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História That's Life - Luz - História escrita por JoaninhaMalefica - Spirit Fanfics e Histórias
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História That's Life - Luz


Escrita por: JoaninhaMalefica

Capítulo 37 - Luz


Estava cansado, de fato. Seu corpo estava amortecido, lento, pesado, não respondia corretamente aos comandos enviados por seu cérebro, nem os mais breves e triviais movimentos. Sua pele também lhe parecia mais irritada e sensível do que o normal, parecia sentir a aspereza do lençol com mais intensidade, o envolver macio e mórbido do coxim, além do tecido de suas vestes que lhe cingiam. Tudo parecia mais suscetível a percepção e a uma quase iminente irritação. E tão claro quanto lhe parecia esta perturbação, era evidente sua causa, sua razão, tal qual todos os outros aspectos de sua vida que giravam em torno de uma única estrela: Light. Tinha chego ao seu limite, Yagami lhe fizera chegar ao limite, ao abismo a qual Lawliet tinha coragem o suficiente para encarar de volta e prudência em escassez para se jogar. Não poderia simplesmente se dar ao luxo de desistir depois de tudo, não àquela altura, não após tanto suportar. Se faltasse ao colégio, seria o mesmo que trapacear, tirar de Light o direito de ganhar, como quem aposta uma corrida e impede no trajeto adversário o acesso à linha de chegada. Por mais que quisesse vencer, o faria a maneira certa. Ademais, antes de tudo, deve-se salientar, de nada adiantaria uma vitória naquelas circunstâncias, afinal conhecendo Yagami ele não a aceitaria e exigiria uma nova disputa e isto definitivamente não poderia suportar.

Conquanto com nítida inquietude e com certo cambalear, L se pôs a caminho da cozinha, sentindo-se aliviado quando pudera avistar Near em cima da mesa de jantar montando uma enorme cidadezinha de pecinhas, enquanto Beyond estava terminando de preparar algumas panquecas. Ao que tudo indicava, seria um café da manhã tranquilo e o mais silencioso possível dentro das limitações e natureza de seus irmãos.

— Já terminou? – Questionou Nate ao ouvir B organizar a pequena bancada da cozinha, guardando alguns talheres e potes que utilizara na preparação das torradas e panquecas. Sua fala se dava em razão das casinhas que montava na mesa e, principalmente, das dezenas de peças que se espalhavam por sua extensão representando as ciclovias e parques, o que certamente atrapalharia a refeição. Lawliet se sentou ao seu lado direito, se limitando a observar completamente imóvel.

— Já. – Respondeu Beyond bem humorado, se aproximando do menor para auxiliá-lo a juntar as pequenas peças para que ele as pudesse recolher e guardar na caixa outrora abandonada ao chão, contendo-se para não acariciar seus cachinhos albinos e demasiadamente convidativos. Near lhe lembrava Lawliet quando era menor, como uma versão um pouco mais sensível no quesito emocional, muito mais fácil de lidar, e menos suscetível a estímulos, principalmente físicos. No entanto, por mais que Nate não se magoasse ao ser tocado, e tampouco lhe parecesse irritado consigo pela última vez, quando praticamente dissera a ele que era novo demais para que pudesse confiar a ele seus segredos (o que na verdade não era exatamente uma mentira, contudo de alguma forma sempre parecia irrita-lo com alguma bobagem), estava com tantas merdas na cabeça, como aquela vadia e seu batom que lhe impregnara a alma, Mail e sua tentativa de suicídio estupida e Lawrence lhe incomodando com suas provocações e análises idiotas, que a última coisa que queria e precisava era que seu único ponto seguro se zangasse consigo novamente. Também tivera de controlar o impulso de encostar em Lawliet, percebendo rapidamente, ao lhe dar certa atenção, que aquele não era exatamente um bom dia e não deveria mexer com ele.

Após terminarem de guardar os brinquedos, Nate lhe ajudou a colocar a mesa, organizando os pratos e talheres enquanto Beyond colocara as panquecas e torradas. De todas as crianças indesejadas, sua ovelhinha era indubitavelmente a favorita, a que mais lhe auxiliava nas tarefas domésticas e ainda de bom grado, insta pontuar, fora as raras lembranças afetuosas que conseguia lhe trazer. Jamais conseguira criar um vínculo saudável e adequado com seus demais irmãos, Mihael era extremamente petulante, Mail era amigável, porém distante emocionalmente, como se não tivesse, até então, interesse ou coragem para se aproximar de fato, e Lawrence era praticamente um filho. Entretanto, quando se tratava de Near, sentia que tinha uma chance, uma oportunidade para acertar tudo aquilo que errara com L.

Não demorara para que Matt e Mello descessem também, mesmo que com um tempo indubitavelmente proposital de diferença para não se encontrarem ou compartilharem a escada. Além disso, ambos também se sentaram desnecessariamente afastados, com o ruivo ao lado de B e Mihael ao lado de Near, no lugar costumeiro de Watari, na ponta direita em relação a escada, à uma cadeira de distância de Mail. De igual forma, o ruivo não tardara em começar a tagarelar comumente animado sobre seu almoço com um garoto que B sequer se lembrava quem era, embora soubesse que em algum momento (vários) ele já tivesse lhe contado, enquanto Keehl, como que propositalmente em resposta, permanecera em silêncio, não sabendo Lawliet se aquilo era porque havia lhe dito para agir civilizadamente em relação aquela situação ou se, pelo contrário, aquela era uma forma infantil de se comportar perante a alegria alheia. Já Beyond, por sua vez, se sentia levemente constrangido e com um estranho sentimento que não sabia bem nomear, algo afetuoso e simultaneamente incômodo. Não estava habituado a ser um ouvinte tão prestativo, mesmo porque L e Nate não falavam muito e tampouco de uma maneira tão animada e ininterrupta, e Mihael jamais quisera conversar consigo. Todavia, verdadeiramente se esforçara para escuta-lo e até lhe responder vez ou outra, mesmo nas partes em que seu estômago se revirara com a descrição detalhada sobre as emoções gays e o fato de que aquele fora literalmente seu primeiro encontro (que ele nem queria ir a princípio), e que logo mais haveriam outros. Não queria e muito menos permitiria que Matt namorasse, ele ainda era muito novo e ingênuo, especialmente, e embora o incentivasse a sair com pessoas que não fossem o loiro, seu intuito era faze-lo se divertir, somente, e não se casar. Entretanto, com toda aquela porra de tentativa de suicídio, estava receoso em repreende-lo ou cerceá-lo de algum modo. Lawrence estava certo (pra variar), estava sendo gentil com Mail porque se sentia terrivelmente culpado, mesmo que não tivesse sido ele a lhe enfiar pílulas pela garganta.

Quando o silêncio finalmente se instaurou, afinal Mail também precisava comer e não poderia faze-lo falando (Near sempre o repreendia por falar de boca de cheia), o albino se pronunciou, chamando-o mais receosamente do que o planejado, muitos tons abaixo do que Matt utilizara, fazendo-o parecer um sussurro. — Lawliet... – Aquilo fora tão repentino e lhe parecera tão incerto que L subitamente o encarou de volta, aguardando que prosseguisse. Levemente intimidado com a atenção não apenas de Lawrence como a de todos os seus irmãos que até deixaram de mastigar para ouvi-lo, Nate perguntou ainda mais baixo. – Você se importaria se eu dormisse na casa de uma amiga na sexta?

— Não. – Respondera simplesmente, perdendo seu interesse tão rápido quanto o conquistara. Near não estava lhe perguntando, embora realmente acreditasse que ele se importava com seus sentimentos, pois bem sabia que para L não faria diferença se ele estaria ali ou não na sexta ou no sábado, no dia do seu aniversário, afinal só o comemorariam no domingo, com Watari. O que ele estava fazendo era dizendo a B, indiretamente, o que faria, salientando o fato de não precisar de sua permissão, ainda que almejasse faze-lo saber onde iria.

Inesperadamente, no entanto, e deve-se salientar que aquela fora a reação com menor probabilidade de acontecer, com 5%, 7% no máximo, de chance de se consumar, Beyond permanecera em silêncio, inicialmente, engolindo a contragosto um ciúmes que mal lhe cabia no peito, deglutindo-o com tanta falta de vontade que era possível observar seu pomo de Adão se mover lenta e forçosamente em sua garganta, lutando para não demonstra-lo, para variar, e se comportar como uma pessoa normal, que compreende os outros como indivíduos alheios a si, e não como objetos dispostos ao seu bel-prazer. De segundo momento, como se não suficiente, apenas para provar a todos que de fato estava tentando ser alguém decente, se ofereceu com nítido desgosto, ainda que suas intenções fossem sinceras e, por mais inacreditável que pudesse ser, castas. — Quer que eu leve? – Lawliet lhe deu atenção novamente, aguardando ansiosamente a resposta de Nate, ainda que está já lhe fosse conjecturável.

— Eu gostaria. – Aceitou o albino educadamente, embora, de igual maneira, lhe parecesse claro o quão desconfortável e desconfiado ele deveria estar. Havia algo errado, indubitavelmente.

— Já que você tá distribuindo carona, me leva na festa do Scott? – Ofereceu-se o ruivo tipicamente desavergonhado, com nato talento para retorcer situações tensas e inquietantes e transformá-las em cômicas e leves.

— Quem disse que você vai nessa festa? – Retrucou B, retornando ao seu estado impositivo e controlador, ainda que ele soasse mais incrédulo do que autoritário como de costume.

— Mas eu disse que o Jack me convidou. – Literalmente a três minutos atrás, acrescentou Mail em pensamentos, já estando acostumado a ser desconsiderado por todos os seus irmãos. Era uma destas as razões para se sentir tão bem na presença de Jacob. A atenção que ele dava era diferente de tudo que já havia experimentado, ele lhe escutava, de fato, sem ignora-lo, desacredita-lo ou ridiculariza-lo pelas bobagens que gostava de dizer. Sentia-se importante, digno de atenção.

— Não falei que poderia ir. – Surpreendente, Beyond parecia muito mais ponderado e até mesmo flexível do que o habitual, mesmo que estivesse cerceando algo a Matt, quem, deve-se salientar, não negava nada há um tempo. – Não é ambiente que você deva frequentar. – Justificou, antecipando o questionamento do ruivo e incomodando Lawliet ligeiramente. A diferença com que Beyond tratava seus irmãos, se equiparado a forma como ele lidava consigo, era excessivamente evidente, talvez só se aproximando da forma que correspondia a Mihael. Se fosse consigo, ele simplesmente lhe diria que L não iria, não se daria o trabalho de legitimar sua decisão, não estaria aberto a discussão como normalmente era com Near e com Matt, e ainda o atormentaria de diversos modos diferentes para se certificar de que obedeceria. No entanto, não era como se não compreendesse seus motivos, embora os execrasse. Porque para Beyond, não importava quantas anos tivesse, o que soubesse fazer, nem mesmo sua capacidade intelectual lhe era relevante. Tudo o que importava era que Lawliet era deficiente, jamais permitiria que ele saísse por aí e fizesse o que pessoas sem um fardo faziam, fosse ele capaz ou não. Além disso, também haviam o fato de que, diferentemente de seus irmãos, Lawrence era o único que Beyond realmente enxergava como um objeto, uma extensão de si, algo que lhe pertencia e sempre seria de seu pleno domínio. Nem mesmo Watari poderia desautoriza-lo, e B fizera questão de assim explicitar no mesmo dia em que foram adotados.

— Desde quando você é responsável assim? – Indagou Jeevas com certa coerência, afinal B nunca se mostrara prudente sobre nada e jamais se interessara em representar um papel tão paterno quanto aquele. – Eu não vou me drogar! – Assegurou sólido e inabalável, tão sério que Lawrence não resistiu a tentação de levantar seu rosto para se certificar de que era Mail quem realmente havia o dito.

Aquele assunto, como tantos outros, era um tabu. Não falavam dos pais de ninguém, nunca, da vida que possuíam antes de serem uma desestruturada e desarranjada família, das vezes em que Beyond aparecera ensanguentado e esfaqueado em lugares diferentes, ou da vez que ele fora preso por espancar um dos homens com quem Mello se relacionara. Nada de produtivo ou de bom provinha daqueles assuntos e, sempre que mencionados, acarretaram em brigas verdadeiramente violentas e ocasionalmente físicas, em sumiços e fugas de casa, além de veementes declarações de ódio. De igual maneira, não falavam sobre a overdose de Matt ou seus vícios e hábitos perigosos. Quando o ruivo os mencionava daquela forma, ainda que implícita, porém demasiadamente séria, a tensão se fazia presente do ambiente, bem como um silêncio mordaz e ensurdecedor, enrijecendo seus corpos.

— Não acredito em você. – Anunciou B após longos e duros segundos, provavelmente ponderando se realmente deveria faze-lo, conseguindo soar ainda mais grave e circunspecto do que antes. Entretanto, rapidamente, antes que Mail tivesse a chance de retrucar outra vez, embora L acreditasse que ele não o faria, Beyond suavizou seu tom, amenizando as finas linhas de expressão próximas a suas sobrancelhas. – Mas você pode ir. – Cedeu contraditoriamente. E fora ali que se tornara óbvio, não apenas para Lawliet, mas para todos na mesa que B havia feito algo a ele, ou ao menos sentia culpa como se tivesse feito. Senão, jamais sucumbiria aos seus caprichos, independentemente da forma doce e tristonha com que Matt estava olhando para ele. O rosto sardento a sua frente se iluminara tão animadamente com sua concessão que B sentiu seu âmago doer, arder com o sorriso caloroso e gentil que Mail lhe dedicara. Iria faze-lo murchar. – Se Mihael for com você.

— O que!? – Exclamou em uníssono com o loiro, embora ele estivesse muito mais indignado do que incrédulo como ele. – Porque!? Você confia mais no Mello do que em mim!? É sério!?

Em partes, compreendia o sentimento de revolta do ruivo, haja vista Mihael jamais fora a uma festa sequer sem arranjar algum tipo de confusão. Ele tinha o dom natural para o tumulto e a desordem. Conquanto, não apenas também entendia B, como concordava com ele. Afinal, independentemente do que acontecesse, Mello sempre conseguia se desvencilhar de seus problemas. — Confio que ele vai voltar. Com você não tenho essa certeza.

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Após duas longas aulas evitando o olhar e as mãos, especialmente, de Light, Lawliet fora até o clube de debates com Iori, que geralmente se dispunha a acompanhá-lo para que não se perdesse. Por algum motivo que não se importava o suficiente para se forçar a entender, ele estava extremamente animado com a possibilidade do japonês comparecer, o que fatal e infelizmente implicava em longos, demasiadamente exaustivos e nada relevantes diálogos que se estendiam sem nítido interesse em se findar. É claro que não era de todo insuportável, mesmo porque estava habituado a ter uma figura ruiva e alta ao seu lado tagarelando incessantemente, fazendo piadas e gracinhas que até poderiam ser consideradas cômicas ou agradáveis, no entanto, quando o assunto em questão era sobre justamente aquele que não queria ver ou ouvir, isto se tornava consideravelmente mais enervante do que gostaria.

— Você deve gostar muito do Light. – Comentou quando Iori contava apaixonadamente sobre um dos campeonatos acadêmicos onde Yagami “heroicamente” respondera a pergunta mais difícil da rodada, que nem sequer Mikami ou Takada sabiam, praticamente vencendo a competição “sozinho”. No momento, ambos estavam assentados no pequeno sofá de couro preto, muito menos confortável do que parecera a princípio, Lawliet a esquerda, curvado sobre o prato de bolo e docinhos que Mayumi lhe fizera disposto em sua coxa, enquanto o ruivo (embora não soubesse dizer se seu cabelo era vermelho ou rosa) segurava seu outro prato, de brownies, que comeria em seguida.

Sim, só comparecia às reuniões quando Iori lhe informava que comprariam comida.

— O-O que? N-Não! É-É claro que não! – Negou trêmula e nervosamente, gesticulando de forma exagerada, tão inquieto que um de seus bolinhos quase escorregara para o chão, corroborando sua afirmação.

— Porque se importa se ele virá ou não? – Para L, ao menos, aquilo era simples, uma questão de lógica básica: se Iori queria que Yagami retornasse para o clube, então ele se importava, sentia falta de sua presença, companhia ou suas habilidades, e se assim se sentia, gostava de Light ou, na melhor das hipóteses, gostava do seu trabalho como presidente e membro do grupo, 74% e 26% de probabilidade, respectivamente.

— Porque... Somos amigos... – Justificou com receio. – E eu quero que ele se sinta bem e que volte para o clube.

— Se são amigos, então você gosta dele. – Levou a boca o último pedaço de bolo, o pedaço mais saboroso e com maior quantidade de recheio, com um grande morango em cima, muito mais entretido com seu sabor demasiadamente deleitoso do que com a falta de lógica e até da possível falta de honestidade, proposital ou não, de Iori. Precisava urgentemente descobrir de onde aqueles doces saíam...

— S-Sim, é que... Desculpe, acho que eu entendi errado... – Conquanto não estivesse exatamente atento, o rubor em seu lindo rosto era perceptível e, concluía L, que ele se dava pelo constrangimento de ter sido refutado. Entretanto, o que lhe deixara verdadeiramente intrigado era a sensação que aquela visão deslumbrante lhe causava. Não sentia-se necessariamente culpado, pois definitivamente não fizera nada de errado, no entanto, por algum motivo, talvez a forma como sua cabeça se inclinara para baixo em embaraço, fazendo com que sua franja rosada recaísse sobre seus olhos castanho-esverdeados, ou pelo modo delicado com que ele a ajeitava, colocando-a atrás da orelha repleta de brincos bonitinhos... Não entendia o porquê, mas sentira-se subitamente agitado e... Confuso.

— O que entendeu?

Mais sereno, ainda que estranhamente mais pensativo do que o normal, Mayumi lhe respondeu após alguns segundos, tentando lhe explicar de forma clara e, principalmente, com as palavras certas. — Que você estava insinuando que eu gostava do Light-san. M-Mas... De outro jeito... – Inconscientemente seu tom de voz diminuíra de forma gradual, demonstrando o quão inquietante e incômodo aquele assunto lhe parecia ser, embora não entendesse Lawrence a razão. Sabendo que L lhe questionaria novamente, desta vez a respeito da especificidade do tipo de carinho que nutria pelo japonês, o maior acrescentou quase que em um sussurro, sentindo suas bochechas arderem com tamanha indecência. – Romanticamente.

— Isso seria inapropriado. – Replicara habitualmente impassível, pousando o prato agora vazio em seu colo para que pudesse pegar o que ele segurava para si.

— Por que ele é um garoto? – Indagou um tanto confuso, lhe entregando os brownies. Lawliet era muito inteligente, verdadeiramente brilhante e acompanhá-lo por vezes se mostrava desafiador; não eram raras as ocasiões em que não compreendia suas falas ou as intenções por detrás delas, e geralmente suas conversas cessavam em diversos momentos apenas para que ele lhe explicasse ou reformulasse suas frases para que pudesse entende-las. No entanto, de também tinha ciência de que L tinha suas limitações, especialmente em relação a comunicação ou compreensão de relacionamentos, e não era exatamente incomum que ele dissesse coisas não muito adequadas ou socialmente aceitas.

— Porque ele tem namorada. – Corrigiu óbvio, soando um pouco rude, mesmo que apenas tivesse sido sincero. – Misa me disse que não se pode cobiçar alguém comprometido. – Justificou referindo-se ao que Amane lhe dissera no dia anterior, quando se recusara a lhe dar um beijo. Conquanto não esperasse ganha-lo, acreditava que a recusa seria em virtude de sua aparência repugnante e nada atraente, e não porque, aparentemente, não se deve cortejar a mulher do próximo. É claro, não era idiota, em partes compreendia que o que fizera era errado (e ficava ainda pior se considerasse que só o fizera para provocar ciúmes em Light), contudo honestamente tudo aquilo era muito incerto para si. Sabia que Beyond tinha mais de uma namorada por vez, da mesma forma que Mihael com seus namorados, então por que Misa também não poderia fazê-lo? Apenas homens podiam ter inúmeros relacionamentos? Aquilo não lhe parecia certo, e se não fosse, significava que Beyond e Mihael estavam sendo inapropriados e infiéis com seus parceiros. Todavia, até onde se estendia a fidelidade? Porque Light estava dizendo e fazendo coisas consigo há uma semana e aquilo não lhe parecia nada fiel e tampouco casto.

— Bom, ela está certa! – Concordou Iori, rindo adoravelmente como se tivesse feito uma piada. Embora não gostasse de ter a sensação de que riam de si ou do que dizia, sua voz era tão bonita que não se importara.

— Você gosta de garotos? – Indagou um tanto desconexo, ainda que seu raciocínio não fosse desprovido de lógica, e excessivamente direto como habitual, sem qualquer pretexto, apenas genuinamente curioso. – Sexualmente. – Especificou, haja vista Iori tivesse se equivocado na primeira vez, quando dissera que gostava de Light.

Mayumi era intrigante, conquanto compreendesse que, majoritariamente, seu interesse provinha dos sentimentos que acabava tendo por ele, das emoções e sensações que seu corpo experimentava em sua companhia, e não propriamente em sua personalidade, postura ou ações. Ele era parecido com Matt, era gentil e amigável, gostava de estar em sua presença, no entanto simultaneamente diferente, mais bem apessoado e aparentemente limpo, cheiroso, como uma garota. Porque Iori se parecia com uma garota. Seu rosto era delicado, suas roupas eram de cores socialmente associadas ao gênero feminino, bem como seus acessórios, como presilhas e brincos, e seus lábios eram estranhamente rosados, como o de qualquer mulher. De igual forma, assim como qualquer garota, Iori não lhe despertava interesse sexual, entretanto, ainda o considerava tão bonito e de companhia tão agradável que sentia-se estranho, confuso, como se seu corpo e sua mente não pudessem entrar em consenso sobre como se sentiam em relação a ele.

— L-Lawliet! – Repreendeu constrangido, não exatamente pela pergunta, pois em qualquer outro momento ou conversa a consideraria normal, se certa forma, mas sim pelo contexto em si, a imprevisibilidade da questão e o intuito pelo qual L a fazia. Mayumi não sabia dizer se Lawrence estava retornando ao assunto pois suspeitava que tinha uma queda por Light ou se estava curioso somente, e considerara apropriado a indagação uma vez que fora ele quem inserira aquele fato no diálogo.

Na verdade, era um misto dos dois. Quando dissera que Iori gostava de Yagami, não se referia, necessariamente, no âmbito sexual ou romântico, mesmo que não excluísse a possibilidade haja vista tamanha admiração que ele parecia ter pelo japonês. Contudo, como se entregasse-se, o ruivo (ou rosado) associara tal conclusão a sua sexualidade, o que era um forte indicativo da verdadeira natureza de todo aquele apresso. Isto, somado as reações de embaraço e negação excessiva nas falhas tentativas de se justificar ou explicar somente corroboravam tal tese. Então sim, realmente acreditava que Iori era apaixonado por Light, mas não, não estava tentando fazê-lo admitir por meio de questionamentos. Questionara sobre sua sexualidade por curiosidade. — Se eu estivesse interessado, eu teria de perguntar primeiro. – Legitimou, sequer percebendo que aquilo poderia ser interpretado como uma cantada, que por sua vez condizia com as perguntas sobre o interesse no japonês.

Felizmente, desta vez Mayumi compreendera que Lawliet estava explicando porquê não considerava a questão que fizera como invasiva ou ofensiva, em caso de tê-lo feito acidentalmente, pois, hipoteticamente, se estivesse interessado em algum momento seria obrigado a perguntar. — Você está certo, como sempre. – Admitiu bem-humorado, rindo da genialidade e ao mesmo tempo da não necessariamente inocência, porém talvez da inexperiência e zelo ao tratar de assuntos como aquele. – Sim, eu gosto de garotos, mas não do Light. – Reforçou sempre educado, sorrindo afável quando se voltara para si. – E você?

— Também não gosto do Light. – Respondera sinceramente ao retornar a comer, conseguindo lhe arrancar uma alta e gostosa gargalhada.

Iori fingiria que a pergunta fora relacionada ao japonês, e Lawrence se convenceria de que não estava mentindo, afinal, em nenhum momento especificara de que forma ele gostava de Light ou deixava de faze-lo...

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Yagami não tardara a chegar e, como de costume, rapidamente fizera tudo e todos no ambiente se voltarem para si, falarem consigo, parabeniza-lo por aparecer como se aquele fosse o maior dos esforços. De igual forma, se intrometera diversas vezes em assuntos que não lhe cabiam, em conversas que não lhe eram endereçadas, agindo com uma arrogância disfarçada de uma amigável e proativa gentileza que lhe embaraçava o estômago, um teatrinho cínico e esnobe digno de uma plateia tão irritantemente fútil e alienada quanto aquele grupo malformado de narcisistas medíocres. Felizmente, no entanto, ainda que lhe dirigisse uma atenção tão insistente e desavergonhada, e fizesse questão de se manter próximo como um abutre faz a um cadáver, ele o deixara em paz na maior parte do tempo. Light não o tocara, importunara ou mesmo falara consigo diretamente, não mais do que uma frase ao menos, o que fizera Lawliet ponderar, verdadeiramente, se ele finalmente havia desistido e aceitado que não estava acima de si de qualquer maneira. Bom, era o que pensara, inicialmente, isto até ele enfiar a mão no meio de si por baixo da mesa. Pois quando se dera por si, havia um peso estranho sobre seu corpo, fora do seu conhecimento ou controle, uma força alheia sobre sua perna, puxando e apertando sua carne, pressionando, friccionando sua pele mesmo que entre o tecido de sua calça. E doía.

Os dedos alheios circulavam sua coxa com lascívia, subiam atrevidos e se declinavam até a parte mais interna, perto demais da sua genitália, fazendo com que suas pernas tremessem covardemente. Não sentia seu coração bater, somente um aperto mordaz e angustiante em seu peito, como se Light pudesse lhe sufocar sem encostar em sua garganta, como se pudesse perfurar seu tórax sem o auxílio de qualquer agulha ou bisturi. Havia passado dos limites, de todos os limites, já não havia mais qualquer separação entre o moralmente duvidoso e o completamente repreensível, talvez até mesmo criminoso. Isto, é claro, se Lawliet lhe pedisse para parar. Era apenas isto que precisava fazer: falar, no entanto, se o fizesse, daria a ele a vitória; seria o mesmo que dizer: “parabéns, Yagami, você me venceu, sou retardado demais para lidar com o meu próprio corpo e controlar minhas reações”, e honestamente preferia morrer. Teimosamente, Lawrence lhe agarrara o pulso, tentando impedi-lo de ir mais longe, ou melhor, de chegar ainda mais perto, conquanto, nada pudesse se opor a ele mesmo. Porque Light não estava o machucando, não verdadeiramente, e o que estava lhe causando tanta algia não era a sensação excruciante e aflitiva que ele estava provocando em sua respiração, exacerbando-a, ou em seu peito ao contorce-lo, ou mesmo em suas pernas e mãos trepidas que fugiam de seu controle como uma maldita marionete que se embola em suas próprias cordas. O que estava lhe machucando, o que doía como um inferno, o que lhe incapacitava de responder a pergunta do debate ou mesmo lhe traía a própria dignidade por consistir na única razão para não ter vontade o suficiente para arrancar aquela mão nefasta e degenerada de si era a terrível, dolorida e vexatória ereção que sua calça tanto lutava para conter. Quando tentara se levantar, Yagami lhe espremera a carne das coxas entre os dedos com tanta volúpia e rijeza que lhe assustara, como se Lawliet o pertencesse e isto lhe desse o direito de o repreender por tentar escapar, enfiando aquelas garras no seu corpo, lhe segurando com tanta força, de um modo tão bruto e súbito, que seu pênis se remexera em vontade própria, como se ansiasse que Light o pegasse também. Inconscientemente, demasiadamente inebriado pela sensação rija e ardente, deixara escapar o mais desonroso e terrível grunhido que suas cordas podiam emitir, essencialmente se considerado seu atual contexto. Inconscientemente, em um último apelo para manter o mínimo de dignidade possível, suas unhas se puseram por cima do dorso da mão alheia, afastando-a de si para que pudesse se levantar. Suas pernas estavam bambas, trepidas, dormentes, desacostumadas com a quantidade alarmante de sangue que se concentrava em seu baixo ventre, lhe enrijecendo da forma mais dolorosa possível, enquanto seu peito se contraía em desonra e arrependimento, amaldiçoando seus lábios por lhe condenarem a derrota ao permitir que aquele gemido lhe escapasse desgostosamente.

Cambaleando, a muito custo Lawrence conseguira chegar a um banheiro. Não sabia como havia parado ali e tampouco o caminho que precisaria fazer para ir até o refeitório quando o sinal soasse, entretanto, bem sabia que Light provavelmente viria atrás de si e este simples pensamento lhe fizera chegar tão perto do ápice que por pouco suas pernas não cederam ao chão. Era um depravado. Com o coração lhe subindo pela garganta, entrara em uma das cabines do aparentemente vazio banheiro, sentando-se acima dos pés na tampa do vaso sanitário a melhor maneira que pode. O ar lhe faltava e o tecido dos tênis abaixo de si lhe incomodavam com tanta veemência que tivera de levar os dedos a boca, os mastigando com urgência e mais agressividade do que deveria, machucando-se, bem como as meias demasiadamente ásperas que subitamente lhe pinicaram os pés; as paredes finas daquele cubículo cada vez mais estreito pareciam se distorcer com a crescente ansiedade em seu peito, remexendo-se e se espremendo sobre seus olhos, tornando todo o espaço em uma espécie de borrão turvo e ininteligível. Estava tendo uma crise, eram estímulos demais, sentimentos demais. Instintivamente fechara os olhos, tentando se acalmar, procurando pensar em qualquer outra coisa que não fosse Light, as vezes em que o vira trocando de roupa e em seus dedos desavergonhados lhe apalpando, nos lábios rosados e odiosamente perfeitos, no cabelo irritantemente alinhado, na cintura fina que contrastava belamente com os ombros largos, no fato de que ele poderia lhe alcançar e lhe encontrar a qualquer instante, invadir sua cabine, lhe agarrar, lhe beijar e... Bom, não sabia ao certo o que aconteceria depois. Sabia como seres humanos se reproduziam, conquanto, nenhum dos dois possuía uma vulva. Todavia, em contrapartida, também compreendia que homossexuais faziam sexo, sabe-se lá como. Eles apenas... Masturbavam um ao outro? A ideia de Light lhe masturbar parecia demasiadamente aprazível e tentadora, contudo, sua curiosidade acabara se sobressaindo sobre sua excitação e, quando menos pudera esperar, já estava ocupado demais teorizando sobre os hábitos sexuais de homens gays e, quando este pensamento de forma iminente e a contragosto lhe trouxera a visão de Mihael em um contexto no mínimo perturbador, decidira parar com tais indagações. Felizmente, aquilo fora suficientemente horrendo para lhe fazer brochar, embora não pudesse desfazer a humidade vexatória em sua samba-canção. Gradativamente, sua respiração se amenizara até a normalidade, bem como as batidas até então desreguladas de seu coração, e a sensação excruciante em seu peito, fruto da mistura venenosa de ansiedade e incitação, se dissipara, possibilitando-o voltar a enxergar e compreender o espaço a sua volta. Estava exausto. Conquanto já estivesse acostumado a sentir como se seu cérebro não fosse capaz de coordenar seu corpo como deveria, e constantemente se visse preso a situações que estavam fora de seu controle, como se estivesse enjaulado, atado em sua própria mente, nunca tivera o desprazer de passar por um pesadelo tão embaraçoso e pavoroso como aquele, em circunstâncias tão disformes. Muito menos agitado que outrora, ainda que demasiadamente mais humilhado e entristecido, pois o tesão era como uma droga que após um as vezes glorioso, as vezes terrível, mas sempre intenso ápice, despencava para uma dolorida abstinência que machucava o ego e feria a dignidade, Lawliet finalmente conseguira reunir forças para se colocar de pé. Seu corpo doía, sua cabeça latejava, suas pernas tremiam e as malditas meias lhe incomodavam como o inferno, porém, estava em pé. Após alguns minutos adicionais de repouso, apenas para se certificar de que não iria desmaiar se tentasse andar, abrira a porta, constatando aquilo que sua racionalidade e instinto já sabiam, contudo não se convenceram o suficiente para forçar seu âmago a compreender: Light não lhe encontrara. Novamente, seu coração voltara a acelerar, e enquanto L lavava as mãos, afinal tivera de organizar a bagunça em sua calça a melhor maneira que pudera, a parte lógica de seu cérebro, felizmente a maior e de mais forte influência sobre as demais, repetia tal constatação teimosamente, se esforçando para não dar ouvidos a voz monstruosa e terrível que provinha da cabeça de baixo. Porque por mais que tentasse desconsidera-lo, um fato era um fato e não era capaz de muda-lo, e o fato que Lawrence tanto gostaria de ignorar, embora compreendesse ser imutável, era que mesmo em meio a tanto pavor e descontrole, a um fio de ter uma crise nervosa e colapsar em um surto horrível, não trancara a cabine do banheiro, não porque não se lembrara de faze-lo, porque estava inquieto ou ansioso demais para reparar neste detalhe, e sim porque simplesmente quis. Lawliet escolhera, optara por não trancar a porta porque queria que Light entrasse e lhe mostrasse o que meninos faziam depois do beijo.

Queria que Light lhe mostrasse o que faria consigo depois de vencer.

Conquanto não estivesse em plena capacidade mental para ouvi-lo, acreditava que o sinal para o intervalo já havia tocado haja vista o horário e as inúmeras mensagens que recebera de Mello indagando onde ele estava e se estava com Yagami novamente. Matt provavelmente estava ocupado demais com seu namorado de índole duvidosa, assim como Beyond, que, bem conhecendo-o, deveria estar transando ou assim tentando com a garota que ele recusara fervorosamente a conversar a princípio como um favor a L. Near, como habitual, não lhe incomodaria com tamanha invasão de privacidade, conquanto certamente houvesse perguntado a Mihael vez ou outra onde estava. De todo modo, ainda precisava se decidir sobre o que faria. Tecnicamente, havia perdido a aposta, embora não planejasse necessariamente admitir tal derrota e, desta forma, o mais prudente e inteligente seria evitar o japonês o restante do dia. Com sorte, ele sequer ouvira chama-lo pelo nome na sala de debates e ainda procurava por ele para tentar faze-lo falar. 20% a 30% de probabilidade, sendo otimista. Desistindo de teorizar acerca do que Light faria, Lawliet concluíra que deveria dar um passo de cada vez, e primeiramente sair do banheiro e ir ao refeitório procurar por seus irmãos. Não estava com fome realmente, contudo acreditava que estaria mais seguro em meio a eles, sobre a proteção do julgamento social que Yagami tanto temia. Cautelosamente Lawrence deixara o cômodo, se dando o trabalho de averiguar se o japonês ainda buscava por si, ou se de alguma forma ele ainda lhe aguardava no corredor. Sentia-se como uma indefesa e resignada presa que espera ansiosa e nervosamente o ataque de um terrível e cruel predador. Felizmente, o local estava completamente vazio, sem uma alma sequer. Provavelmente, haja vista o horário, todos os alunos já deveriam estar no refeitório ou nas arquibancadas.

Um tanto desnorteado, L caminhou pelos corredores de fileiras idênticas sem a mínima noção de direção, irritando-se com a forma como tudo parecia sempre o mesmo, estranhamente familiar, porém não o suficiente para que pudesse se localizar. Era como buscar uma carta em um baralho sem ter certeza de qual das 52 opções se procura; todas as figuras são parecidas e conhecidas, todavia não se sabe qual delas é a que se deveria escolher. É claro que poderia simplesmente ligar para Mihael, o que provavelmente faria, no entanto, não saberia dizer onde estava para que ele pudesse lhe buscar. Na pior das hipóteses, precisava encontrar um ponto específico conhecido para servir de referência, o que de certa forma também lhe parecia cada vez mais impossível, pois estava ficando inquieto, não apenas com Light, mas com o ambiente ao seu redor e as meias em seus sapatos, e isto tornava o raciocínio árduo e fatigante. Fazia parte de ser quem era. Estímulos excessivos e sensações exacerbadas deixavam-no tão sobrecarregado e irritadiço que outras coisas, coisas pequenas e geralmente suportáveis, como a claridade em demasio, a textura dos tecidos em seu corpo, a falta de algo entre os dentes, que pudesse mastigar, tornavam-se simplesmente execráveis, dificultando a fala, o caminhar ou mesmo o raciocinar. E então entrava em crise. Era como se seu cérebro precisasse desligar, reiniciar para que pudesse voltar a funcionar.

Exausto, Lawliet se assentou no chão, apoiando-se contra a parede, tentando com certo desespero tirar seus sapatos inutilmente. Sequer conseguira desamarrar os cadarços e seus braços já haviam parado de obedecer, ou talvez sua cabeça tivesse cessado as ordens que os incumbiam. Não era capaz de sentir seu coração bater, embora soubesse que ainda estava vivo, e tampouco sentia seus pulmões se encherem. Gradativamente sua visão se escurecera, tornando-se cada vez mais turva, enquanto seus ouvidos se ensurdeceram e sua mente finalmente cedera. E assim ficara. Não soubera por quanto tempo permanecera assentado ali e tampouco compreendia o espaço a sua volta, jamais tivera uma crise como aquela sozinho, longe de seus irmãos e Beyond, especialmente e, na verdade, embora não fosse capaz de ter aquele raciocínio no presente momento, possivelmente fora este um dos fatores que o deixaram tão inquieto e desesperado. Era completamente incapaz de reagir naquela condição, sendo suscetível a qualquer coisa ou, pior, a qualquer pessoa, e bem sabia o quão aterrador e apavorante era estar vulnerável a natureza humana Sentia, ainda que de uma forma demasiadamente inconsciente tal como um animal encurralado ou abatido, genuíno medo, pavor, uma sensação excruciante e confusa baseada em incompreensão e fragilidade. Até que, subitamente, uma calmaria igualmente ininteligível a princípio lhe tomara conta.

Você está bem?

Aquelas três palavras. Lawliet se sentiu da mesma forma, da mesma maneira que na primeira vez em que as ouvira, mesmo que só tivesse as compreendido posteriormente. Não estava só, afinal. Sentira alívio, uma espécie de calma e serenidade acrescida de um misto de constrangimento e afeição que lhe aquecia o peito de um modo tão gentil e gradativo que lhe permitira recobrar, mesmo que paulatinamente, os sentidos. Podia sentir as pontas dos dedos novamente, especialmente quando fora liberto das terríveis prisões de algodão que lhe envolviam os pés; podia ouvi-lo murmurar baixo e gentilmente palavras que no momento não era capaz de compreender, porém que podia sentir, tão doces e macias que tocaram seu coração; podia enxerga-lo, conquanto não pudesse vê-lo realmente, e imaginar ou recordar sua imagem amigável e excessivamente bela. E então pudera senti-lo, algo que posteriormente identificaria como seu ombro que se recostara em si e por um bom tempo ali permanecera em uma espécie de abraço sem os braços, embora igualmente afetuoso. Light o encontrara afinal, como uma mariposa que persegue uma fonte de luz até se aproximar o suficiente para se queimar.

Demorara algum tempo para compreender o longo e martirizado monólogo do japonês, seus inúmeros pedidos de desculpas patéticos e recheados da mais medíocre culpa, do mais sujo e honesto remorso, contudo, de uma forma já esperada, quando passará a ouvi-lo, de fato, sentira um deleite demasiadamente aprazível. Era estranhamente reconfortante e agradável, essencialmente ao seu ego, vê-lo em uma posição tão humilhante e miserável, dizendo coisas tão desonrosas e vexatórias. Sentira-se tão satisfeito, mas tão reconfortado que sequer se lembrava da situação igualmente embaraçosa que a pouco se encontrara, com Light se metendo em meio a suas pernas. Ele lhe parecia tão arrependido, mesmo que Lawliet não o considerasse totalmente responsável por seu desligamento, que sequer percebera que na verdade ele havia “ganhado” a aposta. Bom, não que assim considerasse, pois desde o princípio tinha ciência de que cedo ou tarde Light lhe imploraria o perdão de modo patético como fizera, era o final que previra, porém, sem todos os acontecimentos estranhos que o antecediam, é claro. De toda forma, ainda que pudesse tranquiliza-lo, Light nunca seria capaz de compreender que, embora de fato tivesse lhe enfadado até quase ter uma crise, tinha consentido, de forma retorcida e talvez doentia, insta pontuar, mas consentido, e o que lhe levara a desligar fora a sobrecarga posterior. Sim, não teria a crise se Yagami não tivesse enfiado a mão em sua coxa, porém também não a teria se tivesse conseguido encontrar o caminho para o refeitório, ou se estivesse descalço, se tivesse encontrado Beyond nos corredores ou se qualquer outra coisa tivesse sido diferente. Não era uma bomba que para explodir bastava cortar um determinado fio. O que lhe deixava sobrecarregado era um conjunto de fatores que fugiam do seu controle e que por vezes podiam variar de acordo com o dia ou com as circunstâncias. No entanto, fazer com que Light entendesse que algo não girava ao seu redor seria extremamente desgastante e definitivamente não se importava o suficiente.

Quando finalmente se levantara, isto após negar categoricamente que não precisava de ajuda, Light voltara a lhe perturbar com aquelas gentilezas inconvenientes e, especialmente, com aquelas mãos desavergonhadas e insistentes. Feliz ou desventuradamente, antes mesmo que pudesse negar ele já havia lhe encoberto o topo da cabeça e ajeitava o grande sobretudo sobre seus ombros tal como Beyond fazia consigo quando estava muito frio e se negava a vestir inúmeras blusas de inverno para se manter aquecido, pois definitivamente preferia morrer de frio do que sufocado. Ainda assim, desconsiderando o desconforto, não sentira-se exatamente irritado (talvez um pouco, mas mais porque estava cansado do que pelo ato em si), afinal Lawrence compreendia que Light estava tentando ser gentil e educado de forma genuína, independentemente se assim estivesse sendo por culpa. Ele estava tentando e aquilo lhe parecia suficiente, tal como seus irmãos faziam. De igual maneira (talvez não tão equivalente assim), permitira que ele o guiasse até a sala de debates novamente, e infelizmente, para a sua dignidade, estava exausto demais para lutar contra as mãos traiçoeiras do japonês que insistentemente teimavam em lhe acariciar os ombros e as costas, e ainda mais indisposto para competir com a parte ilógica do seu próprio corpo: a cabeça de baixo. O que não esperava, conquanto, era que Light fosse compreender aquele cansaço como consentimento, ou pior, como um sinal de que poderiam terminar o que haviam começado mais cedo...

Quando adentraram a sala, Light não acendera a luz, o que lhe deixara consideravelmente mais confortável haja vista sua sensibilidade com a luz, contudo, em contrapartida, tivesse trancado a porta, o que por sua vez era o suficiente para voltar a acelerar seu coração e, com ele, o fluxo de sangue em suas veias. — Está trancando a porta? – Indagou, se afastando para poder se assentar nos pequenos sofás próximos as estantes e prateleiras de livros, embora também considerasse que seria seguro manter certa distância das mãos alheias.

— Está com medo de ficar sozinho comigo? – Provocou o diabo, calmo e quase gentil, tentando esconder a leve entonação maliciosa que tanto insistia em inserir em suas conversas consigo sem o menor pretexto. Não conseguia parar de pensar no que teria acontecido se ele tivesse lhe alcançado quando fugira e, principalmente, independentemente do que aconteceria, se ele teria coragem de faze-lo agora.

— Não deveria?

Lawrence se assentou no móvel ligeiramente menos cômodo que aparentava ser, incomodando-se com o som que ele fizera ao se deitar e na textura do tecido contra a sua pele, se remexendo algumas vezes para encontrar a melhor e mais confortável posição dentro das limitações de espaço. Surpreendente, Light não se limitara apenas a observar com uma atenção excessiva como de costume, dando largos e lentos passos, ainda que um tanto ameaçadores talvez, em sua direção, encurtando drasticamente a distância entre ambos. — Você... Está bem agora, não está? – Questionou o japonês a poucos centímetros de si, fazendo-o recuar e se encolher no sofá de maneira instintiva. Sua voz era serena e muito mais séria do que gostaria, embora cortês, sem qualquer timbre que pudesse ser interpretado como amigável ou afável. Conquanto ainda estivesse com o seu sobretudo sobre os ombros, sentira-se desnudo, exposto, como se Light pudesse ver por dentro de si, enxergar o que não podia esconder. A contragosto, seu rosto esquentara, não por sua fala ou pelo modo assustador e faminto com que Yagami lhe encarava, porém pela quantidade humilhante de energia que era direcionada ao seu baixo-ventre, excitando a única parte de seu corpo que precisava se manter inerte.

— Não o suficiente para que você termine o que começou mais cedo, se é o que quer saber. – Replicou da forma mais rude e desdenhosa que pôde. Independentemente do que a cabeça de baixo quisesse, tinha de deixar claro a Light que fosse lá o que ele pretendia ao tranca-los naquele clube (na verdade, imaginava muitas possibilidades, todavia não poderia se estender em nenhuma delas se quisesse permanecer seco e desarmado), nada aconteceria.

— O-O que? E-Eu não vou fazer nada! – Defendeu-se mais cômico do que constrangido, supunha, se sentando ao seu lado no sofá e ficando com metade do móvel que já era pequeno. – Eu juro. – Assegurou.

Era como conversar com duas pessoas completamente diferentes que revezavam entre si aleatória e constantemente. Uma era falsa, mentirosa, fútil, mas extremamente sensível, egocêntrica, gentil, ora forçada ora genuinamente, carinhosa, amigável; essa pessoa era quem lhe dera a mão para atravessar a rua, quem lhe protegera de Tad e lhe magoara por trata-lo como um inválido, era o Light com quem podia conversar, que se desculpara, que lhe fazia querer estar em sua companhia. A outra, era demasiadamente mais verdadeira: megalomaníaca, ciumenta, exacerbadamente controladora, era o Light que gostava lhe de tocar incessantemente, de lhe subjugar, de deturpar contextos até que fosse impossível desconsiderar a conotação sexual, o Light com quem fizera a aposta. No momento, ambos pareciam estar presentes de maneira simultânea.

— Pode deitar sua cabecinha avoada aqui. – Convidou educadamente (em demasio), dando rápidas e leves batidas em sua perna esquerda, chamando-o para repousar a cabeça em seu colo. – Vou me comportar, tem a minha palavra.

— Não vou colocar a cabeça aí. – Negou rapidamente, sem considerar o quão obscena a mente devassa e doente do japonês iria interpretar aquela frase.

— Porque não? Eu não vou te machucar. Confie em mim. – Voltou a assegurar. – Nós já demos as mãos, já te carreguei no colo, já deitei por cima de você... – Isto sem contar as vezes em que o apalpara em abaixo da mesa, acrescentou em pensamentos, tentando convencê-lo ao concluir o raciocínio. – Isso não é nada se equiparado ao restante do nosso relacionamento. Venha.

Conquanto não soubesse identificar se ele havia pedido, pois sua última fala lhe parecera levemente mais autoritária do que sugestiva, e tivesse de desconsiderar os impulsos físicos que Yagami lhe causava de forma inconsciente e incontrolável que, por sua vez, tornavam a análise da situação parcial e consequentemente interferiam em sua tomada de decisão, a parte lógica de Lawliet, que cada vez se tornava menor e menos influente sobre as demais, considerara tal convite minimamente razoável quando se equiparado as demais situações em que se encontraram. De fato, não lhe parecia tão horrível assim apoiar sua cabeça em seu joelho quando Light já havia lhe tocado em praticamente todas as partes do seu corpo acima do umbigo e quase tudo abaixo do quadril (menos a parte que realmente queria ser tocada). Desta forma, tímida e receosamente, L se abaixou, se acomodando no pequeno espaço que lhe era oferecido no sofá, se deitando com os joelhos próximos ao peito, o polegar esquerdo dentro da boca, e a cabeça recostada sobre sua coxa. Seu rosto ardia e Lawrence implorava a qualquer ser ou entidade que se dignasse a ouvir para que o japonês não percebesse ou ao menos não zombasse de si naquelas condições, enquanto seu coração, a contragosto, parecia objetivar romper suas costelas de tão intenso que bombeava, bem como o ar que simplesmente decidira não adentrar corretamente por suas narinas. Feliz e inesperadamente, no entanto, Light se manteve em silêncio, cumprindo sua palavra e lhe aliviando, de certa forma. Independentemente do que sentisse da cintura para baixo e do que almejasse toda aquela região, estava cansado, sobrecarregado, e mesmo se tudo o que quisesse no mundo fosse que Light terminasse o que começara mais cedo, realmente não suportaria suas mãos e seu toque.

O diabo abaixo e acima de si, por sua vez, não poderia dizer o mesmo. Mal conseguia acreditar que Lawliet havia lhe obedecido, que ele estava ali, que havia confiado em si e deitado ao seu lado, tão indefeso e quietinho, como se lhe provocasse a quebrar sua promessa. Queria tanto agarra-lo, toma-lo, torce-lo, fazê-lo seu e apenas seu; afinal havia ganhado a aposta, bem sabia e L também, tudo o que queria era seu prêmio, a recompensação por todo o seu esforço e paciência, a tão esperada e almejada verdade que o faria engolir até se engasgar e lacrimejar, implorando por clemência. Queria tê-lo, queria tanto tê-lo que era simplesmente impossível ignorar, conter-se, se comportar, como ele mesmo havia prometido. Quando se dera por si, sua mão já estava ali, adentrando o emaranhado fofo e tão escuro de fios que uma vez dentro, mal podia enxergar seus dedos, acariciando sua cabeça em movimentos calmos e circulares.

— Light. – Repreendeu L, mantendo-se imóvel, tão sério e impassível que podia sentir seus músculos se enrijecerem.

— Calma. – Como uma criança que é pega, o japonês pediu, ainda que sem demonstrar qualquer tipo de remorso, lutando para afastar sua mão das madeixas tão convidativas. – Não estou te machucando, estou? – Replicou irônico e desdenhoso, embora compreendesse que seu sapinho estava certo, pois havia prometido se comportar, e ficaria aborrecido se o tratasse daquela forma. – Tudo bem? – Lentamente, retornou com sua mão, voltando a afaga-lo. – Você deveria deixar eu pentear o seu cabelo... – Era macio, surpreendente macio, e demasiadamente cheio e liso. Conquanto fosse excessivamente desarrumado, seu cabelo não possuía grandes nós e se desmanchavam entre seus dedos conforme os penteava com carinho. Sentia-se como se estivesse acariciando um grande e peludo gato que deitara em seu colo e, como se começasse a ronronar, Lawliet relaxou, parecendo aceitar seu afago. – E te ajudar a se vestir melhor... Suas roupas são tão grandes... – Murmurou mais para si do que para L, ocupado demais em pensar sobre seu corpo, a forma como ele parecia tão pequeno e infantil naquelas roupas inúmeros tamanhos acima da ideal, e como elas deveriam ocultar suas verdadeiras curvas e formas. Como ele seria por debaixo de todos aqueles tecidos?

— Não são minhas. – Inesperadamente, Lawliet respondeu, dando a Light a sensação de que, pela primeira vez desde que se conheceram, ele realmente queria conversar consigo.

— São do seu irmão? – Somente naquele instante percebera que seu sobretudo permanecia sobre os ombros alheios, recaído e amassado, como se fosse uma espécie de coberta. E então, quando menos pudera esperar, lá estava ele. Aquele sentimento enfadonho e insistente lhe invadindo o peito, sobrepujando o tesão impulsivo e violento e substituindo-o por carinho, afeto. Repentinamente, sentira-se com treze anos de novo, na época em que seus pais simplesmente não eram capazes de ficarem juntos por meio segundo no mesmo cômodo sem se insultarem ou mesmo arremessarem objetos um ao outro. Detestava quando ambos estavam em casa, quando sua mãe tentava chantageá-lo emocionalmente para que lhe desse razão naquelas discussões estúpidas, ou quando seu pai agia de maneira insensível ou cruel consigo, como se fosse sua culpa ele ter escolhido uma narcisista para chamar de esposa. Entretanto, tudo mudara quando em uma tentativa inútil e egoísta de salvar aquele casamento falido tiveram sua irmãzinha. Pela primeira vez em sua vida, sentira amor, carinho de fato, para algo que estivesse vivo e que divergisse de si mesmo. E naquele instante, com L em seu colo deitado daquela maneira, como se confiasse em si, como se o amasse e o quisesse por perto, a única coisa que conseguia pensar era que o amava, de fato, sentia carinho por ele, da mesma maneira que amava Sayu e Ryuk, ocasionalmente. Da mesma forma que fizera a sua irmãzinha tantas e tantas vezes, Light ajeitou o sobretudo sobre seus ombros, cobrindo-o de melhor forma, não tardando em retornar a lhe acariciar desde o topo da cabeça até a parte lateral, próxima a sua bochecha, afagando-o com o polegar em movimentos lentos e circulares.

— Sim.

— E os seus sapatos? Por que não gosta deles? Também são do seu irmão?

— Não. – Negou, dando a entender que os tênis eram seus, realmente. Sua voz estava calma e macia e seu corpo relaxado e quente. – São prisões de pés. – Respondeu seriamente, conseguindo lhe arrancar uma risada.

— Você é tão... – Acabara se perdendo em meio a seus próprios sentimentos. Amava-o, amava-o verdadeiramente, L era tão pequeno e adorável que doía, sentia seu peito arder, queria aperta-lo até estourar. – E por que você se senta desse jeito? Com as pernas rente ao corpo dessa forma.

— Porque é confortável.

Simples, era tudo sempre tão simples para L que as vezes lhe parecia complicado de entender, todavia, sabia que não era impossível. Queria entende-lo, queria enxerga-lo e, essencialmente, queria que Lawliet quisesse lhe ensinar tanto quanto queria aprender. — E porque mastiga os dedos? Eles estão machucados. – Referiu-se a vermelhidão nos nós de seus polegares e indicadores, principalmente, que estavam excessivamente mais mordiscados do que todas as outras vezes em que os observara. Até então, imaginava que Lawrence levava os dedos a boca quando estava racionando, entretanto, talvez ele o fizesse para descontar o estresse também.

— Não sei... – Murmurou cada vez mais baixo e distante.

Não, havia se enganado. Os dois Lights não estavam mais competindo para se sobressair um do outro. No presente momento, o garoto que estava acima e abaixo de si não era o diabo que tanto temia e ansiava, mas sim o gentil e enfadonho japonês que estimava. Era seu amigo. Provavelmente, aquele era um dos motivos para o sentimento de alívio e tranquilidade em seu âmago, que consequentemente permitia ao seu coração retornar a bater calmamente, a sua garganta deixar de deglutir forçada e em seco, e seus pulmões a se preencherem com ar de maneira calma. Seus dedos, por sua vez, não estavam inquietos, não se remexiam para se estralar, seus dentes não mordiscavam seu polegar, permitindo que ele apenas rodeasse o contorno de seus lábios livremente, bem como seus olhos que gradativamente cediam ao peso inconsciente do cansaço, cada vez mais lentos. No entanto, a natureza de sua relação era somente uma fração da verdadeira razão para todo o seu sossego, 20% a 30%, na melhor das hipóteses. Porque, embora estivesse inebriado demais para compreender ou sequer pensar a respeito, o que estava lhe trazendo tanta paz, majoritariamente, eram os movimentos calmos e contínuos dos dedos alheios no topo e nas laterais de sua cabeça. Seu toque era tão leve e gentil, amável realmente, que seus olhos instintivamente reviravam em agrado. Fora quase como, na verdade, ainda melhor, quando deram as mãos pela primeira vez. Da mesma forma que naquela ocasião podia sentir seu carinho, no entanto, havia algo de prazeroso, física e emocionalmente, talvez, naquelas carícias, quase como sua mãe fazia consigo quando o colocava para dormir ou quando adormecia com Beyond agarrado a si. Sentia uma emoção quente e estranha emergir em seu peito, lhe contagiando, contudo tão constante e aprazível que mal podia perceber, além do cansaço insistente que paulatinamente lhe fazia ceder para o sono, tentando força-lo a adormecer.

— Já pensou em comprar um mordedor? – Indagou com sua voz doce e gentil, tão melodiosa que lhe fazia chegar a inusitada conclusão de que gostava de ouvir. Poderia escuta-lo por horas desde que ele permanece daquela forma, estranhamente encantador e amável. Entretanto, não era como se estivesse compreendendo ou sequer processando o que ouvia, se limitando a se deleitar com seu timbre afável. Não era como se o fizesse por mal, todavia, estava tão exausto e sonolento que sua voz, mesmo que bela e harmoniosa, lhe parecia apenas um som distante e gradativamente baixo, como um linda sinfonia que não se escuta, mas se sente. Pôde ouvi-lo lhe chamar ou dizer outras coisas mais algumas vezes e até mesmo sentir que ele se aproximara de si, se inclinando, porém nem mesmo suportara manter seus olhos abertos para constatar. Tudo o que queria era descansar um pouquinho. Estava tão exausto e a perna alheia estava tão macia... Sabia que podia confiar nele, mesmo que de olhos fechados, afinal eram amigos, e com este último pensamento Lawliet se permitiu adormecer.


Notas Finais


O capítulo do Light é mariposa porque ele sempre procura o Lawliet, a luz dele 🤧🤧🤧 isso tbm é irônico pq Light significa luz, e o nome do Lawliet quer dizer “pouca luz”.

Agora pulando a parte sentimental, não sei se perceberam, mas a perspectiva do L é muito diferente da do Light KKKKKKK Não sei o que vcs acham, mas na minha cabeça o L é muito mais safado do que ele, tanto que, embora o Light faça uso de conotação sexual, encoste no L de forma sugestiva, ele não chega a pensar nele de forma explícita. Em nenhum momento ele pensa em ter relações sexuais com ele. Ele descreve pensamentos violentos, agressivos de uma forma muito maliciosa, com nítida conotação sexual, mas nunca pensa no ato em si. O máximo que ele chega a considerar é um beijo, e logo ele se arrepende e se repreende. Claro que tem toda a questão da sexualidade e ele ainda precisa se resolver com isso, diferentemente do Lawliet que simplesmente não liga. Até então ele só sentia constrangimento ao tocar no assunto, ao ver alguém despido, nunca sentiu desejo, de fato. E então o Light começa a provocar ele incessantemente, e o corpo dele corresponde. Pra ele tudo é muito novo, mas isso não o impede de gostar da sensação assustadora e aprazível de ser tocado. No entanto, ele é autista, tem todo um rolê com o toque. Mesmo que seja fisicamente gostoso, ainda existe todo um processo de adaptação, de compreensão. Por isso ele diz que não é culpa do Light ele ter tido uma crise, mesmo porque ele consentiu que o Light fizesse aquilo, por mais doente e problemático que possa ser. Por isso na minha cabeça ele é pior que o Light.

E sobre o rolê da crise, não tirei da minha cachola, tá? O nome desse desligamento é shutdown, e acontece quando há sobrecarga sensorial. A pessoa geralmente não fala, não consegue se comunicar, fazer tarefas básicas ou mesmo pensar com clareza. Ela meio que internaliza o desconforto. E no caso, mesmo sem saber, o Light agiu muito bem mesmo na base do instinto e do bom senso. Ele ficou calmo, acompanhou e soube entender os sinais, quando podia tocar, o que dizer, e o que não fazer. Aos poucos eles se entendem kkkkkk


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