Thank you for loving me
For being my eyes
When I couldn't see
For parting my lips
When I couldn't breathe
Thank you for loving me
You pick me up when I fall down
You ring the bell before they count me out
If I was drowning you would part the sea
And risk your own life to rescue me
Bon Jovi
Eu me sentia confortável imersa na água quente e perfumada enquanto repassava os últimos meses em minha mente. Mal podia acreditar que finalmente tudo havia acabado bem. Após aceitar o pedido de Dimitri e retornar para Tampa pensei que ainda teríamos de enfrentar tantas provações, mas aos poucos tudo começou a se encaixar.
Uma semana depois de nosso retorno, o corpo de Nathan foi encontrado à beira de uma estrada em Spokane e confesso que nunca me senti tão aliviada, por mais horrível que seja admitir isso. Aquele pesadelo finalmente havia chegado ao fim e nós estávamos a salvo. Não havia mais ameaças à vida de nenhuma das pessoas que eu amava e enfim pude virar essa página da minha vida.
No fundo eu tinha consciência de quem fora o responsável por aquilo sendo que por algum tempo tive receio das consequências, mas elas não vieram. Logo o caso foi arquivado pela polícia me motivando a parar de pensar a respeito e seguir com minha vida, aceitando minha segunda chance.
Quanto a Natasha, suas ameaças foram completamente obliteradas por suas próprias ações. No seu afã de separar Dimitri e eu, ela acabou se enrolando com a justiça, respondendo a processos por abandono de capaz e falsificação de documento público. Ela acabou sendo condenada por ambos os crimes, mas graças aos seus bons advogados conseguiu a transição da pena para prestação de serviços à comunidade no primeiro caso e no outro acabou permanecendo com uma tornozeleira eletrônica por alguns meses em prisão domiciliar.
Sua carreira, porém, não resistiu àquele escândalo. Tasha se viu obrigada a anunciar sua aposentadoria quando todos os seus contratos foram canceladas e nenhuma marca quis mais associar sua imagem à de uma mulher que abandona sua própria filha sozinha.
Ela também foi condicionada a efetuar visitas supervisionadas à Claire, uma vez que suas atitudes demonstraram que não havia a menor condição de deixar a menina sob sua responsabilidade por algumas horas que fossem. Isso foi ótimo, pois impediu que Natasha iniciasse qualquer confusão quando estava perto da filha para não se complicar ainda mais com o serviço social e obrigou-a a dar mais atenção a Claire.
Apesar disso, a relação das duas não voltou a ser a mesma depois do que acontecera. Por mais que Dimitri e eu conversássemos com Claire, ela estava decidida a não mais se importar com a mãe da mesma forma que a mãe não se importava com ela. Ver minha menina passando por isso me entristeceu imensamente, pois compreendia toda a dor que havia por trás de sua atitude e esperava que um dia ela e Tasha pudessem voltar a ter uma boa relação pelo bem de Claire, mesmo que isso parecesse cada vez mais longe de se concretizar. Após cumprir suas dívidas com a justiça e se vendo rejeitada pela própria filha, a mulher acabou decidindo se mudar permanentemente para a Europa, onde conseguia viver de forma mais incógnita, se limitando a visitar a menina a cada seis meses.
Com isso acabei assumindo permanentemente o posto de segunda mãe de Claire e confesso que realmente me sentia feliz em poder cumprir este papel. Para mim ela já era a minha menina desde o dia que pisei naquela casa.
Agora só faltava um detalhe para nos tornarmos oficialmente uma família.
- Você pretende ficar nessa água até dissolver? – a voz de Lissa me arrancou de meus devaneios e abri os olhos para encará-la.
Ela me olhava com diversão da porta do banheiro e usava um robe de seda vinho com uma toalha envolvendo sua cabeça.
- A palavra privacidade faz algum sentido para você? – perguntei voltando a fechar os olhos.
- Não hoje – ela retrucou.
- Eu estou apenas relaxando como todo mundo disse que era pra eu fazer.
- Não precisa ficar tão relaxada – Lissa gargalhou. – Vamos, você precisa começar a se arrumar.
- Vocês são uns tiranos – protestei, apesar de não poder conter um sorriso ao pensar que em algumas horas estaria finalmente casada com o homem que amo.
Foram quinze longos meses desde o dia que ele surgira na Turquia para me trazer de volta para a sua vida e agora eu mal podia conter a ansiedade de encontrá-lo no altar.
Eu saí da banheira seguindo para o quarto onde todos me aguardavam. O casamento seria realizado ao pôr do sol em um hotel a beira mar na cidade de Sarasota de modo que grande parte dos convidados se hospedaram ali nos últimos dois dias. Minha mãe, as Belikovas, Lissa e Claire se arrumariam comigo em uma suíte do hotel reservada especialmente para isso e logo tudo se tornou uma verdadeira loucura, me obrigando a deixar de lado toda aquela paz que me rodeava na banheira enquanto minhas unhas eram feitas, meu cabelo enrolado e meu rosto maquiado.
A fotógrafa da equipe contratada registrava tudo de perto e Jill também estava ali ávida por cada mínimo detalhe. Eu havia prometido à garota exclusividade para a cobertura do casamento após ela ter divulgado uma série de fotos da Tasha varrendo as ruas trajada em um macacão laranja. Aquilo foi impagável. Eu tinha até hoje as imagens salvas em meu celular para poder dar boas risadas vez ou outra.
- Rose, como eu estou? – Claire foi a primeira a ficar pronta e logo correu para pedir minha aprovação.
- Linda – sorri observando minha menina.
A baixinha usava um vestido de renda que ela mesma escolheu a fim de combinar com o meu, apesar de ser champanhe e conter um grande laço na cintura. Seus cabelos estavam soltos, sendo que só uma parte da ficara presa por um arranjo com dois pequenos botões de rosas brancas. Estava uma verdadeira boneca, apesar de não poder elogiá-la desta forma.
Mal podia acreditar que ela já estava com recém completados nove anos. Em breve Claire deixaria toda a fantasia infantil para trás e passaria a se interessar por garotos. Não faço ideia de como vou conseguir controlar os ciúmes de Dimitri quando isso acontecer. Ele mal se continha agora.
- Eu posso descer pra ver se o Matthew já chegou? – ela questionou ansiosa.
- Claire, ele vai vir – eu a tranquilizei.
- Mas e se...
- Se você descer agora, não vai poder ver a Rose quando ela ficar pronta – Olena interferiu ante os protestos da neta. – Por que você não vai até a sala assistir um pouco de TV? Logo todas estaremos prontas.
- Tudo bem – Claire suspirou seguindo o conselho da avó.
- Esse garoto não desgruda dela? – Viktoria indagou em tom de zombaria quando ela saiu. – Dimka não vai gostar nem um pouco de vê-lo por aqui.
- Para o bem do seu irmão é melhor que sua atenção esteja totalmente dedicada a mim – observei. – E se ele cumprir com isso direitinho nem vai perceber o menino.
- Tenho certeza que meu filho vai ficar hipnotizado quando te ver – Olena sorriu. – Você será a noiva mais linda de todas quando ficar pronta.
- Mãe! – as três irmãs de Dimitri exclamaram em uníssono.
- Rosemarie – oportunamente Janine se aproximou interrompendo o que poderia vir a ser uma discussão familiar. – Agora que você está quase pronta, eu gostaria de lhe entregar o seu algo velho.
- Sério? – sorri imediatamente ao notar uma pequena caixa em suas mãos. – Pensei que Vikka e Liss cuidariam disso.
Como o algo novo é meu vestido, minhas duas madrinhas garantiram que providenciariam todo o resto e não esquentei a cabeça.
- Nós conversamos com Janine e ela tinha algo perfeito para a ocasião – Lissa explicou enquanto eu abria a caixa que minha mãe me entregou e encarava a peça que ali estava.
- Sua avó me deu essa pulseira no dia de meu casamento com o seu pai – ela contou com um mínimo sorriso. – Ela a usou no casamento dela também e agora é a sua vez.
Admirei a peça simples com pequenas pérolas interligadas por elos de ouro e uma delicada flor no fecho. Era simplesmente perfeita, principalmente por conta de sua história.
- É lindo, mãe. Obrigada – senti meus olhos marejarem.
- Isso é tão bonito – Jill suspirou. – Rose, posso tirar uma foto?
- Jill, você vai poder escolher a foto que você quiser com a Daisy depois. Já basta uma pessoa tirando fotografias minhas – neguei conforme estendia o braço para que minha mãe colocasse a pulseira enquanto a fotógrafa captava o momento.
Eu notei Lissa e Vikka sussurrando entre si a um canto, mal prestando atenção no que estava acontecendo. O que deu nelas?
- E o que é o meu algo emprestado? – questionei, interrompendo o que quer que fosse aquela discussão.
- Aqui – Viktoria estendeu uma pequena sacola para o desgosto de Lissa.
Eu a peguei, estranhando me emprestarem algo que venha da Victoria Secrets, e dei uma espiada dentro ao mesmo tempo que as duas voltaram a sussurrar entre si, parecendo um pouco agitadas.
- Ok, meninas – olhei para as duas erguendo o pequeno fio dental azul de dentro da sacola, segurando-o com as pontas dos dedos. – Eu adoro vocês, mas acho que não me sinto confortável em aceitar isso emprestado.
Olena respirou fundo colocando a mão no rosto enquanto Sonya gargalhava e Karo olhava para a irmã horrorizada.
- Vocês emprestaram uma calcinha para ela? – a última questionou.
- Na verdade nós esquecemos do algo emprestado – Vikka admitiu.
- Vocês esqueceram?
- Nós estávamos nos concentrando em conseguir o algo azul – Lissa explicou.
- Quantas pessoas são necessárias pra comprar um fio dental azul? – olhei-as incrédula.
- Não importa. Você não tem o algo emprestado – Karo revirou os olhos. – Por que não pediram ajuda?
- Eu vou matar vocês duas – ameacei.
- Não no dia do seu casamento – minha mãe alertou. – Não traria sorte.
- Vamos arranjar o algo emprestado, não se preocupe – a assessora contratada interviu. – Agora é melhor nos concentrarmos em terminar de arrumar a noiva.
- Aqui – Olena retirou um anel que usava. – Você pode me devolver depois. Use-o na mão direita.
Era uma peça de ouro bem simples, com uma pequena pedra solitária ladeada por poucos brilhantes.
- Mãe! É a aliança que papai te deu quando a pediu em casamento – Sonya protestou. – Eu não acredito que você vai dá-la a Rose.
- Qual parte do "algo emprestado" você não entendeu? – a mãe da garota devolveu.
- Você não me emprestou ela no dia do meu casamento – foi a vez de Karolina reclamar.
- Não, no dia de seu casamento eu só te dei brincos de safira para serem seu algo azul – Olena revirou os olhos.
- Mas...
- Chega! – a mulher cortou Viktoria. – De onde eu tirei filhas tão ciumentas?
- Está realmente na hora de vestir a noiva – mais uma vez a assessora buscou apaziguar e isso foi o suficiente para dispersar a turba de mulheres que ali estavam, ficando apenas as mães e a equipe que estava auxiliando em minha preparação.
Precisei de um pouco de ajuda para entrar no vestido de noiva, uma vez que o tecido contornava com perfeição cada curva de meu corpo, mas, uma vez dentro dele, não precisei mais me preocupar. Os últimos retoques em minha maquiagem foram feitos enquanto minha mãe e minha sogra se concentravam em me auxiliar com os sapatos e as jóias. O cabeleireiro havia feito um coque rosca simples e agora prendia o voilette em meus cabelos a partir de uma pequena flor que mantinha no lugar o véu que encobria parte do meu rosto.
- Olena, esse realmente é o seu anel de noivado – questionei quando ela o ajeitava em minha mão.
- Sim. Randall não tinha muitas posses e economizou cada centavo que pôde para comprá-lo – a mulher sorriu admirando a peça em meu dedo. – Sabe, apesar de tudo, eu não guardo mágoas dele. Na verdade às vezes penso que eu deveria ter insistido mais. Ele era um bom homem e fomos felizes por um tempo.
Seu olhar ficou distante e um tanto saudoso. Creio que no fundo ela nunca deixou de amá-lo, mesmo com as discussões que levaram ao divórcio.
- Eu fico feliz que confie algo tão importante assim a mim – comentei para trazê-la de volta ao presente e abrangi tanto Janine quanto Olena com o olhar. – Vou poder usar em meu casamento objetos que as duas usaram nos seus próprios casamentos. Isso é muito especial e me sinto honrada. Obrigada.
- Pronto – o cabeleireiro anunciou e mais do que depressa me virei para o espelho para admirar minha figura antes que começasse a chorar. Era a segunda vez em poucos minutos que sentia as lágrimas encherem meus olhos. Quando fiquei tão mole?
Observei cada detalhe no espelho, aproveitando para admirar mais uma vez meu vestido. Ele era do tipo sereia com uma longa calda, todo feito em renda francesa sobreposta sobre tecidos marfim e prata antigo. Também havia pérolas e pedras bordadas a mão em alguns pontos. Na frente havia um decote coração com finas alças feitas no padrão da renda, mas o destaque eram as costas que ficavam completamente à mostra em um decote profundo com três cordões de pérolas pendendo por elas.
- Você está linda – minha mãe se afastou um passo para admirar o conjunto da obra e notei um leve tom emocionado em sua voz ainda que ela tentasse manter sua expressão neutra.
- Dimitri com certeza adorará cada detalhe – Olena me observou com orgulho antes de continuar em um sussurro. – E realmente é a noiva mais linda que já vi. Só não comente com aquelas garotas enciumadas.
- Pode deixar – ri sem conseguir tirar os olhos de meu reflexo no espelho.
- O pai da noiva já está aguardando para levá-la ao altar – a assessora avisou. – Está na hora de vocês tomarem seus lugares.
- Te vejo em alguns minutos – minha mãe beijou meu rosto e depois Olena, então ambas saíram junto com toda a equipe, me deixando sozinha ali.
Não demorou muito para que meu pai entrasse acompanhado de Claire. Ela me mediu com uma expressão de puro encanto antes de correr para me abraçar.
- Rose, você está tão linda! – ela exclamou.
- Obrigada, baixinha – retribuí o abraço e então me voltei para meu pai que me encarava silenciosamente. – O que achou, velhote?
- Você está perfeita, Rosemarie – ele me rodeou absorvendo cada detalhe. – Eu mesmo não poderia ter escolhido um vestido mais adequado para minha princesa.
- Tenho certeza que você me banharia em ouro se pudesse – zombei.
- Mesmo se eu juntasse todo o ouro da Turquia, jamais se igualaria ao seu brilho agora – Abe afirmou em sua língua.
- Você está exagerando – mordi o lábio inferior enquanto Claire nos observava com curiosidade.
- Você é a noiva mais linda que esse pobre planeta já viu, Rosemarie – ele acariciou meu rosto, voltando a falar em inglês por conta de Claire. – E eu serei o pai mais orgulhoso por te acompanhar até aquele altar. Mas antes, eu tenho um presente.
- Presente? – questionei animada.
- Quando sua mãe me mostrou a pulseira que lhe daria, não pude deixar de fazer isso – meu pai comentou me entregando uma caixa. – Apesar do valor sentimental, achei que você precisaria de um toque a mais para completar a obra.
Eu perdi completamente o fôlego ao abrir o pequeno estojo e observar um par de brincos de ouro com dois enormes diamantes interligados, um em forma de gota e outro redondo, ladeados por brilhantes menores, terminando em uma grande pérola.
- É nosso costume que o pai da noiva a presenteie com ouro então pedi que isso fosse feito especialmente para essa ocasião – Abe explicou, assistindo-me retirar o discreto par que usava e me entregando cada uma das peças para que eu as colocasse.
- Você não existe, velhote – suspirei segurando mais uma vez as lágrimas ao abraçá-lo. Era bom aquele rímel ser mesmo a prova d'água ou ele não resistiria até o fim da cerimônia.
- É o brinco mais bonito que eu já vi – Claire balbuciou deslumbrada enquanto eu voltava a me observar no espelho.
Abe tinha razão, agora sim meu visual estava completo. Como uma verdadeira Mazur. Porém, aparentemente meu pai não parecia satisfeito, já que tirou uma caixa menor do bolso me fazendo franzir o cenho. Ele não está realmente planejando me encher de jóias, não é?
Só que, para minha surpresa, Abe se agachou, apoiando um joelho no chão, e chamou a atenção de Claire que se virou em sua direção um pouco confusa esperando que ele falasse o que queria.
- Como eu disse, é um costume dos pais na Turquia darem ouro para suas filhas – ele começou antes de estender a caixa para a menina. – E isso não se limita ao dia do casamento.
- Mas você não é meu pai – ela franziu o cenho apesar de aceitar o presente.
- Não, eu não sou – Abe riu. – Mas como dizem que avós são pais duas vezes e já que você é como uma filha para Rosemarie, isso faz de mim o seu avô.
Claire permaneceu boquiaberta observando o que quer que ele tenha lhe dado e que eu não conseguia ver do ângulo em que estava.
- Pensei em te presentear com uma parecida com a que dei para Rose na sua idade, mas creio que rosas não combinariam com você então eu pensei em piratas.
- Eu... – a menina não encontrava palavras para se expressar, se limitando a abraçar o pescoço de meu pai, e dessa vez não pude me aguentar, deixando uma lágrima rolar por meu rosto.
- Venha, deixe eu colocar em você – Abe a soltou para retirar a peça da caixa e a prendeu no pulso de Claire
Ela correu em minha direção completamente encantada mostrando a pulseira de ouro que continha vários adornos, sendo um deles uma generosa safira, algumas caveiras, a âncora de um navio e ossos cruzados. Apenas Ibrahim Mazur arranjaria algo do tipo.
- Você gostou, garotinha? – ele perguntou se erguendo.
- Eu adorei, velhote – Claire sorriu amplamente. – Eu não vejo a hora de mostrar pro meu pai.
- Ela é uma miniatura sua, Rosemarie – meu pai voltou a falar em turco. – Pobre Belikov. Eu teria pena dele se ele não estivesse roubando minha princesinha.
- Obrigada por tratá-la assim – agradeci, ignorando a alfinetada. – Eu adorei.
- Você se refere à pulseira? – Abe sorriu. – Isso é só pra mostrar ao seu quase marido que se ele pensa que vai encher minha filha de jóias e a confundir sobre quais escolher, está mexendo com o homem errado. Eu vou mostrar o que significa competir com um Mazur.
- Pai... – gemi.
- Eu não entendo o que vocês dizem – Claire reclamou e só então me dei conta de que estávamos deixando-a de fora por todo esse tempo.
- Vou lhe ensinar turco, garotinha – meu pai se curvou para conspirar com a garota. – Já está na hora de termos nossa linguagem secreta.
- Você poderia pelo menos fingir que está fazendo isso sem nenhuma intenção oculta? – reclamei.
- Está na hora de você ser entregue de uma vez para o Belikov – ele se aprumou, oferecendo seu braço a mim. – A menos que você queira fugir. Ainda há tempo para que eu providencie isso.
- Vamos logo, velhote – revirei os olhos. – Tem um russo ansioso me esperando lá embaixo e eu não pretendo deixá-lo plantado naquele altar.
- Apenas estou garantindo que saiba quais são suas opções.
Nós seguimos para o local reservado para a cerimônia e senti meu coração bater mais rápido a cada passo que eu dava. Eu finalmente vou me casar com Dimitri. Depois de tantos problemas nós realmente conseguimos!
Eu parei ao lado de meu pai aguardando minha deixa, enquanto uma música soava para marcar a entrada de Claire. Ela recebeu uma cesta com pétalas rosas e seguiu pelo corredor onde deveria distribuí-las pelo tapete que levava ao altar.
Logo mais a marcha nupcial começou a tocar e meu pai me guiou ao início do caminho. Todos os olhos se voltaram em minha direção quando as cortinas brancas se abriram me revelando ali e comecei a dar meus últimos passos como uma mulher solteira.
O cenário não poderia ser mais perfeito. O sol começava seu trajeto rumo ao horizonte e o azul do céu ganhava os tons alaranjados do crepúsculo, o mar calmo estava ao fundo completando a sinfonia com o som das ondas quebrando na areia, os bancos enfileirados em torno do corredor que era ladeado por vasos com flores brancas e, por fim, Dimitri me aguardando no altar.
Ele vestia um belo smoking com os cabelos perfeitamente presos e seu rosto expressava claramente a ansiedade que sentia. Apesar disso, seu olhar estava fixo em mim, intenso e repleto de devoção e amor. Meu coração acelerado acabou por falhar por um segundo inteiro. Como era possível eu me apaixonar por aquele homem novamente naquele preciso instante?
Quando finalmente chegamos ao fim do longo caminho, meu pai apertou a mão de Dimitri antes de oferecer a minha a ele, ficando com meu buque no processo. O russo beijou minha testa e me conduziu ao altar, me fazendo sentir suas mãos levemente trêmulas ao me tocar. Mal parecia o focado quarterback que não titubeava em campo diante de uma jogada complexa e milhares de torcedores.
Não fui capaz de prestar atenção nas palavras ditas pelo cerimonialista, só conseguindo me concentrar no calor da mão de Dimitri entrelaçada à minha e o perfume de sua loção pós barba que me era tão familiar, mas que até hoje deixava minhas pernas bambas. Eu só queria que aquilo acabasse logo para que pudesse aproveitar meu marido.
- Vocês escreveram os votos? – o cerimonialista nos perguntou e Dimitri rapidamente se manifestou, postando-se de frente para mim, segurando minhas mãos.
- Roza – ele suspirou me olhando firmemente. – No dia que te pedi em casamento eu te disse que eu nem me lembrava mais quem eu era antes de te conhecer e hoje isso é mais verdadeiro do que nunca. Não só não me lembro como nem mesmo quero voltar a ser aquela pessoa. Mas isso nem sempre foi assim. Na primeira vez que te vi, eu não soube dizer se você seria a minha salvação ou apenas mais um tormento em minha vida.
- Com certeza a segunda opção – Christian murmurou entre os convidados e todos riram, me fazendo ter a instantânea vontade de tacar algo na cabeça dele, mas não tinha nada à mão.
- Bem, não demorou muito para eu descobrir que teria muitos problemas – Dimitri completou com um meio sorriso em seus lábios e me concentrei em meu lindo quase marido, ignorando o novo murmúrio de "falei" do projeto de incendiário. – Eu tentei com todas as minhas forças manter a distância entre nós, mas foi completamente inútil. A cada passo que eu dava para longe de você, parecia que a vida me fazia avançar dez em sua direção. Eu me apaixonava mais e mais a cada dia, a cada conversa, a cada desentendimento. Em cada vez que você tratou minha menina como se fosse sua e a cada vez que você me perdoou e me deu uma nova chance para corrigir meus erros. Quando eu dei por mim, eu não tinha mais escolha. Você havia se tornado a minha felicidade e eu não podia mais viver sem ela. Sem você. Apesar de todas as complicações que se colocaram em nosso caminho, parar de fugir de meus sentimentos por você foi a melhor decisão que tomei em minha vida. Você me completa, Rosemarie. Completa minha vida, minha família, cada detalhe de mim. Eu amo você.
Ele deslizou a aliança que Ivan lhe entregou por meu dedo, unindo-a ao anel de noivado, antes de dar um beijo sobre os dois. Ao mesmo tempo que eu não conseguia parar de sorrir por conta de suas palavras, as lágrimas desciam livremente por meu rosto e Dimitri tratou de enxugá-las o melhor que pode afagando seu polegar por minhas bochechas.
Eu me virei para pegar a aliança que estava com Lissa buscando me focar em meus votos e dar prosseguimento à cerimônia, mas aquela declaração me desmantelou.
- Dimitri, eu... Eu estou sem palavras – admiti sem conseguir segurar uma pequena risada.
- Isso sim é um milagre. O homem é um santo! – Christian voltou a se pronunciar arrancando mais risadas dos convidados.
- Ou você cala a boca ou eu...
- Rose – Dimitri me interrompeu, mal segurando a própria risada. – Sem ameaçar na frente de testemunhas, lembra?
Eu respirei fundo me preparando para recomeçar os meus votos. Pelo menos a interrupção do idiota serviu para me deixar menos emotiva e colocar a cabeça no lugar.
- Dimitri, quando eu aceitei ser babá da Claire eu não sabia o que esperar. Na verdade, eu jamais imaginei dar esse rumo para minha vida e nem fazia ideia de quem você era e muito menos como eu poderia me responsabilizar por outra pessoa além de mim. Apenas topei porque estava realmente precisando me livrar daquele estrupício ali – indiquei o Tocha Humana com a cabeça. – Só que eu não fazia ideia do que a vida tinha reservado. Quando menos esperei eu não era responsável apenas por uma, mas sim por duas pessoas sem as quais eu não podia mais viver. A cada dia que se passava você e Claire foram preenchendo a minha existência e acabaram se tornando uma parte de mim.
Precisei me interromper por um segundo quando minha voz começou a ficar um tanto embargada e busquei firmá-la para poder prosseguir.
- Eu nunca sonhei em ser mãe, Dimitri, mas você me deu a filha mais perfeita que um dia eu poderia sonhar. Você me deu uma família, me devolveu minha confiança e mandou embora todo o medo, me fazendo sentir verdadeiramente segura. E quando eu estive prestes a abandonar tudo isso você se recusou a me deixar ir. Você estava lá quando eu mais precisei de você – abaixei meu rosto, respirando fundo para conter o choro. – Dimitri, eu...
- Roza – ele chamou minha atenção ao ver que eu não tinha condições de prosseguir, me fazendo olhar em seus olhos que guardavam todo o entendimento daquilo que eu não havia dito. – Eu sei.
- Eu nunca mais vou fugir, Dimitri – prometi, sorrindo em meio às lágrimas.
- Eu sei – o russo reafirmou enquanto eu deslizava a aliança por seu dedo e a beijava com uma silenciosa promessa a mim mesma de amá-lo por cada um dos meus dias.
- Rosemarie e Dimitri – o cerimonialista voltou a se pronunciar, chamando nossa atenção para si. – Todos aqui testemunharam através dessa bela troca de votos quão verdadeiro e forte é o vosso amor. Assim, nada mais resta a mim a não ser declará-los marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Dimitri mais do que depressa puxou meu rosto em direção ao seu, selando nossos lábios em um beijo carinhoso enquanto todos aplaudiam. Eu sentia a necessidade de aprofundar nosso contato, mas não era possível diante das circunstâncias e logo o russo quebrou o beijo, sem deixar de tocar minha face, limpando os resquícios de lágrimas que ainda havia.
Nós saímos em meio a uma chuva de pétalas de rosas e aplausos e eu mal podia acreditar que enfim estava sacramentado. Eu era oficialmente a senhora Belikov. Para desgosto de meu pai.
Os convidados se dispersaram a caminho da recepção preparada e rapidamente a cerimonialista trouxe o maquiador para dar alguns retoques em meu rosto a fim de me deixar mais apresentável para a sessão de fotos. E os fotógrafos se esbaldaram com o cenário, nos instigando a fazer as mais variadas poses.
- Eu espero que tudo tenha ficado de acordo com o que você esperava – Dimitri comentou quando enfim nos deram uma folga para preparar nossa entrada no salão de festas.
- Ficou além do que eu esperava – garanti com um sorriso, mais uma vez admirando-o. – Você principalmente. Está perfeito.
- Eu? Você se olhou no espelho, Roza? – ele riu quase que ironicamente ao acariciar meu rosto. – Tenho certeza que me apaixonei por você mais uma vez quando você caminhava em direção àquele altar.
Eu não titubeei em selar nossos lábios mais uma vez ao perceber que ele sentira o mesmo que eu quando o vi. Nós éramos de fato um casal perfeito.
Logo nós nos dirigimos ao salão onde fomos anunciados e recebidos em uma grande ovação. Tudo estava lindamente decorado, com finas louças e copos dispostos nas mesas que continham cada uma um belo arranjo com botões de rosas em várias tonalidades. A Head Table, mesa reservada para nós, os pais e os padrinhos com seus acompanhantes, estava disposta ao centro, frente à pista de dança e todo o salão era ladeado por cordões de luzes.
Nós seguimos para nossos lugares e então começaram os discursos. Lissa falou sobre nossa amizade, com algumas interferências de Christian, e Ivan fez piadinhas sobre Dimitri, não deixando de observar como ele acabou roubando sua namorada e, por isso, o obrigou a roubar a irmã dele. Claro que Vikka não deixou isso ficar barato, desferindo uma cotovelada no namorado que estava em pé e acabou acertando um local um tanto sensível, fazendo-o encerrar seu discurso. Por fim, meu pai deu início ao brinde, não se contendo em fazer algumas ameaças veladas ao meu marido, tendo de ser impedido por minha mãe.
Durante todo este processo, não pude deixar de admirar todas as pessoas que estavam ali conosco e que foram tão importantes para que nossa história se tornasse realidade.
Junto a nós à mesa também estavam Adrian com Sydney que exibia sua barriga de seis meses de gestação, Olena e Yeva que não parava de resmungar em russo, Karolina e o marido que tentava fazer Paul se sentar para comer, apesar deste estar mais interessado em brincar com Claire e Matthew e Sonya com um novo namorado.
Em outras mesas eu podia avistar Sonya Karp e Mikhail que finalmente haviam oficializado a relação e até estavam morando juntos, Mason e Mia, Eddie que tentava impedir Jill de vir a nossa mesa tirar fotos, Stan acompanhado de seu mal humor, e até mesmo a assombração Kirova. Apenas André havia faltado por conta de um compromisso inadiável, obrigando os pais de Lissa a virem sozinhos.
Também fizemos questão de convidar os narradores da ESPN que se tornaram nossos grandes amigos e estes vieram em peso, fazendo a alegria dos convidados que estavam acomodados próximo a eles.
O jantar foi servido, nos dando uma folga para que pudéssemos nos alimentar, e Claire se sentou à mesa conosco. Ela estava mostrando a Dimitri a pulseira que ganhou de meu pai enquanto eu observava minha família com amor. Sim, agora nós éramos verdadeiramente uma família e nada mais nos separaria.
Após algum tempo, nossa valsa foi anunciada. Dimitri me guiou até o meio da pista de dança enquanto a introdução de Nothing Else Matters começava a soar. Sua mão esquerda repousou na base de minha coluna enquanto a direita segurava minha mão. Ele começou a me guiar com maestria seguindo o ritmo da música, fazendo com que eu me perdesse em seu olhar.
Minha mente voltou ao casamento de Adrian, quando dançamos juntos pela primeira vez. Naquela época eu já começara a me apaixonar por Dimitri, apesar de ainda estar tentando me enganar a esse respeito. O que eu não sabia é que já não seria mais capaz de me afastar dele.
- Em que você está pensando? – Dimitri questionou enquanto a música prosseguia.
- Sobre quando nós dançamos no casamento de Adrian – revelei.
- Aquele dia... – ele suspirou. – Eu já estava completamente apaixonado, mas não me dava conta. Eu realmente devia ter te beijado quando dançamos, eu queria tanto...
- Você pode beijar agora, camarada – eu sorri e imediatamente Dimitri se inclinou para depositar um beijo carinhoso em meus lábios.
Eu aproveitei seu beijo por um instante antes de deitar minha cabeça em seu peito para curtir a música nos braços de meu marido, ouvindo-a se misturar às batidas de seu coração.
Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters
Eu nunca havia me aberto daquela forma com qualquer outra pessoa além de Dimitri. Eu deixei que ele penetrasse meu coração e o consertasse. Ele colou cada parte quebrada de meu ser e me mostrou como voltar a confiar novamente nas pessoas, como voltar a amar, como voltar a viver.
Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters
Sim, ele é meu porto seguro e eu jamais poderia viver sem ele. Como disse em meus votos, eu jamais voltaria a fugir, eu estaria ao seu lado até o fim de nossos dias. Dimitri é a minha melhor música.
O russo nos separou para me girar com destreza e na sequência me trouxe de volta para si, arrancando aplausos e assobios de nossos convidados. Não pude deixar de sorrir para meu marido que deu uma leve piscadela para mim.
Após mais alguns acordes a música terminou com uma salva de palmas e Dimitri me guiou de volta a nossa mesa.
- Vocês estavam perfeitos! – Claire exclamou quando nos aproximamos.
- Seu pai é um excelente dançarino – garanti ao me apoiar na cadeira.
- A parceira que me ajudou – ele retrucou.
- Ele está sendo modesto, Claire.
- Eu sei que está – a garota riu.
- Nesse caso, você pode me conceder a honra da próxima dança? – Dimitri questionou a filha em um tom galanteador.
- Talvez depois, pai – ela negou. – Eu vou brincar com Matthew agora.
Com isso ela correu em direção ao garoto deixando um russo atônito para trás.
- O que acabou de acontecer aqui? – ele balbuciou seguindo a menina com o olhar. – Minha filha me trocou por um garoto?
- Camarada – tentei segurar o riso –, ela só está querendo brincar.
- Minha menininha acabou de me trocar por um garoto! – Dimitri repetiu indignado.
- Isso vai acontecer muito, Belikov – Abe comentou atrás de nós. – Uma hora ela é sua princesinha e na outra ela está com um anel exuberante no dedo que não foi você quem deu dizendo que vai se casar.
- Pai... – falei em tom de alerta.
- Aliás, mais tarde nós precisaremos conversar sobre todas as vezes que minha filha teve de te perdoar e te dar uma nova chance – meu pai observou, fazendo menção aos votos de Dimitri. – Acho que meu recado não ficou suficientemente claro.
- Vamos logo que estão nos esperando para nossa dança, velhote – revirei os olhos, puxando Abe para a pista. – Você não precisa ameaçá-lo sempre, sabia?
- E qual seria a graça nisso? – ele sorriu envolvendo minha cintura, assumindo a postura elegante de sempre. – É uma regalia de ser pai. Seu marido entende como é.
Abe indicou com a cabeça a um canto e voltei o rosto para aquela direção a tempo de ver Dimitri falar algo para Matthew que o deixou branco. Logo depois o menino disse algo para Claire que aceitou acompanhar o pai para a pista de dança.
Homens...
A música começou a soar logo a seguir e Abe nos colocou em movimento.
- Daddy's Little Girl? – questionei ao identificar a canção escolhida por meu pai. – Sério, velhote?
- E por que não? – ele deu de ombro. – Você é a minha garotinha.
- Acho que todos estão descobrindo isso – desviei o olhar para observar Dimitri rodopiar com Claire nos braços, fazendo-a rir.
- Isso é algo que cada simples pessoa desse país deveria saber – Abe declarou. – Assim ninguém jamais terá coragem de machucar minha garotinha novamente.
Eu me senti desconfortável ante aquele comentário. Apesar da absoluta certeza que eu tinha de que meu pai fora responsável pela morte de Nathan, principalmente depois de saber como seu corpo fora encontrado, esse assunto nunca fora mencionado entre nós. Meus pais fingiram não saber de nada e eu fingi não saber o que fizeram.
- Nunca mais me esconda algo como aquilo, Rosemarie – seu olhar se tornou duro.
- Eu não queria que você se colocasse em problemas – mordi meu lábio, abaixando a cabeça.
- Muito nobre da sua parte querer me proteger, garotinha – ele segurou meu rosto com delicadeza, me incitando a erguê-lo. – Mas este é meu trabalho. Meu e da sua mãe. E se alguém ousa machucar nossa filha, deve sofrer.
- Vocês poderiam ter sido descobertos – apontei. – A polícia nos interrogou, eles poderiam ter chegado até vocês...
- Rose, nós estamos nesse jogo há muito tempo – Abe me tranquilizou. – E não vamos mais nos preocupar com isso. Apenas nunca mais me esconda algo assim ou você pode acabar causando um infarto ao seu velho pai.
- Sinto muito – dei um pequeno sorriso.
Nós dançamos em silêncio, apenas aproveitando a rara companhia um do outro e, ao fim da música, ele me guiou até onde Dimitri estava.
- Você é minha princesa, Rosemarie. Nunca permita que esqueçam essa informação – meu pai beijou minha testa antes de se afastar.
- Está tudo bem? – perguntei ao notar que Dimitri olhava a sua volta com a testa vincada enquanto a pista ao nosso redor se enchia de casais.
- Ela foi atrás dele de novo – o russo bufou, olhando para uma porta. – E eles foram lá para fora!
- Dimitri, deixe a Claire se divertir hoje – pedi, segurando sua mão, entendendo o motivo de seu alvoroço. – Que tal você se concentrar em algo mais interessante no momento? Tipo sua esposa?
- Rose, é aquele garoto – ele murmurou.
- Aquele garoto não é tão interessante assim – cantarolei, envolvendo seu pescoço com meus braços. – Ainda mais se você descobrir o que é o meu algo azul.
Os olhos de Dimitri imediatamente se voltaram para mim e percorreram meu corpo, tentando descobrir do que eu estava falando.
- O que é? – ele me abraçou pela cintura quando desistiu de sua escrutínio.
- Você pode tentar descobrir – eu o instiguei, movendo-nos suavemente para fingimos acompanhar a música que tocava. – Está em um lugar escondido e você é o único com permissão para ver.
- Roza, você não devia me provocar dessa maneira – o russo abaixou a voz, aproximando os lábios de minha orelha, e desferiu um pequeno beijo em meu lóbulo. – Estamos cercados de pessoas e eu não posso fazer com você o que eu gostaria aqui.
- Ah é, e o que seria? – mordi meu lábio inferior de forma a tentá-lo ainda mais e vi algo faiscar em seus olhos.
E com isso Matthew foi esquecido. Dimitri começou a sussurrar alguma coisa em meu ouvido misturando o inglês com algumas palavras em russo conforme nos movíamos, porém algo acabou me distraindo.
- Credo! – murmurei com uma careta.
- Essa não era bem a reação que eu esperava – o russo se afastou com um olhar confuso.
- Ah, não... Eu quero dizer aquilo – indiquei um ponto na pista de dança onde Stan Alto estava com Kirova. Ela o encarava com um olhar sonhador enquanto ele a conduzia ao ritmo lento da música. – Olha que casal horroroso.
- Rose! – Dimitri ralhou apesar de não conseguir segurar a risada.
- Estou falando sério, eu vou ter pesadelos – fiz uma careta
- Você não deveria ser tão maldosa – ele comentou, mas percebi que ele teve uma pequena reação ao observar o casal.
- Você concorda comigo! – apontei extasiada.
- Não.
- Concorda sim!
- Não, Rose. Eu não concordo.
- Eu sei que sim, Dimitri – comecei a rir. – Você só é educado demais pra assumir.
- Vamos beber algo – o russo fugiu do assunto.
- Seu segredo está seguro comigo, camarada – eu o provoquei.
Dimitri nos conseguiu uma bebida e aproveitamos para rodar pelo salão a fim de cumprimentar os presentes. Conversamos com nossos amigos, demos algumas risadas e voltamos a dançar até que finalmente chegou a hora que de jogar o buquê. Todas as mulheres solteiras se aglomeraram na pista de dança e pude ver os rapazes logo ao lado, observando de perto suas respectivas namoradas e noivas, parecendo estar planejando algo.
- Está pronta, Rosemarie? – minha mãe me incitou a me virar de costas para as mulheres.
- Sim – sorri. – Posso começar a contar?
- Estamos esperando, Rose – Dimitri me incentivou.
- Um... Dois... Três!
Eu arremessei o buquê o mais forte que consegui para que ele caísse no meio da turba de mulheres, mas aparentemente não foi o que aconteceu.
- INTERCEPTAÇÃO! – Rômulo Mendonça, que acompanhava tudo de perto, gritou extasiado.
- O quê? – eu me virei a tempo de ver Eddie correr com o buquê enquanto os outros rapazes se espalhavam pela pista, se posicionando. – Vocês só podem estar brincando comigo!
As garotas não gostaram nem um pouco daquela situação e algumas tentaram alcançar o Running Back, o que se provou um erro, já que ele era muito mais rápido que qualquer uma delas.
- Eddie, eu tô livre – Mason gritou acenando do outro lado da pista quando Eddie estava quase encurralado e este lhe lançou as flores.
Logo todos os jogadores do time que estavam presentes e alguns dos outros rapazes acabaram se envolvendo, transformando meu casamento em uma bizarra partida de football na qual o meu buquê era a bola. Stan berrava instruções para os panacas e assisti o pobre arranjo se despedaçar pouco a pouco cada vez que era lançado. Eu vou matá-los! Um por um.
- Rose, faça alguma coisa – Mia pediu inconsolável.
- Christian, me dá a droga do buquê – gritei, mas o incendiário mirim me ignorou, se limitando a jogar as flores para meu marido que me encarou. – Dimitri, é melhor você me dar isso. Agora.
- Qual é, Belikov! Você não pode nos trair assim – Ivan provocou.
- Dimitri – eu soltei em tom de aviso ao perceber seu olhar varrendo o salão antes de se fixar em um ponto. – Dimitri Belikov, se você fizer isso eu...
O russo nem mesmo me permitiu terminar a ameaça. Ele fez um lançamento perfeito, como sempre, acertando em cheio a cabeça de Matthew que conversava com Claire a um canto.
- Na próxima, manda nudes neném!!! – Rômulo se empolgou
Ninguém se importou muito com a criança atingida, pois logo Mikhail agarrou o amontoado de flores, retornando-as ao jogo.
- Fumble é vida – Everaldo disparou.
- Isso não foi um fumble! – Claire reclamou e entrou numa discussão com os narradores enquanto mais uma vez o que restou do meu buquê era lançado de um lado para o outro com as garotas ainda tentando alcançá-lo.
- Já chega! – elevei a voz, sobrepondo-me à balbúrdia, e apelei. – Pai, você precisa fazer alguma coisa!
Aquilo parece ter chamado a atenção de todos que logo passaram a encarar meu pai que estava sentado ao lado de minha mãe, bebendo uma taça de champanhe.
- O quê? – ele piscou surpreso, parecendo não ter sequer notado a confusão que a minha festa de casamento havia se tornado.
- Rosemarie, seu pai acabou de se sentar – Janine revirou os olhos.
- Eles não querem devolver meu buquê – ignorei minha mãe, enquanto os rapazes continuaram observando o desenrolar da história.
- Está apelando para seu pai, Rose? – Dimitri me provocou, mal contendo o riso.
- Calado que você é o próximo – ameacei. – E eu vou dar sua lição pessoalmente.
- Por favor, senhor Mazur – Lissa começou a implorar ao meu pai, fazendo com que eu me lembrasse de nossa infância quando nos uníamos para conseguir tudo o que queríamos do velhote com apenas um sorriso inocente.
Abe nos observou por um segundo antes de se levantar.
- Vocês sabem que não resisto a vocês – suspirou. – Eu vou buscar a Cata...
- Corre! – Ivan berrou se colocando em movimento, sendo seguido por todos os outros rapazes que se espalharam, levando o buquê.
Nem mesmo eu consegui me manter séria diante daquela situação. É oficial. Meus amigos não valem absolutamente nada.
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