Em algum lugar do passado
Ela nunca foi a garota mais comportada da cidade e não via isso exatamente como um problema, sempre haviam aqueles que eram piores e aproveitar a vida não era um pecado, era o que ela achava. Mas não queria ganhar uma bronca da avó e ter problemas, por isso estava correndo para casa, minutos antes disso estava em uma festa, agora a capa vermelha se agitava ao redor do corpo com cada passo largo que dava no meio da floresta.
Entrar na floresta poderia ser visto como um risco para muitos que viviam na cidade, mas não para ela. Ela passou muito tempo se enxergando como um risco para os outros, para conseguir sentir medo de qualquer coisa que não fosse a si mesma. Mas apesar de acreditar que nada a assustaria, conteve um suspiro de susto ao bater os olhos em algo caído nas proximidades de alguns arbustos. Um braço humano estendido no chão, foi a primeira coisa que viu, e se aproximou, levando a mão aos lábios com o terror ao ver o restante da cena, uma jovem caída no chão, o corpo nu estava ferido, uma ferida aberta deixava que sangue lhe esparramasse pelo peito, a garota de capa vermelha tombou de joelhos ao lado do corpo e as mãos oscilante seguraram a cabeça para descobrir que, pelo que parecia ser um milagre, a desconhecida ainda respirava.
— O que aconteceu com você? — Ela se deixou murmurar, mesmo sabendo que seria impossível ouvir uma resposta. E tentou, da melhor maneira possível, aninhar o corpo para que a levantasse, não era fácil carregar alguém desacordado naquela situação, mas ela se esforçou para não machucar ainda mais a garota.
Não estava tão longe de onde morava, então, carregando o corpo contra o seu, se apressou para casa. Bastou que empurrasse a porta de madeira da casinha para ouvir a voz da avó. — Quantas vezes eu falei para você... — A senhora parou de falar ao ver o que entrava na casa. — Ruby, o que você fez?!
— Não fiz coisa alguma — respondeu. — Agora me ajude aqui.
A avó se aproximou, ajudando a neta a levar a garota desacordada para uma cama no quarto. — A encontrei nesse estado quando voltava para casa, precisamos chamar um médico — ela completou, quando o corpo já estava deitado na cama.
— O que aconteceu? — Ela ouviu a avó murmurar enquanto analisava os machucados sobre o corpo, a jovem tinha cabelos escuros e nunca a tinha visto antes.
— Boa coisa não foi. — Ruby respondeu, correndo para pegar toalhas, remédios, roupas e tudo que achou que poderia servir naquela situação. — Corra para encontrar um médico, vovó! — Resmungou, para logo ver a senhora se apressar pela porta.
Em algum lugar do presente
Ela mal acreditava no que havia conseguido, se sentia tola, porém, terrivelmente esperançosa. Correu para casa, apertando o cantil entre os dedos, mal olhou para a avó ao entrar e se apressar para o quarto, apenas soltou um gritinho. — Eu consegui.
Jogou-se na cadeira que havia ficado por tanto tempo ao lado da cama, os ferimentos na pele clara da desconhecida haviam melhorado, a cicatriz parecia melhor, mas, por mais estranho que fosse, ninguém sabia o que a acometia, a jovem apesar de respirar, nunca abriu os olhos ou deu um mínimo sinal de que poderia despertar. Ruby havia cuidado dela no decorrer dos dias, sem nenhuma ideia de quem ela poderia ser, havia se afeiçoado por ela, e por diversas se perguntado qual seria seu nome, talvez agora fosse a hora de descobrir.
Ela encostou o cantil nos lábios da jovem, deixando a água derramar e fazendo o pedido. Dedos se fecharam na gola de sua capa vermelha. — Quem é você? — A garota resmungou, com a voz rouca e quase inaudível.
— Ruby... Ruby Lucas, e qual o seu nome?
— Lily.
— É bom te ver acordada, Lily. — Ruby sorriu. — Consegue me contar o que aconteceu?
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