História The Ghost Of House 212 - Fantasmas também se tornam anjos

Se me perguntassem qual era a parte mais dolorosa nisso tudo, com toda certeza, eu não saberia por onde começar a dizer.

A dor no peito, as lágrimas sangrentas, o vento batendo em minha derme fria enquanto as assas enormes de meu irmão batiam céu á cima, o falho consolo de Abraxas; nada daquilo se compara com o que sinto definitivamente agora: solidão e medo.

É irônico dizer isso sendo que estou praticamente morando na primeira camada dos céus. Dizem que aqui tem paz mas então por quê meu coração se encolhe tanto cada dia mais? O problema é que as pessoas idealizam demais o sobrenatural ao qual eu faço questão de ressaltar que não queria nunca ter me metido nisso.

Nunca mesmo.

A falta que Jeon me fazia chegar a um nível de ser doentil já que ao invés de apenas lamúriar eu também me escondia nas assas de Hoseok para fugir da pura realidade diante de meus olhos. Eu não teria o moreno nem tão cedo e ouvir as palavras de Seokjin meses atrás ainda doía muito.

"Fique bem longe dele, Jimin. É para o seu bem!"

Se é para a merda do meu bem, por que então não estou bem ou me sinto bem!?

Droga, eu sinto tanta falta do meu anjo.

Os meses que passei na minha antiga casa com a companhia dele, mesmo que ele me assustasse demais, foram o suficiente para ter certeza de que eu queria ele por perto. E digamos que descobrir que ele é encarnação de JeHun me deixava mexido demais, cara, é algo bem sobrenatural mesmo!

Pelos céus, eu só quero ele de volta nos meus braços e cuidar daquela criança problemática que ele se tornou.

Por que essa merda é tão difícil?

Às vezes me pago imaginando: e se fosse tudo diferente? Se ao invés de ter me apaixonado por Taehyung, eu tivesse dado chance ao meu anjo? Como tudo seria? Eu teria uma reencarnação e poderia viver ao lado dele ou a profissão que ele seguia - de ser meu anjo da guarda, ainda não engoli isso direito. - atrapalharia nós dois em algo?

Se Jungkook estivesse aqui ele diria: "Pare de pensar no "e sê", isso ainda vai te matar" sendo que eu já estou a muito tempo morto. 

Droga, tenho que parar de pensar nele também, essa porra machuca.

Cá estou eu, sentado nas nuvens enquanto acaricio as penas aveludadas de Hoseok, pensando no que eu faria para fugir daqui. Sair por boa e espontânea vontade sei que não vai rolar se depender de YeonHun e Abraxas. Eu preciso de um plano rápido.

Ok. Eu não tenho um plano.

— "Jimin..." — ouço a voz grossa porém suave me chamando por pensamento e minha cabeça doer. Era Jungkook.

Isso vem acontecendo direito, é como se estivéssemos conectados um ao outro. É doidera.

Eu não consigo o responder, mas ele pode me contatar quando bem entende. Estou tão confuso, ele sempre diz que não é para voltar para Terra ou não o procurar com o fazer. E cara, essa porra é muito sinistra.

Pelo amor de Deus, eu não aguento mais!

— Jungkook por favor me ouve, eu estou desesperado.

Mas pela minha surpresa, daquela vez, ele me ouviu.

— "O que está acontecendo pequeno?" — o tom preocupado só fazia meu peito doer mais. Quero o vê.

— Estou com saudades, por Deus, me tira daqui.

— "Eu não posso meu anjo. Ainda não." 

Por quê ele mexe tanto comigo?

— Só me diz se você foi solto, por favor, preciso saber... — o implorei, segurando o choro para não acordar o "cupido" sonolento deitado em meu colo. Eu teria um grande problema se eu fizesse isto.

— "Não posso te falar nada por hora, mas posso te dizer que estou seguro." — sua afirmação fez um peso enorme sair de minhas costas. Ele estava bem, e isso é o que importa. — "Você não vai aprontar não, não é?"

— Jeonggukie eu...

— "Me prometa que não." — sua voz saiu autoritária, ele não estava pedindo, estava mandando. 

— Prometo, Ggukie.

— "Bom menino. Eu te amo pequeno, por favor se cuide." 

Depoid daquilo perdi a 'ligação' com o ex anjo, e não adiantasse o quanto eu o chamava, ele não respondia. A confição me deixou desnorteado e com a sensação de minha corrente sanguínea voltar a ativa.

Eu não quero ficar nem mais um segundo aqui.

Senti minhas costas arderem, como se algo estivesss saindo de dentro de mim. A ardência foi ficando mais forte e quando dei por mim, estava me debatendo. A sensação de minha pele se rasgando era forte demais, e foi quando algo saltou de lá que enfim pude me sentir aliviado, por hora.

Só não imaginei que seriam assas.

Larguei de meu irmão e o peguei no colo com facilidade — deve ser algum benefício de anjo, sei lá — e o coloquei nas nuvens onde costumávamos dormir. Conferi se tudo estava bem e se Abraxas estaria rondando por aqui já que YeonHun saiu para resolver alguns assuntos com Belial. Voltei ao "precipício" dos céus e respirei fundo.

Ok. 

É agora!

Saltei de lá mantendo as assas fechadas, pensei por um momento que eu iria cair mas quando as assas se abriram e enfim eu flutuei, me senti apavorado de primeira, mas logo consegui pegar jeito e já voava cortando os céus, torcendo para que nenhum anjo me visse.

O início do meu objetivo já estava completo, mas eu ainda queria uma coisa;

Quero meu anjo. E eu vou achá-lo.

Espere por mim, hyung!