– Vem, por aqui.
Como ele poderia descrever sua situação? Bom, incrédulo era uma ótima palavra, e afinal, como não estaria? Ele passou várias noites dos últimos meses em claro pensando no que teria acontecido com seus amigos, praticamente paranoico com a possibilidade de estarem mortos ou que ele nunca os veria novamente, e agora uma estava o levando para o lugar onde estaria o outro, completamente sãos e salvos.
Após sua situação anterior, com a doutora maluca e tudo mais, Mikasa apareceu e ele foi solto. Ainda não sabia exatamente onde estava, mas isso nem passava em sua cabeça com a euforia que estava, além da ansiedade para ver logo Armin, precisava urgentemente de uma companhia masculina para conversar sobre certos assuntos. fazia meses que ele não batia um papo com algum cara sem ser para tortura-lo ou coisa assim.
Ele e Mikasa passaram por varios corredores e salas até chegarem a uma porta, aparentemente era lá que Armin estava. Quando ela abriu a porta, ele viu um lugar semelhante a um dormitório, não era nada muito grande, sendo apenas um quarto com uma beliche e uma escrivaninha repleta de livros, na parede tinham varios papeis de planos e ideias que ele não entendia, com cálculos e tudo.
– Mikasa, é você? – O garoto loiro peguntou.
Ele estava na cama com a cara enfiada em um livro, não levantando o olhar nem para ver se era ela mesmo, assim como sempre fez. Eren sentiu vontade de chorar.
– Sou eu – Ela respondeu – Te trouxe uma surpresa…
– Surpresa? – Ainda permaneceu olhando para o livro.
– Oi Armin… – Ele finalmente falou.
Quando ouviu a voz conhecida, ele ficou estático, as palavras que tanto o entretiam já não faziam mais sentido. Não podia ser verdade, tinha que olhar. Assim que levantou o rosto, sentiu seus olhos marejarem. Eren Jaeger, em carne e osso, seu melhor amigo durante toda sua vida, que muitos o diziam que ele havia o perdido a meses atras, estava a sua frente, como ele sempre jurou a si mesmo que ele estava vivo.
– Eren… – O mesmo respondeu com um aceno e sorriso – É você mesmo? Eu não tô sonhando?
– Anda sonhando comigo é? – Brincou, agora face-a-face com o amigo – O que? Não acredita? Aqui cara, eu tô aqui!
Ele pegou o braço do loiro, fazendo-o tocar em si, e Armin não perdeu tempo em puxá-lo para um abraço. Se Eren já estava quase chorando anteriormente, agora ele desabou completamente, sentia as varias lágrimas correndo por seu rosto e molhando a camisa do outro. Mikasa mais tarde também se juntou ao abraço, com os olhos lacrimejando tanto quanto os deles. Era um alivio para todos ali estarem finalmente juntos outra vez.
– Cara…Eu nem sei o que dizer… – Armin sorriu nervoso, secando as lagrimas – Eu senti sua falta…
– Eu também senti a sua…E a sua também – Ele deu um soquinho braço de Mikasa, fazendo-a sorrir.
– Eu vou bater de volta – Ergueu o punho, brincalhona.
– Não, era zoeira – Riu Eren.
– Você tá igualzinho – O loiro falou – Menos seu cabelo.
– Minha nossa! Eren seu cabelo – Mikasa passou a mão pelos fios de Eren – Temos que cortar!
– Mikasa, não precisa… – Ele até tentou mas ela já tinha a tesoura em suas mãos.
– Gostaria de ver você fazê-la parar – Armin se sentou na cama, ficando de frente para Eren que se sentava em uma cadeira – Sorte seu cabelo já estar molhado.
– Ele foi interrogado por Hange – Mikasa disse, fazendo Armin rir um pouco.
– Não foi uma experiência muito boa… – Ele comentou fazendo-os rir um pouco.
– Ei, Eren – O loiro chamou sua atenção – Como chegou aqui? Estamos longe da Zona de Quarentena e bom…Achamos que você tinha…
– Armin – Mikasa o interrompeu – Melhor não…
– Não, tá tudo bem, eu também imaginei algumas vezes que vocês poderiam ter…vocês sabem… – Evitou de falar a palavra “mortos” – O que querem saber?
– O que houve após nos separarmos? – Armin perguntou.
– Wow…não sei nem por onde começar…
As memórias invadiram a mente do moreno, se lembrando de todas as coisas que passou com Annie quando eles decidiram ir juntos até os Vaga-Lumes. Apesar da maioria delas envolverem momentos sangrentos e muitas vezes traumáticos, ele pode facilmente encontrar alguns muito bons e que o faziam se sentir confortável.
– Depois da noite do serviço…
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Numa cela escura, adormecida numa cama que parecia ser feita de pedras, estava Annie Leonhardt, inconsciente desde que tomou o tiro. Apesar de não estar acordada, era como se sua mente não tivesse parado, fazendo-a reviver praticamente todas as memórias de sua vida em forma de sonho.
Ela se remexeu na cama, seu corpo reagia conforme as memórias ruins vinham à sua mente. Sofria com pesadelos desde que era criança, mas não se acostumava nunca, odiava ter sempre que acordar no meio da noite, suando frio e muita das vezes chorando. Havia relatos de seus colegas que ela também se mexia muito quando tinha eles, fazendo expressões de dor e tristeza além dos punhos cerrados. Pelo menos era bom saber que não era a única que tinha isso, não se sentia completamente fraca, às vezes vinham até pior em outras pessoas, como em Bertholdt.
Seus olhos se abriram e ela se levantou repentinamente, sua respiração estava forte e sua testa suada. “Merda…onde eu tô?” Ela pensou quando tomou noção de onde estava, tecnicamente ela não sabia onde estava. O local era completamente escura, não dando sinal de nenhuma amostra de luz, ela percebeu que estava em uma cama e esperou suas pupilas se adaptarem à escuridão para que pudesse tentar reconhecer melhor o lugar onde estava.
Quando tentou se mover para fora da cama, Annie sentiu uma dor agonizante se instalando em seu estômago, fazendo-a se recolher de volta e pressionar o local. Quando olhou melhor, percebeu que sua barriga estava enfaixada (bem mal enfaixada), aquilo a fez lembrar de todo o ocorrido na floresta. Tinha saído para buscar alguma comida, mas quando retornou, Eren já não estava mais lá, tinha até se preocupado no começo, mas depois imaginou que ele foi apenas tomar um ar, ou se não teve a mesma ideia que ela e voltaria logo para seu abrigo. Então ela ouviu os tiros, rapidamente ela associou aquilo a Eren, mas assim que ouviu os gritos e insultos dele, foi que ela saiu já planejando atirar em qualquer um que passasse por sua mira, porém toda essa sua imprudência também foi sua ruína.
Ainda dóia, quando a bala penetrou sua pele ela sentiu a pior dor que alguém poderia imaginar, tanto que assim que foi atingida, desmaiou na mesma hora por não conseguir aguentar. Ela dedilhou mais uma vez em torno do machucado, sentindo-o formigar, era melhor pegar leve com aquilo, onde será que Eren estava?
Só agora ela parou para pensar que não sabia o que tinha acontecido com Eren, não via o mesmo desde quando havia sido baleada. Nessa hora os mil e um pensamentos sobre a situação do moreno a atingiram, fazendo-a voltar a suar só de pensar na possibilidade dele não estar mais vivo. Se lembra dele estar sendo amarrado por outras duas pessoas, então provavelmente não iriam matá-lo, além de que ela não estava morta também, e tinham tratado de seu ferimento, então não os queriam mortos.
Por alguma razão, o misterioso motivo de seja lá quem for os querer vivos a assustava ainda mais, haviam coisas horriveis que poderiam ser feitas, já ouviu falar dos métodos de tortura dos caçadores e até presenciou em parte, desde a escravidão até motivos ainda mais sinistros que ela imaginava. Talvez Eren já estivesse sofrendo nas mãos da pessoa que vivia ali, e sabendo do temperamento difícil dele, não era difícil imaginar que ele já teria criado ainda mais problemas para si.
Ficar pensando em Eren era uma faca de dois gumes, afinal isso era algo que normalmente a fazia manter a calma e a frieza, porém também atingia suas emoções em níveis altos, então o pensamento dele estar sendo machucado não a deixava pensar direito. Era difícil para ela reagir a isso, era algo totalmente novo, toda essa preocupação com alguém.
Um som de passos chegou a seus ouvidos, tinha alguém chegando. Ela rapidamente se deitou novamente na cama e fechou seus olhos, iria tentar descobrir algo, seria um problema se fosse só uma pessoa, mas pelo som dos passos, com certeza era mais de uma, talvez eles acabassem deixando escapar algo que normalmente não deviam, mas mesmo assim, só precisaria nocautear os dois e descobrir por si propria caso não desse certo.
– Ai, por que temos que fazer isso? – Uma voz masculina disse, após um som metálico de porta.
– A gente tava de bobeira, era de se esperar que mandassem a gente – Outra voz igualmente masculina falou, dois homens – E a gente também é, "de confiança".
– Tsc! Até parece… – Ouviu um barulho de walkie-talkie ligando – Oi, tá me ouvindo? Ela ainda não acordou.
– Sério? Ainda… – Disse uma voz saindo do aparelho – Mas tá tudo bem, pode trazer ela pra cá.
– Entendido, câmbio-desligo – Mais um chiado, provavelmente indicando o desligamento do aparelho – Vem, me ajuda…
Mesmo o som não estando muito bom, Annie reconheceu a voz do walkie-talkie como o de uma mulher, provavelmente a pessoa ou uma das que estava no comando, a julgar que os homens obedeciam suas ordens. Sentiu eles a tirando da cama, passaram seus braços pelos ombros deles, formando uma espécie de apoio pra ela, apesar dos pés de Annie não tocarem o chão, provavelmente uma forma mais fácil de carregá-la.
Ela ainda não iria se revelar consciente, mas dependendo de sua opinião em como a conversa dos dois homens seguiam não iria demorar para que precisasse. A voz feminina do rádio parecia dar ordens (Parecia não, realmente dava), indicando ser algo parecido de comandante ou chefe do local, e se existia uma hierarquia ali, Annie não esperava estar em uma posição de muito respeito considerando os ultimos grupos de caçadores que ela encontrou.
– Soube o que houve com o outro? – Um deles comentou.
“Outro? Eren?” Annie pensou, agora era uma conversa de seu interesse.
– Não muito, só o que Moblit me disse, aparentemente foi só o clássico padrão da Hange.
– Hum, isso me faz ter pena do garoto – Ambos riram com aquilo.
Pena? Por que pena? Do jeito que foi falado apenas a ideia da tortura veio na mente da Leonhardt, diversas formas, se segurou para não chorar ao pensar em Eren sofrendo, tendo suas unhas arrancadas, ou até mesmo a mão inteira. Sofrendo de surras mais piores do que já enfrentaram em toda sua história como parceiros, a imagem do capô dos caminhões de Pittsburgh ainda estava nítida em sua mente, corpos humanos usados como decoração e aviso. Ela tinha que agir e tinha que ser logo.
– Acha que ela quer o que com eles?
– Sei lá, só vamo…O que? – Um deles sentiu um toque em seu ombro.
Quando se virou para checar, não encontrou nada, porém foi uma questão de segundos para os dedos da garota cravarem em seu rosto, fazendo-o gritar.
– Que merda!? – O outro mal teve tempo de terminar a frase e foi atingido com uma cabeçada da mesma.
Assim que Annie conseguiu tocar os pés no chão, ela usou o calcanhar para atingir a canela de um , fazendo-o ficar de joelhos, usou a mesma perna para acertar o estômago do outro logo em sequência e derrubar o primeiro de vez com o calcanhar atingindo o rosto dele. Para finalizar, chutou uma das pernas do último para derrubá-lo de cara no chão o desmaiando imediatamente.
Percebendo que o primeiro ainda estava consciente, ela se abaixou até a cabeça dele, a segurando pelos cabelos e a socando com força, criando um impacto duplo com a mão de Annie e o chão, finalizando o oponente.
Annie encarou sua mão, mais uma vez ensanguentada com sangue alheio, aquilo sempre a fazia lembrar do que ela era de verdade, uma guerreira. Ou pelo menos era isso que seu pai sempre implantou na mente dela durante aqueles intensivos treinamentos para “prepara-la”. Pelo menos disso não podia reclamar, até hoje, quase ninguém foi capaz de vencê-la em uma luta (Seu pai era a exceção).
Sua reflexão não durou muito, com o ferimento em seu estômago começando a doer outra vez, fazendo-a pressionar o local em busca de uma alívio da dor. “Foco Annie, foco!” Disse mentalmente para si mesma, agora que a merda já estava feita, ela precisava improvisar um pouco e continuar em seu objetivo principal, achar Eren.
Se dirigiu até os dois homens desmaiados, vendo duas armas de cano curto em suas cinturas, rapidamente pegando uma delas pensando na possibilidade daquilo vir a calhar. Wow, talvez ela estivesse mesmo começando a ficar igual ao Jaeger nesse quesito.
Caminhando pelo corredor reto e que virava para a direita, ela pensava se isso seria uma espécie de labirinto, por enquanto tinha apenas um caminho a seguir mas na primeira divisória que talvez acontecesse, ela já sabia que teria de começar a esperar por qualquer coisa, dobrando sua atenção. Seu machucado doía bastante enquanto caminhava, ela poderia aguentar a dor, mas claramente poderia ser um risco em combate.
O corredor em questão era iluminado por diversas lâmpadas nas paredes, mas a luz era somente o suficiente para conseguir ver o chão em que andava, algumas piscavam e faziam menção a apagar. Quando conseguiu perceber uma luz mais forte ao final do corredor, Annie engoliu seco, já se preparando metalmente para o que pudesse vir, começando a caminhar de forma mais lenta para que seus passos não fossem percebidos.
Conforme se aproximava cada vez mais, pode observar a luz surgindo de uma porta aberta, e ao se aproximar mais conseguiu distinguir uma silhueta feminina, de costas para Annie. Quando a loira estava a uma distância considerável, mas ainda próxima, conseguiu ouvir a tal mulher falando em um rádio como os outros dois homens, poderia ser aquela que estava falando com eles antes?
– Sei lá, eles ainda não apareceram – A mulher disse, não parecia ser a voz de alguém que tivesse mais de 20 anos.
– O que!? Ai, eu mato eles! – A voz da mulher anterior soou pelo aparelho, descartando a teoria anterior da garota – Esquece, tô indo pra ai, fica me esperando.
– Ok, mas vem logo eu tô com sono – Reclamou.
– Deixa comigo…MOBLIT, VAMOS!!! – Ela gritou antes de desligar.
A mulher suspirou, pensando em murmurar um palavrão, mas logo que abriu a boca, sentiu uma mão sobre ela, e algo tocar ao lado de sua cabeça, se tivesse que chutar, apostaria que era uma arma, não podia estar mais certa.
– Se você gritar… – Annie sussurrou – Eu atiro na sua cabeça.
Rapidamente sentiu o suor começar a descer por sua testa, mesmo sendo considerada um soldado e sabendo se defender, Hitch tremia perante a situações como essa onde estava sozinha com um inimigo, além de ter sido surpreendida. Fazia bem sentido agora que Gunther e Oluo ainda não tinham chegado, o problema era quando raciocinava mais e chegava a conclusão de que haviam sido mortos.
Ela tinha recebido ordens e informações bem claras, o grupo tinha conseguido capturar dois jovens que estavam extremamente amados, não sabiam se eram caçadores, mas não eram Vaga-Lumes, visto que não tinham o colar com a identificação, porém isso não os tornava menos perigosos. O garoto foi levado para o interrogatório e a garota, que tinha um ferimento de bala no estômago, foi ser “tratada”, onde iam apenas remendar seu machucado, Hitch teria que ficar de guarda, para garantir que esta não fugisse.
Um tempo depois disso, Hange lhe informou que Oluo e Gunther iriam ir até lá para pegar a garota e trazer até ela, porém como estavam demorando, ela mesma iria até lá. Bom, agora Hitch tinha a boca fechada pela mão da tal garota que devia ter acordado, fugido, se livrado dos dois homens e agora apontava uma arma para sua cabeça, onde se ela não colaborasse provavelmente iria ser a próxima.
– Ok, eu vou fazer umas perguntas e você vai me responder, e eu quero respostas claras, nada de joguinhos, entendeu? – A jovem concordou assustada, fazendo Annie a liberar para falar – Bom…primeiramente, onde estamos?
– É-é a usin-n-na elétrica – Disse gaguejando.
– Eu devia imaginar, não tinha como aqueles três nos levarem muito longe, eu acho… – Analisou – Certo, agora, cadê o Eren?
– Eu não sei de quem..ai! – Recebeu um golpe da loira.
– Eu disse sem gracinhas! Um garoto chegou aqui comigo, cadê ele!? – Perguntou já irritada.
– Eu juro que não…
– Hitch, cheguei! – Uma voz interrompeu o interrogatório da garota, fazendo Annie ficar em alerta quando lanternas surgiram em seu rosto – Puta merda!!!
Ao ter sua vista cegada pelos flashes, Annie conseguiu acertar a perna de Hitch, colocando-a de joelhos enquanto agarrava o pescoço a apontava a arma para as luzes, sem conseguir enxergar quantos tinham.
– Abaixa a arma e solta ela!!! – Uma voz masculina brandiu.
– Vem me obrigar, caralho! – Gritou de volta.
Apesar de não ser a melhor decisão a tomar, ela não estava com vontade de se render a um bando de malucos. Porém aconteceu algo que Annie nunca acreditaria que acontecesse, seus inimigos desligaram as luzes e abaixaram as armas, dando-a uma visão clara da mulher de óculos escondida atrás de dois homens, sendo que já conhecia muito bem um desses.
– Não acredito… – Bertholdt a olhou incrédulo – Annie?
Sim, o proprio Bertholdt Hoover estava na frente da Leonhardt, a confundindo mais ainda, porém isso ainda não era tudo.
– Minha nossa, Annie, você não mudou nada – Hange riu um pouco da própria fala.
– Doutora Hange? – Annie reconheceu a mulher, abaixando a arma – E Bertholdt? O que fazem aqui?
– Ah querida, relaxe – A mais velha sorriu gentilmente – Logo te explicaremos tudinho…
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– Tá, mas a história do caminhão é mentira né? – Armin questionou duvidoso.
– O que!? Não! Aquela porra de caminhão seguiu a gente até o cu da cidade, tô te falando eu que tive que destruir aquele caralho – Eren disparava os palavrões, visivelmente irritado ao lembrar daquilo – E não foi nem a coisa mais impressionante que falei pra vocês, eu mencionei que eu enfrentei um bando de infectados pra…
– "Conseguir o remédio!" – Eles completaram entediados.
– Acho bom, ainda bem que estavam prestando atenção – O garoto riu enquanto passava a mao nos cabelos – Tô até estranhando meu cabelo mais curto agora, valeu Mikasa.
– Não tem do que agradecer – Ela disse sorrindo – A Annie…ela não…
Eren arqueou uma sobrancelha, esperando qual era o questionamento de Mikasa sobre sua parceira dessa vez. Ele não contou sobre seu namoro, tanto por um certo receio de como seus amigos reagiriam, quanto por manter uma certa privacidade em relação ao seu relacionamento, sabia que Annie ainda não estava pronta pra sair falando abertamente sobre eles, algo que ele claramente respeitava.
Ainda assim, algumas reações que ele percebeu em Mikasa quando ele mencionava a garota indicavam uma certa antipatia. Claro, Mikasa sempre foi um pouco mais reclusa e desconfiada de pessoas que não fossem ele ou Armin, podia entender os motivos da mesma também, Annie muitas vezes era assim também, porém ainda era curioso ela só ter ficado assim com sua namorada, ignorando Ymir e Historia quando ele mencionou o encontro e parceria deles com ambas.
– Vocês não cortavam o cabelo? – Mikasa terminou a pergunta.
– Bom, eu não, e não me lembro de ter visto ela fazendo tal coisa – Respondeu.
– Acho que deviam ter se preocupado mais com isso, cabelos longos atrapalham em combates – Comentou ela.
– Há! Ouviu essa Armin? Me dando bronca pelo cabelo – Eren disse indignado.
– Se bem que ela tá certa, né? – Armin brincou.
– O que? Tão tirando com a minha cara? Só pode, o bom de ficar com a Annie é que ela não vem com essas – Nessa hora o Jaeger lembrou de algo – Puta merda! A Annie! Eu tenho que apresentar vocês pra ela!
Mais uma vez o rosto de Mikasa mudou para uma expressão de tédio, por outro lado Armin gostou bastante da ideia.
– Parece uma boa ideia, você fala muito bem dela – O loiro sorriu.
– Acredita em mim cara, ela é incrível mesmo – Afirmou ele – Assim, ela é meio fria de início, você precisa de um tempo pra conhecê-la.
– Ah, que nem a Mikasa – Apontou para a garota.
– Eu?
– É igualzinha a Mikasa – Eren e Armin riram – Eu acho elas muito parecidas sabe, acho que se dariam bem.
– Não disse que ela lutava bem? – Armin questionou.
– Lutar? Ela destroça – Mentindo ele não estava.
– Mais uma coisas em comum das duas.
– Não me acho parecida com ela – Mikasa respondeu aos dois – Acho que o sono tá afetando vocês.
– Uhum, vai nessa – O Jaeger disse irônico.
– Falando nisso, acho que deu a minha hora – A garota se levantou – Vou pro meu quarto.
– Ué, você não dorme aqui? – O moreno questionou.
– Não, homens e mulheres não ficam juntos – Explicou – Mas o quarto do Armin tá livre, você pode dormir aqui.
– Eu preciso de silêncio pra trabalhar, então acabei ficando sozinho – O loiro disse – Mas você não vai ser incomodo.
– Então tá resolvido – Ela cumprimentou Armin e foi até Eren – Boa noite, Eren
– Boa noite, Mikasa – Ambos se abraçaram antes de Mikasa ir – Até amanhã.
– Até amanhã – Ele saiu e fechou a porta do quarto.
Eren realmente tinha saudades.
– Aí – Armin o chamou, tocando seu ombro – É bom ter você de volta.
– Igualmente – Sorriu de volta para ele – Posso ficar com a beliche de cima.
– A vontade, mas antes… – Ele segurou o pulso do garoto, o impedindo de correr para a cama – Contou tudo que precisava me contar?
Não, ele não tinha contado. Além de não contar sobre seu namoro com Annie, também não contou sobre sua imunidade ao Cordyceps. Tanto ele quanto Annie tinham combinado a não contar a ninguém sobre isso, mesmo Armin sendo seu melhor amigo, ele ia pirar quando soubesse, apesar de confiar muito no loiro, não podia arriscar nem ele e muito menos Annie.
– Tudo mesmo – Mentiu.
– Beleza então – Armin o soltou – Pode deitar, eu apago a luz.
– Valeu cara – O moreno agradeceu.
Assim que subiu na beliche e deitou na cama, Eren sentiu que poderia viver sem se levantar dali. Céus, a quanto tempo não deitava em uma cama? Aquela cama nem devia ser tão confortável, mas para ele já estava confortável o suficiente pra ele se sentir no céu. Ao se cobrir com o lençol, ele não conseguiu resistir mais e pegou no sono em questão de instantes, realmente dormir no chão por tanto tempo o deixou mal acostumado.
– Boa noite, Eren – Ele recebeu um ronco em resposta, fazendo Armin rir – O bom e velho Eren…
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Em outro dos poucos dormitórios da gelada usina, a Leonhardt acordava praticamente junto com a nascer do sol, apesar que acordar era uma palavra um pouco errada, afinal mal tinha pegado no sono direito, tendo praticamente passado a noite em claro pensando sobre todas as questões que tinha agora,
Bertholdt estava vivo, os outros também estavam?
Se Doutora Hange estava ali, quer dizer que ela abandonou os Vaga-Lumes?
Será que ela estava em uma base dos Vaga-Lumes?
Eren estava bem?
Mesmo que tentasse chegar a uma resposta definitiva destas questões, parecia cada vez mais ficar paranóica com elas, a ponto de seu sono nunca chegar realmente com a ansiedade pelo dia de amanhã, onde a frase “...te explicaremos tudinho” dita por Hange, iria fazer sentido.
– Será que você não dorme nunca? – Uma voz surgiu, tirando-a de seus pensamentos.
Após o seu reencontro com Hange e Bertholdt na noite anterior, Annie foi designada a passar a noite no dormitório onde as mulheres ficavam, mas como as outras duas estavam de guarda naquela noite e Hange nunca dormia lá, ficaram somente ela e Hitch, a jovem que ela interrogou.
Podia sentir que a outra ainda estava com medo de si, afinal Hitch não parou de olhá-la por alguns minutos até se render ao sono mais tarde. Annie podia entender isso, não era a primeira a ficar daquele jeito e dependendo do que ocorresse, não seria a ultima, e também não é todo dia que se é interrogada com uma arma carregada e apontada para seu rosto por uma assassina de sangue frio.
Annie desejou que ela tivesse um pouquinho mais de medo para fazer menos barulho ao se trocar e não a acordasse com isso.
– Conseguem saber que horas são aqui? – Annie perguntou.
– Conseguimos, sabe os bips que você ouviu? – Apontou para um aparelho – Chama-se despertador.
– Eu sei o que é um despertador – Se sentou e espreguiçou, vendo o relógio marcar 06:01 – Me admira ele estar funcionando, acho que não foi você quem consertou, não parece ser nenhum gênio.
– Pera aí, por acaso você me chamou de burra? – Hitch fez uma expressão confusa.
– Não, só disse que você não parece ser nenhum gênio – Annie percebeu que estava usando as mesmas roupas, exceto pelo casaco que estava jogado perto de seu colchão – Você é?
– Eu posso muito bem ser – Percebeu um pouco da falta de sinceridade na resposta dela.
– Claro que pode…
A loira ficou de pé e levantou a camiseta para checar seu machucado, estava doendo bem menos esta manhã, porém sentiu uma pequena dorzinha ao tocá-lo. Aquilo a fez se lembrar do golpe que acertou na perna de Hitch durante a noite anterior, mesma sempre ficava preocupada em sem querer exagerar na força dos golpes durante treinos e quando não estava lutando contra inimigos, tinha certeza que não tinha aplicado tanta força para fazer um estrago muito grande que não fosse momentâneo, mas era melhor perguntar também.
– Como tá sua perna? – Olhou para o tornozelo dela.
– Dá pra andar – Tranquilizou ela.
– Certo então…
Annie escutou passos se aproximando do local que estavam e depois uma série de toques na porta, seguidos de uma voz aparentemente masculina mas não velha, sendo provavelmente algum garoto da mesma faixa etária que elas.
– Hitch! Sou eu! Abre rápido! – O desconhecido parecia desesperado
A garota deu um olhar a Hitch, erguendo a sobrancelha, como se questionasse quem estava na porta.
– Relaxa, eu conheço… – Ela confirmou – Calma, Marlo!!!
Viu ela caminhar até a porta, podendo perceber uma leve mancada durante os passos da perna que tinha sido atingida. A voz do garoto também fez a Leonhardt se lembrar outra vez do Jaeger, tinha que achá-lo logo e descobrir as respostas para suas perguntas.
Era tudo confuso, muito confuso.
– Hitch…rápido… – O tal Marlo disse entre respirações pesadas, não notando a outra garota lá dentro e aparentemente cansado de algum esforço físico.
– O que foi, idiota, pra que tudo isso? – Disse entediada.
– Precisamos de reforços, estamos sendo atacados!
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– Então tem a porra de um bando de caçadores atacando esse lugar – Eren disse carregando suas armas, recebendo uma confirmação de Armin – Merda…até aqui…
– O que? – O loiro questionou.
– Ah, eu te falei, tô lidando com esses fodidos desde a última cidade que eu tava – Lembrou – Podem não ser os mesmos, mas são praticamente a mesma coisa.
– Tomara que você atire igual você diz que atira – Armin zombou – Mikasa está mais na frente.
– Opa opa opa! Que belezinha é essa aqui? – Eren reparou em uma arma sobre a mesa.
– Ah, eu tava aperfeiçoando ela, mira acoplada e tudo – Explicou enquanto via o Jaeger pegar a arma.
– Lembra de quando eu era seu testador oficial pra essas coisas – Olhou animado pra ele – Que tal retomar a parceria?
– Bom, não vejo porque não – Sorriu – Mas agora temos que ir.
Ser acordado às pressas com a informação de que o lugar onde ele e seus amigos estavam era atacado nesse momento nunca foi a forma de levantar que Eren mais gostou, mas olhando pelo lado positivo, tinha suas coisas de volta. O soldado que veio os acordar tinha trazido sua mochila com a maioria de suas armas, então ele já estava praticamente pronto pra ação.
Armin estar tomando a sua frente era um pouco preocupante, o garoto loiro nunca foi bom em combates como ele e Mikasa eram, se ele permanecia o mesmo, então poderia acabar sendo surpreendido com algum inimigo, porém o outro desconhecia os caminhos da usina. Mas com base em sua experiência, seguindo os caminhos dos tiros, você chega na festa.
Quanto mais seguiam pelos corredores, mas ele ouvia os sons de balas voando e de pessoas gritando, era algo horrível que já tivesse se acostumado com isso. Eram algumas das desvantagens de crescer nesse mundo, mas como sempre diziam: “Olho por olho, dente por dente”.
– Espera! – Eren puxou o amigo antes que ele virasse em tal corredor para tal sala – O tiroteio tá ali, temos que chegar com tudo.
– Alguma sugestão? – Perguntou.
Aquilo fez Eren revirar sua mochila para encontrar uma espécie de saquinho. Sua bomba de fumaça.
– Já viu algo parecido? – Perguntou retórico, ascendendo o objeto e o jogando – Vai por mim que a resposta é não.
Então uma explosão foi ouvida, acompanhada de uma grande quantidade de algo que parecia uma espécie de pó que faria tossir quem o inalasse, tornando também impossível visualizar alguém que estivesse no meio dele. Era uma das coisas mais espantosas que Armin já havia visto.
– Temos que ir rápido, não dura tanto…
Eren entrou naquela fumaça seguido do parceiro, conseguindo identificar um lugar que poderia usar como proteção, segurou o pulso de Armin e o arrastou junto de si para se agachar atrás daquilo. Tapou a boca do loiro, sinalizando para ele ficar em silêncio enquanto a fumaça abaixava.
– Quem tá aí?
– Aparece!
O moreno via outros homens atrás de proteções, se escondendo da mesma forma que eles, não atiraram nele e muito menos fizeram menção, deviam ser amigos, um caçador não teria piedade deles. Por outro lado, se aqueles eram amigos, os donos das vozes que chamaram agora eram inimigos. Essa percepção fez ele sacar sua pistola, claro que nesse caso seria necessário um pouco da sua sanguinolência e brutalidade.
– Tô avisando, é melhor aparec… – Não foi nem capaz de terminar a frase, sendo interrompido pelo tiro vindo da arma do garoto.
Não dando sequer tempo de reação aos outros dois, Eren também atirou no que estava ao lado e no que estava mais atrás do que morreu. Ouviu o baixo som de uma arma sendo engatilhada, rapidamente voltando para trás de sua proteção e ouvindo um tiro colidir com ela. Pelo som que a arma do inimigo fez, parecia uma especie de sniper, ele já estava pegando ranço desses tipos de atiradores.
Se era mesmo isso, devia estar em uma posição elevada, esperando apenas o garoto expor sua cabeça para poder matá-lo, esta qual ele também não conseguia vizualizar. Se virou para os homens na outra proteção.
– Ei! Vocês! – Chamou baixinho – Tão vendo ele?
– Estamos – Confirmaram – Ele está na janela, lá em cima.
Apontaram discretamente.
– Tá beleza… – Pensou um pouco – Conseguem distrair ele? Vou tentar acertar…
Ambos confirmaram com a cabeça, antes de levantarem um pouco as armas e atirarem na tal janela onde estava o inimigo que quase de imediato, em resposta, tentou acertar os dois que voltaram a se abaixar. “Agora!” O moreno pensou, mirando sua pistola na tal janela. Muito longe, além de ter demorado demais para localizar o atirador, não dando tempo para o garoto atirar apenas uma vez e ainda errar o tiro antes de se esconder de novo.
– Porra – Xingou – O que Annie faria?
– O que? – Armin não havia entendido.
– Ela acertaria o tiro… – Arregalou os olhos como se uma iluminação viesse a sua mente – Já sei!
Abriu sua mochila e procurou pela tal arma aperfeiçoada do amigo, se estivesse certo, a mira acoplada lhe serviria bem. Já tinha uma noção de onde o caçador estava, só que a distância o atrapalhava um pouco, porém com a mira tinha certeza que podia aceitá-lo se estivesse distraído.
– Carrega ela, rápido – Entregou a arma ao amigo, se voltando para os outros dois aliados de novo – Vocês, façam de novo, dessa vez vou acertar.
Confirmaram com a cabeça assim que Armin lhe devolveu o objeto. Eren rapidamente se pôs em uma posição rápida para levantar e atirar assim que tivesse a chance, iria matar esse filho da puta com um tiro.
Ouviu os tiros das armas dos outros, e assim que ouviu o som mais alto do disparo do atirador, se levantou e mirou em sua cabeça, percebeu que ele tentou virar para onde Eren estava, infelizmente, o garoto já havia puxado o gatilho e acertado uma bala no pescoço do caçador, dando um fim a vida dele.
– Chupa essa, puto de merda – Sorriu ao se virar de volta para o loiro – Ai, tá descalibrada ainda, eu mirei pra atingir a testa e a bala caiu muito, foi no…porra…
Assim que se virou, ele viu o outro garoto ajoelhado ao lado de um dos homens, enquanto o outro estava sangrando no chão. Acertado por um tiro. Tinha que ajuda-lo, porém devia haver mais inimigos chegando, nesse estado aquele homem já necessitava de tratamento e certamente não poderia lutar.
Mais uma vez em sua mente se perguntou “O que a Annie faria?”. Fazia um tempo que ele começou a usar essa tática para as situações onde ele estava muito indeciso. Bom estava funcionando. Decidido já sobre o que devia fazer, pegou seu calibre 38 e a colocou no bolso, a fim de obter mais algumas balas para atirar, também levou consigo sua última bomba de pregos antes de caminhar até Armin.
– Calma, vamos te ajudar – Disse e sentiu a mão de Eren em seu ombro.
– Ai, toma minha mochila, tem coisas aí que vão ajudar – Entregou para ele – Vou indo…
– O que? Indo onde? – Perguntou assutado.
– Eles não vão ficar parados, se chegarem aqui, vai ser mais dificil lutar – Constatou caminhando – Vou matar eles, os filhos da puta não vão viver para nos matar.
– É suicidio, não pode ir – O homem tentou avisar mas foi inútil, Eren já havia corrido em direção as próximas salas.
Andando a passos largos, o garoto procurava por qualquer vestígio de som que não viesse dele, talvez não tenha sido a melhor ideia começar a procurar por inimigos sem Armin, o outro provavelmente saberia onde ir. Sozinho, o moreno ainda tinha medo de confundir algum aliado com um caçador, provavelmente também poderiam confundi-lo sem estar acompanhado por seu amigo.
Certo. Não era mais um bom plano. Talvez devesse voltar e…
O Jaeger parou de andar quando começou a ouvir passos diferentes dos seus, vindos da virada do corredor. Ok, agora não podia mais voltar. O som do andar ainda era baixo, provavelmente não estavam tão perto da curva quanto ela, o que lhe deu uma otima ideia nesse caso.
Caminhou lentamente até a curva, ainda encostado na parede para não se mostrar a eles. Conseguia ouvi-los se aproximando quando se agachou. Eren tirou a bomba de pregos do seu bolso, a ativando e preparando para que explodisse quando o inimigo chegasse, que pela quantidade de passos, ele suspeitava que fosse mais de um.
– Esperem! Acho que ouvi alguém – Uma voz masculina disse.
– Droga cara, sabia que não deveríamos invadir hoje – Foi o que outro homem falou – Estão mais preparados do que imaginamos.
Tendo certeza de que eram pelo menos dois caçadores e terminando sua armadilha, ele correu para longe da curva, garantindo que seus passos fizessem o barulho mais alto possível.
– Ouviu isso? Tá fugindo! – Ouviu um deles gritar enquanto começava a correr.
BOOM!!!
Foi o som alto que Eren ouviu assim que viu um dos caçadores explodir em pedaços, espalhando seu sangue por todo o chão junto com as cinzas da explosão.
– Que porra foi essa!? – Uma voz diferente porém igualmente masculina perguntou assustada.
“Então na verdade são três putinhas” Pensou sorridente.
– Ele explodiu cara! – Gritou – Tá morto!
– Mas como? Ele foi correr e…
– E morreu! Eu vi acontecer! – Interrompeu – Temos que sair daqui, ou somos os próximos!
– Bom, não dá pra voltar, só temos uma direção – Apontou para onde estavam os restos mortais do antigo colega.
– Ficou maluco? Quantas mais dessas será que tem? – O olhou incrédulo.
– Eu não sei, mas também não podemos voltar, talvez façam coisa pior conosco – Argumentou.
– Acho que está certo, vamos então…
O garoto voltou a escutar os passos dos homens, rapidamente passou a segurar o revólver, imaginando conseguir acertar a cabeça dos dois sem tanto esforço, porém quando olhou no chão ao seu redor e viu uma garrafa, teve uma ideia muito melhor.
Pegou o objeto e se aproximou lentamente novamente da curva do corredor, esperando os passos se aproximarem cada vez mais. Quando chegou o momento certo, ele jogou a garrafa contra a parede, desviando a atenção dos dois homens para o outro lado. Logo, em seguida em um movimento rápido, atirou no torso de um dos homens e o agarrou pelo pescoço, utilizando-o como escudo humano enquanto pressionava o cano da arma na lateral de seu crânio.
O outro caçador rapidamente levantou a arma, mirando em Eren.
– Solta… – Não houve nem tempo de terminar a frase, já havia levado um tiro do Jaeger e caído morto no chão.
– Não! Seu monst… – O outro logo foi calado com a bala do calibre 38 do mais novo atravessando seu cérebro e o matando, manchando o rosto do rapaz com o sangue alheio, que não disse nenhuma palavra e apenas largou o cadáver ali.
Após acabar o serviço, começou a caminhar tranquilamente enquanto assobiava uma melodia. A esse ponto da vida, matar era quase uma rotina pra ele, claro que não gostava, mas ao mesmo tempo sabia que era necessário para se manter vivo, isso às vezes o fazia se perguntar se tudo sempre foi assim.
Houve algum momento em que a humanidade não estivesse em qualquer tipo de guerra consigo mesma? Onde o mundo podia viver em paz, sem se preocupar em ter qualquer tragédia que resultasse em sua morte? Aparentemente, com os humanos, tudo era uma disputa por qualquer coisa. Talvez uma cura para o Cordyceps não seja algo tão ruim, considerando que algo assim poderia facilmente acarretar em outra disputa por poder ou coisa parecida.
É bom pensar num mundo sem infectados, mas só se você não pensa nos outros erros que a humanidade pode cometer, caçadores são a prova para ele que pessoas ruins existem e vão existir em todos os períodos da história, quem sabe, no fim, ele realmente só esteja se defendendo ao matar eles a sangue frio.
Chegando a uma porta, Eren segurou seu revólver antes de tocar a maçaneta, talvez pudessem estar o esperando em uma emboscada. Assim que abriu a porta e entrou em outro corredor ele levou um soco no queixo, foi quase instantâneo, não tendo nenhum tipo de reação vinda do garoto.
O soco desnorteou um pouco ele, fazendo-o cair no chão e soltar o revolver, assim que abriu os olhos, mesmo com a visão embaçada, pode ver sua arma ser chutada para longe. Seu agressor parecia enorme dali de baixo, ainda mais quando ele quase o pisoteou, onde Eren escapou rolando no chão e se colocando em pé.
Aparentemente seu inimigo era realmente enorme, considerando que era muito maior que Eren, mesmo em pé.
– Aí, pode vir pra cá! Achei um deles – o Loiro alto murmurou em um comunicador enquanto entrava em uma posição de luta.
– Ui, ui, ui! Precisa de ajudinha? Qual o problema? Medo de levar uma surra? – Eren zombou – Relaxa, você não é o primeiro que eu tô matando hoje
– Você por acaso já matou alguém? – Ergueu uma sobrancelha.
– Eu mato desde que eu tinha 6 anos, meu café da manhã é sangue – Devolveu – Hoje você tá no cardápio.
– Ah é? Pode vir então – Chamou o mais baixo convencido.
Eren não perdeu tempo em avançar pra cima dele, armando um cruzado de direita em direção ao rosto do adversário, que foi defendido sem muita dificuldade. Porém isso foi tudo que o garoto quis que acontecesse, esse era o truque do golpe, agora que ele tinha defendido de um lado, ele surpreenderia com outro soco na cara, dessa vez com a esquerda.
Nem um beija-flor poderia ser mais rápido que o punho de Eren atingindo a bochecha do mais alto. O que houve, foi que este não pareceu nem sentir o peso da mão do Jaeger, quase nem movendo sua cabeça, e mais tarde sorrindo, antes de devolver o soco com outro. O moreno até tentou se defender, mas com um golpe sua defesa já havia sido quebrada, o deixando exposto a receber outro soco do mais alto, dessa vez em seu estômago, fazendo-o perder o ar dos pulmões.
O garoto caiu de joelhos enquanto abraçava a barriga, tentando de toda a forma respirar melhor, o que outra vez não conseguiu já que foi derrubado no chão com um um chute em seu rosto. Agora tentava se arrastar no chão até a parede, procurando algum lugar para se apoiar e voltar a luta, o outro parecia nem se importar, estava ocupado rindo do mais baixo.
“Caralho…esse cara é feito de ferro?...” Eren se colocou de pé, angustiado com o fato de não ter conseguido fazer nada contra o cara, enquanto três golpes dele quase o mataram. Apesar de continuar determinado a lutar, parecia impossível vencer, ele era muito maior e mais forte.
Mas…isso era algo bom?
Encarando o grandalhão zombeteiro, Eren teve uma ótima ideia. Claramente não podia vencê-lo na força bruta, já que este era bem maior e resistente. Mas e se ele usasse a própria força dele contra ele? Annie lhe mostrou um golpe desse uma vez, poderia tentar agora.
– Olha, você ainda se aguenta em pé, impressionante – Disse ao parar com a sessão de risos – E então, vai encarar?
Entrou outra vez em posição de luta. O garoto limpou o sangue escorrendo de seu nariz enquanto pensava para si mesmo: “Você tá muito fudido”.
Rapidamente, o Jaeger tomou fôlego e avançou com voracidade até o inimigo, fingindo outra vez tentar acertar um soco no loiro, mas assim que viu ele fechar uma defesa, Eren trocou o golpe por um agarrão, segurando-o de uma forma que ele podia pressionar o ombro contra o rosto do adversário. Com o agarrão encaixado, colocou um de seus calcanhares atrás do dele, levantando-os para cima fazendo ele perder o apoio.
Assim se jogou no chão com o mais alto, agora apertando ainda mais o pescoço e o ombro contra a própria mandíbula dele. Percebeu as tentativas dele de se soltar, mas seus movimentos eram inúteis agora perante ao moreno. Logo percebeu o loiro perdendo as forças,deixando de lutar e desmaiando com a falta de ar que o Jaeger provocou.
Após isso, o garoto soltou o inimigo, se levantando e andando até seu revólver. Apesar de já ter desmaiado o otário, não podia sair se descuidando, poderia ter facilmente morrido naquela luta, bom que o cara era idiota, o suficiente pra ficar zoando ele em vez de mata-lo. Wow! Talvez isso fosse algum sinal para o Jaeger ser um pouco mais focado.
– Sinto muito por você cara, mas eu mato no café da manhã, e como eu disse…Você tá no cardápio – Disse sorrindo e carregando a arma.
Quando se voltou para ele, o viu ainda no chão, porém tossindo.
– Ah, você acordou? Tenho que admitir, você é duro na queda – Pressionou seu pé contra os pescoço dele, apontando a arma para sua cabeça – Te vejo no inferno…
Estava prestes a puxar o gatilho, porém parou assim que ouviu o som de outra arma sendo carregada.
– Parado – Disse uma voz masculina, fazendo Eren virar a cabeça para a direção cuja tinha um homem mirando em sua cabeça.
– Mais um? Droga… – Murmurou – Olha cara, vai por mim, acho que podemos resolver isso sem violência.
– Tá falando isso enquanto pisa no pescoço do meu amigo – Rebateu – Sem falar que tava prestes a dar um tiro nele.
– Ainda assim…
– Cala essa porra de boca e sai de perto dele! – Gritou andando um passo – Ou se não eu mato você!
– Ok, ok… – Eren levantou as mãos e andou para trás, se afastando do loiro.
“Caralho, como eu saio dessa?” Pensou enquanto via o que estava no chão se debater e tossir, respirando fundo e recuperando o ar.
– Você tá bem cara? – O novo adversario do Jaeger perguntou ao loiro.
– Tô…só tenho que respirar um pouco… – Respondeu tossindo.
– Certo então – Voltou a mirar no moreno – E quanto a você, vire de costas!
– Tá de sacanagem né? – Eren questionou.
– Anda logo, seu desgraçado – Continuou mirando no garoto.
– Tá bom, tá bom… – Obedeceu.
Nos últimos segundos que se virava, Eren pensava freneticamente em um plano para sair dali. Se corresse, morria. Se lutasse, morria. Estava literalmente a um passo da morte, tinha que ter alguma forma de escapar, qualquer uma!!!
Não dava pra morrer agora, por tudo que ele já passou, tudo que já fez, tudo que ainda iria fazer. Não podia simplesmente parar agora, tinha que achar os Vaga-Lumes, mesmo que aquela porra de vacina não fosse possivel, já chegou em um ponto que não fazia isso nem mais por ele, mas por Annie.
Precisava viver.
Viver por ela.
– Como você tava dizendo… – Ele ouviu – Te vejo no inferno!
O moreno fechou os olhos, esperando sentir a bala fria o matando. Porém nunca aconteceu.
– PARA!!!
Uma voz gritou, tomando a atenção dos dois homens que Eren estava lutando. Era uma voz feminina, uma qual eren conhecia bem, a mesma que vivia dizendo para ele parar de catar tudo que vê pelo caminho e que sempre perguntava se ele estava bem após os confrontos que lutavam juntos. Lentamente, ele abriu os olhos e se virou para vê-la.
Lá estava, parada em frente a entrada da porta para o corredor, Annie Leonhardt.
A garota respirava forte, parecia que correu desesperada até ali, tinha os olhos vidrados no parceiro, preocupada que quase havia sido morto se ela não tivesse chegado. Estava vestindo um casaco e ainda tinha o mesmo cabelo loiro com o penteado amarrado em um coque.
– Annie? – Um deles questionou – O que tá fazendo aqui? Você não tinha que estar com os outros?
– Não importa, abaixa a arma – Ela sinalizou para o mais alto.
– O que? Você conhece ele? – Perguntou apontando para o Jaeger.
– Já falei pra abaixar a arma, Bertholdt! – A fala dela soou realmente como uma ordem – Ele não é caçador!
– Mas…
– Foi um mal entendido, ele tá com a gente – Explicou a ele.
Após isso, Annie caminhou até o garoto. Não era brincadeira dizer que Eren estava se segurando para não chorar, o que estava sendo quase impossível para ele. Ela tinha sobrevivido, não só isso, como mais uma vez acabou de salvar sua pele. Porra, ele amava essa garota.
Ficando cara-a-cara um com um outro, Eren tomou a iniciativa sobre o que dizer:
– Oi…eu… – Ele tossiu um pouco, se engasgando com a própria saliva – ...Eu senti sua falta.
Ele não sabia o que dizer. Na verdade sabia, porém era como se as palavras desejadas simplesmente não saíssem da sua boca. Sem saber exatamente como agir, estendeu a mão para um cumprimento, apesar de sua vontade ser de abraçá-la e chorar horrores no ombro dela, sabia como Annie não gostava de toda essa melação, ainda mais em público, pra ele era totalmente compreensível. Iria fazer o favor de se aguentar por ela.
O que ele não esperava, era que em vez de apertar sua mão, ela avançasse direto para um abraço, passando os braços em volta do torso dele e o apertando forte. Foi dificil pra ela, Eren pelo menos tinha Armin e Mikasa pra distraí-lo um pouco das possibilidades ruins que poderiam ter acontecido com ele, mas Annie não, estava cercada de pessoas que não sabia se ainda confiava, dando-lhe cada vez mais medo de que o garoto podia estar sofrendo nas mãos deles
Passou a noite em claro, porque toda vez que pegava no sono por segundos, um pesadelo horrível onde Eren morria e ela era culpada aparecia. Pelo menos antes, tinha ele em questão para abraçá-la e lembrá-la que estava vivo e perfeitamente bem, mas quando não tinha ele, encarava tudo sozinha, todo aquele desespero acabou viu Bertholdt tirar ele da mira da arma, tendo finalmente a certeza de que ele estava bem.
Aí ela não se aguentou, um mísero aperto de mão não seria suficiente para ela.
– Eu também senti sua falta – Disse limpando algumas lágrimas com o próprio ombro.
Em algum momento, ele devolveu o abraço, mesmo que ainda sem reação, um pouco surpreso com a atitude. Mas pior que ele só estavam Reiner e Bertholdt, que tinham os queixos caídos ao ver Annie abraçando o sujeito.
Quando se afastaram, ela percebeu Eren ainda com a cara de paisagem, deu um sorrisinho com aquilo, às vezes era um pouco divertido fazer coisas que ele não espera dela só pra ver ele ficar com essa cara, que é a mesma que ele faz quando perde em algo que achava que era impossível perder.
Tinha que admitir, ele ficava muito fofo.
– Você tá bem? – Perguntou ela.
– Hm?...Ah…Desculpa, o que? – Sacudiu a cabeça, parecendo voltar a realidade.
– Parece surpreso – Respondeu.
– Foi mal…eu não tava esperando por essa – Riu um pouco.
– Tá tudo bem…
– Ai, desculpa atrapalhar, mas dá pra explicar o que tá rolando? – Reiner os chamou.
– Do que tá falando? Já se conhecem – Annie respondeu, se separando de vez do abraço.
Todos os três fizeram caras confusas. Não se lembrando de terem se encontrado até agora.
- Sério? Não se lembram? Bom, tanto faz, Reiner e Bertholdt, esse é o Eren, o meu… – Parou no meio da frase, quase falando namorado – Meu amigo…é o cara que me ajudou a chegar aqui.
– E aí… – Eren acenou enquanto sorria sem graça – Prazer em conhecer.
Por algum motivo, o moreno sentia que o resto dessa conversa seria extremamente longa.
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