— Finalmente, doutora. Eu já não aguentava mais ficar aqui. Esse branco está incomodando até os meus olhos. – Shizune riu, se tudo desse certo, não veria o homem por um bom tempo e assim esperava.
— Não sabia que você era dramático assim, Hatake. Mas enfim, você está recebendo a alta, mas precisa se cuidar nesse período que vai sair, okay? Tome banho de sol quando possível, se alimente bem e tome seus remédios na hora certa. Vamos precisar fortalecer sua resistência pra voltar com a radio.
— Sim, senhora. – Kakashi estava tão animado que finalmente sairia, que não se opôs a nada que a médica orientou.
Sakura que estava junto no momento, aproveitou para falar.
— Doutora, pode deixar que eu vou ficar de olho. Ele vai fazer tudo certinho sim. Vou ficar no pé dele.
— Ganhei uma babá agora é?
— Isso vai depender de você. – Shizune ria da interação dos dois.
Se não soubesse que não, diria que eram um casal. Viviam de cumplicidade e amizade, e podia ver nos olhos de ambos que existia algo mais dentro deles, mas que provavelmente devido a situação ficou guardado. Por isso, resolveu aconselhar.
— Aproveita pra viver, Hatake. Não se esqueça que a vida é uma só e que você já se dispôs a tentar a cura hein?
— Não esquecerei, doutora.
— Então tá ótimo. Sakura, pode vir comigo pra eu te dar algumas instruções?
— Claro.
Seguiu a médica saindo do quarto, dando espaço para o homem se trocar. Sabia que ele ainda estava fraco mas não deixaria que ela o ajudasse a se trocar, não logo agora. As mulheres pararam no balcão da recepção pra médica deixar o documento da alta e aproveitar para dar seu parecer a Haruno.
— Sakura, eu quis falar com você em particular por dois motivos: primeiro: mesmo que esteja recebendo a alta, a condição do Kakashi ainda é séria. Ele vai precisar de muitos cuidados, principalmente na alimentação. Segundo: não sei exatamente o que há entre vocês, ou até mesmo se existe algo, mas talvez isso dê ainda mais força pra que ele consiga se curar. Estou falando isso porque vejo em seus olhos que também gosta dele.
— Ta-também?
— Sim, Sakura. Isso é até meio óbvio. Procuro realmente não me meter na vida particular dos pacientes, mas o Kakashi parece que ganhou um fôlego a mais depois que você passou a ficar aqui junto com aquele loiro. – ainda incrédula, a Haruno começou a repassar algumas coisas na mente.
O jeito que ele a olhava, como falava com ela. Como riam juntos. Nem mesmo as barreiras que havia levantado em seu coração depois da morte do Uchiha estavam resistindo à aquele sentimento. Se sentia tão bem na presença dele, que não estava mais conseguindo ignorar isso.
— Enfim, eu só queria dizer isso mesmo e deixar com você uma lista de alimentos recomendados para ele comer nesse período em casa. – repassou a folha com as informações para rosada e continuou. — Ele precisa fazer ao menos cinco refeições no dia, ou seu corpo não vai aguentar. Qualquer dúvida, é só me ligar ou passar por aqui.
— Obrigada, doutora Shizune. Eu cuidarei dele, prometo.
— Eu sei que sim. Cuide de você também. Tchau.
E acenando para Sakura, a médica saiu para visitar outros pacientes. Ser médica oncologista era um trabalho muito difícil, mas era gratificante poder acompanhar algumas recuperações. Queria que fossem todas, mas infelizmente a vida não é assim. Só poderia torcer para que Kakashi fosse uma delas.
***
— Então, senhorita Terumi, o que pode dizer sobre seu antigo relacionamento com o jornalista Kakashi Hatake? Porque chegou ao fim? – o âncora, Aoba Yamashiro, do Talk Show "Letter, Michigan"* lhe perguntou.
Mei estava em uma entrevista para divulgar uma peça de teatro que iria estrelar e usou o nome do ex para conseguir uma vaga no programa. Porém Aoba era o chefe do Hatake na época e ele iria o promover para âncora, até que tudo aconteceu. Sabia bem o profissional que tinha e também o caráter do funcionário.
Apesar de não estar esperando por essa pergunta, ela se esforçou para sair bem na resposta.
— Bom, depois de quatro anos de relacionamento, eu descobri algumas coisas que não condizem com os meus valores. – o homem escutava tudo em silêncio, ansioso para o que ela iria responder. — Acontece que o Kakashi tinha outras prioridades e parece, inclusive, que estava me traindo.
Como a boa atriz que era, secou as lágrimas inexistentes de seus olhos. Coisa que não passou despercebida pelo homem.
O atual namorado dela, Suigetsu, era conhecido do homem também. O próprio já havia dito várias vezes em conversas informais com alguns colegas que a ruiva estava atrás dele, antes mesmo de terminar o namoro com o ex. E tudo isso havia chego ao ouvido do âncora, antes diretor de edição.
— Ele te enganou, é isso que você quer dizer?
— Basicamente, sim. – toda a conversa estava sendo gravada para ir ao ar, provavelmente dentro de alguns dias, também tinha a ver com a segurança das informações passadas. — Eu achei que conhecia o homem com quem vivi por quatro anos, mas a verdade sempre surpreende a gente não é?
Aoba então perdeu a paciência e começou a rir. Ela realmente não estava esperando por isso. Achou apenas que faria uma simples divulgação de trabalho, não esperava por nada disso. Ela poderia ter conseguido, caso não tivesse mentido sobre o ex e sobre a indicação da vaga. Mas ele não a deixaria se dar bem dessa forma.
— Eu estou realmente chocado com a sua cara de pau, Mei. – a mulher arregalou os olhos e engoliu em seco. "O que está acontecendo?" Pensou. — Eu trabalhei com o Kakashi, Terumi. Eu sei que nada disso é verdade. E o fato que mais me irrita é: porque você está difamando ele?
— Mas eu não estou...
— Está sim. Você não deveria ter usado o nome dele pra conseguir essa entrevista, muito menos mentir sobre a integridade dele. Eu sei que o que você disse não confere. Me desculpe, mas pessoas como você me enojam. Está dispensada.
Com muita revolta e sentindo-se humilhada, ela foi embora. Estava irritada em um grau alto naquele momento. Precisava pensar em uma forma de se livrar do problema e rezar para que essa entrevista não fosse ao ar ou sua carreira estaria arruinada. E não só a carreira, como o relacionamento com o Hozuki e as relações no meio profissional também.
***
Alguns dias depois da alta, Sakura ainda cumpria o que havia prometido a Shizune. Estava cuidando de Kakashi o máximo possível. Óbvio que não tinha como monitorá-lo vinte e quatro horas por dia e nem faria isso de qualquer forma. O homem era um adulto de trinta e seis anos, precisava se cuidar sozinho e ter em mente o que era necessário para sua total recuperação. Ela poderia ajudar, mas também precisava que ele fizesse sua parte.
Por isso, quando não podia ou não conseguia ir até a casa dele, ligava para conferir se ele havia se alimentado e tomado os remédios. Ou até mesmo para verificar se ele precisava ou queria algo. A cumplicidade entre eles era algo lindo de se ver. Naruto ainda estava organizando um lugar pra ficar próximo a Kakashi. Ia ficar na casa do amigo como ele mesmo havia sugerido, mas o loiro sabia que mais cedo ou mais tarde o casal iria se revelar e de forma nenhuma ele queria atrapalhar a privacidade deles. Bastava só esperar que ambos cabeças duras vissem isso.
Hoje era um dia que Sakura iria para a casa do prateado. Ele havia decidido cortar o cabelo bem baixinho, já que ainda estava caindo. Sabia que a possibilidade de melhora de agora pra frente era mais alta devido a seu ânimo, mas não aguentava mais usar touca pra esconder os caminhos de rato que tinha na cabeça. Por isso pediu a ela que o ajudasse nesse processo.
Olhando suas fotos antigas, via seu cabelo sempre com mudanças de corte, mas nunca pensou em raspar eles. Pensou em como deveria ser para uma mulher ter que passar por esse processo, raspar todos os cabelos por conta de quimioterapia, o quanto isso afetaria sua autoestima. Sentiu muito por todas e por si mesmo. Não conseguiria cortar se não fosse o apoio da Haruno.
Ouviu a campainha tocar e já sabia que era ela. Levantou-se para atender a recebendo com um sorriso e dando espaço para ela entrar, fechando a porta atrás de si em seguida. Sakura estava linda: seus cabelos estavam presos em um coque folgado, a regata era rosa de alças finas e a calça jeans de cor clara pareciam ter sido feitos para ela.
— Oi rabugento.
— Oi marrenta. Como foi seu dia? – não podia evitar namorar o sorriso dela sempre que podia.
— Foi tranquilo hoje, minha tia contratou mais uma atendente, então automaticamente estou trabalhando menos.
— Isso é ótimo, não?
— É. Só que estar desocupada deixa muito tempo de sobra pra pensar e bem, às vezes isso não é muito bom. Tento me distrair conversando com Gaara, que graças aos céus parou de tentar me levar pra sair. – aquele gosto amargo de ciúme passava pela garganta do Hatake nesse instante. Felizmente era bom em disfarçar, mas também o que cobraria? A Haruno era sua amiga e não tinha culpa dele estar se apaixonando por ela. — Mas enfim, você realmente vai querer fazer isso? Eu nunca cortei o cabelo de ninguém.
— O que pior pode acontecer? Minha cabeça já tem vários buracos com falta de cabelo. Acredito que não tem como você estragar. – os dois riram. Ele realmente tinha um ponto.
— Pensando por esse lado...
Kakashi foi até seu banheiro e pegou a maquininha de cabelo. Havia pedido para Naruto comprar pra ele. Não pensou em nenhum momento pedir pro amigo o ajudar nisso e já sabia o que isso queria dizer, mas jamais verbalizaria. Quem sabe em outro momento?
Deixou as coisas na mão dela e sentou-se em um banquinho para que ela pudesse começar. Estava nervoso. Cortar o cabelo nunca tinha sido um problema pra ele, mas normalmente ele tirava um ou dois dedos de comprimento, nunca havia raspado. Mesmo que ainda fosse ficar um pouco de cabelo, nunca usou tão baixo como ia agora. E era isso que o deixava desconfortável. Não tinha a ver com beleza, e sim com a situação.
Decidiu que não deixaria isso transparecer, mas a rosada sentiu sua tensão de longe e mais ainda quando ela ligou a máquina e o zunido ecoou pelo cômodo.
— Respira, sim? Eu vou começar. – apertou seu ombro com a mão disponível tentando com esse gesto lhe acalmar, lhe passar força.
Ele colocou a mão por cima da dela, autorizando que ela continuasse, mas não retirou a dele. O contato com ela era reconfortante, poderia acalmar até a última célula do seu corpo enquanto mantivesse o contato. E isso era assustador para ambos, porque ela se sentia exatamente da mesma forma.
Tentando se concentrar no corte de cabelo, Sakura movimentou a máquina pelos cabelos claríssimos do homem. Olhando muito de perto agora podia ver que eles eram realmente acinzentados, mas de um tom quase esbranquiçado. Combinava perfeitamente com ele e seus olhos negros que lhe despiam a alma.
Kakashi via os cabelos caírem ralos e poucos no chão. Era triste. Mas não ia perder a esperança justo agora, tinha um motivo a mais para lutar pela cura – mesmo que ela não fizesse ideia disso. Prometeu a si mesmo que quando estivesse bem, lhe contaria tudo que carregava dentro de si.
Já a mulher repassava as palavras que a médica havia dito. Será que deveria dar esse passo? Será que estava pronta? Provavelmente não. O que houve com o que havia dito a Gaara? Porque ele não e Kakashi sim? "Mistérios da vida", sua mãe diria. O fato é que não foi escolha dela se apaixonar por ele, nem queria isso, até tentou fugir mas já era tarde demais. Agora ela deveria tentar ao menos saber se era recíproco.
E como era!
O medo de expor os sentimentos era algo conhecido pelos dois, especialmente pelos traumas e medos já vividos por parceiros anteriores. A mente dele tentava deixar claro que ela não era Mei; a dela pensava que a vida era uma só e o amor não escolhe quando vai se fazer presente. O que lhe restava era acreditar e torcer pela melhora do homem. Sabia que Sasuke aprovaria isso.
— Terminei. Olha no espelho se está do jeito que você queria. Qualquer coisa, eu corto mais. Mas acredito que já está bem baixo.
Indo até o banheiro, o Hatake analisou os cabelos. Não se sentia bonito, mas precisava admitir que agora estava mais difícil ver as falhas pela queda dos cabelos. E isso bastaria.
— Está ótimo, marrenta. Muito obrigado por fazer isso comigo.
Sem que pudesse se conter, Sakura o abraçou. Mesmo pego de surpresa – de novo – Kakashi agradeceu internamente por isso. Sentiu saudade desse abraço e do calor dele. Do cheiro que rosada emanava, dos cabelos dela roçando em seu peito. Ela cabia perfeitamente em seu abraço, e era lá que ela deveria ficar.
Provavelmente ela nunca entenderia isso, mas parecia tão certo abraçar ele, tão jeito de casa. Se sentia confortável e adorava ouvir os batimentos acelerados dele quando ela se aproximava assim. Isso fazia sentido a ela também, que se sentia do mesmo jeito com ele.
— Não precisa agradecer. Você ficou ótimo assim.
— Deixa de mentir, Sakura. Não estou ótimo, mas está menos feio, devo admitir. – a mulher separou-se do abraço para poder falar olhando em seus olhos.
— Kakashi, entenda uma coisa: você é lindo. Seu corte de cabelo não vai mudar isso. Eu não preciso mentir pra você, tenho plena certeza de que você prefere a verdade. Estou certa? – com a confirmação dele, ela continuou. — Então acredite quando eu digo que você está ótimo. Vou sentir falta de enroscar os dedos neles? Sim. Mas eles vão crescer de novo, tenha calma. E seja menos duro com você mesmo, o que você está passando não é fácil, mas você está indo bem.
— Desculpe, é que eu nunca tinha feito isso. Tenho a tendência a achar que tudo em mim está feio ou errado, como te disse antes. É difícil pra eu ver que isso diz mais sobre o outro do que sobre mim.
— Eu não sou a Mei, Kakashi. Eu te acho incrível do jeito que você é. Provavelmente nem deveria estar dizendo isso, mas... Não consigo evitar. – aproximou-se dele, sentindo o coração retumbar dentro do peito. Estava ansiosa e com medo também. — Sei que nos conhecemos a pouco tempo, corremos muitos riscos ainda mas eu preciso desabafar ou vou sufocar com tudo isso dentro de mim.
Inconscientemente, ele também se aproximou dela. Acabou fazendo o que a muito desejava: tocá-la. Mas não em um abraço ou coisa parecida. Queria tocá-la como homem, deixar claro pra ela que estava sim a admirando. Por isso o toque foi primeiro em seu rosto. A Haruno fechou os olhos para absorver o toque. Os dedos gelados dele sentiram a pele quente dela o aquecendo. O sorriso que despontou em seu rosto era o mais belo adorno que ele já tinha visto em toda sua vida. Mas especialmente quando ela abriu os olhos, ele se perdeu na imensidão verde que eles espelhavam.
— Eu sei que você não é a Mei. Não poderia, não sendo perfeita assim.
— Eu tentei sufocar isso, eu juro que sim. Mas não dá mais, eu preciso falar. E eu sei que temos ainda muito pela frente, principalmente desafios, mas... – respirou fundo antes de dizer. — Eu estou apaixonada por você, Kakashi.
Como a muito não sentia, o coração dele se aqueceu como uma supernova. Incandescendo e queimando seu peito, tamanha felicidade que estava sentindo. Seu sorriso foi largo e brilhante pra ela. Como não ser? Ele estava sendo retribuído antes mesmo de dar.
— Eu também tentei o mesmo, Sakura. Eu não achava que havia como me envolver com alguém na situação que estou, mas eu não consegui fugir de você. E olha que eu tentei. Eu também estou apaixonado por você.
A Haruno o admirava ainda mais. Seu sorriso era brilhante com dentes perfeitamente alinhados, tirando os caninos sobressalentes. A pintinha no queixo era um golpe de misericórdia, que deixava ele ainda mais perfeito.
— O que fazemos agora?
— Acho que agora vou te beijar.
— Você deve.
Sutilmente, os lábios se aproximavam. Primeiro um selinho, depois a pressão dele pedindo passagem para a língua. Era um beijo calmo, que procurava conhecer o outro, sorvendo a textura e o sabor de cada um. As mãos também eram calmas: as dele estavam segurando o rosto dela, enquanto ela abraçava o corpo dele com delicadeza. Exatamente como o momento pedia.
Sakura não se lembrava quando foi a última vez que se sentiu assim, mas estava feliz por finalmente ter dito o que sentia. Nunca foi de ter medo do amor, mas estava bem o evitando nos últimos anos. Será que agora seria seu momento de se entregar de novo? E Kakashi, conseguiria superar todas as barreiras pra ficar com ela?
O beijo foi finalizado com um selinho e pelo sorriso trocados por ambos seria sim para todas as respostas.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.