— Yellow hair, flushing red cheeks
skinny, tied up hair.
Grumpy — Bolbbalgan4
— Dê oi para as nossas novas vizinhas, meu filho! — minha mãe exclama, aparentando uma felicidade surreal.
Minha pálpebra não para de tremer um só instante. Bem ali, na minha frente, está a única pessoa que eu não quero ver nem pintada. Quer dizer, pintada talvez, mas só se for pra tirar sarro de sua cara redonda e de suas bochechas ridiculamente rosadas — já que a garota, por si só, é uma piada ambulante. Curiosamente, no entanto, eu não consigo achar essa situação nem um pouco engraçada.
É apavorante.
Ao lado da besta, podemos ver claramente um clone alguns anos mais velho e de cabelos castanhos lisos e compridos. Será que... Todas as progenitoras de alienígenas são assim?
— Oh, é você! — a garota loira aponta pra mim.
Meu rosto se contrai reflexivamente em uma careta.
— Eu conheço ele, Jeon Sojin ahjumma. Estudamos na mesma sala... — ela junta as mãos, e, ao me olhar, seus olhos pequenos brilham. — Ele foi super legal comigo hoje!
Mas como eu posso ter sido legal se eu sequer falei com você, menina estúpida?
Talvez a definição de ser “legal” pra essa garota imbecil fosse não virar pra trás e gritar uns palavrões enquanto ela me cutucava com a droga de um lápis. Contudo, veja, isso não significa que eu queira ser gentil com você. Apenas que eu sou um cara extremamente ponderado.
— Sim, meu filho é um anjinho — Ah, por que está mentindo, mamãe? A senhora devia saber que eu estou bem mais pra diabinho do que pra outra coisa. — Vamos lá, Jeongguk, não seja tímido. Cumprimente Jiyoung e sua mãe.
Eu não estou tímido, mamãe.
Acontece que não gosto de me misturar com seres que não são da minha espécie.
— Annyeong-haseyo. — faço uma reverência um tanto exagerada pra que minha mãe não me encha mais o saco. — Sou Jeon Jungkook. É um prazer conhecê-las. — minto descaradamente.
— Não precisa dessas formalidades, querido! — a mulher aparenta se divertir às minhas custas. — Meu nome é Heeyeon. Ahn Heeyeon. Fico feliz em saber que temos vizinhos tão encantadores! Tenho certeza que Jiyoung ficou muito feliz em saber que é vizinha de um colega de classe — ela diz, maravilhada.
Nesse momento, dou-me conta de algo interessante. Seu sorriso é tão irritante quanto o da filha. Mas é claro. A mais nova teve que puxar a alguém.
E falando nela...
A peste, por sua vez, encontra-se erguendo e descendo o tronco de maneira frenética e desajeitada em uma falha tentativa de retribuir minha esplêndida reverência. Oh, sinto lhe informar, mas isso não está funcionando. Você parece... Um pica-pau que não deu certo.
É claro que isso ficou só na minha cabeça.
— Filha, por favor, pare com isso. — Heeyeon cutuca a garota, o que faz com que a criatura macabra finalmente cesse os movimentos bizarros. — Você está constrangendo o rapaz.
Ah, é. Obrigado por perceber. Eu juro que tentei me controlar, mas é bem possível que minha expressão de desgosto tenha me denunciado.
— Me desculpa, Jeonggukie. — Mas quem essa garota pensa que é pra me chamar assim, tão informalmente? Mal-educada. — Sinto muito pelo constrangimento — ela infla as bochechas.
Esquisita.
— Oh, que fofa! — minha mãe vai ao seu encontro e lhe tasca um abraço apertado. Encaro a cena com certo assombro. — Não se preocupe, Jiyoung, Jeon não liga pra essas coisas. Certo, filho? — mamãe olha em minha direção e eu me vejo obrigado a forçar um sorriso. — Ótimo, ótimo. Vamos sentando, vamos sentando... — ela dá tapinhas amigáveis nas costas das intrusas e as três logo partem em direção à mesa de nossa precária cozinha.
Elas se acomodam e eu acabo sentando de frente pra menina. Ah, que mesa desgraçada de pequena. Mas, pelo menos, eu posso me entreter com a esquisitice dela.
— Jungkook, sabia que Jiyoung fez este bolo pra nós? — mamãe fala, abrindo um pacote marrom. — Ela saiu correndo da escola hoje pra poder fazer! Além de simpática e doce, é muito prendada! — Oh, sim, está explicado. A estranha saiu correndo da escola pra fazer suas coisas estranhas. Isso não é nem um pouco surpreendente.
Quando minha mãe retira completamente o embrulho, seu conteúdo finalmente se faz visível. Dentro do pacote marrom, havia... Um bolo. Um bolo redondo muito grande. Coberto com glacê e cheio de confeitos.
Não consigo conter uma careta.
— Parece realmente bom, querida! — Realmente bom? Mamãe tinha que rever urgentemente alguns conceitos. Aquilo de que ela fala com tal apreço é, no mínimo, assustador. — O que você acha, Jungkook, você gostou? Quer um pedaço? Ah, eu já darei uma xícara de café pra você, Heeyeon. Um momento, um momento... — mamãe se bate um pouco até encontrar as xícaras, nada fora do esperado. Logo, ela e Heeyeon engatam em uma conversa entediante, a qual, para as duas, parecia a mais empolgante das galáxias.
Ao passo em que as duas falam sobre assuntos aleatórios — que em sua maioria envolvem a grande competência da escola e nossa vizinhança amigável —, eu permaneço encarando a garota à minha frente. Não desvio o olhar nem por um segundo, nem só pra piscar. E, quanto mais eu a observo, mais eu sinto estranhamento. Quer dizer, até uns minutos atrás, eu julgaria impossível alguém ser tão fora de órbita. Agora... Bem, acho que eu devo reconsiderar.
Ela, diferentemente de mim, não olhou em minha direção um segundo sequer. E eu não sei se o que me incomodou mais foi o fato de ela aparentemente não se sentir nem um pouco atraída pela minha exorbitante beleza ou se foi vê-la seguir uma mariposa com os olhos e tentar apanhá-la o tempo inteiro — sem esquecer, é claro, daquele bico extremamente irritante em seus lábios.
—... E como você pode perceber, Jeongguk, minha filha é um pouco aérea. — Oi? Ela estava falando comigo? Oh, acho que observar essa doida de pedra por tanto tempo não fez muito bem pro meu cérebro. — Então, eu... Gostaria de lhe pedir um favor. Não é nada muito sério, não se preocupe... Mas... Seria de muita ajuda pra mim. Eu vejo que você é um bom rapaz e que eu posso confiar plenamente em suas habilidades masculinas.
Ah, não.
— Hã... E o que seria, Heeyeon ahjumma? — pergunto, cheio de receio.
Poucas coisas nesse mundo me assustam. E, confesso, um pedido vindo da mãe de uma alienígena lunática é com certeza uma delas.
— Se não for pedir demais, eu... Gostaria que você acompanhasse Jiyoung no caminho até em casa. E que... Ajudasse ela com os deveres e com as coisas da escola. Se você puder, é claro. — diz. Seus olhos estão tão repletos de expectativa... Seria uma pena destruí-la.
Ainda bem que eu não me importo nem um pouco.
— Sinto muito, Heeyeon ahjumma, mas eu tenho trein...
— Sim, é claro que ele pode! — mamãe me lança um olhar de reprovação. — Não se preocupe, Heeyeon, isso não é nada. Pode ficar tranquila! Jeon acompanhará Jiyoung com todo prazer.
Ah, mamãe. Por que é que você só me mete em furada? Eu serei obrigado a ser estúpido com a senhora depois.
Não demora muito pra que a casa se encha com o som de despedidas e promessas de reencontro. Se duvidar, até mesmo um jantar fora marcado ali, e eu, é claro, eu nunca fiquei sabendo. Mas é de praxe que mamãe faça as coisas sem meu consentimento. Contanto que ela não me inclua em suas baboseiras, ficarei bem com isso.
Aliás, foi justamente por mamãe ter ido contra uma regra tão simples que eu fiquei fulo de verdade quando ela resolveu tomar por si a fatídica decisão que só podia ser tomada por mim — no caso, a de eu acompanhar ou não a maluca dos infernos até sua casa.
— Tchau, Jeonggukie! Nos vemos amanhã — ela se despede com uma breve reverência, e, Deus seja louvado, saltita porta afora.
Eu odeio essa garota.
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