POV Ross
— Bom dia, Amandinha... - Acordo no dia seguinte com o sol na janela e abraço de novo minha noiva pela cintura.
— Bom dia, meu loiro. - Ela sorri. — Como você dormiu?
Ela se vira pra mim e me dá um selinho.
— Foi ótimo. Não me lembro dos sonhos, mas, pelo menos, não tive pesadelo.
— Você já quer tomar café? - Minha morena faz carinho no meu cabelo.
— Ainda não. - Fico por cima dela e ficamos nos beijando. — Eu realmente posso me acostumar com isto. Acordar todo dia ao seu lado...
— Eu também. Me sinto tão segura, não me sinto sozinha à noite... Quando a depressão tava forte, eu costumava a chorar de madrugada.
Sorrio triste.
— Já, já, vamos mudar pro nosso apartamento e você não vai mais se sentir assim... Ah, eu vou passar no apartamento no final de semana, você quer ir comigo? O inquilino vai sair no sábado e autorizou a visita. Ele já sinalizou que quer se mudar, então, em três meses, podemos nos mudar, se você estiver trabalhando.
— Quero. Lá é muito grande? - Ela pergunta.
— Sim, tem 110 m², com quatro quartos, sala de estar, um banheiro, suíte no quarto de casal, cozinha já montada. Podemos fazer dois quartos de bebê e um de visitas, ou até termos nosso primeiro filho, três quartos de visita.
— Uau! Não se fazem mais apartamentos grandes assim!
— E tem várias linhas de ônibus no bairro, até a linha que vai pra cá. Além de ser perto da casa dos meus pais.
Amanda me abraça e suspira, subindo em mim. Faço carinho em sua cintura por baixo do pijama.
— Seus pais realmente pensaram em tudo lá atrás... Eu te amo tanto. Obrigada por cuidar de mim sempre e por planejar um futuro tão lindo comigo.
Beija meu rosto inteiro e fico corado, até que sinto minha barriga roncar. Nos beijamos e visto minha roupa. — Ah, nós dois concordamos em fechar a fábrica no segundo bebê, né?
Ela pergunta séria.
— Ah, cara, eu queria um time de futebol... - Falo com uma cara triste e cruzando os braços, mas, vendo o desespero interno dela, começo a rir. — Tô zoando, calma.
Rio quando ela me dá um tapa no ombro e me empurra de volta no colchão. — Sério, eu tava só brincando!
— Ei, Totô, você já acordou? Você me ajuda a correr atrás de loiro oxigenado?!
— Não, o Tião, não! - Falo tentando não rir das cócegas que ela fazia em mim. — Aí, ele vai correr atrás de nós dois, gênio!
Consigo puxar minha noiva pra cama e faço cosquinha nela também.
Fomos tomar café com as calopsitas, com Tião e com Melissa. Logo após, eu fui pra casa. Aproveitei o dia pra ficar estudando o tempo todo, não posso repetir de semestre...
Já na segunda, tomei banho, almocei, peguei minhas coisas e fui pra faculdade. Tenho muita matéria atrasada e estou tentando acompanhar tudo. Consegui fazer o máximo de trabalhos pra entregar já nas aulas e peguei matérias com meus amigos.
— Boa tarde, turma, Regina. - Já no estágio, cumprimento minha classe. — Hoje, vamos falar sobre Quinhentismo, uma época muito importante pra história do Brasil, que tinha sido recém-descoberto.
Abro meus slides:
Bom, o Quinhentismo representa a primeira manifestação literária no Brasil, surgindo nos primeiros anos do século XVI. Esse movimento literário ocorreu durante o período de descobrimento das características nativas do país pelos europeus.
Imaginem-se naquela época: os navegadores portugueses desembarcando em terras desconhecidas, encontrando povos indígenas, fauna exótica e paisagens deslumbrantes. Essas experiências foram registradas em textos que compõem o Quinhentismo.
Portanto, as características do Quinhentismo são:
Crônicas de viagens: os relatos de viagem foram a forma mais comum de expressão literária nesse período. Os viajantes descreviam o que viam, desde a natureza até os costumes dos habitantes locais.
Conquistas materiais e espirituais: além de relatar as riquezas naturais, os autores também abordavam a catequização dos indígenas pelos jesuítas. Era um momento de exploração tanto material, quanto espiritual.
Linguagem simples: os escritos eram diretos e acessíveis, sem a sofisticação literária posterior.
(...)
Espero que tenham gostado da aula de hoje. Eu e Amanda tentamos, nos slides, deixar um gancho pra próxima aula da professora de vocês.
— Ah, e como ela está? Você falou que ela adoeceu. - Pâmela pergunta.
— Ela... ela teve uma convulsão, na verdade. Não quis preocupar vocês...
Meus alunos ficam sem acreditar.
— Mas, ela é tão nova!
— Sim, mas foi uma somatória de fatores... Foi uma convulsão emocional e descobrimos também que ela tem mesmo paralisia cerebral, por causa do nascimento. Ela ficou em coma por dois dias, quase três, e eu não conseguia sair de perto dela. Eu saía obrigado e voltava horas depois. Eu só chorava e pedia pra ela acordar...
Mas, graças a Deus, passou, e ela está ótima. Passamos o sábado juntos e dormi na casa dela também, saí depois do café com ela no domingo.
— Manda um abraço pra ela! - Vários alunos falaram ao mesmo tempo.
— Mando, sim. Obrigado, gente... Até semana que vem, então.
— Nós sentimos sua falta, Ross. - Uma aluna, Andreza, fala e fico emocionado por dentro.
— Também senti falta de vir pra cá e de vocês. Estou meio ferrado na faculdade, porque perdi várias aulas, mas vai dar certo. Os professores entenderam e estão me ajudando bastante.
Me despeço dos adolescentes e, como tenho um grupo de conversa também com eles no celular, pra tirar dúvidas, mando uma foto recente minha e da minha noiva, no dia do encontro com nossos amigos.
Todos falam que somos fofos e conto que ela está traduzindo um livro.
Mini POV Amanda
Dois dias depois...
Hoje é quarta e vou junto com minha mãe à uma neuropsicóloga indicada pelo Dr. Nicolas, para ver o quanto que a paralisia cerebral afetou meu cérebro desde o nascimento até agora. Resumindo, farei uma série de testes, uma consulta a cada semana, por duas horas. Parece que, no telefone, ela ficou compadecida com nossa situação financeira e vai fazer tudo de graça pra nós.
POV Ross
Sábado...
Hoje é o segundo dia do curso de noivos e o dia da minha confissão com o padre Gilson. Estou feliz e nervoso ao mesmo tempo. Amanda me assegurou que o padre irá ser paciente comigo e que irá me guiar o tempo todo ao conversar comigo, que eu só tenho que ser honesto comigo e com Deus. Escrevi, em alguns tópicos, coisas que me afastaram de ir aos cultos com minha família.
— Boa tarde, pessoal. Hoje, vamos começar a falar sobre aqueles tópicos da aula passada e o por quê a falta de confiança pode acabar com um casamento e levar ao divórcio. Primeiro, vocês têm que ser confiantes consigo mesmos, depois com o outro. Casamento é como cultivar um jardim: requer paciência, atenção e cuidado constantes. Afinal, é no solo fértil onde florescem relacionamentos sólidos e duradouros. Vamos explorar algumas estratégias para nutrir essa confiança e fortalecer os laços matrimoniais:
A base de qualquer relacionamento saudável é uma comunicação honesta. Criem um ambiente onde possam expressar seus sentimentos, seus medos e suas alegrias sem receio. Lembrem-se de que a comunicação não é apenas falar; é também ouvir com empatia. Pratiquem a escuta ativa, demonstrando interesse genuíno nas palavras do outro. Quando um compartilha suas preocupações, o outro deve oferecer apoio e validação, não julgamento.
Ah, a humildade é um dom que Deus nos deu e é uma ferramenta poderosa para reconstruir a confiança. Não tenham medo de dizer: “Eu errei.” Todos cometemos erros. Em vez de escondê-los, reconheçam e peçam desculpas sinceramente. Se houve quebra de confiança, comprometam-se a mudar. Ações falam mais alto que palavras. Mostrem que estão dispostos a aprender e a crescer juntos.
Vocês devem pensar: "Ah, padre, quem concede perdão é só Deus". Não, Jesus já dizia que qualquer um pode perdoar e ser perdoado, mas, que, se forem marido e mulher, esse perdão é ainda mais forte... O perdão é libertador. Perdoem não porque o outro merece, mas porque vocês merecem paz. Deixem o passado no passado e foquem no presente e no futuro.
Pra não ficar só falando, vou propor um desafio, que, no Grupo de Jovens, eu chamo de "Exercício de Gratidão Diária": durante os sete dias até o próximo encontro, vocês vão pegar aqueles bloquinhos de notas coloridinhos e escrever um agradecimento a alguma coisa que o parceiro te fez. Se vocês quiserem gastar o bloquinho, ótimo.
(...)
Depois de uma aula inteira sobre o que é o amor à dois, perdão, confiança e quais são os principais problemas enfrentados em um casamento, como problemas financeiros, desconfiança, traição, está na hora de me confessar. Limpo minhas mãos suadas na calça.
— Ei, pode não parecer, - Amanda começa e me faz olhar pra ela. — mas, se confessar é de boa. Você vai se sentir com o coração cheio e até mais leve depois disso... Eu te amo, tá? Vou ficar te esperando na sala da secretaria até terminar.
Nos beijamos e sigo o padre até à uma sala aos fundos e fico ajoelhado do lado de fora do confessionário, uma estrutura de madeira onde o padre fica dentro.
— Pode entrar, filho. - Padre Gilson entra no confessionário. — Ao seu lado, tem um encosto pros joelhos.
— Ah. - Falo torpemente. — Desculpa, estou nervoso...
Ele dá uma risada gostosa e fala "não fique". Ele fecha a parte de frente com um manto vermelho.
— Então, o que te traz aqui, Ross, né?
— Isso, senhor... Bom, eu quero me casar na Igreja Católica por causa da minha noiva... Por amá-la demais, quero fazer o que for mais confortável pra ela. Acredito que seja uma tentativa de conectar tanto a minha parte norte-americana com a parte que eu construí no Brasil. Nem todos meus familiares aceitavam que eu namorasse com uma brasileira, entende?
Eu nunca vou ser 100% brasileiro, nem 100% americano... eu sei que eu errei às vezes, mas eu tentei acertar, tentando ser feliz, só. Eu não queria sentir ódio da minha ex-namorada que me deu um golpe de faca, nem do assediador que ficava atrás da minha noiva, mas, infelizmente, sinto. Sei que deveria ter ido aos cultos com minha família, mas, com os estudos na escola e na faculdade, com meu namoro, depois, com o noivado, não dá muito tempo. Eu sei que não é desculpa, mas-
— Todos nós erramos. Muitas vezes, é ao tentar acertar, outras vezes, sem saber... Lembre-se de que Deus deseja nos libertar dos pecados passados para que possamos viver como bons filhos Seus.
— Entendo. E eu só espero que o assediador da Amanda seja preso o mais rápido, porque ele quase a matou. Esse é o meu ódio.
Sentia meu peito subir e descer. — Eu sei que estou errado em me sentir assim, isso até me dá dor física...
— O perdão é um dom do Espírito Santo. Deus nos espera de braços abertos, independentemente de nossas dívidas. Tente perdoar quem fez mau a você e a quem você ama e siga em frente, sem guardar rancor... Um exemplo disso é praticando a compaixão: visualize a pessoa que te machucou e deseje sinceramente que ela encontre a paz e a cura. Isso não é para o benefício dela, mas para o seu próprio coração.
Agora, para você que não sabe, vou te dar um Ato de Contrição. É uma oração cristã que expressa a tristeza do pecador pelos seus pecados realizados.
A sua será: “Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração dos meus pecados, porque Vos amo acima de todas as coisas". E você deve rezar trinta Pai-Nosso também.
— Acabou? Uau, foi bem rápido. E me sinto melhor...
— Espere. - O padre pede para que eu volte a me ajoelhar. — Eu absolvo seus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo... Amém.
Ele coloca a mão na minha cabeça. Faço um Sinal da Cruz rapidamente.
— Amém.
Sorrio e o padre me ajuda a levantar do encosto de joelhos. Vou até à parte debaixo da paróquia e me ajoelho no banco. Rezo o Ato e cada um dos Pai-Nosso, tentando visualizar tanto Aubrey, quanto Lucas, e pedindo a Deus que os dois encontrem a paz (por mais difícil que isso seja), porque sei que a hora de todos chegam e que você será julgado pelo que fez aqui na Terra.
Depois de quase uma hora, finalizo tudo e subo. Amanda estava cochilando. — Babe? (Amor?) Acorda...
Ela ia gritar, mas cubro sua boca. — Calma, sou eu... Terminei tudo! - Sorrio.
— Que bom, meu amor... Como você está se sentindo?
— Bem que você falou, estou bem melhor. Foi meio difícil desejar paz à Aubrey e ao Lucas, mas se isso vai reparar meus pecados, então... O que me conforta é que Deus vai julgar os dois, e que a justiça na Terra vai pesar.
— Isso me deixa tão satisfeita, Rossy... Sabia que você pode se confessar numa igreja evangélica também? - Saímos da paróquia.
— Sério? Por que meus pais nunca me falaram? Mas, eu tô gostando do padre Gilson, ele é muito legal.
— Vai me trocar por ele, é? - Rimos.
— Não, boba... Tô falando no sentido de que irei me confessar com ele de novo, quando precisar.
— Eu tava enchendo seu saco... - Amanda pula nas minhas costas e sorrimos. — Quer ir tomar um sorvete? Eu pago.
Ela desce e fomos de mãos dadas até à sorveteria. Só ela que pediu um, porque não acredito que eu mereça um ainda.
— Uai, não vai pedir um pra você? - Ela pergunta.
— Minha penitência pessoal. - Sorrio triste, mas rio quando minha noiva usa a ponta do meu nariz como uma pá e lambe o local. — Tell me again why I love you? (Me diga novamente por que eu te amo?)
Falo irônico e rio. Mas a morena me surpreende ao pegar um adesivo quadrado e verde, escrever com uma caneta "meu loirinho" em cursivo e colar na minha testa.
— O quê? Tô adiantando o que o padre pediu.
Rindo, tiro o papel da testa e o guardo na carteira. A beijo e fomos embora.
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