Amor, eu tenho um amor tão profundo por você, não sei por onde começar
amo você mais do que qualquer coisa [...] eu te amo mais do que a palavra "amor" pode dizer.
(Ariana Grande – Baby I)
Não tive como respondê-la indo contra o que quer. Hadley é uma mulher decidida, não há nada que a faça mudar de ideia quando quer algo e mesmo sentindo medo, não posso negar que ultimamente tem provado que amadureceu e pode se virar sozinha, não há mais necessidade para que eu a proteja tanto, mesmo ainda sentindo medo de que qualquer pessoa possa fazer mal a ela. Acho que essa é a hora de deixá-la fazer algo por mim.
- Tudo bem. – Me sento e respiro fundo criando coragem para contar o que espera a tanto tempo saber. – Você quer mesmo saber?
- Essa é a minha vez de te proteger. – Não consigo olhar em seus olhos para ver sua reação, então os fecho e abaixo a cabeça.
- É o Jack. – Ouço o som de sua respiração, mas nada de sua voz, então volto a desviar minha atenção para seu rosto e está de cabeça baixa e com as mãos sobre os cabelos. – Hadley...
- Por que ele fez isso tudo com você?
- É o que pretendo descobrir.
- Não consigo acreditar. – Seus olhos voltam a ficar fixos aos meus. – Vocês eram tão amigos e me adorava. – Seguro em sua mão e posso ver que está se controlando para não cair no choro.
- Por isso não entendo qual era sua intenção me colocando na cadeia, mas não se preocupe, irei descobrir o que está por trás disso tudo e por favor, antes de começar a agir, não o trate mal, isso faria com que desconfiasse.
- Então por que não queria que eu ficasse perto dele? – Não posso contar que Jack pretende machucá-la, isso doeria.
- Acho que só não queria ver que você foi ao baile com um dos meus traidores.
- Jamais faria isso.
- Não iria sem mim?
- Claro que não. Foram nossos planos, realizei com você, não poderia ser com outro. – Sorrio satisfeito com a resposta e a puxo para um abraço.
No dia seguinte, acordo abraçado de conchinha com Hadley, ainda está dormindo. A sensação que sinto é de uma felicidade imensa. Passei uma noite sentindo falta de tê-la comigo e hoje acordamos juntos, como deve ser.
Escondo meu rosto em seu pescoço e permaneço ali, sentindo seu cheiro e esperando que fique em minha memória – e em meu corpo – para sempre.
Antes que pudesse voltar a prisão tomei mais um banho e café ao lado do meu amor, não estava um clima de despedida, parecia um dia comum, como os vividos em nossa rotina.
Infelizmente a hora se aproxima e precisamos nos despedir.
- Não precisa ir, ninguém veio atrás de você.
- Mas virão e acredite que podem me tirar de você á força.
- Não me deixa. – Levo minhas mãos ao seu rosto a obrigando a olhar em meus olhos e então sorrio.
- Você confia em mim? – Balança a cabeça dizendo que sim. – Não irei permitir que nos separe, eu vou voltar.
- Quando?
- Mais rápido do que imagina. – Fica na ponta dos pés – mesmo não sendo necessário – e me beija, um beijo longo e dado com muito amor.
- Eu amo você. – Sussurra ao fim, enquanto nos olhamos.
- Eu amo você e sempre amarei. – Logo que termino a frase sou puxado para um abraço e não nego. É eletrizante poder tocá-la, ter seu coração colado ao meu e sentir seu cheiro. Apesar das circunstâncias, sei que esse não é um adeus, irei voltar para amá-la cada vez mais.
Assim que finalizamos, corre ao nosso quarto e volta com seu travesseiro.
- Pode ser mais confortável para você e ainda te fará lembrar de mim. – Sorrio, o pego de suas mãos e selo nossos lábios. Logo me retiro a deixando sozinha.
Usei meu carro para chegar a delegacia mesmo sabendo que não teria como levá-lo de volta. Entro no local e alguns policiais junto ao delegado prendem sua atenção a mim.
- Onde você estava?
- Fui passar a noite em casa.
- Ninguém te deu permissão para isso. Como conseguiu fugir?
- Eu não fugi. Simplesmente quis aproveitar meu ultimo dia com minha namorada.
- Vocês são irresponsáveis. – O delegado diz repreendendo os policiais, não pude conter uma risada.
- Acabou a festa, irá voltar para sua sela.
- Antes... Alguém poderia me fazer o favor de levar meu carro de volta ao apartamento? Minha namorada precisará dele. – Estendo as chaves e um dos policiais a pega.
- É seu mesmo?
- Sou acusado de assassinato, não de roubo.
- E o travesseiro?
- Hadley acha que isso tornará minhas noites um pouco melhores.
- Posso revistá-lo? – Mesmo achando extremamente ridículo concordo.
O delegado procura por coisas dentro como se fosse um criminoso acusado de tráfico de drogas, logo que termina me entrega e meu corpo é empurrado para voltar a maldita sela.
- Na próxima vez que isso acontecer, irá ser transferido. – Diz e assim me joga para o inferno de quatro paredes. Coloco o travesseiro sobre o colchão e olho para Christian, está sentado de cabeça baixa, não parece dormir, apenas distraído ou talvez esteja pensando.
- Qual o problema, cara?
- Ele veio atrás de mim.
- Quem? – Finalmente olha em minha direção.
- Jack.
- Jura? O que pretendia conseguir dessa vez?
- Ofereceu minha liberdade e outras coisas em troca de sua vida. – Ao ouvir começo a rir, me sento ao seu lado e ele parece não ter achado engraçado.
- O quanto vale minha vida? Me diga o que te ofereceu.
- Coisas pessoais.
- Luxo?
- Dessa vez não. Se ofereceu para me ajudar com uns problemas do passado.
- Acha que vale a pena? Irá fazer?
- Jamais te entregaria nas mãos dele.
- Jack tem consciência de que somos aliados?
- Se souber quem morre sou eu.
- Tem medo dele?
- O cara não é perigoso, mas conhece gente que é.
- Muitas pessoas tem medo de você. – Olha em meu rosto e arqueia a sombrancelha. – Lembra daqueles caras na prisão? Deixaram de mexer comigo por sua causa.
- O medo desaparece quando o que está em jogo é dinheiro.
- Parece que o infeliz não está mais falido.
- Deve ter algo sujo por trás disso.
- Ele não era assim.
- A quanto tempo se conhecem?
- Muito tempo. Praticamente toda minha adolescência.
- Por que faz isso contigo?
- É o que pretendo perguntar.
- Irá matá-lo?
- Seria fácil demais, quero vê-lo sofrer.
- Você me assusta.
Christian é a pessoa ideal para me ajudar a sair daqui, conhece muita gente e entre tantos poderia me arranjar alguém inteligente o bastante para fazer Jack confessar os crimes. Seria fácil demais matá-lo e isso não me traria lucros, preciso sair daqui.
- Por que acha que ele quer me ver morto?
- Quer que eu seja sincero? – Dá uma pausa, talvez esperando por uma resposta minha, mas permaneço em silêncio esperando que continue. – Ele tem medo de você. Depois de todas as pessoas que matou e a forma como foram assassinadas... Isso o assustou. Enquanto continuar vivo sabe que não irá desistir da vingança, então para Jack, a solução é sua morte.
- Acho que sei uma forma de tirar você daqui, concluir minha vingança e ter minha liberdade de volta.
- Começa a falar.
- Antes preciso ter a certeza de que não irá me trair de novo.
- Dei liberdade ao Tommy e estou preso, o que acha que aconteceria dessa vez?
- Se me trair eu mato você. – Engole a seco parecendo ter medo.
- Acredito que nenhum de nós quer isso.
- Vou passar a querer se bancar o idiota novamente. – Se ajeita, talvez procurando por uma posição confortável no chão frio e então olha para mim.
- Prometo que isso não voltará a acontecer.
- Sua vida está em jogo, espero que esteja consciente disso. – Balança a cabeça acentindo. – Ok. Hadley acha que pode fazê-lo confessar os crimes.
- Como?
- É ai que você entra.
- O que quer que eu faça?
- Conhece muita gente, certo? Talvez pessoas o suficiente, principalmente especialistas em tecnologia.
- Está pensando em colocar algum tipo de micro câmera no vestido dela?
- Há uma possibilidade. – Dou uma pequena pausa antes de prosseguir. – A ideia é de provocá-lo e fazer perguntas até que diga algo que possa incriminá-lo.
- Como se confessasse os crimes que você cometeu?
- Iremos chegar lá.
- E então mandaríamos para o FBI.
- Se tudo der certo... Não tenho todo o plano bolado ainda, mas se conseguirmos pelo menos essa parte posso sair daqui.
- E eu?
- Você diria ao Jack que concorda em me matar, dessa forma ganha a liberdade e o resto fica comigo.
- Vai contar á Hadley sobre isso?
- Ela é a parte principal.
- Espero que dê certo.
A verdade é que tem tudo para dar certo. Jack quer minha vida e com certeza irá bolar uma morte que pareça "natural" para que não haja provas, assim como as que já cometeu. Não estou garantindo que seja um bom plano, porque é arriscado, pode haver mortes quando a polícia for atrás dele e há possibilidades de que mande outro alguém para me matar, mas é minha única escolha. Posso deixá-lo preso como deve ser e ir para outra cidade com Hadley. Não seria fugir, apenas iriamos recomeçar e talvez possa ter a vida que tanto sonha ao meu lado.
- E o travesseiro? – Christian pergunta tirando-me de meus pensamentos.
- É da Hadley.
- Deixa eu adivinhar... Foi para o baile e aproveitou para dar uma escapada e passar a noite com ela.
- Você é esperto. – Ele ri.
- Transaram? – Sorrio entregando a resposta e Christian reage batendo a mão na perna por diversas vezes. – Eu sabia. – Fala quase gritando. – Você é muito esperto, tenho que confessar. Passei a noite toda com frio e o desgraçado estava em uma cama quente transando.
- Nós não transamos em casa.
- Te invejo. – Começo a rir e ele me acompanha.
Nosso momento descontraído é iterrompido mais uma vez pelo maldito policial.
- Hora do banho. – Anuncia e Christian revira os olhos.
- Eu já tomei.
- Então é só para você. – Ele se levanta e é algemado. – Tem uma pessoa querendo te ver.
- Posso ir? – Levanta seu dedo indicador como se dissesse para que eu esperasse. Logo outro volta pronto para me retirar de lá e todo o processo se repete.
Enquanto caminho para a sala de visitas fico imaginando se seria Hadley, ela era a única que havia vindo me visitar, nem minha mãe havia o feito, não tenho a certeza de que saiba que estou aqui.
Ao atravessar a porta que dá acesso, encontro meu advogado, doutor Peters, pelo menos me lembro de que era esse seu nome.
- Olá, Justin. Como está?
- Estou bem. Aconteceu algo?
- Hadley pediu para que eu cuidasse muito bem de seu caso e então fui atrás do tribunal judiciário para ver o que fariam a respeito de seu julgamento.
- O que conseguiu?
- Se sente. – Puxo uma cadeira e o obedeço, ele faz o mesmo. – John Collins que era responsável por julgar sua condicional tirou alguns dias de licença pelo ocorrido, então outro irá substituí-lo. Também não haverá mais a necessidade de que seu julgamento seja aberto, será em uma sala privada, apenas com poucas defesas de sua escolha e o juri.
- Já tem data?
- Antes que eu o diga, é importante que fique ciente de um fato.
- Tudo bem, pode falar. – Coloca suas mãos sobre a mesa e arruma a postura olhando fixamente em meu rosto.
- Se descobrirem mais casos de assassinato causados por você poderá haver pena de morte. – Posso sentir meu corpo se arrepiar ao ouvir tais palavras, sempre tive a consciência de que poderia pagar até vinte anos de prisão, mas jamais pensei na possibilidade de ser assassinado.
- Isso é pra valer? Pode mesmo acontecer?
- Considerando a gravidade dos casos e a quantidade de mortos, sim.
- O quanto de chance em porcentagem?
- Eu diria que ciquenta e cinco porcento.
- Isso não vai acontecer, todas as vítimas já foram descobertas.
- Os pais da sua colega Blair não acreditam em suicídio depois de todas as provas que te incriminam, por isso, contrataram pessoas para investigar melhor a situação. Mas preciso que seja sincero comigo.
- Acha que eu a matei?
- Não estou te acusando, sou seu advogado, meu dever é defendê-lo. – Encho meus pulmões de ar e antes que pudesse dizer algo, ele prossegue. – Estou ciente da sua situação e continuarei investigando mais a fundo soluções para o seu caso, porém, preciso saber se houve outras mortes, imagino que não queira ser assassinado.
- Não vou morrer aqui. – Falo com a voz firme e confiante.
- Você não causou a morte da senhorita Blair?
- Não. – Minto. Não vejo motivo algum para confessar o que fiz, ninguém desconfia que pode ter sido eu, para todos foi suicídio e deve permanecer assim. O crime foi perfeito e cometido com cuidado, tive tempo para planejar, não há nada que possa me incriminar.
- Então nos vemos em três dias.
- Vai encontrar Hadley?
- Provavelmente.
- Poderia dar um recado a ela? – Abre sua pasta e de lá tira uma caneta e um papel branco. Escrevo que preciso urgentemente vê-la para que possamos colocar o que planejamos em prática, termino o bilhete dizendo que a amo e peço que se cuide, assim entrego para Peters.
- Te faço a promessa de que iremos vencer.
- Confio em sua capacidade. – Estende a mão e eu a aperto em um gesto amigável.
Enquanto se vira, começo a pensar em qual seria a melhor forma de fazer Hadley se aproximar de Jack sem parecer suspeita. Ela é minha namorada e ele não deve ser tão burro quanto aparenta, com certeza irá desconfiar se ela começar a fazer perguntas sobre os crimes que aconteceram e obviamente, por achar que ela é inocente, poderá me culpar, ou pior, convencê-la a me deixar. No fim, minha conclusão é de que deveremos pensar em cada detalhe e com cuidado para que não haja erros, mesmo temendo a morte, será melhor assim.
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