Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos.
(Thinking Out Loud — Ed Sheeran)
Vou até meu carro e vejo minha camisa jogada no banco traseiro, está suja de sangue e eu penso que devo me livrar disso, mas antes tenho algo a fazer.
Dirijo até a casa onde Taylor costumava morar, minha intenção inicial era simplesmente terminar aquela briga e pedir satisfações, mas eu quero mais.
Ao vê-lo no jardim de sua casa fico aliviado por ainda viver no mesmo endereço. É engraçado lembrar que eu considerava Taylor o meu melhor amigo. Nós dividíamos segredos, ele sabia toda a minha história de amor com Hadley, sabia quais eram os nossos planos, sabia que ela era a coisa mais preciosa que um dia já tive. Agora está agindo como um filho da puta. Duvido que a intenção tenha sido só ajudá-la, ele queria tirá-la mim, se aproveitou porque eu estava preso, não podia cuidar dela e dar todo o amor que precisava.
Assim que entra na casa, saio do meu carro olhando para os lados tendo a certeza que ninguém irá testemunhar o que estou prestes a fazer. Procuro em algumas caixas da garagem algo que me permita cortar, acho uma tesoura de jardinagem, perfeito.
Com a maior cautela possível abro a porta de seu veículo, tentando fazer o mínimo barulho, a intenção é achar os fios dos freios. Não quero matá-lo, desejo apenas assustar, quero deixar claro que ele jamais deverá tentar algo contra mim e Hadley de novo.
Assim que os acho minha ação é rápida, corto dois dos fios, devolvo a tesoura a caixa e entro no meu carro. Não tenho muito o que pensar, Taylor pode morrer, mas a verdade é que eu estou pouco me fodendo para isso.
Essa não é uma atitude que o antigo eu faria. Não era um santo, mas nunca pensei em odiar alguém, simplesmente não valia a pena, porém esse ódio é o que me fortalece. Matei Blair e não posso simplesmente querer voltar atrás, fiz o que precisava ser feito e estou só começando.
***
Estou agora a poucos metros do meu apartamento, vi um ferro velho e decidi que me livraria das provas do crime ali mesmo. Coloco minha camisa e as luvas que usava no dia do assassinato em cima de caixas de papelão, jogo álcool e taco fogo com a ajuda de um fósforo.
Quando decidi me vingar sabia que existia possibilidades de me descobrirem, por isso teria que tomar muito cuidado, teria que ser esperto. Luvas esconderiam minhas digitais e eu teria que me livrar de qualquer prova que pudesse me acusar. Não pretendo voltar para a prisão, foram oito meses sem poder ver o mar, algo tão simples que eu costumava fazer nos fins de tarde de um sábado com Hadley e que fora tirado de mim.
Hadley, a minha Hadley. Tão doce e ao mesmo tempo tão quente. Ela é capaz de me levar à loucura e de me acalmar ao mesmo tempo, ela me tem dos pés à cabeça, domina os meus pensamentos. Não me lembro de ter desejado outra garota desde que me apaixonei. EU IA TER UM FILHO COM ELA, dá pra acreditar? Um fruto do nosso amor. Fui tão injusto por ter agido daquele jeito com ela, a amo tanto... Não consigo ficar bravo. Quem conseguiria virar um monstro olhando aqueles lindos olhos azuis? Ela me domina, me tem por completo. Fui tirado do inferno e só me senti no paraíso de novo quando a tive em meus braços, eu a amo.
Sou distraído dos meus pensamentos quando alguém grita:
— Ei garoto, não pode ficar aí.
— Foi mal, já estou saindo.
— Está tudo bem? — Afirmo que sim balançando a cabeça e saio deixando as provas de uma vingança queimando.
Quando volto ao apartamento a encontro sentada vendo televisão. Está bem claro o clima tenso entre nós e sempre odiei quando ficávamos assim.
— Oi — disse tentando mudar o clima, mas ela nem olha pra mim, só me responde da mesma forma. Sei que estou errado e não quero vê-la chateada por estar agindo feito idiota. — Sei que fui egoísta — finalmente desvia seu olhar para meu rosto. — Hadley, entendo que a minha atitude foi extremamente egoísta, você pensou em mim e tudo o que fiz foi agir como um idiota.
— Você tinha o direito de saber.
— Eu tinha e duvido que você colocaria outro para assumir a minha função de pai.
— Era o nosso filho — seguro em sua mão e olho em seus olhos. Ela é tão preciosa, nem sei se a mereço, mas deixá-la com outro é algo pelo qual não estou disposto a fazer.
— Nós podemos tentar de novo.
— Sim, podemos — sorri. Sento-me ao seu lado e encosto sua cabeça em meu ombro.
— Mas dessa vez quero que seja do jeito certo. Você vai entrar na faculdade, nós vamos nos casar e o tempo nos dirá o que vai acontecer.
— Não quero que mais ninguém seja o pai do meu filho — beijo o topo de sua cabeça e em seguida deposito um em seus lábios.
Cada beijo que dei em Hadley desde que a vi está sendo como resgatar uma parte de mim. Eu sempre soube que tinha seu coração, sei também que seu amor é meu, diante disso sinto-me um idiota por não contar a ela todo o meu plano, entretanto tenho tanto medo de perdê-la novamente. Sei que ela não é perfeita, algum defeito deve existir, talvez esse fosse me amar incondicionalmente e ainda tenho a certeza que mesmo parecendo o pior dos pecados Hadley não está pronta para desistir.
Ao fim do beijo demos aquele típico sorriso apaixonado e nos olhamos por alguns segundos.
— Eu quero ser o seu homem.
— Você é.
— O seu único homem — sua atenção é desviada a televisão, uma tentativa de não prosseguir o assunto. — Você tem um coração bom e não quer magoar o Taylor, entendo, mas acredita em mim, ele não te merece.
— Pode ser, mas é difícil.
— Não pareceu tão difícil quando terminou comigo — inclina a cabeça e mexe os lábios, mas não diz nada, simplesmente se levanta indo até a cozinha. Agi como um idiota de novo. — Hadley!
— Você fala como se tivesse sido a coisa mais fácil terminar com você.
— Não foi o que eu quis dizer — a puxo pelo braço e envolvo minhas mãos na sua cintura colando nossos corpos.
— Quando eu perdi o bebê tudo o que queria era ter você aqui. Queria ouvir sua voz me dizendo 'vai ficar tudo bem meu amor, nós vamos ter outro, talvez não era pra ser', mas eu não tinha você, eu nem se quer podia conversar sobre isso na cadeia. Sempre tinha um policial armado nos vigiando e nosso tempo era curto. Foi difícil ter acordado com dores e não ter você para me acalmar, foi difícil receber a notícia sem poder segurar a sua mão, foi tudo tão difícil — lágrimas descem de seus olhos sem controle algum. Para reconfortá-la coloco minha mão em seus cabelos a guiando para se deitar em meu ombro, assim a abraço. Tento dar agora toda a proteção e o apoio que ela esperou de mim nesses meses e não pude dar. Talvez eu não devesse, mas me sinto culpado, devia ter notado, Hadley jamais me abandonaria sem ter um motivo — Eu sempre sonhei em ter um filho e ainda ter um filho com o homem que amo seria a vida perfeita. Sei que nós ainda somos jovens, sei que temos a vida inteira pela frente, mas eu ainda posso sonhar, não posso? — Volta a olhar em meus olhos e seu rosto está vermelho, o acaricio e seco suas lágrimas com o polegar. Não digo nada, apenas quero ouvi-la, sei que precisa disso. — Eu ficava andando por essa casa imaginando você aqui, imaginava sua cara de bobo acariciando a minha barriga, era a vida que sempre sonhei. Não queria o Taylor, queria você. Contudo, ele foi tão legal comigo, cuidou de mim, me levava para o hospital, me repassava as matérias, até fazia o almoço para que eu descansasse. Mas era você que eu queria que fizesse isso tudo para mim, queria ter você me mimando como sempre fez. Talvez se você estivesse aqui nada disso teria acontecido, eu estaria gorda, com os pés inchados, mas feliz porque você está aqui e teria o nosso bebê.
Hadley chora compulsivamente e eu a abraço com força. Permito que algumas lágrimas escapem porque entendo a dor que sente. Pensei tanto no Taylor que esqueci dela, esqueci do quanto foi difícil não me ter por perto e ainda ter perdido o bebê. Isso devia ter acontecido por algum motivo, mas eu não entendo qual. Porém, faço a promessa a mim mesmo de que irei dar tudo que ela precisar, vou recompensar esses meses que estive longe, não era nossa culpa, mas eu a amo e vê-la bem de novo é só o que importa agora.
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