles são amigos! – Disse quase com ironia, não acreditando verdadeiramente nesta possibilidade. Não era capaz de imaginar que Lawliet se importava com coisas tão triviais e ilógicas como amizade.

— Eu duvido. – Dissentiu simples, pronto para mudar de assunto. Contudo, antes que assim pudesse fazer, se desconcentrou com os gritos que ecoavam no grande recinto, do outro lado do refeitório, torcendo seu tronco para olhar para trás, de onde os barulhos se originavam. Aquele maldito cretino tinha encostado propositalmente no braço da garota de cabelos castanhos escuros com a espátula de metal enodoada de chiclete velho e grudento. Não era a toa que a menina reclamava e o xingava de maneira escandalosa enquanto Ryuk ria de tudo. – Imbecis...

— E aquele cara? – Questionou Matt obviamente referindo-se a Jack. Na verdade, desconfiava de que não receberia uma resposta muito clara ou reveladora. Mihael quase sempre escondia seus problemas.

— É só um dos idiotas que eu tive o desprazer de conhecer na detenção da primeira semana. – Voltou a lhe encarar sem muito interesse, ajeitando-se melhor no chão. De fato, aquilo não era muito esclarecedor...

— Saquei... – Murmurou já acostumado a ser mantido de fora.

— E o Beyond?

— O que tem ele? – Havia tanto a se falar sobre ele... Em ordem cronológica, somente naquele mês haviam seu sumiço repentino no dia da mudança, sua briga implícita com Near, aquela história de “A”, sem contar o mais recente incidente:– O fato dele ter te protegido hoje?

— Ele não me protegeu! – Exclamou visivelmente envergonhado. Mihael não somente não costumava compartilhar seus problemas como detestava pedir ajuda. Ser auxiliado por Mail era minimamente aceitável, desonroso e vergonhoso, mas aceitável, todavia ser ajudado por Beyond!? Oh, não, aquilo era demais! Ambos se odiavam, nunca os vira no mesmo local por mais de dez minutos sem que tentassem se matar. Receber seu auxílio solicitado ou não era o mesmo que admitir que era um fraco inútil a ponto de necessitar de subsídio de seu pior inimigo (subjetivo este que as vezes se tratava era Near também).

— A gente teria levado uma puta surra se não fosse ele. – Explanou. Quer Mello aceitasse ou não, Beyond havia os ajudado. Era uma realidade. Na verdade, deveriam tê-lo agradecido.

Matt's Mental Notes: agradecer à B.

— Tô falando do “A”. – Esclareceu ríspido e mal-humorado, afinal sabia que o ruivo tinha razão. – Ou da “A”.

— Ah... – Agora entendia. – Acho que é a “A”. – Frisou o artigo feminino de “o”, indicando que seja lá o que “A” significasse para Beyond, se fosse uma pessoa (o que provavelmente era), deveria ser uma mulher cisgênero.

— Mas ele disse “meu” A. – Referiu-se a sexta-feira, quando Watari indagara como haviam sido seus respectivos dias. Beyond literalmente dissera que seu dia fora legal e fundamentara, quando Mail o perguntara o porquê, que havia encontrado seu “A”, com o substantivo “meu”, masculino.

— Mas tipo, acho que pro Beyond só pode ser a “A”. – Voltou a salientar o artigo feminino. – Não acho que ele goste, tipo, cê sabe... – De todos eles, o mais velho era o mais hétero, sem sombra de dúvidas...

— Mas em que sentido? – Indagou quase que retoricamente. Sabia que Matt também não compreendia o que deveria ser “A”. – O que significa “A”? – Seria algo relacionado ao fato de que ele era o “B” e buscava e/ou necessitava de um “A”, ou:– Seria no sentido da A. – Disse concernente a garota cujo fora sua namorada e a provável culpada de toda a obsessão com aquela letra.

— Eu não sei, o cara é maluco. – Respondeu sincero. Todos eram confusos, mas o Birthday mais velho ultrapassava os limites da excentricidade. – Nunca entendi esse negócio de A. – E não era para menos... No início, pensara que era um apelido, no entanto, B passou a se referir à ela como uma coisa, piorando significativamente quando a garota partira. Agora “A” parecia ser muito mais um pertence que havia se perdido na mudança de cidade do que uma ex-namorada.

— Eu não acho que é no sentido romântico, mesmo que, você sabe... – Referiu-se a antiga namorada. – Então pode ser um “A” masculino.

— Eu ainda acho que é só porque a letra “A” é masculina.

— “A” é feminino, Matt.

Putz

— Nossa, – Exclamou surpreso, somente agora notando. – É verdade! – Concordara um pouco sem-graça. – É que “senhor A” soa muito melhor do que “senhora A”. – Explicou incoerentemente. Quer dizer, em sua cabeça fazia total sentido. – Bom, não acho que o “A” seja um cara. E mesmo se for, você não acha isso problemático? Tipo assim, porque a “A” se... Né? – Definitivamente não gostava de falar sobre aquilo. Aquele tipo de assunto lhe deixava triste e pior, fazia-o pensar em seu pai.

— Acho que “A” pra ele é um conceito. Não precisa ser uma mulher. Mas com certeza não é saudável.

— Isso não é... – Concordara. Entretanto, pensou um pouco tristemente, ainda que de maneira conformada, nada do que B fazia era... – Mas você já sabe quem é né? – Se ele insistia tanto em ser um “A” masculino, era porque Mihael já havia descoberto quem se escondia por detrás daquele conceito e seu sexo não era feminino.

— Tenho um palpite. – Admitiu convencido.

— Ryuk. – Supôs, afinal não poderia dizer que não havia pensado naquilo. Na verdade, o grandalhão havia sido sua principal suspeita, todavia fora descartado pelo fato imutável de que, ao menos na cabeça dele, B era hétero (ainda que os únicos que já tivessem assumido qualquer sexualidade fossem eles mesmos).

— Eles estão sempre juntos! – Fundamentou um tanto agitado. – Eu nunca vi o Beyond aturar tanto alguém desde a “A”. – Porquê, assim como L e Light, Ryuk não tinha nada que B pudesse querer assim como o Birthday não tinha nada a oferecer à ele.

— Pensei nisso também. Viu como ele deixou o Ryuk colocar a mão na boca dele!?

— É verdade! – Exclamou o próprio assustando ambos os garotos. – Será que ele tá apaixonado por mim!?

Porque já havia se decidido: Beyond fazia sim seu tipo!

.

— Chegueeeei – Gritou Matt ao adentrar a residência, levemente preocupado com as mensagens que B havia mandado para o número de L. Como seus aparelhos foram confiscados, somente as vira no caminho para a casa, assustando-se (mas não se surpreendendo) com a enorme quantidade delas. Lawliet e Near foram para o domicílio com o mais velho, portanto não compreendia a necessidade de tantos recados ou seu propósito de envio.

— Para de gritar, Matt. – Pediu educada, ainda que autoritariamente Near. O albino estava sentado na um tanto grande mesa para seis pessoas habitualmente montando um quebra-cabeça, enquanto Beyond estava no sofá verde-musgo acinzentado e desgastado assistindo algum filme presumivelmente antigo e em preto e branco de maneira aparentemente desinteressada. Todavia, pensou ao se aproximar do maior, seu rosto sempre estava apático daquela maneira ou contorcido em uma carranca zangada... – Como foi a detenção? – Questionou sem qualquer alteração na voz ou na fisionomia, contudo era nítido que o fizera somente para provocar Mihael que se dirigira até a cozinha, buscando algum chocolate na geladeira praticamente vazia. O loiro bufou mais exausto do que aborrecido ao não encontra-los, fechando a porta da máquina frigorífica com mais força do que o necessário, ocasionando em um não tão alto fragor. Estranhamente, ele se conteve o suficiente para não agredi-lo física ou verbalmente, limitando-se a movimentar rudemente o braço por cima das pequenas peças brancas, desmontando as partes já encaixadas e fazendo-as voar para longe, derrubando poucas delas no chão. – Meu dia foi ótimo também. – Disse sarcasticamente, observando todo o seu progresso ser destruído em segundos.

— Mihael... – Repreendeu B, virando-se para averiguar o que o loiro havia feito, afinal estava de costas para ambos e somente ouvira as peças do quebra-cabeça se chocarem contra o chão de maneira anárquica. Mello apenas o ignorara, subindo as escadas em direção ao seu quarto.

— Porque ficou mandado mensagens pro L? – Indagou o ruivo, assentando-se ao seu lado. – Aconteceu alguma coisa? – Na verdade, sequer sabia onde estava Lawliet. Beyond estava em casa, portanto onde o Birthday mais novo poderia ir sem ele? A única opção plausível era que estivesse com Watari.

— Como você...

— Ele esqueceu o celular na escola. – Cortou supondo que o maior perguntaria sobre como ele obtinha ciência dos recados, retirando o aparelho de seu bolso para mostra-lo. – Ele foi confiscado no castigo, então eu só vi agora, mas... – Desta vez, quem cessara a fala fora ele mesmo, se auto-interrompendo de maneira receosa, assustando-se levemente com a reação do mais velho com aquela frase simples. – O que? O que foi? – B parecia incrédulo e quase temeroso, contorcendo seu rosto em indignação e preocupação e subsequentemente em puro desespero, levantando-se subitamente para subir ligeiramente as escadas de dois em dois degraus. – Meu Deus, o que que acabou de acontecer!? – Gritou exasperado e inquieto, voltando-se para Near em busca de respostas.

— Lawliet foi fazer compras para um trabalho. – Disse o albino sem se dignar a lhe encarar, retomando a montagem de seu quebra-cabeça.

— O que tem!?

— Ele foi sozinho. – Esclareceu, e aquilo foi o suficiente para que Matt compreendesse a gravidade da situação.

— Por que deixaram ele ir sozinho!? – Exclamou levantando-se repentinamente, tensionando em pensar que ele poderia se perder ou, se duvidar, já estava perdido.

— Ele tem dezessete anos. – Não era como se não estivesse desassossegado, afinal, fora Nate quem o convencera a permitir que L recebesse tal liberdade. Em sua percepção, Beyond não estaria lá para auxilia-lo para sempre e, portanto, Lawliet deveria aprender a ser autossuficiente. – É perfeitamente capaz de fazer uma ligação e informar onde está. – Ao menos, fora este o argumento que utilizara para persuadir B. – Só não imaginamos que ele iria sem o celular.

— Aí, caralho...

O Birthday mais velho desceu as escadas novamente de dois em dois degraus, quase pulando os últimos três já devidamente agasalhado, pegando a chave do claviculário ao lado da porta e a abrindo. Saiu com pressa da residência sem se despedir, atravessando a rua correndo para pegar o ônibus que passaria dali dois minutos e meio. No começo, quando ainda se habituavam com eles mesmos e com a casa nova, afinal todos foram adotados na mesma época, achava que ele era somente maluco e excessivamente superprotetor, que se preocupava demais, que era muito controlador, enfim, via todas aquelas atitudes como exageradas. Porém, com o passar do tempo, entendera que L, diferentemente de outras pessoas, tinha dificuldades para realizar tarefas simples que a maioria das pessoas faziam corriqueiramente. Ele não era distraído ou desatento por não conseguir se localizar, ele não era desastrado por esbarrar nas pessoas o tempo inteiro ou derramar o suco da jarra ao despeja-lo para o copo. Seu comportamento não era normal, suas manias não eram apenas características de sua personalidade. Não eram adversidades que poderiam ser sanadas ou amenizadas com esforço ou prática. Não possuíam dinheiro o suficiente para o tratamento clínico especializado, para terapeutas ou especialistas que pudessem diagnostica-lo, todavia implicitamente, todos tinham ciência de suas limitações, as compreendiam e as respeitavam. Haviam coisas que Lawliet simplesmente não conseguiria fazer, enquanto outras seriam extremamente fáceis e algumas que, apesar dos graus de dificuldade que variavam de acordo com a tarefa, conseguiam ser total ou parcialmente realizadas. Voltar para a casa sozinho, fosse do centro comercial da cidade, fosse do bairro vizinho, se configurava como impossível.

Beyond saíra do domicílio para pegar o ônibus das seis e meia, afinal o castigo se encerrara às seis da tarde e demoraram cerca de quinze minutos para voltarem para a casa, e chegara na loja onde deixara L às sete da noite aproximadamente. Neste tempo, o ruivo trocara mensagens com ele para que todos ficassem informados. Ele procuraria por Lawliet e, se não o encontrasse em meia hora, avisariam Watari e chamariam a polícia. No momento, os três garotos aguardavam no sofá verde-musgo acinzentado em completo silêncio encarando o aparelho telefônico de Mail que estava disposto em cima da mesinha de centro à espera de notícias, onde o único som audível e inteligível, fora dos carros e automóveis na rua do lado de fora da residência, provinha da televisão ligada, muito embora nenhum deles assistisse o desenho animado que o aparelho transmitia, dos batucares inquietos e impacientes de dedos de Mihael no braço do sofá e do baixo e quase imperceptível tilintar do palitinho de dente do ruivo que vez ou outra ruidava ao ser movimentado em sua boca. Claro, aquilo tornava tudo mais agoniantemente vagaroso, contudo, a cada segundo que se passava L poderia estar mais longe de ser encontrado, então talvez deixar a situação o mais desacelerada possível fosse o melhor a se fazer... Curiosamente entretanto, sem aviso, fosse por mensagens de textos ou por ligações, a maçaneta da porta da frente foi girada e subsequentemente, como esta não se encontrava trancada, o pedaço de madeira se abriu. E ainda mais estranhamente, no limite do possível, quase atravessando as fronteiras do absurdo, Lawliet adentrou a casa despreocupada e calmamente, como se não estivesse desaparecido à quase meia hora. Assustado e confuso demais para falar, Matt se viu obrigado a se limitar a contorcer seu rosto em indignação e surpresa, recuperando o fôlego para começar a gritar. Todavia, Mello fora mais rápido e talvez mais eficiente, traduzindo em fala o pensamento de todos ali presentes:— Que porra é essa!?

— Olá. – Soltara indiferente, não se dignando a prestar qualquer depoimento, voltando-se para as escadas a sua frente para que pudesse subir para seu quarto.

— Lawliet! – Repreendeu o loiro, seguindo-o pelos degraus.

Ainda desconcertado e chocado, Mail se virara para Nate ao seu lado que parecia tão perdido quanto ele, sendo impedido de iniciar um diálogo, muito embora não soubesse o que dizer, pela música de toque de seu celular. Era B, notou ao apanhar o aparelho, atendendo a ligação. — Irmão, você não vai acreditar...

.

Após dar as devidas explicações, Matt desligou o celular agora muito mais tranquilo, dirigindo-se para a cozinha onde preparou um sanduíche de picles com pasta de manteiga de amendoim, afinal eram duas dentre as poucas coisas que ainda existiam na geladeira (precisavam ir as compras) além de verduras, frutas e legumes (que nojo!), comendo-o enquanto se locomovia para seu quarto. Até começara a chover! Adorava dormir com o barulho dos chuviscos e, sua única preocupação pelo restante do dia seria não se alimentar decentemente no jantar já que o gosto de seu lanche não estava dos melhores, mas continuara o ingerindo mesmo assim. Decidido a vestir seu pijama para jogar Minecraft até o jantar mais confortavelmente, subiu o conjunto de degraus preguiçosamente, chegando em seu quarto e abrindo a porta do mesmo sem pensar, se arrastando para dentro e quase engasgando-se com o sanduíche ao entender o que acontecia no cômodo naquele determinado momento. Não se deve entrar em um quarto sem bater por mais que este seja o seu. Mihael estava trocando de roupa, o que era extremamente inusitado, pois por mais que dividissem o quarto, o loiro normalmente optava por se vestir no banheiro. Mail agradeceu mentalmente a Deus não só por não morrer com pedaços de picles entalados em sua garganta como por estarem em pleno outono e não em uma cálida noite de verão onde Mello não teria optado por uma calça de moletom e sim um short curto que demarcaria suas nádegas. Ah, maldita adolescência... Os hormônios em convulsão o faziam erotizar praticamente tudo. Ultimamente estava lavando mais meias do que o considerado normal...

— Ééé... O Lawliet disse o que aconteceu, Mells? – Disse virando seu rosto agora rubro para o lado oposto, tentando afastar os pensamentos idiotas antes que acabasse se entregando. Deveria parar de encarar a sua b... Seu avantajado traseiro antes que tivesse um “acidente” (este que certamente não seria o primeiro).

— Ele disse que Light trouxe ele. – Respondeu terminando de vestir sua blusa de mangas compridas azul clara e sem estampa, virando-se para ele. – O japonês gostoso. – Esclareceu, certo de que Matt não recordava seu nome.

— Sei... – Murmurou tentando não se importar com o adjetivo que Mello usara para descrever o desconhecido, afinal aquele era seu vocabulário e, principalmente, não eram nada além de amigos. Mail pegou suas largas calças e sua blusa preto e branco listrada totalmente amassada e já usada, ainda que não chegasse a estar malcheirosa, as amontoando em uma bola de roupas de forma desleixada e as jogando na cama do loiro. A muito tempo haviam criado esse tipo de acordo implícito: por mais que Mello fosse homossexual, o ruivo não lhe atraía assim como em contrapartida Matt era bissexual e Mihael também não era atraente aos seus olhos, quer dizer, ao menos na concepção pessoal de ambos, logo, não obtinham problemas em se verem nus. Claro, para Mail o buraco era mais embaixo... Se sentia levemente envergonhado e, nas raras ocasiões onde se trocavam no mesmo ambiente, se afastava para se vestir, mas ao mesmo tempo que sabia que Mihael sequer se importaria com isto, tinha ciência de que se subitamente passasse a fazer suas mudas de roupa em outro lugar ou, se naquela situação por exemplo, tivesse pego suas vestes para ir para o banheiro ou em outro cômodo, o loiro perceberia. Não era tão seguro como sempre tentava demonstrar e Matt sabia disso. Mihael era inteligente e logo chegaria a conclusão que, já que Mail era tãããão gostosão, uma cadela no cio como ele, mesmo que fossem melhores amigos desde sempre, se jogaria em cima dele. Não, claro que o ruivo certamente se achava bonito, mas com toda certeza não obtinha uma autoestima tão elevada para se autodenominar “tão gostosão”, muito menos achava que Mello era uma “cadela no cio”, todavia conhecendo Mihael como conhecia, esta era exatamente a linha de raciocínio que ele usaria. Não, definitivamente não o daria ao luxo disto. Era mil vezes mais fácil passar por um pequeno embaraço... – Então você se enganou. – Retirou sua camiseta e seu moletom (obviamente não nesta ordem), tentando vestir sua blusa o mais rápido possível.

— O que?

— Você disse que eles não eram amigos... – Explanou ainda que soubesse que o simples fato dele o ter trazido para a casa não comprovava a relação de amizade entre ambos. De todo modo, aquela alegação não precisava sequer obter coerência. Discordar de suas decisões ou especulações já era o suficiente para irrita-lo e o desconcertar. – Mas não é o que tá parecendo... Parece que no final, quem acertou fui eu. – E se vangloriar provocativamente daquela forma então... Ah, já podia esperar um soco, no mínimo...

— Cala a boca! – É, realmente o conhecia como ninguém, pensou ao tombar para o lado devido ao impacto do murro que levara do ombro direito. – Isso não prova nada! – Mesmo com a dor nada amena em seu braço, este que agora massageava com a mão esquerda, Matt sequer notou seu sorriso idiota no rosto ao observar sua carranca zangada. Merda, Mihael ficava tão bonito quando se aborrecia... – Tá olhando o que? – Perguntou rude notando toda a atenção que recebia do ruivo, envergonhando-se levemente.

— Nada...

Antes que pudesse se afundar em sua alegre melancolia, sua atenção fora totalmente dirigida a sua porta que batera na parede do cômodo, alertando com um alto estrondo que o quarto estava sendo invadido. Mais uma vez, Lawliet fazia uma grande e triunfal entrada, desta vez correndo desajeitadamente até o ruivo e o abraçando por trás, como se o utilizasse para se esconder de algo. — M-Matt... Me proteja. – Suplicou, apertando sua cintura não com carinho, mas sim com medo, assustando-o seriamente. O que seria capaz de amedronta-lo?

— Lawliet! – Advertiu enfurecido (desta vez não compreendia o porquê) Mello pela segunda vez naquele dia.

Parecia que o mundo estava de cabeça para baixo!

— O que você... – Quando seus olhos se dirigiram até o aro da porta escancarada entendera. L temia a figura sombria, encharcada e malévola que se projetava em frente ao cômodo, completamente esbaforida, exausta e principalmente sanguinolenta. Os olhos rubros encaravam os garotos com ódio e fúria que somente correspondiam a visagem colérica, calando-o instantaneamente, deixando suas pernas trêmulas e sua testa úmida de suor frio. Se estava com o cu na mão daquele jeito só de olha-lo, não queria sequer imaginar o que estava causando no Birthday mais novo... Nem mesmo Mihael tivera coragem de dizer algo desta vez.

— Lawliet! – Berrara o demônio exasperado, indicando o nome daquele que seria sacrificado, fazendo-o tensionar e apertar agora mais fortemente sua cintura, chegando a machuca-lo, e somente piorou quando Beyond começou a correr até ambos.

Desesperado e apavorado Mail segurou seus braços tentando se desvencilhar de seu abraço, que na verdade era uma falha e péssima tentativa de se esconder do maior (não que pudesse culpa-lo, afinal com o anticristo correndo atrás de dele nem mesmo Lawliet devia raciocinar direito), temendo apanhar com ele. Estava com pena de L, mas aquela surra era dele, não sua!

— Eu vou te matar! – Esbravejou tentando agarra-lo com as garras violentas e extremamente rápidas, por pouco não o tocando já que Matt conseguira desviar.

— D-Desculpa! – Lawliet o soltou e se afastou, fazendo com que B tivesse de dar a volta no ruivo para pega-lo, correndo tão desastrado quanto entrara no quarto para sair dele, conseguindo chegar inteiro no corredor graças aos sapatos molhados de Beyond que lhe fizeram escorregar muito brevemente. O cara era literalmente o oposto de L, porque era o homem mais bem coordenado do mundo! O escorregão não lhe afetara em absolutamente nada.

— Corre L! – Incentivou, acompanhando a caçada do vingador samurai. – No banheiro! – Sugeriu, afinal aquilo era o máximo que poderia fazer sem levar uma surra também. Em partes, sabia que o que o Birthday mais novo fizera fora errado, mesmo que não tivesse feito de maneira proposital ou consciente. Por mais que não fosse diretamente culpa sua, Beyond havia o procurado por mais de meia hora, pego dois ônibus por sua causa e tomado chuva para voltar para a casa, sendo que, primeiramente, ele sequer precisava ter saído. Todavia, ainda não queria que L apanhasse. – Se tranca no banheiro! – Alegrou-se quando ele conseguira, por muito pouco, fechar a porta do quarto de banho e tranca-la antes que B entrasse.

— Você tá fudido, quando sair daí! – Berrou colérico socando o pobre pedaço de madeira.

— Desculpa... – Sussurrara L atrás da porta. – Prometo que não vai se repetir!

— Não vai se repetir porque vou quebrar suas duas pernas, aí eu garanto que nem do quarto você vai sair!

 

 

 

Como diria Shakespeare, tudo está bem quando termina bem...


Notas Finais


Até mês que vem 😬


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