Melissa’s point of view:
— MELISSA! – Natalie gritou meu nome do andar de baixo da casa.
— JÁ VOU DESCER! – Respondi de má vontade. – Mas que droga. – Resmunguei para mim mesma enquanto tentava encontrar os malditos sapatos de salto que minha mãe comprara para eu usar naquela ocasião.
Parei em frente ao espelho e encarei o meu reflexo com um certo desgosto. Eu parecia uma boneca! (1) Meu cabelo estava embutido em uma trança lateral, meu rosto rebocado de maquiagem e aquele vestido florido que eu usava não tinha absolutamente nada haver com a minha personalidade. Sem contar que eu odiava usar salto alto. Odiava! Mas é claro que tudo sempre tinha que sair como Natalie queria. De acordo com o pai de Matthew, a casa dele estava passando por reformas, portanto minha mãe ficou mais do que feliz em abrir as portas de nossa casa à família Espinosa. Eu sempre tinha que me submeter às vontades dela e aquilo me deixava com muita raiva!
— MELISSA ARANTES CAMPBELL! – A mulher gritou de novo, desta vez abrindo a porta do meu quarto com tudo e entrando furiosa no mesmo. – Mas que diabos está fazendo aqui em cima ainda?! Eu já não disse que é pra des... Ah meu Deus! – Disse me encarando abismada. – Olhe só para você! Está parecendo uma princesinha!
Revirei os olhos sem que ela pudesse ver.
— Não era isso que você queria? – Perguntei com desdém.
— Ah, pare com isso! – Falou sem se abalar. – Você está linda, minha filha. Muito melhor do que quando usa suas calças rasgadas e blusas desleixadas...
— Tá legal, mãe. – A cortei. – Já entendi.
— Bom, então calce logo os seus sapatos e desça. Nossos convidados chegarão em cinco minutos! – Disse batendo palmas, incrivelmente animada enquanto eu bufava.
Natalie fechou a porta do quarto e me deixou sozinha mais uma vez com meu reflexo ridículo. Aquela seria uma longa noite!
...
— Matthew, Sr. E Srta. Espinosa! É um prazer recebe-los em nossa casa. Por favor, entrem e sintam-se à vontade! – Mamãe recepcionou a família Espinosa enquanto eu finalmente descia as escadas da casa em direção à sala de jantar.
Eles agradeceram a gentileza dela e adentraram a casa. Assim que Matthew colocou os olhos em mim, sorriu abertamente e deu um aceno discreto. Retribuí o gesto e fui ao seu encontro.
— Nós que agradecemos o convite, Natalie. – Sr. Espinosa respondeu.
— Ah, esta é minha filha, Melissa. – Ela me puxou assim que me aproximei. – Creio que já a conheçam.
— É um prazer rever você. – O pai de Matt falou educadamente.
— E para mim é um prazer te conhecer. – A mãe dele disse. – Matthew fala muito bem de você, mocinha.
— Ah. – Murmurei. – Obrigada... eu acho.
— Bom, queiram me acompanhar? – Mamãe pediu, levando todos até a mesa enquanto tagarelava.
— Quem é você e o que fez com a minha amiga Melissa? – Matthew brincou, assim que ficamos um pouco mais para trás dos adultos.
— Haha, engraçadinho. – Respondi semicerrando os olhos em sua direção. – Minha mãe me obrigou a vestir essa droga de vestido, óbvio. – Expliquei.
— Hmm eu imaginei que fosse. – Ele disse. – A propósito... você está linda. – Sorriu.
Por mais que Matthew fosse meu amigo, minhas bochechas coraram imediatamente. Eu ainda era sensível aquele tipo de elogio.
— E você está muito elegante. – Retribui.
— Obrigado... sabe como é. – Disse convencido, me fazendo rir.
— Por que não me contou que seu pai era dono do clube da cidade? – Perguntei.
— Ah. – O garoto deu de ombros. – Não achei que faria alguma diferença... ou fez?
— Hmm, na verdade não. – Respondi sincera. – Mas minha mãe adorou saber. Ela acha que você é algum tipo de namorado que eu vou ter no futuro. Pra ela, tudo tem a ver com negócios. Se faz bem pra empresa dela, faz bem pra gente...
— Você deveria dar um tempo pra sua mãe. Talvez ela só esteja querendo pôr comida na mesa. – Matthew tentou defende-la. – E olha só, eu seria um ótimo namorado!
— Você diz isso porque não a conhece. – Falei. – E muito obrigada, mas de homens eu já estou cheia.
...
Depois do jantar, eu e Matthew ajudamos a retirar a mesa e em seguida fomos todos para a sala de estar onde minha mãe já nos aguardava com o café e uma pilha de álbuns fotográficos, provavelmente com imagens de decorações e arranjos para que seus clientes pudessem escolher.
— Então quer dizer que sua filha é mesmo brasileira, Natalie? – A mãe de Matthew perguntou depois de algum tempo já foleando as páginas e anotando suas imagens favoritas.
— Ah, sim! – A mulher se encheu de orgulho para falar, como se aquilo realmente fizesse alguma diferença. – Ela nasceu no Rio de Janeiro.
— Interessante. – Disse Richard.
— A Melissa é uma garota muito especial. – Natalie continuou enquanto sorria falsamente em minha direção. – Inteligente, muito bon... – Antes que pudesse terminar a frase, escutei um barulho estranho vindo do andar de cima, como se alguém tivesse pulado uma janela. Por sorte, os convidados não ouviram, mas então o mesmo barulho se repetiu e foi impossível não prestar atenção a ele.
— Mas o que...
— Que barulho foi esse? – Richard perguntou desconfiado.
— Ah, não se preocupem. – Minha mãe disse nervosa. – A Melissa com certeza tem uma explicação plausível para isso. – A mulher me encarou com um olhar de quem não estava gostando nada da situação. – Não é, querida?
— Ahh. – Murmurei pensando no que dizer. – É que... é... foi... hmm... São os ratos! – Disparei.
Natalie arregalou os olhos, assim como os pais de Matthew.
— Ratos?! – A mãe do garoto perguntou assustada.
— Ah, sim! Eles estão nos canos. Andam a noite inteira pela tubulação fazendo o maior barulho. – Inventei. – Um horror.
— Ah meu Deus!
— Na verdade, não é bem assim... – Mamãe tentou intervir em minha história um tanto quanto maldosa.
— Já disse para mamãe que deveríamos ligar para a vigilância sanitária, mas ela diz que é uma coisa temporária...
— Melissa! – Gritou irritada.
— O que foi, mamãe? – A encarei com um olhar inocente de pura ironia, é claro.
— A Melissa está brincando, imagina! Não há rato algum nesta casa, fiquem tranquilos. – Desmentiu, tentando tranquilizar o casal a sua frente. – Ela gosta de ser engraçadinha às vezes.
— Só para quebrar o clima. – Completei.
— Muito bem filha, por que não leva Matthew para conhecer o resto da casa enquanto decidimos as coisas por aqui? – Natalie sugeriu.
— Mas é claro, mamãe. – Sorri falsamente.
Puxei o loiro pelas escadas até o andar de cima enquanto ele desabava em risadas pelo caminho.
— O quê? – Perguntei inocentemente. – Não foi tão engraçado assim.
— Ratos?! Você tem uma imaginação e tanto! – Falou ofegante. – Viu a cara deles? Parecia que tinham visto um fantasma! Foi hilário.
— É, foi mesmo. – Admiti também rindo. – Mas agora precisamos descobrir de onde veio aquele barulho. – Disse e continuei a puxá-lo pelo corredor em direção ao meu quarto.
Quando abri a porta, a luz estava acesa, assim como a janela da sacada estava aberta.
— Mas quem foi que entr... AHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Gritei.
— O QUE FOI? – Matthew veio logo atrás, se deparando com meu desespero.
— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? – Perguntei ainda assustada.
— Nash?! – O loiro semicerrou os olhos para tentar reconhecer a figura encapuzada em pé atrás da porta.
— SEU MALUCO! – Disse batendo em seu braço. – TÁ FAZENDO O QUE NO MEU QUARTO? CAI FORA DAQUI!
— Calma Melzinha! – Ele tentou se defender de meus tapas levando as mãos para frente do corpo. – Só passe pra dai um oi!
— OI? OI?! – Falei pasma. – MAS É MUITA CARA DE PAU MESMO!
— Nash, ficou doido cara? E se alguém te pega entrando no quarto da Melissa? – Matt perguntou.
— Quem? Seus pais? Eles me adoram! – O garoto respondeu sem se preocupar.
— Mas qual é a sua doença, garoto?! – Perguntei perplexa. – Essa é a MINHA casa. Esse é o MEU quarto. Você não tem direito de invadi-lo quando bem entender!
— Relaxa marrentinha, eu hein! – Respondeu. – Só vim convidar o Matthew pra dar um rolê.
— Ah, claro! E por acaso conhece alguma coisa chama celular? Ou... como é mesmo? Ah, sim. CAMPAINHA! – Berrei.
— Shhhhhhh. – Matthew me reprimiu. – Nossos pais vão ouvir.
— Mas que droga! – Resmunguei.
— E então, topa? – Nash perguntou para o amigo.
— Agora cara? Não dá! Estamos no meio de um jantar. Meu pai me mata se eu for embora! – Respondeu.
— Ah não, Matt! Vai arregar? Olha só o que eu consegui pra gente! – Grier disse ao tirar um saquinho com algum tipo de erva dentro.
— Espera, isso é maconha?! – Perguntei, tentando ver melhor.
— Mas o que... esconde isso, Nash! – Matthew disparou. Ele pegou o conteúdo das mãos do amigo e o guardou nos bolsos do garoto outra vez. – Não acredito que o Charlie te vendeu isso mais uma vez...
— Vamos logo, chega de se fazer!
— Já disse que não vou, Nash! – O loiro repetiu.
— Eu não acredito que estamos realmente discutindo isso! Vaza daqui, Grier. Ninguém vai fumar essa merda perto de mim! – Falei convicta, já apontando para a sacada.
— Quer saber? – Ele nos encarou. – Vocês são dois frouxos mesmo!
— Sai daqui! – Gritei outra vez.
— Com todo prazer! – Disse praticamente voando para fora do quarto.
— Espera... Nash, não vai fazer nenhuma bobagem, por favor. – Matthew tentou avisar enquanto caminhava atrás do amigo.
— Me deixa! – Grier desviou da mão de Matt antes que pudesse lhe agarrar o braço.
— Droga... Hamilton volta aqui. – Falei arrependida de deixar o garoto sair de casa naquele estado.
— Vai se fuder, Melissa! – Gritou já do jardim. – E você também, Matthew.
— Espera! Volta aqui! – Berrei. – Droga, o que eu fiz? Matt, vai atrás dele! – Tentei pedir, mas Nash já havia sumido de vista quando me dei por conta.
— Calma, Mel. Ele sabe se cuidar... daqui a pouco está de volta. – O loiro tentou me tranquilizar.
— Mas que garoto idiota! Pelo amor de Deus! – Disse frustrada.
— Ele é assim mesmo, os pais dele provavelmente nem estão em casa para dizer o que ele pode e não pode fazer, então...
— E quando estão, ele faz mesmo assim. – Completei.
— Mais ou menos isso. – Matthew deu de ombros. – Vem, vamos descer antes que sua mãe nos chame para saber se estamos vivos.
...
Nash’s point of view (coloquem play na música!):
Não sei por quanto tempo fiquei fora de casa, mas foi o suficiente para me fazer pensar no babaca que fui naquele dia. Por que eu sempre tinha que fazer tudo errado? Por que as coisas nunca davam certo? Eu era bonito, rico, popular... poxa! Mereço um descanso também.
Escalei a árvore na lateral da casa para poder chegar a meu quarto. Assim que pisei na sacada, olhei para frente e percebi que o quarto de Melissa ainda estava com as luzes acesas. A garota, encostada no vidro da janela, dormia serenamente ainda com seu belo vestido, saltos e maquiagem cobrindo as belas sardas que tinha no rosto. Talvez fosse egoísmo de minha parte pensar que ela pegou no sono enquanto me esperava voltar para casa, mas... será? Será que eu era culpado por ela ter ficado aquele tempo todo ali? Se fosse, acho que não conseguiria me perdoar por um bom tempo.
Olhei uma última vez para sua expressão cansada e dei as costas, indo em direção ao telhado. Eu precisava de um lugar tranquilo para pensar, pois tinha certeza de que não dormiria tão cedo naquela noite.
Sentei sobre as telhas e retirei um dos cigarros que ainda estavam dentro de meu bolso. Eu sabia que aquilo era errado, mas era bom para esquecer os problemas. E eu precisava daquilo no momento. Depois de algumas tragadas, já estava me sentindo melhor. As luzes precárias da rua já não me incomodavam mais e eu conseguia ver tudo, mesmo no escuro.
Virei o rosto para trás ao escutar o barulho das telhas batendo e era apenas Melissa tentando escalá-las. Ela havia retirado os sapatos de salto alto e usava apenas chinelos de dedo e um casaco preto para se proteger do vento gelado da noite.
A garota me encarou com uma expressão emburrada, mas não disse nada. Apenas sentou-se ao meu lado e roubou o cigarro de minha mão, dando uma tragada e tossindo logo em seguida.
— Eca. – Disse espantando a fumaça de sua frente. – Isso é horrível. – Falou cruzando os braços.
Dei de ombros e continuei fumando em silencio.
— Você não precisava ter ficado acordada esperando por mim. – Falei. – Não é a primeira vez que faço isso.
— Quem disse que eu fiquei esperando você chegar? – Perguntou na defensiva.
— Ah não ser que você estivesse com vontade de experimentar o tapete felpudo e o vidro da janela... então até acreditaria que não foi por minha causa. – Supus.
Ela revirou os olhos.
— Tudo bem, mas você foi um idiota. – Defendeu-se. – Poderia pelo menos ter dito para onde ia.
— Eu sei e sinto muito. – Admiti.
— Você o quê? – Melissa espremeu os olhos em minha direção.
— Eu disse que sinto muito. – Repeti. – Satisfeita? – Perguntei virando o rosto em sua direção.
— Nash Grier pedindo desculpas. É um progresso, senhoras e senhores! – A garota debochou.
— Tanto faz. – Virei a cara.
— Ei, eu estava brincando. – Disse.
— Eu sei... – Falei passando as mãos pelo rosto, frustrado. – E sei que não deveria ter feito o que fiz. É só que... meu dia foi completamente estressante! Um desastre total. Mas não é como se você estivesse interessada na minha vida.
— Na verdade... – Melissa falou, depois de algum tempo quieta. – Se você... se você quiser falar... sabe... eu acho... acho que posso ouvir sem dar palpite.
Assim que escutei suas palavras embaralhadas, me surpreendi e voltei a encará-la, tentando decifrar sua expressão confusa. Seus olhos castanhos estavam mais claros, serenos e intensos.
— Tem certeza? – Perguntei desconfiado.
A garota respirou fundo.
— Não. – Deu de ombros. – Mas estou sem sono, de qualquer jeito.
Baixei a cabeça e dei um riso abafado.
— Foi o Shawn. – Falei. – É incrível. Ele sempre está por trás de todas as coisas ruins que acontecem na minha vida. Aquele playboyzinho de meia tigela me tira dos nervos!
— Mas o que foi que ele fez? – Ela perguntou calma.
— Me provocou durante o treino, como ele sempre faz. O problema foi que dessa vez eu não consegui ficar quieto e quase soquei a cara dele. – Expliquei. – O treinador ficou bravo comigo e me fez ficar no banco durante o jogo inteiro. Só que eu não sou o único culpado, entende?
— Tá, mas qual é o problema entre vocês dois, afinal? – Melissa perguntou, querendo saber.
— Não sei muito bem quando começou, mas nós nunca fomos um com a cara do outro. Ele sempre foi playboy, jaqueta de couro, Harley Davidson. Eu sempre fui jogador de futebol, jaqueta de time e carros. Somos muito diferentes. – Tentei dar uma explicação que fizesse sentido, já que nem eu entendia muito bem nossa rixa. – Talvez algumas garotas estejam envolvidas no meio de nossas discussões... você sabe, eu não sou o cara mais apegado do mundo e ele também não.
— Hun, sei bem. – A garota revirou os olhos.
— Ano passado, o Mendes tentou se alistar para o time. Só que ele passou maior micão! – Relembrei. – O garoto não jogava nada, e, bem, nós acabamos zoando muito com a cara dele. Talvez seja por isso que ele seja o tipo de pessoa que “come quieto”. – Dei ênfase às ultimas palavras, fazendo aspas com os dedos. – Por que não quer chamar mais atenção.
— Hmm. – Murmurou.
— Esse ano ele resolveu tentar de novo e é óbvio que eu ia rir da cara dele. Mas aí o cara chegou todo cheio de marra e jogou como eu nunca o vi jogar. – Continuei. – Ele estava mais forte, mais rápido... mais esperto.
— E você se sente intimidado por ele. É isso? – Melissa perguntou com as sobrancelhas semicerradas.
— Não! – Disparei. Ela me encarou com um olhar como se soubesse que eu estava mentindo e por fim acabei me rendendo. – Tudo bem. Talvez eu me sinta um pouco intimidado por Shawn Mendes. – Admiti. – Mas que fique bem claro: isso não sai daqui!
Melissa riu.
— Promessa de dedinho. – Jurou.
— Ótimo. – Falei.
— A propósito, você sempre sobe aqui? – A garota perguntou. – Me parece um pouco perigoso.
— Desde que eu tinha cinco anos. – Ri. – E acredite, é mais seguro do que parece.
— Eu gostei. Dá pra ver boa parte da cidade daqui de cima. – Ela disse.
— Tá vendo aquele lugar enorme lá no fundo? – Apontei e ela assentiu. – Aquela é a escola. Ali perto fica a floricultura da sua avó e mais para trás é o hospital.
— Uau.
— Tudo parece tão pequeno daqui de cima... é menos intimidador, sabe? – Falei.
— Sei. É como se pudéssemos fazer qualquer coisa, sem medo. – Concordou. – No Brasil, quando eu era pequena, meu pai sempre me levava para ver a cidade do terraço do nosso prédio. De um lado, eu via as ondas do mar batendo na costa, a imensidão azul quase me cegando. Do outro, as luzes, os carros minúsculos das avenidas fazendo barulho. Assim como via as milhares de estrelas brilhando no céu do Rio de Janeiro. – Melissa falou. – Era raro o dia em que elas não aparecessem.
— Deve ser lindo. – Supus.
— É maravilhoso. – Ela respondeu pensativa.
— Por que foi embora se gostava tanto? – Perguntei curioso.
Melissa respirou fundo.
— Por causa da minha mãe. – Respondeu. – Ela me fez vir para cá contra a minha vontade.
— Como ass...
— É uma longa história. – Ela me cortou.
— É por isso que odeia tanto esse lugar? Odeia tanto a sua mãe? – Perguntei receoso.
— Talvez. – Disse desviando o olhar para frente. – Ela é irritante. Natalie acha que tudo o que eu faço tem que ser em prol dela. Tudo o que eu como, o que eu visto e o que eu falo tem que ser de acordo com as regras dela. Só para que ela possa mostrar ao resto do mundo a filha perfeita que tem. Ugh, eu odeio isso! – Reclamou um pouco exaltada. – Ela só quis minha guarda para não ficar sozinha. Para mostrar status, ganhar dinheiro. – Continuou. – Eu só queria poder ver meu pai, meus avós e meus antigos amigos outra vez.
Eu não sabia o que dizer. Ó céus. Faça alguma coisa, Nash Grier!
— Eu... eu... às vezes também não gosto tanto assim dos meus pais. – Falei a primeira coisa me veio à mente.
— O quê? Seus pais são ótimos. – Disse sem entender.
— É, mas... eles nunca estão presentes, sabe? – Expliquei. – Os dois estão sempre naquele maldito hospital. Dia e noite. Quase todos os dias minha mãe fica de plantão e só chega em casa quando eu já saí para ir pra escola. Eu sei que eles me amam e tudo mais... só queria que me dessem mais atenção. Que se importassem um pouco mais.
— É a profissão deles, Nash.
— Esse é o problema. – Falei. – Eles a colocam na frente de tudo.
— Sabe de uma coisa? Adultos são todos iguais. – Ela disse. – Crescer é uma merda. Se eu pudesse escolher, acho que não cresceria nunca.
— Como o Peter Pan? – Perguntei, achando a situação um pouco engraçada.
— Exatamente como o Peter Pan. – Concordou. – Se eu fosse a Wendy, jamais deixaria a Terra do Nunca.
— Certo. Então por que não reescrevemos o final da história? Eu sou o Peter Pan e você é a Wendy. – Brinquei.
— Hmm, só se pudermos pular a cena no beijo. – Condicionou.
— Mas é a cena mais legal do filme!
— Credo, você tá mesmo chapado. – Melissa riu.
— Um pouco. – Concordei.
Encarei a garota de soslaio por alguns segundos, discretamente. Seus lábios escondiam um pequeno sorriso e seus olhos continuavam a brilhar na luz das estrelas. Ela parecia pensativa e se encolhia nos próprios braços, devido à brisa noturna. A maquiagem que escondia seu rosto agora já não era tão pesada e possibilitava a visão para algumas sardas e imperfeições.
Mesmo assim, Melissa era tão simples, mas tão bonita...
— Sabe, você fica muito melhor sem toda essa maquiagem na cara. – Falei de repente, sem pensar. – Quero dizer... fica mais parecida com você.
— De novo, foi ideia da minha mãe. – Revirou os olhos. – Mas obrigada. Você também fica mais legal sobre o efeito de drogas. – Disse divertida, nos fazendo rir mais uma vez.
— Posso dizer o mesmo.
— É.
Antes que me desse conta, meu rosto já estava perto demais do seu. Meu corpo se inclinava vagarosamente em direção a ela. Meus olhos encaravam as órbitas claras e arregaladas de Melissa, que parecia receosa.
— O que você está fazendo? – Perguntou ao se inclinar um pouco para trás, assustada com meu gesto.
— Eu... eu não sei. – Sussurrei.
— Está tentando me beijar? – A garota murmurou nervosa.
— Melissa...
— Grier, não acho que deveríamos fazer isso. – Disse com a respiração descompassada.
— Por quê?
— Porque nos odiamos. – Respondeu. – Simples assim.
— Não tenho mais certeza de nada. – Admiti. – Como poderia?
— Nash... isso não vai dar certo.
— Fique parada, Melissa. – Pedi.
— Apenas se me prometer que vamos esquecer isso amanhã. Fingir que não aconteceu. – Ela propôs.
— Eu estou chapado.
— Assim como eu estava no dia daquela festa? – Perguntou me encarando seriamente.
— Você disse que não lembrava.
— Eu demorei para resgatar na memória, mas não a esqueceria. – Admitiu.
— Bem, nesse caso... – Limpei a garganta. – Exatamente como aquele dia.
Meu coração disparava, assim como o dela. Nossas respirações se misturaram rapidamente, nossas mãos tocaram nossos corpos e uma corrente elétrica percorreu minha espinha. Droga! Por que beijá-la não era como beijar qualquer outra garota? Por que eu ficava nervoso e perdia o controle tão facilmente? Era só... a Melissa. Sempre foi.
Foi rápido e intenso. Eu senti cada pedacinho dela se entregando aos meus lábios. Nossas línguas se tocando, nossas bocas em sincronia. O beijo foi quebrado por ela, que parecia confusa demais para continuar. Seus olhos se fecharam, mas rapidamente abriram com um brilho totalmente diferente.
O silêncio reinou entre nós, a não ser pelo barulho de nossas respirações e árvores que batiam com o vento.
— Preciso ir. – Disse de repente ao se levantar.
— Tudo bem.
— Boa noite. – Desejou.
— Pra você também. – Respondi. – Até amanhã, marrentinha.
— Espero não ter que ver você, Hamilton. – Brincou.
Antes que pudesse sumir de vista, Melissa virou-se em minha direção mais uma vez.
— Lembra do que combinamos, tá? – Pediu. – Não aconteceu.
— Ah, claro. – Assenti.
A garota virou as costas, desta vez, para valer. Ela entrou no quarto e então a perdi de vista.
— Não aconteceu, Nash. – Repeti para mim mesmo. - Não aconteceu.
(...)
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