Após a seleção, restaram 14 candidatos na sala, a maioria deles alfas. Junto a Sunoo, havia apenas mais três betas entre os selecionados.
A alfa entrevistadora mais uma vez se colocou à frente do grupo, sua postura firme. Com voz autoritária, ela anunciou a segunda fase do processo seletivo: um confronto direto entre os candidatos. Ela explicou que ela mesma escolheria os pares de oponentes, e os vencedores de cada.
Sunoo podia dizer que haviam sobrado apenas os melhores, com toda certeza os que sobraram eram muito mais qualificados para o tipo de trabalho que estavam concorrendo do que a grande maioria que foi desqualificada, mas ao mesmo tempo não havia nada muito surpreendente e ele conseguia captar várias falhas na postura deles, aberturas e erros que cometiam diante de suas lutas um a um.
Quando foi sua vez de agir, Sunoo ajustou sua postura, adotando uma expressão confiante, ciente de que dessa vez não teria a vantagem da ignorância por parte do outro candidato em relação às suas habilidades. Com um sorriso educado e um movimento suave, ele foi para o centro da sala, em cima do tatame azul, os outros candidatos e as entrevistadoras observavam atentamente em volta.
Seus olhos, no entanto, mantiveram um olhar firme nos olhos do oponente. Sunoo era forte, mas nunca se deixaria ser pego desprevenido por uma falsa sensação de segurança.
O segurança alfa, no entanto, não parecia pensar da mesma forma e confiante em sua superioridade física, avançou na direção de Sunoo, buscando intimidar. Ele liberou um rosnado baixo, acompanhado por uma leve emissão de feromônios na tentativa de impor respeito. No entanto, Sunoo permaneceu inabalável, sem mostrar qualquer sinal de fraqueza, fora a isso, ele tinha certeza que esse comportamento nada respeitoso muito provavelmente não o faria ganhar pontos com a entrevistadora.
Quando o segurança finalmente lançou seu primeiro golpe, Sunoo desviou com graça, movendo-se com agilidade e elegância. As sobrancelhas de seu oponente se franzem, mas ele não era um dos finalistas à toa, e Sunoo percebeu como ele endireitou a postura, se posicionando melhor em cima do tatame.
Sunoo permaneceu do jeito que estava, esperando pelo próximo ataque. O homem avançou, primeiro desferindo um soco em direção ao seu rosto, que Sunoo bloqueou com facilidade para em seguida tentar desferir um em sua barriga, que Sunoo também desviou. O homem então tentou passar a perna por detrás de seu tornozelo, os socos sendo uma tentativa de lhe distrair e ao mesmo tempo se aproximar o suficiente para executar o movimento. Sunoo, no entanto, era melhor que isso, e desviou com rapidez ao mesmo tempo em que conseguiu passar uma das mãos por debaixo do braço que o oponente tinha tentado usar para lhe desferir um soco, o forçando para cima e criando uma abertura em sua postura.
Sunoo então desferiu um chute bem na barriga do alpha, que foi dois passos para trás, sentido o golpe. Sunoo não esperou que ele se recuperasse e usou o mesmo movimento que ele havia tentado usar em si, basicamente passando uma rasteira nele, fazendo com que ele caísse de costas com um som oco.
A prova não envolvia lutar até a morte nem nada do tipo. Então Sunoo podia dizer que havia ganhado aquela partida, mas buscou pelo olhar da Alpha responsável para saber se deveria continuar ou não. A alfa responsável pelo teste ergueu discretamente uma sobrancelha, claramente surpresa e simplesmente apontou com a ficha que carregava para o lugar vago ao lado de outro dos participantes.
Sunoo, no entanto, sabia que cortesia era algo importante em ambientes como aquele e embora não costumasse utilizar muito nas missões que geralmente ia, aquela não era uma das missões com a qual estava acostumado, por isso se aproximou do segurança caído, estendendo-lhe a mão para ajudá-lo a levantar. O segurança alfa olhou para ele, um pouco constrangido, um pouco bravo, mas acima de tudo resignado, e segurou sua mão com um suspiro. Aceitando a ajuda, os dois trocaram um olhar breve. Sunoo ofereceu um aceno respeitoso antes de voltar para junto dos outros candidatos.
Depois que as ultimas lutas terminaram, a alfa solicitou que os candidatos voltassem a formar uma fila, encerrando essa rodada de lutas.
Com o término de todos os confrontos, ela dirigiu-se para os candidatos, mantendo uma expressão austera, porém avaliativa.
"Quero expressar meu agradecimento a todos por participarem dessa fase do processo seletivo. Vocês demonstraram diversas habilidades valiosas ao longo desses confrontos", iniciou ela, analisando cada candidato com olhos críticos. "Nas próximas jornadas, nossa equipe avaliará as performances com cuidado, e aqueles que forem escolhidos para avançar serão devidamente notificados por e-mail. Agradeço por seu tempo e dedicação."
Sunoo se curvou em agradecimento quando ela terminou de falar, um sinal de respeito, e em seguida seguiu a fila de candidatos até a saída.
Após deixar a empresa, Kim Sunoo lançou um olhar ao relógio em seu pulso. O ponteiro marcava precisamente 4 da tarde, mas o céu sombrio e o clima tempestuoso enganavam, dando a sensação de que a noite estava prestes a cair. Gotas de chuva começavam a cair de maneira incerta, salpicando o chão e trazendo uma atmosfera ainda mais sombria ao centro corporativo de Seul.
A melancolia da cena não passou despercebida por Sunoo. Ele ficou ali parado por alguns segundos, permitindo-se absorver a visão do céu carregado e do ambiente urbano, não era sempre que podia vagar por aquelas ruas, muito menos se permitir apreciar detalhes como esses. O que era irônico. Sunoo não teve muitas missões na Coreia, mesmo supostamente trabalhando para eles, e sempre que não estava em uma missão, estava em uma sede na Rússia.
Ele não gostava de pensar muito sobre isso, mas às vezes se perguntava como era viver no seu país de origem, como era passar sua vida ali. Aquele não era o país que ele supostamente deveria defender? Ele havia sido criado para isso, defender o próprio país, mas ao mesmo tempo em que ele pertencia ao país, Sunoo não pertencia nele.
Sunoo podia sentir a sensação de solidão que muitas vezes o acompanhava lhe cobrindo como um manto familiar. Era um sentimento visceral e atroz que de tempos em tempos corroia suas entranhas sem dó ou piedade. Com mais frequência do que gostaria ele se via tendo que tomar a decisão consciente de não se afogar no limbo do buraco em seu peito. Afinal não havia decisão mais humana do que fingir que o problema não estava lá.
Sacudindo os pensamentos, ele se forçou a se mover. Os sapatos de couro ecoando contra o asfalto que começava a ficar molhado, começou a fazer o caminho de volta até o Airbnb onde estava hospedado. Ele não havia pego um guarda-chuva, mas como a estação de metrô era só a duas ruas de distância não precisaria parar em nenhum lugar para comprar um.
Após retornar ao seu apartamento, Sunoo sentiu a necessidade de relaxar e se desvincular do dia agitado que havia vivido.
Primeiro, tirou as roupas de alfaiataria e as dobrou meticulosamente sob a cama, ciente de que teria que coloca-las depois dentro de uma das suas sacolas separadas para leva-las para uma lavanderia. Seu airbnb não tinha uma no interior do apartamento e o prédio também não possuia uma, mas Sunoo já havia visto uma em uma esquina do bairro enquanto fazia seu trajeto de manhã, então isso estava resolvido.
Em seguida, Sunoo tomou um banho gelado. Nunca se acostumou com banhos quentes, pra ser sincero, por muito tempo não sabia que banhos quentes eram algo “comum”. Só descobriu isso após sua primeira missão de infiltração. Enquanto crescia, Sunoo havia sido ensinado sobre as vantagens do banho gelado, e era o único tipo de água que tinha disponível em seus quartos na sede, então nunca se acostumou com os banhos quentes que os civis usavam, mesmo quando tinha acesso a chuveiros comuns.
Quando saiu, vestiu um conjunto de moletom preto e sem marca, mas que era confortável e quente o suficiente para lhe ajudar a relaxar. Aí já era praticamente 5 da tarde e teria que preparar sua janta, mas antes fez outra sessão de alongamentos para ajudar a soltar a musculatura tensa. Infelizmente, quando terminou ainda sentia uma certa dor no pescoço, mas não era nada de extraordinário.
A noite, fez mais uma vez ovos mexidos e salada. Um jantar triste e com toda certeza a pior parte do seu dia. Mas se forçou a comer tudo e a não vomitar, além disso, estava seguindo a tabela alimentar recomendada pela agência.
Com isso feito e a louça lavada, Sunoo dirigiu-se a sua cama e puxou seu celular de onde havia o colocado para carregar perto da cabeceira. Conferiu seus e-mails, primeiro confirmando mais uma vez as reuniões com os corretores e em seguida verificando se já havia recebido algum retorno do RH da SPES. Para sua grata surpresa, a resposta aguardada já residia na caixa de entrada. Uma entrevista estava agendada, pontualmente para as 10 horas da manhã seguinte, o que ainda o deixava com horário livre na parte da tarde para resolver as questões em relação ao seu apartamento.
Após responder confirmando sua presença, Sunoo não tinha mais nada a fazer além de dormir. Então Sunoo acomodou-se em sua cama, permitindo que as pálpebras se fechassem suavemente.
O sono, como sempre, demorou a chegar, mas eventualmente veio, e ele cedeu à inconsciência
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