História The Hope - 23 - Provocações

Capítulo 23

- Amor... – ela gritou empolgada, mas assim que me viu, parou. – Shailene? – o sorriso enorme que estava em seus lábios sumiu. – O que faz aqui?

- O-oi Ruth. – gaguejei.

- Cadê o Theo? – uma carranca tomou conta do seu rosto, e eu dei passagem na porta.

- Ele está... – antes mesmo de eu terminar de falar, Theo apareceu na sala com Hope nos braços.

- Ruth? – ele perguntou, e ela virou a cabeça na mesma hora.

- Theo!! – ela andou apressadamente em sua direção com os braços abertos. Mordi o lábio, com medo de que seu abraço poderia machucar minha filha, mas antes mesmo de ela se quer relar no Theo, ele a parou.

- Shai, pega a bebê fazendo favor?

Corri em sua direção e tirei a bebê de seus braços, e quase no mesmo segundo Ruth agarrou o pescoço de Theo e o puxou pra um abraço tão forte que nem uma folha de seda passava entre o corpo deles.

Virei de costas pra eles e fiz uma careta. Hope começou a resmungar, quase chorando, e eu fui pro lado da porta enquanto chacoalhava ela.

- Que saudades que eu estava de você, Theozinho. – Ruth disse com uma voz fina e chata.

- Eu também! – respondeu Theo, e depois disso eles ficaram calados. Eu não me atrevi a virar meu rosto pra ver o que eles estavam fazendo, era obvio: eles estavam se beijando!

Eu não poderia estar mais envergonhada e mais frustrada em toda a minha vida! Porque eu fui aceitar ficar aqui mesmo? A é, porque Theo queria que Ruth conhecesse nossa filha. Droga!

- Ruth... – Theo chamou depois de um tempo. – A Shai está aqui porque eu queria que você conhecesse a Hope hoje. – nessa hora eu me viro pra eles, e vejo Ruth abraçada com a cintura de Theo.

- Oh, sim. A... Hope. Quem escolheu esse nome mesmo?

- Shai. – Theo disse sorrindo.

- Ta explicado. – ela murmurou e virou a cara. Quase revirei os olhos.

Theo se soltou de Ruth e veio na minha direção, querendo pegar a Hope. Passei a bebê pra ele, que resmungou um pouco, e cruzei os braços acima dos meus peitos. Isso não era nada confortável pra mim.

- Ruth, essa é a Hope. – ele disse se aproximando dela.

- Ai meu Deus! – Ruth arregalou os olhos em choque, e pegou minha filha no colo. – Ela é linda, amor!

- Obrigado.

- Sua cara! – ela olhou pra ele e sorriu. Revirei os olhos, e ela viu o meu ato, mas Theo não porque estava de costas. – Oi, Hope! – disse chacoalhando levemente a bebê.

Mordi o lábio, observando a cena. Com certeza aquilo era muito desconfortável pra mim. Vendo essa cena, até parece que eles são uma família. Ruth,Theo e Hope. Mas não, eles não são uma família, e Hope prova que ela também concorda comigo quando começa a resmungar no colo de Ruth.

- Não chora não. – ela diz com a voz fina e chata.

Hope começa a se remexer mais, e quando Ruth menos espera, ela começa a chorar alto.

- Hum... – tento dizer algo, mas Theo me interrompe.

- Hope está tudo bem, não precisa chorar. – diz calmamente.

- Hope! – Ruth chama, e a bebê chora mais alto ainda, gritando.

Tampo minha boca com uma mão, pra esconder o riso que se formou em meus lábios, e Ruth olha pro Theo com as sobrancelhas franzidas.

- Deixa eu pegar ela... – Theo diz pegando a bebê do colo da Ruth, mas não adianta. Ela continua chorando.

- Talvez ela queira a mãe dela, apenas. – me aproximo e pego Hope. – Ei, Hope, é a mamãe. Ta tudo bem. – conforme vou dizendo calmamente as palavras, Hope vai parando de chorar.

Ela abre os olhos e me encara soluçando, e então eu beijo sua testa. Depois de parar de chorar, ela se aninha em meu peito e dorme.

- Pronto. – digo depois que a bebê dormiu. Theo se vira pra mim, ficando de costas pra Ruth, e sorri. Ruth me olha com uma cara séria e revira os olhos.

- Bem, eu vou começar a fazer o jantar. Pode colocar Hope lá no berço Shai.

- Como assim? Ela vai jantar aqui? – Ruth pergunta surpresa.

- Ah... Sim. Eu convidei ela. – Ruth abre a boca, parecendo chocada.

- É que eu pensei que... Nós... Ah, tudo bem. Claro. – diz sem jeito, mas acaba dando um sorriso sínico e eu sorrio de volta da mesma maneira, indo pro quarto de Hope.

-

Estamos sentados mais uma vez na mesa do apartamento de Theo. Novamente, Ruth está tentando me excluir da conversa, contando como estendeu sua viagem para Oxford apenas para ver as irmãs e a mãe de Theo, e como foi legal passar um tempo apenas com elas.

- ... E sua mãe disse que está com saudades de você. – ela termina, antes de colocar um pouco de comida na boca. Tomo um gole de água do meu copo.

- Eu também estou. – Theo se vira pra mim. – Shai, eu estava aqui pensando... Talvez, enquanto minha família estiver aqui, Hope poderia dormir aqui comigo.

Meus olhos se arregalam em choque, e eu praticamente cuspo toda a água da minha boca. Theo e Ruth se assustam, mas logo ele pega um guardanapo e me passa.

- Desculpe. – murmuro enquanto limpo meu rosto. – O que você disse? – pergunto descrente.

- Eu estava pensando que... – Ruth revira os olhos.

- Ela entendeu, Theo. – ignoro seu comentário.

- Sério? Mas já? Quer dizer... Claro, uma hora ela terá que vir dormir aqui, mas já? Ela não tem nem um mês, Theo! E se acontecer alguma coisa?

- O que poderia acontecer, Shai? – retruca.

- Sei lá! Ela chorar e você não conseguir acordar. Ou... ela sentir cólica e você não conseguir lidar com isso... Você sabe que ela tem muito disso.

- Eu sei, mas Ruth vai estar aqui. – ele da de ombros, e eu o encaro como se ele tivesse acabado de me falar que eu nunca mais veria minha filha.

- Acho melhor não, Theo. Quer dizer, será que a Ruth tem alguma experiência com bebês recém-nascidos? – falo como desculpa. – Eu vou ficar muito feliz em receber sua família quantas vezes eles quiserem ir até minha casa para ver a Hope, vir aqui para encontrá-los ou em qualquer outro lugar que eles quiserem.

- Você não pode fazer isso. – Ruth murmura, levando a sua taça de vinho até a boca. – Ele tem o direito de ficar com a filha também.

- Shai...

- Theo, eu não quero discutir com você. Por favor, não tire minha filha de mim. – ele arregala os olhos.

- Não estou tirando ela de você, eu nunca faria isso! Eu só estou pedindo... – mordo a parte interna da minha bochecha, sentindo as lagrimas invadirem meus olhos. – Deixa quieto.

- Obrigada. – sussurro, voltando a olhar pro prato. Ficamos um tempo em silêncio, até que eu decido quebrar. – Eu acho que... – Ruth me corta.

- Theo. – ela o chama e ele se vira.

Ela, na maior cara de pau, coloca a mão no rosto de Theo e o puxa em sua direção. Ela o beija avidamente, com urgência e muita intensidade, enquanto tento o máximo desviar meu olhar. Alguém me salva desse martírio, por favor?!

Olho rapidamente de volta pra eles e vejo Theo me encarando com os olhos arregalados, enquanto Ruth ainda segura seu rosto. Ela passa a mão em seus cabelos quando termina o beijo, e ri voltando a pegar sua taça de vinho.

- Esse é o primeiro da temporada. Mas me deve muitos beijos, e vai ter que me pagar. – ela diz com a voz baixa, tentando soar sensual, e eu torço minha boca em desgosto por ter escutado isso.

- Eu já vou embora. – me levanto de supetão, jogando o guardanapo no meu prato. Theo se levanta também.

- Fica mais um pouco Sha...

- Não, obrigada. Imagino que vocês tenham muito o que fazer. – olho rapidamente pra Ruth, que me da um sorriso maldoso e vitorioso, e bufo baixinho. – Vou pegar a Hope, se quiser dar tchau pra ela, pode ir. – digo pegando meu prato pra colocar na maquina de lavar.

- Deixa isso ai, que eu faço. – Theo disse pegando meu prato e colocando de volta na mesa. – Vou me despedir dela. – assinto e ele sai da cozinha.

- Se tocou, é queridinha?

- Não sou sua querida, então não me chame assim. – ela sorri.

- Não é mesmo. – sua gargalhada enche o cômodo, e eu dou as costas indo em direção ao quarto da Hope.

Vejo Theo acariciando o pequeno rosto da filha, enquanto a balança suavemente em seus braços. Sua feição é um misto de tristeza e mágoa. Eu sei porque ele está assim! Theo esteve junto da Hope desde quando ela nasceu, e agora ele terá que se separar dela, isso deve ser muito difícil! Não quero nem imaginar agora.

Sei que uma hora Theo vai aparecer na minha casa dizendo que Hope vai vir passar uns dias com ele, e eu vou ter que concordar. Afinal, ele é o pai e tem direitos. Mas eu não quero nem pensar nesse dia, pois vai ser o pior momento da minha vida. Vai ser como se Theo estivesse tirando minha filha de mim, literalmente.

- Boa noite, anjinho. – ele diz e beija sua testa. Pisco varias vezes para impedir minhas lágrimas, e mordo o lábio inferior. – Papai vai te ver amanhã, eu prometo.

Depois disso, Theo caminha em minha direção e me entrega nossa filha, ainda com a expressão triste e magoada em seu rosto. Dou um pequeno sorriso pra ele, como se dissesse “desculpa” e sussurro um obrigada.

- Te vejo amanhã, Shai. – ele diz abrindo a porta pra mim.

- Tudo bem. Tchau, boa noite.

- Boa noite. – ele sorri de lado.

- Tchau querida! – diz Ruth, aparecendo atrás do Theo e enfatizando a palavra querida. – Cuida bem dessa bonequinha, viu?

- Eu vou cuidar. – me seguro para não revidar a sua provocação e ela sorri pra mim. Dou as costas e vou em direção ao elevador do prédio.

-

Naquela noite, depois de colocar minha filha pra dormir no berço móvel ao lado da minha cama novamente, e antes de deitar na minha cama, escuto um toque no meu celular e vejo que é uma mensagem de... Nahko.

Eu sei, já é muito tarde e você provavelmente está dormindo. Mas talvez não, porque bebês dão trabalho, certo? É, devem dar. Eu só quero dizer que vou pra Los Angeles amanhã e eu vou passar ai. Estou curioso e ansioso pra conhecer sua filha Shai. Um grande abraço pra você e pra sua filha – Nahko.

Sorrio e respondo a mensagem.

Você está certo. Está tarde e bebês dão trabalho sim. E muito! Ela acabou de dormir, finalmente! Eu estou feliz que você vai poder vir conhecê-la, Nahko, e estou animada. Vou ficar te esperando. Um abraço pra você – Shai.

Desligo a tela do meu celular e me deito, sorrindo.

Sei que Theo vem pra cá amanha, e que ele e Nahko não se dão bem, mas eu não me importo. Theo terá que aprender a conviver com meus amigos, se eu vou ter que aprender a conviver com a Ruth. É uma troca.

Com certeza, uma troca.