— You’re really cute, really handsome
Women are always sticking to you.
Grumpy — Bolbbalgan4
— Quero ver a paciente Ahn Jiyoung. — solicito à recepcionista no instante em que chegamos ao hospital. — Hã... Por favor.
— Hum, deixa eu ver... — a mulher de cabelos pretos compridos e meia-idade digita alguma coisa em seu computador. — Quarto cento e quarenta e dois. Espera, é mais de um que vai visitar? — ela pergunta, após erguer os olhos e dar de cara com não somente um, mas dois indivíduos. Assinto com a cabeça. — Nesse caso, vou ter que fazer crachás. Quais são os nomes?
— Jeon Jeongguk e Jung Hoseok — falo, dependurando-me sobre o balcão. — Caham... — limpo a garganta. — Ahjumma... Vai demorar pra fazer isso?
Ela não me responde. Mas o que acontece, na prática, é que realmente demora — e muito, se você quer saber —, circunstância que nos obriga a ficar esperando, digo, mofando numas poltronas do hall de entrada do local. Entretanto, mesmo aqui... Mesmo não estando lá dentro de fato, aquele cheiro se faz presente. Aquele cheiro... Enjoativo. O único cheiro que não se encontra em lugar nenhum, senão em similares a onde estou no momento. Tirando, é claro, o cheiro da nossa própria casa. Este outro a gente também não consegue encontrar fora da fonte — embora eu possa garantir que o perfume da minha casa é bem mais agradável que... Isso.
Cheiro de hospital.
Na verdade, sentir ele de novo... Me traz algumas lembranças.
Quando vi papai pela última vez...
Eu estava cercado pelo mesmo ar.
— Yah, não acredito que perdi vinte minutos da minha vida só por causa dessa porcaria — seguro com força o crachá escrito “Jeon Jeongguk — visitante” em minhas mãos enquanto caminhamos pelos corredores. — Eu teria feito um mais bonitinho.
— Coloque ele em suas roupas, Kookie-ah. Provavelmente, vai ser o único crachá que você vai ganhar de alguém em toooda sua vida, moleque desajuizado. — O único... Espera, o que é esse retardado quis insinuar? Eu sou muito responsável! Certamente, serei um empregado muito benquisto pelo patrão e cheio de crachás. Claro, se eu não for o patrão. — Cento e quarenta ao cento e quarenta e quatro... É por aqui, Jungkookie. — nós viramos à nossa direita, segundo as instruções de nosso grande comandante Hoseok, e, ah, ele não se engana. Dois segundos depois... Estamos bem na frente do quarto dela.
A porta... Está aberta.
Pela fresta, eu posso enxergá-la. Ela está... Deitada. Vestida com uma roupa branca de mangas curtas de hospital, muuuito deprimente, e coberta com uma colcha verde-clara que eu tenho certeza que ela mesma nunca escolheria pra decorar sua cama. Quer dizer, fala sério! Coisa mais sem graça. Aqueles edredons estampados com galáxias, espaço sideral e tal, são muito mais a cara dela. Aí, eu sei que você concorda comigo. Pode falar.
Ainda, além da garota, eu enxergo... Tubos. Vários deles. O primeiro no qual reparo se encontra sobre... A área logo acima de sua boca. Ele se divide em dois tubinhos menores, os quais adentram cada uma de suas narinas — e o tubo maior que os conecta se estende até um aparelho, ou coisa do tipo, que eu tenho quase certeza que serve pra ajudá-la a respirar. E tem... Tem também um outro, um que sai de seu pulso e se liga à bolsa de soro pendurada num suporte bem ao lado do seu leito.
Cara... Eu tenho que confessar um negócio. Vê-la assim, nesse estado, seria a coisa mais dolorosa do universo, se ela...
Se ela não estivesse sorrindo.
— Ah, não, papai! — ela ri de algo que Jaehyo, o sujeito grisalho ajoelhado perto dela, deve tê-la dito. — Eu... Jeonggukie! — seu sorriso se alarga quando ela nota nossa presença. — Jeonggukie! Hobi!
— Hobi? — franzo as sobrancelhas ao ouvir o apelido tão espontaneamente concedido a Hoseok. — Mas que...
— Jung! Que prazer revê-lo — o homem se levanta, fazendo-me lembrar do quanto é alto. — Quem é o seu amigo?
— Ah... — começo, sem jeito. — Na verdade, ahjussi, é ele que é Jung. Jung Hoseok. Está aqui no crachá dele, você pode ler. — indico o objeto de identificação grudado no peito do garoto. Hoseok imediatamente se curva numa reverência. — Eu... Meu nome é...
— Jeonggukie, papai. — Jiyoung completa. — Jeon Jeonggukie.
Escutar meu nome sendo pronunciado dessa maneira, tão docemente...
Oh.
Ela nunca falha em aquecer meu coração.
— Grande Jeonggukie! — Jaehyo vem todo feliz em nossa direção. — Quer dizer que você é o Jung, certo? — pergunta pra Hoseok, que concorda com a cabeça. — Meu nome é Jaehyo, mas eu não tenho um crachá pra mostrar pra vocês. — lamenta. — Que alegria! Vou poder chamar alguém de Jung sem medo de estar errado!
— É um prazer conhecer o pai da pequena Jiyoung. — o garoto faz mais uma reverência. — Jaehyo ahjussi é muito gentil.
— Ah, quantas formalidades! Vem cá, Jung, seu maroto! — o mais velho puxa Hoseok pra um abraço bem... Inesperado, pra dizer o mínimo. No entanto, vocês conhecem meu amigo. É óbvio que ele não recusaria. — Você também, Jeonggukie, venha cá. Vocês são jovens tão bons... Obrigado por serem amigos da minha filha. — diz, não tardando a me envolver de maneira igualmente calorosa. — Agora, eu sinto muito, mas... O dever me chama. Vou deixar minha filha em suas boas mãos, rapazes. — ele nos solta com algum custo. — Tchau, Jung. Tchau, Jeonggukie. Jiyoung, querida, a mamãe não vai demorar a chegar. Enquanto isso, por favor... — pousa a mão uma última vez em meu ombro. — Aproveite a companhia de seus amigos.
— Vou aproveitar, papai — a menina diz, baixinho, ignorando o fato de que o pai já deixara o aposento. — Jeonggukie... Hobi... Obrigada por virem me ver. — ela aumenta seu tom pra falar conosco. — Eu fico muito, muito feliz.
— É claro... Que eu iria vir. — minhas palavras saem tão baixas que eu mal consigo escutá-las. Oh, o que está havendo comigo? Por que eu tô olhando pro chão? Será que, porque o Hoseok tá aqui... Eu tô com vergonha? — Alienígena esquisita. — resmungo.
Sinto minhas bochechas esquentarem repentinamente.
— Repete aquilo que você disse, Jiyoung! — Hoseok pede, animado, correndo à cama dela. — Repete! Do que você me chamou? Hope?
— Ho-bi (호비) — ela tem de pronunciar lentamente pra que o lesado entenda. — Porque é mais fofo e... Mais fácil...
Eu demoro um pouco pra perceber que ela havia ficado quieta. Quando o som de suas palavras me faz falta, no entanto, ergo rapidamente o rosto outrora abaixado — e então, querendo descobrir o motivo de seu silêncio, surpreendo-me ao notá-la... Olhando diretamente pra mim.
Ela estava... Estava me olhando? Ah, diacho, isso fez meu coração acelerar tanto. E, aish, como... Como se não bastasse ela estar me encarando desse jeito... O Hoseok, esse pamonha, me inventa de virar pra trás, seguindo o olhar dela. Imbecil! Por acaso ele achou que ia encontrar outra coisa além de... Além de um Jungkook muito vermelho?
Acho que eu vou explodir.
— Ah, me desculpa, Kookie-ah. Acho... Que te deixei um pouco constrangido. — ele fala, sorrindo. Uau, você acha mesmo? Caramba! Você é esperto, hein?! — Eu vou à... Hã... Lanchonete do hospital. Tô morrendo de fome. — ele se dirige, apressado, à saída do cômodo. — Hobi, your hope, voltará em breve pra te salvar do ogro, minha princesa. – ele se despede com uma piscadinha.
— Ogro? Tá na tua cara o ogro, infeliz! — retruco, embora... Não receba retorno nenhum além do som da porta se fechando e umas risadinhas.
Ela... Ela está rindo de mim?
— O que... O que foi? — mudo totalmente de expressão ao falar com ela. — Por que você... Ahm... Tá rindo?
Ela continua a rir por mais uns segundos antes de me responder.
— Porque você estava envergonhado, Jeonggukie. — revela a razão dos risos. — Você estava envergonhado! Foi a coisa mais fofa que eu já vi.
— Não é verdade. — rebato, prestes a corar outra vez. — Eu não estava envergonhado. E eu não sou fofo.
— Me deixa tocar em você pra ver se não é, Jeonggukie? — mesmo eu estando longe demais, ela... Estende os braços magros e pálidos e com algumas manchas. Como se tentasse me alcançar.
Contrariado, caminho até sua cama e sento no chão gelado perto dela. Eu apoio as costas na parede, sem saber direito o que fazer. Não demora, contudo, pra que eu sinta sua mãozinha em minha cabeça, acariciando delicadamente meus fios. Seu toque é tão sutil e leve. A menor movimentação de seus dedos é suficiente pra me fazer arrepiar.
Fecho os olhos pra aproveitar melhor seu carinho.
— Você mentiu, Jeonggukie. Você é fofo. — a conclusão tirada por ela faz com que eu abra um pequeno sorriso. — Seu cabelo é macio, e você é fofo.
— Não devia tocar nele. — murmuro. — Eu tô suado. Devo estar horrível também.
— Ah, não, Jeonggukie — seu tom aparenta divertimento. — Você está lindo... Como sempre, sempre está.
Apoio meus dois braços no colchão e deito minha cabeça sobre eles, admirando-a de baixo. Oh, ela consegue ser ainda mais bonita vista daqui. Deste ângulo...
Ela parece um anjo.
— O que aconteceu com você? — indago, meus olhos fixos nos dela. — Por que está aqui? No hospital?
Nesse instante, a garota cessa as carícias. Ela respira fundo e corre os olhos pelo quarto, pensando... Pensando no que dizer, talvez? Quem sabe, mesmo pra ela, seja difícil entender o que acontece de verdade com seu corpo.
— Eu... Hum... Tentava respirar, mas... Não estava dando certo, por... Por algum motivo, Jeonggukie. — explica. — Ficou tudo preto... Aí, eu acordei aqui. Mamãe disse que estão me dando vitaminas por essa coisa que parece um monstro — faz uma careta ao apontar pra bolsa de soro — e que logo eu vou ficar forte, então está tudo bem. Jeonggukie, já pensou se eu virar uma super-heroína com essas vitaminas? Tipo o Hulk? Isso ia ser tão legal! — adquire um tom animado ao se imaginar como parte da tal realidade. — Queria tanto poder contar isso pro Júlio César... Mas ele... Ficou lá em casa, cuidando da minha garrafa d’água de peixinho...
Ah, eu... Eu entendo agora.
Ela está muito fraca. Deve estar tão fraca que... O seu organismo mal consegue processar o ar que recebe.
Que saco.
Eu realmente... Realmente queria que ela pudesse virar uma super-heroína agora.
— Aish, você me deixou preocupado. — reclamo. — Eu abandonei os intercolegiais por sua causa.
— Parou de jogar, Jeonggukie? Pra vir me ver? — ela pergunta, e repousa a cabeça no colchão de um jeito que faz nossos rostos ficarem extremamente próximos.
Balanço a cabeça afirmativamente em resposta, enquanto tento não encarar demais seus lábios.
— Não devia ter feito isso, Jeonggukie. O time precisa de você, certo?
— Eu preciso de você mais do que eles precisam de mim, Jiyoung... — sussurro, colando nossos narizes um no outro.
Agora... Isso, isso sim é uma distância perigosa. E eu, óbvio, como não tenho medo do perigo, permaneço um tempo nessa posição, em silêncio, sentindo sua respiração quente bater em meu rosto. No entanto, quando... Quando sinto que não posso mais aguentar um segundo sequer sem beijá-la...
Eu me afasto rapidamente.
— Hum... Caham... — bagunço meus cabelos, nervoso por ter estado tão perto dela. Busco desesperado por um assunto que sirva como distração pro que acabou de acontecer, até que a imagem do canalha de óculos de mais cedo surge bem diante dos meus olhos.
É mesmo. Quase me esqueci.
Eu preciso saber quem é esse imbecil.
— Você... Você por acaso conhece... Um tal de Sewoon? — indago. — Ele... Foi um babaca comigo hoje, lá nos jogos. Falou umas coisas ruins.
Ela ergue o tronco à menção do nome, sentando-se no colchão.
— Sewoon... — ela sorri fraco. — Sim, eu... Eu conheço ele, Jeonggukie. — ela diz tudo o que eu não queria ouvir. Oh, não, não. Por favor, que essa babaca não tenha feito nada de ruim a ela. — Papai... É muito bom com ele. A mãe dele, a senhora Hwang, insistia que ele era filho do meu pai, porque eles foram namorados faz muito, muito tempo — conta. — Mas eles fizeram um teste, ou alguma coisa assim, e... Acontece que ele não é, que não é meu irmão, Jeonggukie. Foi um mal-entendido! Só que... Ninguém sabe quem o pai de verdade dele é, ou onde ele tá. Isso é um pouco triste. Eu ficaria triste se eu fosse ele — ela pondera. — E como meu pai é muito gentil, ele paga pro Sewoon uma escola boa, e vai ver ele toda semana na casa em que ele mora. Eu já fui... Já fui com papai várias vezes lá. É por isso... Por isso que eu conheço ele, Jeonggukie. É uma pessoa boa.
Então, quer dizer que o idiota não tem pai. E, por isso, é um idiota.
Isso é tão bizarro. Eu o odeio, porém... De repente...
Me sinto familiarizado com ele.
— Que é isso — nego com a cabeça. — Eu posso entender ele, mas boa pessoa ele não é. Deve ser um mimadinho egocêntrico que quer seu pai só pra ele — suponho, dando de ombros. — Você... — recordo a maneira como ele me chamara de “Jeonggukie”, nomenclatura quase que exclusiva da criatura à minha frente. — Você falou de mim pra ele? — questiono-a, sentindo-me um pouco tímido logo depois. — Falou?
A garota parece se divertir com a lembrança de algo.
— Papai chamou ele de Jung mais vezes do que eu posso contar, Jeonggukie — diz, sorrindo. — Acho que Sewoon ficou com ciúmes. Depois que meu pai conheceu você, além de trocar o nome dele pelo seu – ela dá uma risadinha no meio da fala —, ele não parava de dizer o quanto gostou de você. E eu... — faz uma pequena pausa. — É claro que eu falei de você, Jeonggukie. Eu amo você. Como eu não falaria sobre você?
Eu também... Eu também te amo, Jiyoung. Eu te amo. E me desculpe desapontá-la, meu amor, mas eu não estou pronto pra viver sem você. Você pode me perdoar? Eu não estou pronto pra deixá-la ir agora, minha estrelinha, e talvez... Talvez eu nunca esteja. Não quero ter que amá-la só às noites, no céu. É tão longe. Quero você aqui perto, ao meu lado. Não pode ficar um pouco mais na Terra, comigo?
Só um pouco mais?
— Filhinha, a mamãe chegou — a voz de Heeyeon preenche o cômodo, despertando-me dos meus devaneios. — Jeon, querido, você está aqui também! Que bom que pôde vir, meu anjinho. Sinto muito por ter te preocupado — desculpa-se de maneira amável.
— Ah… Heeyeon ahjumma — chamo-a. Ela se assusta quando eu me viro pra encará-la, e, de primeira, não entendo o porquê. Aí... Eu percebo que minhas bochechas estão molhadas.
Droga.
Eu tô... Chorando de novo.
Enxugo meu rosto de maneira desajeitada e tomo fôlego pra dizer algo mais uma vez.
— Eu posso... Falar com a senhora?
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