I will protect you
From all around you
I will be here
Don't you cry
For one so small, you seem so strong
My arms will hold you, keep you safe and warm
This bond between us can't be broken
Phil Collins
Dimitri's POV
Eu saí bem cedo na segunda sob a desculpa de que teria mais uma entrevista. Eu tinha participado de tantas nos últimos dias que tive certeza que Rose não repararia.
Apesar de minha pequena mentira, era por uma boa causa. Havia conseguido fazer o designer de jóias de uma das melhores joalherias da cidade me receber logo cedo para que eu pudesse encomendar o futuro anel de noivado da morena. Pedi que nosso encontro acontecesse naquele horário a fim de evitar chamar a atenção de fofoqueiros de plantão ou da imprensa. Não que aquilo fosse um grande segredo. Certamente depois que ela aceitasse o pedido gostaria que todos soubessem que Rose seria minha esposa, mas até lá precisava manter o sigilo para poder surpreendê-la.
A conversa com o profissional não tomou tanto tempo. Ele entendeu que eu queria algo diferente do tradicional e me fez algumas perguntas para poder conhecer um pouco mais sobre minha pequena ou pelo menos minha visão sobre ela. Após pouco mais de meia hora, ele enfim esboçou uma jóia que me pareceu simplesmente perfeita e ficou de me mandar um croqui mais detalhado da peça ainda naquele dia para que eu aprovasse. Com sorte, ficaria pronto até o final da semana.
Voltei para casa extremamente animado e já cogitando como eu poderia fazer o pedido. Teria de ser algo realmente especial. Minha Roza não merecia nada menos que isso. Creio que eu poderia reservar uma mesa no Oceans Prime. Ou o restaurante todo. Com toda certeza, eles não teriam agenda para o próximo mês, mas com a recente vitória de nosso time, qualquer restaurante, mesmo um tão premiado, daria um jeito de abrir suas portas para mim, ainda mais numa ocasião como essa. Isso daria mais prestígio ao estabelecimento, já que seria mencionado em todas as revistas que noticiassem nosso noivado.
Assim que entrei em casa procurei por minha garota, mas aparentemente ela não havia retornado, o que era um pouco estranho. Ela já deve ter deixado Claire na escola há algum tempo e, mesmo se tivesse passado na cafeteria, já era para ter chegado.
Isso me fez pensar no quanto Rose estava estranha desde a semana anterior ao Super Bowl e se esse atraso não estaria relacionado. Eu não conseguia entender o que estava se passando, mas de uma coisa eu tinha certeza: aquela conversa toda sobre ela ter esquecido de tomar a injeção não me parecia nada além de história.
A morena está me escondendo algo e isso me matava. Eu estou tentando dar tempo a ela para me contar quando estiver pronta, porém confesso que não era tão fácil assim esperar. Queria tanto poder afastar todos os medos dela e fazê-la se sentir protegida. Jamais encontraria paz enquanto não fizesse isso por minha Roza.
- Senhor Belikov! Por favor! – a voz de Kirova carregada de urgência me tirou de meu devaneio. A mulher entrou apressada na sala me olhando de forma preocupada.
- O que houve? – franzi o cenho.
- A senhorita Mazur...
- O que aconteceu com Rose? – me levantei em um pulo do sofá onde havia me sentado. Sabia que ela estava demorando muito.
- Eu não sei, o senhor Zeklos chegou com a garota e ela não me parece bem.
- Ivan? – perguntei incerto. O que está acontecendo aqui? Ivan fez algo com ela? Não... Apesar do que aconteceu naquele dia, ele nunca a machucaria propositalmente, tampouco a traria para cá caso o tivesse feito. – Onde eles estão?
- No lavabo perto da garagem – ela explicou. – A garota parece estar vomitando...
Vomitando? Será que no fim Rose realmente está grávida?! Mas por que Ivan estaria com ela se fosse o caso?
Eu imediatamente corri até o lugar indicado, apenas para encontrar meu amigo auxiliando a morena dentro do pequeno lavabo enquanto ela tentava lavar o rosto. Ela esfregava com veemência uma das bochechas que estava bastante vermelha e sua aparência me fez gelar por dentro assim que coloquei meus olhos sobre ela. Rose estava pálida, seus olhos vermelhos e inchados e a expressão em seu rosto...
- Dimitri – Ivan respirou aliviado, se afastando apenas o suficiente para que eu pudesse amparar Rose que, no mesmo instante, enterrou o rosto em meu peito, me abraçando ansiosamente. Eu a envolvi, ouvindo-a soluçar. O que está acontecendo com minha garota?
Rose se agarrava a mim como se eu pudesse evaporar a qualquer instante e comecei a suspeitar que eu era o único responsável por mantê-la em pé. Eu imediatamente a ergui em meus braços, tendo certeza que ela não tinha condições de andar por si só, e comecei a seguir para dentro, sendo acompanhado de perto por Ivan.
- O que aconteceu? – questionei enquanto caminhava.
- Nathan foi solto – Ivan suspirou e senti o corpo de Rose reagir imediatamente ao nome, se encolhendo em meus braços. – Já faz alguns dias. Eu pedi pra Rose te avisar...
Era isso. Era isso que vinha mexendo tanto com ela naquelas semanas. Como ela pôde esconder algo assim de mim?
Eu a depositei em um dos sofás e ajoelhei à sua frente, respirando fundo para manter a calma .
- Por que não me contou, Roza? – acariciei seu rosto com cuidado e coloquei uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. – Por que não me avisou o que estava acontecendo?
Senti seu corpo ficar tenso novamente e uma onda de lágrimas irrompeu por seus olhos. Meu coração se apertou diante daquela cena. Aquilo explicava tudo o que eu vinha notando nesses últimos dias: o medo, a ansiedade, a desconfiança.
- Eu não podia deixar isso atrapalhar o jogo – sua voz saiu quase inaudível. – E depois você estava tão feliz... Eu não queria estragar tudo...
- Você nunca estragaria nada – suspirei. – Não faça mais isso, eu não sei o que faria se aquele animal te encontrasse.
- Ele me encontrou – ela soluçou e senti como se tivesse recebido um soco certeiro no rosto. Como assim ele a encontrou? O que esse desgraçado fez com minha pequena?
- Ele a encurralou no estacionamento da escola – Ivan explicou quando lhe lancei um olhar chocado. – Um professor viu e estranhou a situação. Quando ele foi até eles, o maldito fugiu.
- O que ele fez com ela? – minha pergunta saiu entredentes por conta do ódio que começava a tomar conta de mim. Eu mesmo vou matar aquele filho da puta por ter ousado cruzar o caminho dela novamente.
- Algumas ameaças – Ivan segurou firmemente a ponte do nariz.
- Ele acha que eu sou dele – Rose soluçou. – Ele quer que eu fique com ele ou ele vai te matar.
- Aquele bastardo que ouse vir atrás de mim – rosnei. – Eu vou acabar com ele por tentar te sugerir isso. Eu...
- Senhor Belikov – Kirova me interrompeu. Eu nem tinha notado que ela estava ali. – Está claro que não vai fazer bem nenhum para a garota continuar ouvindo isso.
Notei que uma nova torrente de lágrimas corria pelo rosto de Rose que havia fechado os olhos e parecia estar sentindo uma dor física. Com certeza aquele encontro a havia feito reviver todo o sofrimento pelo que passara e falar daquilo não estava ajudando em nada.
- Tem razão – suspirei. – Eu vou levar Rose para o quarto. Eu desço já pra falar com você, Ivan.
- Dê algo para acalmá-la – ele sugeriu.
- Pedi para a senhorita Karp preparar um chá – Kirova informou. – Já vou levá-lo para cima.
Eu peguei Rose novamente no colo e fui em direção as escadas. Ela me abraçou forte e escondeu o rosto na curva de meu pescoço enquanto seu pequeno corpo tremia convulsivamente. Minha garota, tão assustada.
- Me perdoa – Rose pediu com a voz abafada quando estávamos sozinhos no quarto. – Eu não queria trazer isso pra sua vida.
- A culpa não é sua, Roza – falei ao colocá-la na cama, me acomodando ao seu lado. – Você só precisava ter confiado em mim. Eu jamais deixaria aquele maldito chegar perto de você novamente.
- Eu confio, Dimitri – ela agarrou minha camisa convulsivamente. – Eu só não queria estragar sua felicidade. E eu achava que dessa vez ele me deixaria em paz, como Ivan sugeriu. Eu juro. Você tem que acreditar em mim.
Eu hesitei por um instante, olhando profundamente em seus olhos. Apesar de tudo, eu sabia que Rose confiava. Se não o fizesse, ela não estaria aqui comigo. Jamais teria voltado da Pensilvânia na Ação de Graças naquela vez. Eu podia ver em seus olhos nesse momento que a morena realmente achava que estava me preservando em não contar o que estava acontecendo. Só que o que ela não entendia é que a minha felicidade nunca seria completa se ela não estivesse bem.
- Eu acredito – afirmei, afagando seu rosto. – Mas daqui pra frente eu quero que você me conte tudo o que se passa com você. Sempre. Eu te amo, Roza. E eu quero cuidar de você. Me deixe fazer isso.
Kirova nos interrompeu, entrando no quarto com uma bandeja sobre a qual havia uma xícara de chá. Eu me afastei apenas o suficiente para que ela servisse a morena, mas ainda assim tive de ajudá-la a segurar o recipiente, já que suas mãos estavam um tanto vacilantes.
- Aqui – Kirova ofereceu um comprimido de calmante a Rose. – Vai te ajudar.
- Eu não quero – ela negou.
- Rose, vai ser melhor se você dormir um pouco – pedi.
- Não – a morena me olhou de forma suplicante. – Eu não quero dormir. Eu não quero sonhar.
- Você não vai – garanti, depositando a cápsula em sua mão. – E você vai se sentir melhor quando acordar.
- Mas eu não quero ficar aqui sozinha – ela balbuciou, desviando o olhar para a xícara em sua mão.
- Eu vou ficar aqui até você dormir – sorri de forma a tranquilizá-la. – E depois volto quando Ivan for embora.
- E eu fico com você enquanto o senhor Belikov estiver lá embaixo – Kirova sugeriu, me surpreendendo. – Você não precisa ter medo de dormir.
Mesmo relutante, Rose acabou tomou o calmante. Eu fiquei sentado ao seu lado segurando sua mão firmemente até que minha pequena finalmente pegou no sono.
- Não vai te atrapalhar ficar aqui? – questionei minha governanta que observava a morena atentamente.
- Pode ir – ela confirmou, se sentando em uma das poltronas. – Ela não deve acordar tão cedo.
- Depois nós vamos conversar sobre as novas medidas de segurança dessa casa – avisei antes de sair.
Eu retornei à sala onde Ivan ainda estava sentado, encarando o vazio, e fiz um gesto para que ele me seguisse até o bar. Eu definitivamente preciso de uma bebida...
- Vodka? – ofereci ao dar a volta no balcão e meu amigo aceitou com um aceno.
- Como ela está? – ele questionou.
- Dormindo. Kirova está lá com ela – suspirei antes de soltar a pergunta que me atormentava. – Tem certeza que ele não a machucou?
- Fisicamente, não – Ivan respondeu após tomar um gole da dose que lhe servi, evitando meu olhar. – O professor que os viu disse que ele a estava tocando, mas não notou nenhum gesto violento. Ele apenas estranhou por saber que Rose namora com você e por isso foi até eles. Foi quando viu a expressão de pânico dela e entendeu que aquilo estava realmente errado.
- Aquele maldito – cerrei os punhos, fechando os olhos para tentar conter meu ódio. Como ele pode ousar sequer olhar para minha Roza, quanto mais tocá-la? – Por que foram soltar esse bastardo?
- Houve irregularidades em vários casos julgados pelo juiz que o condenou e todos os processos estão sendo revisados – ele explicou. – A defesa do Nathan conseguiu um habeas corpus por conta disso e a promotoria e eu estamos tentando reverter, mas não está sendo tão simples. Ele não é considerado um criminoso perigoso e...
- Não é perigoso? – eu me exaltei, esmurrando o balcão. – Depois do que ele fez a Rose, esse animal ainda teve a coragem de vir atrás dela. O que garante que dessa vez ele não a mataria?
Só de falar isso, senti um calafrio perpassar por meu corpo. Eu podia tê-la perdido hoje sem fazer ideia que ela corria risco algum.
- Eu sei, Dimitri, mas nada aconteceu – Ivan buscou me acalmar. – E, apesar de tudo, esse episódio não foi de todo ruim. Isso vai nos ajudar a trancafiá-lo novamente. A ordem de restrição ainda está valendo e o fato dele tê-la violado é o suficiente para que Nathan seja preso.
- Você tem certeza? – questionei preocupado. – Ele foi até a escola da minha filha, Ivan. Ele pode fazer algo pra Claire.
- Sim, eu tenho e é por isso que Rose tem que ir logo à delegacia relatar a ocorrência para que expeçam a ordem de prisão o quanto antes – meu amigo apontou. – Eu não sei se Nathan sabe qual das crianças é a sua filha ou se faria algo com ela, mas não podemos arriscar.
- Rose não tem condições de fazer isso hoje – respirei fundo, segurando firmemente a ponte entre meus olhos.
- Tudo bem, mas não pode passar de amanhã. Eu vou na frente para adiantar os trâmites com o delegado, assim ela será atendida rapidamente.
- Até lá vou pedir para Kirova checar as câmeras antes de atender a porta e vou ligar na escola da Claire pra que não a liberem antes de eu buscá-la.
- Vai dar tudo certo, Dimitri. Não acho que ele terá coragem de se aproximar com você por perto, foi por isso que pedi a ela para te contar – ele comentou.
- Eu não acredito que Rose está passando por isso novamente – suspirei, tentando não pensar no fato de que tudo isso poderia ter sido evitado se ela apenas tivesse se aberto comigo.
- Nós vamos tirá-la dessa – Ivan garantiu. – Vocês só precisam redobrar a atenção até que Nathan seja preso novamente então tudo volta ao normal.
- Eu espero que sim – voltei a bebericar a vodka. – Ou eu sou capaz de apelar pro Abe.
- Você sabe que ela não gostaria disso – meu amigo estreitou os olhos. – Ele com certeza daria um jeito naquele infeliz, mas eu suspeito que é justamente por isso que Rose não quer que ele saiba. Sabe-se lá se ele não iria se complicar por isso.
- A única coisa que me importa é a segurança dela – devolvi. – Além do mais, duvido que Abe seria pego tão facilmente. Ele é esperto demais.
- Não se ele estiver cego de ódio por alguém ter machucado a garotinha dele – meu amigo observou. – Como você agiria se fosse a Claire nessa situação?
Não queria nem pensar nessa possibilidade, mas Ivan tem razão. Por mais que o pai de Rose pareça ser frio e calculista, jamais manteria a cabeça no lugar se soubesse o que a filha estava passando e era a cara dela tentar protegê-lo, mesmo que significasse colocar a si mesma em perigo. Era exatamente o que ela havia feito comigo ao omitir que Nathan havia sido solto.
- Kirova está mesmo cuidando de Rose? – Ivan interrompeu meus pensamentos, parecendo surpreso.
- Ela é uma boa mulher, apesar de tudo – dei de ombros. – Também cuidou de Rose no dia que...
Eu me refreei antes que entrasse em um assunto delicado. Aquela era a primeira vez que meu amigo e eu estávamos conversando em mais de um mês e falar daquilo em nada ajudaria.
- Pode falar – Ivan desviou o olhar. – No dia em que ela machucou o tornozelo. Eu vi.
Um clima desagradável recaiu sobre nós e ambos tentamos disfarçar, bebendo os líquidos de nossos copos.
- Dimitri – meu amigo murmurou, quebrando o silêncio. – Eu já falei com a Rose a respeito, mas eu quero que saiba que eu sinto muito por aquele dia.
- É passado – me ocupei em encher os copos novamente. – Eu também tive minha dose de culpa.
Nós voltamos a ficar em silêncio e fiquei pensando se um dia conseguiríamos retomar a amizade de antes. Será que algum dia ele superaria o fato de eu estar com Rose?
- Na verdade tem algo que eu preciso te contar – Ivan disse um tanto receoso. – Mas antes você tem que me prometer que não vai ficar bravo por isso. Lembre-se que você roubou minha namorada primeiro.
- Rose não era sua namorada – observei, tentando segurar a exasperação.
- Não, mas poderia ter sido se você não tivesse entrado no meio dessa história.
- Vamos direto ao ponto, Ivan.
- Então... Pode ser que eu esteja saindo com a sua irmã – ele revelou.
- Sonya?!
Qual o problema dessa desmiolada?
- Não. Viktoria.
- O quê? – ergui a voz. – Você está maluco? Ela é uma criança perto de você.
- Tecnicamente nós dois temos a mesma diferença de idade que você e Rose. Um ano a mais, talvez.
- Não interessa! Você fez isso só pra se vingar de mim.
- Bem... Sim, mas...
- Ela é apaixonada por você, seu imbecil! – explodi. – Se você sente raiva de mim, desconte em mim. Por que magoar minha irmã?
- Dimitri, eu sei que eu passei dos limites, só que... – Ivan tentou se explicar.
- Passou dos limites? – eu o cortei. – Você acha que passou dos limites?
- Dimitri, eu estou realmente gostando da Vikka – ele admitiu, fazendo com que eu me calasse, absorvendo aquela informação.
- O que você quer dizer?
- Vikka me procurou logo depois da nossa discussão naquele dia e, bem... Eu estava chateado e acabei fazendo o que não devia...
- Você transou com minha irmã mais nova – constatei, fechando os olhos com força. Isso não pode ser verdade.
- Err... Sim... Mas acabou virando algo mais – ele emendou assim que voltei a encará-lo. – No começo era só pra te chatear, só que nós começamos a sair mais vezes e estamos juntos nas últimas semanas. Eu percebi o quanto Vikka é uma mulher incrível, Dimitri. Ela é carinhosa, atenciosa e delici...
- Por favor, eu prefiro não saber de certas qualidades de Viktoria – murmurei antes de virar em um gole só o resto da segunda dose do dia. – Deus! Meu melhor amigo e minha irmã...
- Você falando desse jeito faz parecer uma coisa horrível – ele zombou.
- É uma coisa horrível! – exclamei e, pela primeira vez em dias, ouvi meu amigo rir. Era só o que me faltava! Ele está pegando minha irmã e ainda ri de mim.
Voltei a encher meu copo pela terceira vez enquanto refletia sobre o que estava acontecendo. Aquela certamente não era a minha situação preferida, mas poderia ser pior. Viktoria tem sentimentos por esse panaca, porém se ele realmente está gostando dela, o que eu poderia fazer? Era melhor do que ele continuar afim da minha garota. Além do mais, Ivan é melhor que um ser desprezível como o André, por exemplo.
- É bom você não machucar minha irmã – olhei-o diretamente nos olhos. – Eu juro que dessa vez eu quebro a sua cara e você não vai nem poder me culpar por isso.
- Eu nunca faria isso – ele me fitou de volta seriamente. – Eu não estou mentindo quando eu digo que eu gosto dela. Que eu estou me apaixonando por ela.
- Eu estou de olho em você – avisei.
- Já disse pra não se preocupar – Ivan sorriu de lado. – Cunhadinho.
- Nem comece – revirei os olhos.
Ivan não ficou muito mais depois disso e eu voltei para o quarto a fim de liberar Kirova logo após ligar para a escola e avisar que Claire não deveria sair do prédio em hipótese alguma até que eu fosse buscá-la.
Eu me sentei na poltrona em que a governanta estivera e observei Rose que dormia com uma expressão atormentada. Mais uma vez não pude deixar de pensar que nada disso estaria acontecendo se ela simplesmente tivesse me contado. Eu entendia os seus porquês, mas isso não tornava mais fácil. O que eu faria se aquele desgraçado a tivesse machucado? Se ele a tivesse tirado de mim?
Porém, de nada adiantaria eu continuar remoendo isso ou me irritar com ela agora. Mais do que nunca, Rose precisa de mim e eu preciso fazê-la se sentir segura novamente. Preciso demonstrar que ao meu lado nada irá lhe acontecer e que nada disso irá abalar o que nós temos. O que eu sinto por ela.
Passei algumas horas ali velando o seu sono. Rose dormiu a tarde inteira e, quando menos esperei, já era hora de buscar Claire na escola. Como eu explicaria tudo o que estava acontecendo para minha menina?
- Kirova, você pode ficar no quarto com Rose? – pedi ao encontrar a governanta na sala. – Eu não quero que ela esteja sozinha quando acordar.
- Claro, senhor Belikov – a mulher assentiu.
- Não abra a porta para absolutamente ninguém enquanto eu estiver fora – instrui. – E me ligue se Rose acordar.
Segui até a escola de Claire ainda pensando no que eu poderia ou não falar para minha filha. Até onde ela seria capaz de entender o que estava acontecendo?
Eu cheguei um pouco antes do término das aulas e segui para a coordenação a fim de conversar com o tal professor que ajudou Rose mais cedo. Eu queria saber exatamente o que ele viu, mas não consegui nenhuma informação nova, apenas que o maldito se afastou assim que ele se aproximou e parece ter sussurrado algo para a morena antes de beijar seu rosto. Isso explicava o fato dela estar esfregando sua face convulsivamente quando a encontrei no lavabo.
Pedi para Claire ser trazida da sala para que eu pudesse levá-la embora, já deixando avisado que ela não deveria sair como as outras crianças para encontrar os pais do lado de fora até segunda ordem. Eu não deixaria minha menininha sozinha enquanto aquele desgraçado estivesse a solta.
- Pai, o que houve? – Claire me olhou confusa ao chegar na coordenação.
- Nós estamos indo pra casa – tentei disfarçar o melhor que pude.
- Mas eu ainda não fui dispensada – ela franziu o cenho.
- Hoje você vai sair mais cedo – expliquei.
- E onde está a Rose? – a menina estreitou os olhos.
- Claire, apenas vamos embora. No caminho eu te explico – peguei sua mão enquanto ela acenava para todos que estavam na sala.
A garota se manteve em silêncio até que estávamos acomodados dentro do carro, me observando com uma expressão desconfiada.
- Pronto. Agora você pode me contar o que está acontecendo? – Claire voltou a perguntar quando começamos a andar. – E não diga que não é nada, eu já sou bem crescida para saber que tem alguma coisa.
- Você já é bem crescida? – não pude evitar erguer uma sobrancelha diante de sua observação.
- E então? – ela manteve a expressão séria.
- Claire, uma pessoa fez algo muito ruim pra Rose antes dela vir para nossa casa – tentei explicar de uma forma genérica. Tem coisas que minha filha não precisa ficar sabendo.
- Algo ruim? Essa pessoa a machucou?
- Sim – suspirei. Ela não é tão ingênua assim, afinal. – Infelizmente Rose acabou encontrando com essa pessoa hoje e ela não está lidando muito bem com isso.
- É aquele homem? – a menina questionou pensativa, me surpreendendo.
- Homem? Que homem? – devolvi apreensivo.
- Nos últimos dias quando a Rose vinha me trazer ou às vezes quando ela vinha me buscar eu via um cara estranho de capuz parado olhando pra ela – Claire deu de ombros. – Eu achei que ele só quisesse tirar uma foto como todo mundo.
- Claire, onde exatamente você viu esse homem? – senti a ansiedade tomar conta de mim enquanto ainda tentava prestar atenção no caminho. – Ele fez alguma coisa?
- Geralmente ele só ficava parado olhando pra gente do outro lado da rua da escola – ela respondeu com uma expressão pensativa. – Mas ontem ele acenou pra mim.
- Ele acenou pra você? – elevei a voz e acabei dando uma freada mais brusca do que deveria, o que acabou assustando minha filha.
- Desculpe – Claire emendou imediatamente. – Eu não sabia que você ia ficar nervoso...
- Eu não estou nervoso, querida – respirei fundo. – Me diga, você viu esse homem em algum outro lugar?
- Não, só na escola – ela sussurrou. – Foi ele pai? Ele machucou a Rose?
- Eu não tenho certeza se é a mesma pessoa, mas se você vir esse homem em qualquer outro lugar, você precisa me avisar, ok? – pedi sentindo meu coração martelar no peito. Ele sabe quem é minha filha, ele acenou para ela!
- Tudo bem, pai.
- Eu quero que você me prometa – reforcei. – Me prometa que você vai contar para mim ou qualquer outra pessoa que estiver com você imediatamente.
- Eu prometo – ela me encarou assustada.
Nós seguimos até a casa em um silêncio pesado. Eu não queria ter assustado minha menina, mas antes isso do que correndo riscos.
- O que você acha de uma pizza hoje? – sugeri enquanto a ajudava a descer do carro, notando seu rostinho abatido.
- Pode ser – Claire deu de ombros. – Pode ser aquela que a Rose gosta?
- Se você quiser, pode – assenti.
- Ela vai ficar feliz – a garota comentou pensativa. – Ela sempre fica feliz com a pizza.
- Espero que sim – suspirei sabendo que aquilo era pouco provável, mas não querendo desanimar minha filha ainda mais.
- Eu posso ficar com ela até a comida chegar? – Claire perguntou esperançosa.
- Rose está dormindo, Claire – avisei. – Você precisa deixá-la descansar.
- Ok – ela voltou a murchar.
- Vamos, você precisa tomar um banho.
Eu a acompanhei até a porta de seu quarto quando o grito de Rose soou claro no corredor, me sobressaltando, e fazendo com que eu corresse até nosso quarto. Escancarei a porta imediatamente, encontrando Kirova parada em frente à morena que estava sentada na cama, abraçando as próprias pernas com o rosto escondido nos joelhos.
- Acho que foi um pesadelo, senhor Belikov – a governanta balbuciou, parecendo não saber exatamente como agir.
- Tá tudo bem? – Claire surgiu à porta um tanto assustada no mesmo momento que subi na cama, trazendo a morena para meus braços.
- Kirova, você poderia...
- Claire, você precisa tomar banho – a mulher se mexeu rapidamente, tirando minha filha dali.
- Já passou, Roza. Foi apenas um sonho – tentei confortá-la.
- Eu não posso viver assim – ela soluçou. – Imaginando que ele vai me encontrar a qualquer minuto.
- Ele não vai te fazer mal aqui – garanti. – Você está segura.
- Eu não consigo passar por aquilo de novo – Rose gemeu. – Quanto mais eu implorava mais ele me batia e se eu ameaçasse perder a consciência aí que ele me batia mais. Eu tinha que olhar pra ele, tinha que entender que eu não podia ficar longe dele.
Cada palavra que a morena soltava fazia meu coração se apertar ainda mais e eu a puxava cada vez mais para perto do meu corpo, buscando fazê-la se sentir mais segura.
- Isso é passado. Não vai acontecer outra vez. Você venceu isso. Você superou.
- Não parece – ela tentou enxugar as lágrimas. – Tudo volta de novo e de novo.
- Nesse caso, nós dois vamos superar juntos – peguei seu rosto com ambas as mãos, fazendo-a olhar para mim. – Nós vamos enfrentar isso juntos. Ele não pode te alcançar enquanto eu estiver ao seu lado.
Eu beijei seus lábios de forma carinhosa e voltei a aninhá-la em meus braços até senti-la se acalmar pouco a pouco. Nós ficamos um bom tempo ali e cheguei a pensar que Rose havia voltado a dormir, quando uma pequena batida na porta chamou nossa atenção, fazendo com que a morena erguesse o rosto para observar Claire entrar no quarto com cuidado.
- Eu já tomei banho – minha filha informou timidamente enquanto Rose tentava limpar o rosto com as mãos.
- Já fez o seu dever? – questionei franzindo o cenho ao notar minha menina se aproximando com um pote de Haagen Daz nas mãos.
- Eu vim trazer isso pra Rose antes de fazer – ela explicou ao subir na nossa cama, se aconchegando na morena, e estendeu o pote e uma colher para ela. – Meu pai diz que isso faz o pesadelo passar...
Eu respirei fundo observando minha filha ali tentando consolar Rose. Como ela pode ser tão doce tendo Tasha e eu como pais?
- Obrigada – Rose balbuciou com a voz rouca e lançou um sorriso triste para a criança, aceitando o que ela lhe oferecia.
- Você pode cuidar da minha garota enquanto eu peço a pizza, Claire? – perguntei, beijando a têmpora de Rose.
- Pode ir, pai. Eu cuido dela – Claire sorriu.
Eu saí do quarto, deixando as duas ali. Logo após pedir a comida, reparei algumas mensagens em meu celular. O designer de jóias que eu visitara mais cedo encaminhara os croquis como havíamos combinado. A peça que ele havia desenhado era simplesmente magnífica, mais do que eu poderia ter imaginado. Mandei uma mensagem de aprovação para que desse início à fabricação do anel, mas sinalizei que não havia mais urgência. Não havia condições de fazer o pedido agora. Teria que esperar essa tempestade passar.
A pizza não demorou para chegar e fiz um prato para Rose após servir Claire, mas a morena alegou que não estar com fome. Após muita insistência de minha parte, consegui obrigá-la a comer uma fatia, já que ela estava o dia todo sem colocar nada no estômago, e novamente fui obrigado a dar um calmante para que ela conseguisse dormir, observando seu rosto por um tempo antes de trazê-la para meus braços.
No dia seguinte eu deixei a morena dormindo enquanto considerava se levava ou não Claire para a escola. No fim decidi que ela ficaria mais segura lá do que sozinha em casa com Kirova, uma vez que eu não poderia levá-la conosco para uma delegacia.
Eu deixei recomendações específicas na escola sobre a segurança de minha filha e, ao voltar para casa, encontrei Rose pronta para sair. Na noite anterior eu havia explicado a ela o que teríamos de fazer e ela concordou apesar do olhar de pânico em seu rosto por apenas mencionar que ela precisaria sair de casa.
Tentei fazê-la comer algo antes de sairmos, mas Rose garantiu que não tinha condições de fazê-lo até dar aquele depoimento e acabamos seguindo direto para a delegacia, onde Ivan já estava nos aguardando. A morena pediu para usar o banheiro enquanto estávamos aguardando, deixando nós dois sozinhos por um instante.
- Já falei com o delegado e ele já vai recebê-la – ele avisou quando nos acomodamos nas cadeiras. – Como ela está?
- Alguns pesadelos, falta de apetite – enumerei.
- Isso vai passar quando ele for preso – Ivan suspirou. – E como Claire reagiu a tudo isso?
- Ela disse que nos últimos dias percebeu um homem estranho observando Rose na escola – informei. – Eu não sei se é o bastardo, mas ele acenou para ela anteontem.
- Ele sabe quem Claire é – ele esfregou a testa com força. – Talvez seja bom você contratar...
- Quem sabe quem Claire é? – a voz da Rose soou na entrada da sala de espera.
- Rose, o delegado já vai te receber – tentei desconversar.
- Nathan sabe quem é a Claire? – ela insistiu, me olhando de forma urgente.
- Claire contou a Dimitri que nos últimos dias tem visto um homem estranho te observando na porta da escola – Ivan decidiu revelar de uma vez.
- Nós não sabemos se é mesmo ele – busquei amenizar. – Pode ser apenas algum papparazzi.
- Ele estava esperando o tempo todo – ela balbuciou, desabando na cadeira ao meu lado. – Ele apenas esperou que eu ficasse sozinha...
- Você não vai mais ficar sozinha de agora em diante – Ivan declarou.
- E se ele fizer algo com a Claire? – Rose me encarou angustiada. – Dimitri, ela...
- Eu estou cuidando disso – eu a interrompi. – Eu já avisei a escola e Claire não pode sair de lá sem mim.
- Rose, você está aqui pra por um fim nisso – meu amigo explicou. – Assim que você prestar a queixa, ele vai ser preso novamente.
- Ok, eu estou pronta – ela falou convicta e Ivan se levantou para avisar uma das policiais de plantão que Rose estava ali.
Não me permitiram entrar com os dois e tive de ficar aguardando na sala de espera. Meu amigo acabou deixando alguns pertences comigo e, após um tempo, reparei que dentre eles havia uma pasta com o nome de Rose estampado a um canto. Eu sabia que não devia mexer naquilo, mas a curiosidade acabou levando a melhor sobre mim. Ali havia uma cópia do processo de Nathan e comecei a folheá-lo a esmo, captando entre os arquivos alguns registros dos testemunhos dados em audiência até chegar a uma foto do maldito após ser fichado.
À primeira vista ele não parecia um lunático e poderia se passar muito bem por uma pessoa comum. Certamente nenhum maníaco tem em sua testa estampado o perigo que representa. É por isso que Rose e tantas outras pessoas acabam caindo nas garras de alguém assim.
Após virar mais algumas páginas, me deparei com algo que fez congelar. Era como se eu tivesse levado um soco diretamente no estômago. Ou talvez o golpe tivesse doído menos. Havia uma série de fotos de Rose quase que completamente desfigurada em uma cama de hospital.
Eu fiquei por longos minutos paralisado sem conseguir desviar de meus olhos daquilo. Por mais que eu soubesse o que havia acontecido, ver o resultado era completamente diferente. Não era de se admirar que Rose tivesse tanto medo de sequer tocar naquele assunto.
Como aquele filho de uma puta pôde ter coragem de machucá-la dessa maneira?
Fechei a pasta com força e busquei respirar para me acalmar, apesar de minha vontade ser a de caçar aquele animal até o inferno e acabar com ele com minhas próprias mãos. Eu só não realizava esse intento naquele preciso instante, pois eu precisava estar com ela. Rose tinha que ser a minha prioridade nesse momento. Mesmo tendo sido tão forte até ali, eu via em seus olhos que ela podia se quebrar a qualquer momento e eu precisava ser sua força. Precisava mantê-la segura e confortada em meus braços. Nós enfrentaríamos aquilo juntos, como eu havia lhe prometido.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.