Capítulo 34
No capítulo anterior
- Bem vinda. – diz Theo. A primeira coisa que noto é que ele não está com a Hope.
- Onde está a Hope? – pergunto um pouco preocupada. Ele não pode deixá-la sozinha!
- Olá! – diz Ruth, aparecendo atrás do Theo, com Hope se contorcendo em seu colo.
Meu coração aperta ao vê-la aqui. Segurando minha filha. Ele me disse que ela não estaria aqui! Me disse que ia passar o dia sozinho com a Hope e que queria que eu ficasse com eles também! Ele mentiu!
A raiva aumenta aos poucos em mim. Sério que ele mentiu, e ainda teve a cara de pau de me chamar?
- Oh, nós vamos no mercado daqui a pouco. – Ruth diz pro Theo. – Nós ainda temos que comprar comida pra bebê.
Me controlo e uso toda minha concentração pra não estrangula-la agora mesmo. Ela diz como se Hope fosse filha dela, mas não é. Não é!
Saio do meu torpor quando Hope começa a chorar.
- Ela está bem? – pergunto me segurando pra não tirar minha filha dos braços da Ruth. Entro no apartamento e Theo fecha a porta.
- Ela está assim a um tempo, já. – explica Theo, coçando a nuca e me olhando com olhar triste. – A barriga dela está doendo, eu acho. A única maneira de fazer ela parar de chorar é esfregando sua barriga.
Hope chora mais alto, batendo as mãozinhas e os pesinhos em Ruth.
- Nossa! Ai meu Deus! – ela exclama do nada, com surpresa. Hope para de chorar aos poucos e fica com o rosto relaxado, molhado de lágrimas. – Ela me sujou! – Ruth exclama mais nervosa.
Cubro imediatamente minha boca com uma mão pra esconder meu sorriso, e vejo Hope fazer força.
- Pegapegapegapegapega! – ela grita, segurando Hope por suas axilas na sua frente. Vejo sua camisa manchada e me controlo pra não gargalhar. Theo ri.
- Ah, eu sinto muito, Ruth. – ele diz, pegando Hope no colo.
- Argh! Eu preciso me trocar! – ela esbraveja, correndo pro quarto. Hope resmunga de novo.
- Eu posso trocá-la. – digo, pegando Hope no colo.
- Eu vou pegar uma fralda e roupas limpas, já volto. – assinto e ele sai de vista.
- Acho que não poderemos mais usar essa roupa, não é princesa. – murmuro, deitando Hope com metade do corpo em cima do tapete, e a outra metade no chão, pra não sujar.
Dou risada enquanto tiro a fralda dela, tentando não me sujar muito.
- Ah! A alegria de ter um bebê! – digo rindo.
Ruth volta vestindo uma camiseta limpa, e Theo volta com as coisas da Hope. Termino de limpá-la e passo ela pro Theo, enquanto levo a fralda suja pro banheiro.
- Pronto pra ir, Theo? – Ruth pergunta apressadamente.
Reviro os olhos e lavo minhas mãos.
- Theo? Já podemos ir? – ela pergunta de novo quando eu volto pra sala.
- Sim. – ele evita me olhar, quando passa a nossa filha pra Ruth. – Eu vou no banheiro primeiro, e já volto.
Ah, não! Porque ele deu nossa filha pra ela segurar? Porque não deu pra mim? É serio que ele vai me deixar aqui sozinha com ela de novo?
- Tudo bem. – ela diz, fazendo cara de santa. Santa fingida. – Eu vou cuidar dela. – diz se referindo a Hope.
Theo não diz nada, apenas sai da sala, sumindo pelo corredor. Droga!
- Pode me passar ela? – pergunto estendendo as mãos pra minha filha. Ruth responde silenciosamente, afastando-se com minha filha.
O que?
- Dá minha filha! – ordeno.
- Sua filha? – ela zomba. – Ela parece mais a minha filha. – ela sorri maldosamente.
- Você não é a mãe dela! – digo com raiva. – Me dê ela agora!
- Ah! Você está certa! – ela diz, com o sorriso maldoso aumentando. – Eu não gostaria de ser mãe dessa criança retardada.
Ela estica os braços pra longe do seu corpo e praticamente joga Hope, que rola no sofá.
- Hope! – grito, me jogando pra mais perto possível do sofá para pegá-la, antes de cair no chão e bater a cabeça. Felizmente eu consigo pegá-la a tempo.
Os olhos de Hope se enchem de lágrimas e ela grita, chorando de susto.
- Shhhhh. – eu sussurro, a abraçando. – Você poderia ter matado ela! – rosno pra Ruth, me levantando.
- Ah, que isso! – ela sorri, limpando seus olhos. – Ninguém se importa, de qualquer maneira. Quer dizer, só você, né. Mas isso é porque você é sozinha, não tem nenhum namorado.
Olho pra minha filha, que ainda chora em meus braços, e sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu sei que muitas pessoas se importam com a Hope, incluindo o Theo. – tento manter minha voz firme.
- Você acha que o Theo realmente se importa? – ela zomba, rindo. – Não, ele não se importa. Se por acaso algo acontecesse com ela, eu o faria superar. Ele e eu teríamos outro bebê pra compensar essa “tragédia”, e seria bem melhor.
- Não. – digo nervosa, com as lágrimas já caindo. – Ele não iria!
- Nós estamos tentando ter um bebê agora. – ela diz, com cara de tédio. – E se você não acredita, então você é uma retardada. Oh, espere... Você é uma retardada.
- Cala a boca! – digo, tentando ignorar suas palavras e balançando Hope. – Pare de me odiar.
- Eu estou simplesmente dizendo a verdade. – ela responde.
- Eu sei que o Theo não pensa assim. Ele ama a Hope.
- Há! – ela ri. – Isso é uma piada, não é? olha o Theo te odeia! Ele te acha uma chata e ele quer se livrar de você!
- Isso é mentira! Eu sei que não é verdade.
Droga! Porque eu sou obrigada a ficar aqui ouvindo essa mulher falar essas merdas pra mim? Eu sei que é mentira! O Theo não me odeia, e ele ama sua filha!
- Ele me ama. – ela declara. – Ele nunca, nunca vai te amar.
- Ah, é mesmo? E quanto a todos os beijos que já demos?
- Para as filmagens? – ela ri. – Isso não é nada, isso se chama atuação.
- Não. – respondo, sentindo o prazer de esfregar na cara dela que Theo me beijou. – Em nosso apartamento, em Atlanta. Em vários lugares, se você quer saber.
- Vocês só dividiam um apartamento por causa dessa coisa feia. – diz, apontando pra Hope. – Honestamente, estou vendo porque ela é tão feia. Ela é a sua cara. Não sei como as pessoas não a chamam de monstro ao invés de dizer seu nome.
Respiro fundo, tentando me controlar pra não voar pra cima dela. Eu estou com minha filha no colo, e ela ainda está muito assustada com a nossa discussão. A Ruth parece um monstro, eu não consigo pensar nela de outra forma.
Sinceramente eu não sei o que o Theo viu nela.
E droga, eu vou matar o Theo quando ele voltar! Ah, eu vou! Onde ele se meteu? Onde ele está, quando na verdade deveria estar aqui vendo quem é de verdade sua namorada?
- Hope é linda pra mim. – esbravejo.
- Sim, isso é porque você é cega e ignorante. Ela é um dos seres humanos mais feio que já esteve na Terra. Ela nunca vai conseguir andar, sabe? Ela é muito retardada pra fazer isso.
Eu atiro adagas pelo meu olhar, e a imagino morrendo dolorosamente na minha frente agora. Um minuto de silencio se instala entre nós.
Theo finalmente aparece, caminhando calmamente em minha direção.
POV Theo
Eu não acredito nisso.
Como Ruth pode ter feito isso com a minha filha? Com a Shai? Como?
Eu não acredito que estive com ela por 8 anos, sem realmente conhecê-la de verdade! Meu Deus!
- Hope é linda pra mim. – Shai a defende.
- Sim, isso porque você é cega e ignorante. Ela é um dos seres humanos mais feios que já esteve na Terra. Ela nunca vai conseguir andar, sabe? Ela é muito retardada pra fazer isso.
Já chega! Não posso suportar mais nada! Eu tenho que dar um basta nessa mulher.
Respiro fundo e tento me controlar ao máximo para não fazer uma burrada na frente da minha filha, e caminho calmamente em direção a Shai. Pego Hope de seu colo e a coloco no bebê conforto, conferindo logo depois se o cinto prendeu.
- Pronto pra irmos no mercado, querido? – escuto a voz de Ruth, e tento não demonstrar nenhuma reação.
Antes, quando eu escutava ela me chamar de querido eu gostava, mas agora, depois de saber toda a verdade sobre ela, eu sinto nojo! Como pude não enxergar quem a Ruth era de verdade? Como pude deixar ela tratar a Shai dessa maneira? Onde eu estava com a cabeça?
Me levanto e pego minha carteira, meu celular e minha jaqueta. Volto rapidamente pra Hope e pego o suporte do seu bebê conforto.
- Ansioso pra sairmos, querido? – levanto o olhar rapidamente e vejo Ruth fazendo uma cara de nojo pra Shai, conto até 10 mentalmente.
Me aproximo de Shai e estendo o bebê conforto pra ela, e ela o pega com uma cara desconfiada. Caminho em direção a porta e vejo minha mão tremer de raiva quando tento abrir a porta.
- Tchau. – ela diz meio hesitante, quando eu consigo abrir a porta.
O que?
- Porque você está se despedindo? – pergunto. – Eu vou com você.
Ela franze a testa, confusa.
- Hm... – murmura Ruth. – Nós não vamos no mercado?
Sinto a raiva aumentar quando a vejo pelo canto do olho se aproximar de nós na porta. Viro meu rosto lentamente, para olhar pra ela, e seleciono as palavras certas para dizer.
- Theo, nós temos que ir comprar a comida pra bebê. – ela ri. – Você ia vir junto comigo! – balanço a cabeça.
- Não! – digo. – Eu nunca mais vou a algum lugar com você.
- O que? – pergunta surpresa.
- Nunca mais vou fazer algo com você. – praticamente rosno na cara dela.
- O que você quer dizer, querido? O que isso significa? – ela agarra meu braço.
- Fique longe! – empurro suas mãos do meu braço, com nojo.
- Querido? Você está bem?
- Eu? Eu estou bem. Mas a Shai certamente não está, não é? E só pra você saber, ela não é qualquer uma.
- O que?
Sei qual o seu jogo: ela está se fazendo de inocente agora, mas isso não vai colar comigo. Eu escutei tudo!
- Eu te escutei, Ruth. – digo com raiva. – Eu ouvi você chamar minha filha de retardada. Eu não posso acreditar que eu não pude perceber isso antes... Você nunca gostou da Hope. Você sempre foi horrível pras duas, e eu não consegui notar. Você é uma abusadora física e mental. – acuso.
- Theo... – ela ri. – Do que está falando?
Escuto um suspiro ao meu lado e viro meu rosto, dando de cara com a Shai chorando, quase soluçando.
- Você a chamou de retardada. – volto a olhar pra Ruth. – Você chamou a minha filha e a mãe dela de coisas horríveis. Feia, estúpida, monstro, retardada. Você jogou minha filha no sofá, pra ela cair no chão. Ela poderia ter morrido! Eu vi com meus próprios olhos!
- Não, eu não fiz isso! – ela ri de novo. Juro que estou a ponto de estrangulá-la. – Isso deve ser sua imaginação.
- Eu te ouvi! – olho rapidamente pra Shai e agarro sua mão, entrelaçando nossos dedos. Faço círculos na palma da sua mão para confortá-la. – Eu te ouvi alto e claro. Eu vi também. Eu estava observando tudo do corredor, onde vocês não perceberam.
Um soluço escapa da Shai, e eu olho imediatamente pra ela.
- Shai. – eu a puxo pra um abraço apertado. – Eu sinto muito. Eu estou tão triste por isso.
- Bem... – diz Ruth. – Você conseguiu jogar a culpa pra cima de mim, Shai. – encaro seu rosto descarado.
- Boa tentativa, Ruth. Estou realmente surpreso que você seja tão hipócrita assim.
- Theo... Me ouça, por favor. Ela começou iss..
- Não, ela não começou nada! Shai odeia conflitos. Eu sei muito bem disso. Você que começou tudo isso. Honestamente, eu não posso acreditar nisso. Eu não posso acreditar que passei 8 anos da minha vida ao lado de uma pessoa que eu não conhecia de verdade. Vamos. – sussurro a última parte pra Shai, dando um beijo em sua bochecha e a puxando pra fora.
- Theo! Onde você está indo? – Ruth exclama.
- Deixando. Estou deixando você. Terminamos. Isso tudo já deu, Ruth.
- Não! Não estamos terminando! Isso é mentira!
- Eu já terminei. Terminei com você pra sempre.
- Droga, Shailene! – ela grita. – Você e sua filha idiota foderam com tudo! Você é um desperdício de tempo! É isso que você é!
POV Shailene
Meus soluços já tinham parado, assim como minhas lagrimas, mas eu ainda estava fungando.
- Eu sinto muito. – ele me abraça de novo. – Eu vou dirigir, você está muito emocionada.
- Tudo bem.
Ele me ajuda a prender a cadeirinha de Hope na parte de trás.
- Pode me dar as chaves, por favor? – pego as chaves no meu bolso e dou pra ele. – Obrigado, Shai. – ele me puxa pra um abraço novamente, e eu enrolo meus dois braços em volta dele.
Ele gentilmente deposita um beijo na minha testa e me solta, indo pro lado do motorista. Entro do lado do passageiro e ele da partida no carro.
- Shai, eu sinto muito. – diz enquanto dirige. – Você não merecia ouvir tudo aquilo dela. Nada daquilo é verdade. Você e Hope não são feias ou estúpidas. Vocês são lindas.
Olho pro rosto dele, encontrando seu olhar por meros segundos, e sorrio de lado.
Ele liga o rádio bem baixinho e depois descansa a mão na minha coxa esquerda, esfregando suavemente. Sinto sua mão áspera agarrar minha coxa firmemente e eu tremo, sentindo um formigamento nela.
- Está tudo bem agora, querida.
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