“16, A queda”... parte 2- capítulo 5
Madame Scarlet abriu as cartas na mesa, todas viradas para baixo.
O lugar era iluminado por velas, mas não velas normais, velas pretas com luz roxa, o que fazia o rosto da Madame Scarlet ficar mais sombrio do que nunca.
-Escolha três cartas, por favor.
-Se quiser não precisa fazer isso... – Sussurrou Ryan Bryan
A cigana olhou para ele e ergueu uma das sobrancelhas, Bryan Ryan saiu, depois Madame Scarlet se voltou para mim novamente.
-Sim, onde estávamos?
-O que?
Tive uma rápida impressão que a Madame Scarlet bateu a mão na testa, como se quisesse dizer “que garota burra!”.
-É que eu não queria leitura de cartas e sim de acontecimentos.
-Sim, vamos lá então. Conte-me tudo o que preciso saber.
-Bem,- Comecei e olhei para trás, Ryan estava sentado num sofá de veludo olhando para mim. – Eu tenho tido alguns tipos de visões ultimamente e todas elas acabam dando no número “16”... E além disso, hoje, na minha porta, havia cartas inundando todo o corredor perto do alojamento onde moro e esse mesmo número estava escrito com sangue nelas... O que quer dizer?
-O número “16” quer dizer “a queda”.
-Peraí, isso quer dizer que eu vou cair da onde?
-Não é no sentido literal. Quer dizer que máscaras vão cair. Verdades vão virar mentiras e mentiras vão virar verdade.
-Quanto te devo?
-Nada... Nada agora...- Um gato preto pulou na sua mão e ela o alisou.
Levantei-me e já ia embora quando ela segurou o meu braço e falou:
-Espere, tire uma carta.
Fiz o que ela pediu.
-Pode ficar. –Sussurrou- Isso poderá garantir que o que acontecerá hoje é verdade... - Sorriu
A cigana recolheu as cartas na mesa, amarrou uma fita vermelha nelas, dobrou a borda de baixo do vestido três vezes e as pôs numa meia. Madame Scarlet parecia não depilar as pernas há anos.
Coloquei a carta no bolso de trás da calça, abri as cortinas e me retirei do consultório, dei uma última olhada no lugar. Agora eu sabia onde encontrar a “Tenda da Cigana”. Puxei Ryan pelo braço e ele relutou.
-Hey, eu também quero uma consulta! Fica aqui que eu já volto, vê se não foge hein...- Assenti e logo saí da tenda, sentando-me num tronco de árvore na floresta.
Ouvi um barulho logo atrás de mim. De relance vi o garoto bonito do refeitório atrás de uma árvore, levantei-me e gritei:
-Hey, tá me espionando?
O garoto riu e logo ergueu os braços mostrando um arco e flecha nas mãos.
-Tava querendo me flechar é?
-Não sou culpido.-Andou em minha direção. - Venho aqui pra caçar, tenho passe vip para isso.
-Me caçar?
-Não.-Mirou numa árvore e atirou- Sabe? Tenho mais o que fazer do que ficar atirando flechas em garotas sentadas em troncos de árvores por aí.
-Você também é do Internato?
-Muito provável, não acha?!
-E o que faz aqui fora?
-O que VOCÊ faz aqui fora? É perigoso sabia?
-É eu sei, podem sair mais pessoas como você do mato.
Ô sorte.
-Está acompanhada?
-Não interessa.
-Se quiser posso te levar de volta.- Arrancou a flecha da árvore.
-Não, estou muito bem do jeito que estou.
-O Ryan não é boa pessoa.
-Você o conhece? E como você sabe que...
-O conheço, não deveria confiar nele. Pode confiar em mim- Deu de obros- se quiser.
-E porque eu deveria confiar em você? Te conheci agora a pouco!
-É o que você acha, Katherine. É o que você acha.
P’vos autora:
-Feiticeira desgraçada!- Gritou Ryan derrubando vasos de vidro no chão.
-Ela deve saber a verdade! E não é você que vai impedir...
A cigana correu até um armário e pegou um punhal.
-Fique longe, ou você vai ter uma nova e grande cicatriz. –Ryan gargalhou e levantou as mãos em sinal de redenção.
-Calma, Scar...- Ryan se aproximou lentamente- Sou eu...
E num movimento ágil Ryan arrancou o punhal de sua mão e o cravou no estômago da cigana, fazendo com que ela caísse no chão.
-VOCÊ SABE RYAN, FEITICEIRAS VOLTAM Á VIDA QUANDO BEM QUISEREM, NÃO ADIANTA TENTAR ME MATAR POR QUE NÃO VAI CONSEGUIR!- Gritou sem fôlego.
-A não ser que sejam queimadas... -Sorriu
-nãoporfavor...
-Ops, escorregou... – Ryan empurrou as velas que estavam sob a mesa e viu o corpo da cigana queimar rapidamente, como se estivesse banhada de gasolina, um fogo diferente, um fogo roxo.
-Otário.
-O que?- Falou surpreso.
-Velas da babilônia...-E num piscar de olhos a cigana sumiu, deixando somente o fogo se alastrando pelo tecido da tenda.
-Droga!- Esbravejou Ryan olhando em volta- Burro, aqui está repleto de velas da babilônia!- Disse a si mesmo.
Ryan desejou estar do lado de fora da tenda e logo soprou a vela, assim foi feito, mas Katherine não estava lá.
-Katherine?
Longe dali...
Pov’s Katherine:
Corri desesperadamente por entre as árvores, mal podia ver o internato naquela estância. Ethan, “o garoto do refeitório”, estava logo atrás de mim e inesperadamente ele me alcançou ficando na minha frente de uma forma inexplicável, agarrou meu braço sem eu nem me dar conta.
-Me solta seu maníaco!
-Não sou maníaco, só estou tentando protegê-la.
-Você devia tentar me proteger de você!
-Não, estou tentando protegê-la de você mesma.
Quê? Garoto louco! Isso não tem sentido algum!
-Falei demais!
Ele pôs a mão na minha boca, encostou-me em uma arvore e olhou profundamente em meus olhos, seu olhar era vibrante, me lembrava o céu, me lembrava o mar, um azul profundo que me acalmava, senti por um único e longo segundo que tudo havia parado, a batida do meu coração, tudo. Aquele azul me acalmava tanto que mal pude ouvir as palavras que saíam da sua boca em uma câmera lenta insuportável. Ele havia desviado o olhar, mas eu ainda estava imóvel, tudo estava parado e quieto...
Ele havia dito “abaixa”? Abaixar o que?
Foi quando, o som, a inquietação, tudo voltou e me dei conta que Ryan estava lá e então falou:
-Não deveria ter feito isso. Ela já decidiu de que lado vai ficar. Pena que você não vai nem ter tempo de se arrepender...
Vi um fogo ofuscante escapar das mãos de Ryan, rasgar o ar e atingir em cheio Ethan que logo caiu no chão. Sua parte toraxia ferida deixou sua camiseta ensopada de sangue, seu rosto estava virado para mim e seus olhos estavam abertos deixando seus lidos olhos azuis a amostra ele gesticulou alguma coisa com dificuldade, depois sumiu, tudo sumiu como num vapor e só eu estava lá, ouvindo minha própria respiração. Pisquei várias vezes, fechei meus olhos com força e desejei que tudo aquilo nunca houvesse acontecido...
-Kathery?
Abri os olhos e me deparei com Ryan materializado na minha frente no seu alojamento. Eu estava deitada na cama, estava com a mesma roupa que saí para a floresta naquele dia, com uma compressa de gelo na minha cabeça. Afastei-me rapidamente de Ryan, indo para o canto da cama, peguei a compressa de gelo e arremessei nele.
-Ai, Kathery!
-Não me chama assim, traidor!
-Kathery, está tudo bem, sou eu Ryan, qual é o problema?
-Você é o problema!
-Hey, calma...- Se aproximou.
-Sai! Fica longe de mim!
-PARA! ME ESCUTE!- Gritou- Você tropeçou e bateu a cabeça numa pedra enquanto íamos a casa da cigana, delirou a noite toda, eu fiquei do seu lado e você me retribui assim?
Deixei ele se aproximar.
-Tá tudo bem, ok?
-Okay...- Fingi um sorriso.
Ele tocou minha mão e me envolveu num abraço.
-Não, me largue...
Ele me soltou, me afastei e saí pela porta.
Alguns garotos estavam me olhando pelo corredor, já que eu estava de roupa normal, sem o uniforme do internato e tinha acabado de sair do alojamento de um garoto, na ala DOS garotos.
Estava andando de cabeça baixa, foi quando me lembrei da carta que Madame Scarlet havia me dado.
“Isso poderá garantir que o que acontecerá hoje é verdade...”
Pus a mão no bolso de trás da calça e tirei algo que parecia ser um papel, o levei até o alcance dos meus olhos e vi uma carta...
“16”...
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