- Narração do Autor -
O dia passou de certo modo bem rápido, Manigold recebeu uma troca de roupas novas, se vestiu para o tal jantar e Albafica ficou pensando no que Manigold havia dito. Será que estava invertendo as coisas ? Seria possível que talvez, por um pouco que fosse, gostasse de Minos ? Se perguntou isso durante a tarde, depois de comer e voltar para seu quarto.
Estava com pensamentos confusos, analisou todos os seus passos desde que havia acordado ali, todas as discussões com Minos, todos os sentimentos confusos que tinha, todos os momentos tensos entre os dois e os momentos... Os momentos em que se tocavam. Os beijos, os gemidos de prazer pelos toques um do outro e até o bom convívio que tiveram durante um tempo. Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu uma batida na porta :
- Entre !- Pediu, sentado no chão ao lado da cama.
Uma serviçal entrou no quarto com uma muda de roupas em mãos, colocando sob a cama e saindo em seguida. Albafica concluiu que aquela deveria ser a roupa que usaria para o jantar, foi quando se levantou para ver o que seria. Engoliu em seco, sentiu uma pontada na têmpora e pegando a roupa em mãos ele se dirigiu a passos pesados e rápidos até o escritório de Minos, empurrando a porta com força :
- Que porra é essa ?! Não vai me fazer usar isso nem em um milhão de anos !-.
- Não gostou da cor ?- Minos perguntou com ar de riso, conforme escrevia algo em um livro.
- É um vestido. Um vestido !- Estendeu o vestido vermelho-vinho com detalhes de laços pretos sobre seu corpo - Não vou usar isso, é ridículo !-.
- Tenho absoluta certeza de que vai lhe servir bem, combina com sua pele.- Minos fechou o livro e se aproximou de Albafica, pegou o vestido em mãos e admirou alguns instantes - Apesar de que talvez, azul-marinho fosse lhe vestir melhor.-.
- Minos ?! Por favor, tudo bem querer me humilhar mas, usar um vestido já me parece demais !-.
- Você tem um rosto angelical, com um pouco de maquiagem você vai parecer outra pessoa.- Entregou o vestido.- Vista o vestido e me mostre como ficou, se fizer direito eu deixo você usar o que quiser no jantar.-.
- O que me garante que vai cumprir com sua palavra ?-.
- Nada garante. É isso. Agora vá se trocar e volte para que eu veja, ainda temos uma hora até o jantar.-.
- Porque isso agora ? O que tem esse tal jantar, afinal ?-.
- Aiacos, Pandora e Radamanthys, meus amigos, virão jantar conosco para conversar alguns assuntos e você, como meu amante, será minha companhia.-.
- Vai me exibir como um troféu, é isso ?-.
- Talvez.- Riu.
Albafica saiu do quarto com o vestido em mãos, pensou um pouco e foi se trocar em seu quarto. Uma serviçal o encontrou no corredor e o barrou, pedindo para que ele a acompanhasse, curioso, ele a seguiu até uma sala onde outras duas serviçais esperavam com alguns utensílios em mãos. Ele se sentou conforme uma o pediu e elas prosseguiram a maquiá-lo. Estava irritado, mas aquilo com toda certeza tinha sido pedido por Minos e ele não descontaria o mau-humor nelas por seguirem uma ordem.
Quando elas terminaram, se surpreendeu em como ficava bem vestido como uma mulher, mas não estava satisfeito com aquilo então voltou ao escritório de Minos, vestido propriamente, torceu para que o mesmo não aceitasse a ideia. Mas para Minos, ver Albafica vestido como uma devida dama, foi o suficiente para lhe tirar as palavras. Albafica, esperando uma reação, perguntou :
- Vê ? Estou ridículo.-.
- Você está belíssimo.- As feições de Minos mudaram, estava encantado com a beleza hemafrodita do homem. Se aproximou e disse - Você tem a beleza de uma mulher, veja, não há como comparar.- Segurou as mãos de Albafica - Acho que vou passar a chamá-lo de Afrodite.- Sorriu leve, sem querer zombar do homem.
- Minos, por favor.- Pediu constrangido.
- Consigo ver que está desconfortável, mas, que tal isso ?- Soltou as mãos de Albafica e começou a andar pelo lugar como a pensar em algo - Já sei ! Veja, devido seu comportamento de hoje mais cedo, eu proponho uma troca.-.
- Que tipo de troca ?-.
- Apresente-se assim no jantar e como recompensa, te dispenso de ter que obedecer minhas ordens por uma semana. Não vai precisar fazer nada e não terá que dormir comigo em meu quarto. O que acha ?-.
- Sem truques ?-.
- Sem truques.- Respondeu com um meio sorriso, parado na mesa.
- Quanto tempo vai levar esse jantar ?-.
- Não muito.-.
- Aceito.- Antes de sair, anunciou - Não tenho nada contra usar vestidos, só me sinto desconfortável com tecidos prendendo meus movimentos. Já experimentou usar um espartilho ?- E saiu, isso fez Minos soltar uma risadinha.
No caminho de volta para o quarto, passou pelo quarto de Manigold que já havia se trocado e estava lendo um livro que encontrou mais cedo. Bateu na porta :
- Entre, está aberto !-.
- Manigold, preciso falar com você.- Entrou no quarto, o amigo não tinha levantado os olhos para encarar o loiro, então se assustou quando encontrou uma "moça" o encarando.
- Hey ! Nossa, eu não sabia que tinha mulheres nesse templo.- Se levantou fazendo charme - Qual o seu nome, gracinha ?-.
- Um soco.- Respondeu com cara de poucos amigos.
-"Um soco"?- Perguntou confuso.
- É exatamente o que vai levar se me chamar de "gracinha" novamente.- Colocou as mãos na cintura.
Levou um tempo até Manigold processar a informação, então quando fez, corou tanto que não teve o que dizer. Ficou de queixo caído :
- Albafica ?!-.
- Quem mais esperava que fosse ?- Sentou na cama.
- Você... Você está... Você está.- Apontou para o amigo sem ter muito o que dizer.
- Irreconhecível ?-.
- Diferente.-.
- Eu sei, é apenas para esse jantar, Minos me pediu. O lado bom, não terei que fazer as vontades dele por uma semana.-.
- Esse cara tem gostos estranhos.- Manigold pensou um pouco - A começar que você ficaria melhor em um vestido azul-marinho, vermelho te deixa carregad--- Foi interrompido.
- Não começa.- Corou, de mau-humor.
- Tudo bem, tudo bem...- Sentou perto do amigo - Como se sente estando vestido desse jeito ?-.
- Usar espartilho é uma droga.-.
- Posso imaginar.-.
O assunto morreu ali, ficaram apenas em silêncio até que um tempo depois uma serviçal avisou que Minos os convocava e seguiram juntos. Minos estendeu o braço a Albafica, sob o mau-olhado de Manigold que ainda estava desconfiado do espectro. Minos disse :
- Você está incrível, Albafica.-.
- Obrigado, eu acho.-.
- Sorria um pouco, lembre-se que ainda estamos no contrato.-.
- Sim, Minos.- Forçou um leve sorriso, parecia de fato uma dama ao lado de Minos, devidamente vestido.
- Na frente de meus convidados, refira-se a mim como "Mestre Minos".-.
- Sim, Mestre Minos.- Concordou sem reclamar.
Adentraram o salão principal e lá estavam Pandora, Radamanthys e Aiacos esperando a chegada de Minos. Os três ficaram de pé para recebê-lo acompanhado dos dois cavaleiros de Athena, o que já esperavam, mas não esperavam que Albafica estaria vestido como uma mulher, uma bela mulher, para ser sincero. Pandora, uma linda moça de longos cabelos pretos e um vestido preto que acentuava suas curvas e grande decote, se aproximou acompanhada de Radamanthys :
- Senhor Minos, é uma honra ser recebida aqui em seu templo. Há um longo tempo não o vejo, como tem estado ?-.
- Minha caríssima Pandora ! Bela como sempre. Tenho tido alguns problemas, mas isso discutimos outra hora.- Olhou de relance para Albafica visivelmente ainda desconfortável.
- Vejo que adquiriu companhia.- Radamanthys olhou para Albafica de cima a baixo, com certo repúdio.
- Tanto quanto você.- Minos respondeu incomodado com a forma que Radamanthys olhou para Albafica.- Vamos, vamos seguir ao que interessa.-.
Então seguiram para a sala de jantar onde as comidas haviam sido recém postas e se sentaram próximos uns aos outros. Radamanthys, Pandora e Aiacos do lado esquerdo, Minos de frente para Radamanthys do lado direito, assim como Albafica de frente para Pandora e Manigold para Aiacos. Conforme os espectros conversavam, Albafica notou o olhar de repúdio de Radamanthys sob si, não comentou nada, apenas bebia o vinho de sua taça. Logo entraram em um assunto referente á Guerra :
- Portanto, haveremos de ganhar a próxima guerra. Com toda certeza, nosso Deus Hades haverá de voltar mais forte.- Comentou Pandora.
- Enquanto Athena estiver protegendo a Terra, Hades nunca terá chance.- Manigold comentou. Albafica deu um leve chute na perna dele.
- E você, verme, é o intrometido que ousou desafiar os deuses gêmeos. Qual o seu nome mesmo ?- Ela perguntou.
- Manigold de Câncer, a seu dispor, gracinha.- Sorriu desafiador, Radamanthys interviu.
- Cale sua maldita boca, vermezinho maldito !-.
- Porque não vem me calar ?- Se levantou desafiando - Derrotei os deuses gêmeos e farei novamente se for preciso !-.
- Manigold, por favor, pare.- Albafica segurou a mão do amigo.
- Siga o concelho de seu companheiro e cale a boca, tudo o que você teve foi sorte.- Pandora completou.
- Bem mais do que o Thanatos, acredito.- Riu.
- Manigold...- Albafica chamou baixo.
- Pelo visto, você ainda não treinou seus bichinhos, não é mesmo, Minos ?- Aiacos provocou.
- Cale-se Aiacos, quando eu precisar de sua opinião, deixarei bem claro.- Disse tomando o vinho.
- Vejam só... Passar tempo com os animais de Athena estão te tornando alguém diferente, até pouco mais de um mês atrás você teria concordado comigo.-.
- Aiacos, deixe Minos em paz, logo ele haverá de dar um jeito nesses dois... Animais.-.
- Minos, até quando vai mantê-los ?- Pandora começou - Não vejo ganho em ter os lixos de Athena em seu templo, isso acaba com a aparência do lugar.-.
- Não tanto quanto sua atitude.- Manigold resmungou enquanto bebia.
- Já chega ! Ouse respondê-la mais uma vez e me certifico de arrebentar sua cara !- Radamanthys levantou batendo na mesa.
- Vamos lá ! Derrotei um semideus, um reles juiz não me é nada !- Manigold quase latiu em ódio.
- Manigold, já pedi para parar !- Albafica ficou de pé e segurou o braço do amigo - Você não tem mais o seu cosmo.- Sussurrou.
- Isso, esse outro verme tem razão dessa vez, ouça o que ele diz.- Aiacos completou - Minos, sua nova meretriz tem bons modos, está disposto a me emprestar ?- Todos, com exceção de Minos, Manigold que rangeu os dentes e Albafica que se sentiu um lixo, começaram a rir.
Albafica abaixou a cabeça e se sentou, Manigold olhou para seu amigo que estava prestes a se enterrar vivo e então para Minos que nada dizia e abandonou a mesa de jantar a passos pesados e com seu sangue borbulhando em ódio. Minos compreendeu a raiva de Manigold mas nada disse, então olhou Albafica e sentiu um aperto no peito quando sentiu a tristeza do loiro. Os outros três continuaram rindo da situação, Minos estava com raiva mas não queria colocar nada em risco, pouco menos sua reputação em jogo por causa de cavaleiros de Athena. Albafica, preocupado com seu amigo e querendo sair para procurá-lo, levantou-se e se ajoelhou para Minos, pegando a mão dele e pedindo :
- Mestre Minos, peço por obséquio que permita minha retirada.- Deixou então um beijo casto sob a mão dele.
Todos estavam esperando uma reação de Minos, então ele fez o que todos queriam que ele fizesse. Minos soltou sua mão e acertou um tapa forte no rosto do pisciano que não esperava por aquilo. Todos se assustaram, mas permaneceram quietos conforme Minos se levantou e derramou vinho da taça sob a cabeça de Albafica que teve seu lábio inferior cortado com o tapa :
- Saia da minha frente, verme.-.
Albafica levantou tranquilamente, de cabeça baixa e lábio sangrando, fez uma reverência e saiu sem pressa da sala. Quando passou pelo corredor, correu até seu quarto com urgência, tropeçou no vestido e caiu no corredor, isso chamou a atenção de Manigold que saiu nos corredores :
- Albafica !- Chamou e correu para levantá-lo.
- Saia da minha frente, me deixe em paz !- Empurrou Manigold que só então percebeu o sangue no rosto do loiro - Isso é tudo culpa sua. Quando alguém te mandar ficar quieto, você fica !- Levantou e correu continuando seu caminho até o quarto, onde se trancou e começou a tirar o vestido o rasgando.
Tecidos para todos os lados, não havia mais um vestido ali, ele se odiava tanto que quando já não tinha o que destruir ali, seguiu para destruir o quarto. Gritava sendo abafado pelos tecidos grossos dos lençóis da cama, chorando, chutou a cômoda, desforrou toda a cama, quebrou os quadros das paredes, pegou um objeto com ponta e seguiu para o banheiro, onde tirando o que restava do vestido, entrou na banheira e começou a se automutilar cortando seu pulso esquerdo. No fundo, sabia que não tinha coragem para fazer aquilo, mas fez cortes que tiravam muito sangue e não levou muito para que uma poça vermelha se formasse ao seu redor na água. Ficou tonto, se sentiu sonolento, enquanto chorava e sua boca ainda sangrava quando ele ouviu um grito chamando por seu nome, tinha alguém ali com ele, o puxando para fora da água. Ele adormeceu profundamente.
Continua.
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