Alguns dias depois...
POV-Raven
Alguns dias tinham se passado depois do ocorrido e, além de Slash, Duff, Izzy e eu, ninguém sabia. Na verdade, mesmo cada um de nós estarmos um pouco estranhos, com os outros não era diferente. Cloe estava preocupada com Axl, que parecia andar bem distraído, e também com Vicky, já que a loira parecia evitar a Hell House. De acordo com a governanta, ela achava que Axl tinha feito algo contra a loira, embora o ruivo não dissesse nada.
Para minha sorte, ou nem tanto assim, os meninos passavam mais tempo no estúdio do que em seus horários livros, o que fazia com que eu tivesse menos contato com Duff e também com Izzy, que desde a descoberta não tinha mais falado comigo. O loiro e o moreno praticamente não conversavam, exceto sobre assuntos da banda. Slash até tentava reverter a situação, mas não parecia estar tendo muito sucesso.
O único, porém, que pareci estar normal — como sempre — era Stee. Já eu passava a maior parte do tempo no quarto ou na biblioteca, perdendo-me nos livros.
Mamãe tinha ligado na noite anterior, disse que estava bem, mas cheia de trabalho e que ainda não sabia quando voltaria. Ela estranhou quando Duff não quis falar com ela, mas acabou compreendendo, pois eu disse que ele estava um pouco cansado.
Era uma tarde de terça-feira e eu estava na biblioteca novamente, lendo um livro sobre a história russa. Eu permaneci distraída com as palavras até que senti a presença de alguém e levantei o olhar, deparando-me com Izzy. Confesso que fique surpresa.
— Izzy... — falei em um tom rápido.
— Desculpe. — disse ele. — Não queria te assustar.
— Não... está tudo bem... — falei e fechei o livro. — O que deseja?
Ela soltou um suspiro e adentrou o lugar, aproximando-se de mim.
— Olha, eu sinto muito pelo o que ocorreu. No começo, eu deveria ajudar Duff e você a se darem bem, mas por fim acabei destruindo a relação que vocês tinham. — disse ele com um tom sério. — Eu realmente não queria que ele descobrisse desse jeito. Eu deveria ter sido mais cuidadoso.
— Izzy, está tudo bem. — falei. Ele me encarou surpreso. — Sério... eu deveria saber que essa história não iria acabar bem.
Seu olhar de surpresa foi substituído por algo um pouco sério.
— Se arrepende? — questionou enquanto se aproximava de mim.
Eu sorri levemente.
— Não, claro que não. — respondi rapidamente. — Você foi ótimo comigo.
Ele se aproximou o suficiente para eu sentir sua respiração e, por um segundo, eu acabei me lembrando de todas as coisas que passamos durante esses poucos dias. Apesar de pura loucura, eu não me arrependia.
— Um último beijo de despedida? — questionou.
Eu ri e, no segundo seguinte, nos beijamos.
POV-Vicky
Acordei com o telefone tocando. Tentei ignorar, mas isso foi praticamente impossível, então com muito esforço ergui o braço e alcancei o aparelho no criado-mudo ao lado do sofá, puxando-o pelo fio.
— Alô? — falei com a voz baixa.
— Victória? Finalmente! — era Allan. Só podia mesmo. — Nós temos um enorme problema.
Gemi em reprovação.
— Nos últimos dias a única coisa que você tem feito é me ligar para dizer que temos problemas e olha que os meninos nem shows estão fazendo. — reclamei.
Allan suspirou.
— Vou ignorar isso, ok? — disse ele com um tom irritado. — Enfim, é sobre isso mesmo que eu quero falar. Marquei um show para daqui dois dias em Las Vegas.
— Ah... você o quê? — perguntei arregalando os olhos.
— Você me ouviu!
— Las Vegas, Allan? Você enlouqueceu? — questionou.
— Ah, eu tenho certeza de que você consegue dar conta deles. — disse ele e riu maldoso. Filho da mãe! — Bem, passe aqui em casa amanhã para acertamos os detalhes. Até mais, querida!
— Não! Espera, eu... — tentei falar, mas era tarde e ele tinha desligado.
Coloquei o aparelho de volta no lugar e bufei frustrada.
Guns N’ Roses em Las Vegas? Eu realmente teria que aumentar minhas doses de clamantes!
Olhei no relógio e percebi que era pouco mais de cinco horas da tarde e eu tinha adormecido no sofá da sala. As últimas noites tinham sido extremamente estressantes e ruins, tanto que eu mal conseguia dormir.
Toda vez que eu fechava os olhos... lá estava ele com seus olhos verdes e aquele sorrisinho sacana.
Por mais que eu odiasse e por mais que eu tentasse lutar, eu já não podia negar: meus sentimentos estavam confusos em relação a Axl Rose, meu chefe. Isso era algo que eu não esperasse que acontecesse, não depois de tanto tempo e de tantas coisas que passamos, mas infelizmente... ocorreu.
Soltei um suspiro e decidi tomar um banho.
Eu precisava muito tirar aquele maldito ruivo da cabeça, então decidi chamar Anne para jantar comigo... para relembrarmos a vida como irmãs.
POV-Anne
Com o passar dos dias, eu realmente consegui informações valiosas sobre o caso Holmes. Graças á alguns viciados e bandidos presos — que venderam informação em troca de acordos judiciais —, eu descobri algumas coisas bem importantes sobre James Holmes, o homem sem sombra — como era conhecido no mundo do crime.
Ele era descendente de russos e muito, mas muito rico. Contudo, seu império tinha sido construído através de coisas ilícitas, sendo mascaradas por uma indústria de gás. Por detrás dessas tais industrias, porém, estava tráfico de drogas, de diamantes e, PRINCIPALMENTE, mulheres.
Definitivamente... o canalha enriquecia com o tráfico de jovens com objetivo sexuais, escravistas ou mulas de drogas. Era algo doentio.
Contudo, apesar dessas importantes informações, eu tinha ainda muito pouco sobre o paradeiro dele e sobre também a família. O homem era praticamente um fantasma e suas “industrias de gás” eram agenciadas por CEO’s de confiança dele, sendo assim ele nunca aparecia em público e vivia escondido.
Nada de registros médicos, prisões, endereços ou sequer multas de trânsito. Nada. Nada. Nenhum fio de cabelo. A única coisa era uma foto de dez anos atrás enquanto ele saia de um avião.
Em relação a família, eu consegui confirmar que James fora casado com uma mulher e tivera uma filha com a mesma, mas por algum motivo — o qual eu não sabia ainda — a esposa tinha se divorciado e fugido com a criança.
Eu ainda não conseguia confirmar se Raven era realmente a filha de James. Afinal, por que ele não foi atrás dela? Ou por que não mantinha contato com a filha? E por que diabos ele deixou que a mulher fosse facilmente embora, já que ela provavelmente sabia dos podres do marido?
Eram perguntas que eu ainda não tinha respostas!
Fui tirada dos meus pensamentos quando alguém bateu na porta da minha sala.
— Entre. — mandei.
No segundo seguinte, Vicky adentrou a sala com um sorriso, que escondia algo. Sim, escondia algo! Nos últimos dias minha irmã estava realmente estranha, meio desligada e triste, quase nem saia do quarto. Tentei questionar o que estava acontecendo, mas ela sempre foi o tipo que preferia sofrer sozinha, por isso quase nunca me respondia a verdade.
— Atrapalho? — ela perguntou.
— Não, eu já terminei. — falei, fechando as diversas pastas em cima da minha mesa. — Aconteceu alguma coisa?
— Não. Eu só queria saber se você quer sair para jantar. — ela perguntou. — Digo... desde que você chegou mal tivemos tempo para sair de casa.
Eu ri.
— Pensei que não quisesse sair? — falei. — O que fez você mudar de ideia?
— Eu só não estava muito disposta esses dias. Muito trabalho. — disse ela, dando de ombros. — E qual o problema de eu querer passar um tempo com minha irmã?
Eu ri ainda mais.
— Nenhum, só acho estranho. — revidei. — Enfim, o que tem em mente?
— Poderíamos ir até aquele restaurante que fica no píer.
Fiz uma careta.
— Eu não conheço nada da cidade, mas se você quer ir lá, tudo bem. — falei.
— Ótimo, vou fazer a reserva.
Foi então que eu acabei tendo uma ideia.
— Ah... por que não chama aquela sua amiga para ir conosco? — perguntei.
Vicky me encarou curiosa.
— Que amiga?
— Aquela ruivinha que mora com seus chefes delinquentes. — respondi.
Minha irmã revirou os olhos.
— Para de falar assim deles. — sorriu. — É uma boa ideia. Vou ligar para ela.
Eu apenas concordei com a cabeça e ela saiu.
Um sorriso satisfeito se formou em meus lábios.
POV-Slash
Se por um lado nós estávamos felizes devido ao novo contrato do disco duplo, por outro estávamos com nossas vidas completamente caóticas, e não de uma forma boa. Claro que cada um de nós lhe dava de um jeito com a frustração e normalmente não deixávamos isso transparecer, contudo, era evidente que o pessoal da banda estava passando por diversos problemas pessoais.
Duff, Izzy e Raven quase nem se falavam, na verdade, os dois homens apenas conversavam sobre o necessário em relação a banda e nada mais, enquanto a menina vivia trancada no quarto ou na biblioteca. Ninguém, além de mim, sabia o que estava acontecendo, e eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
Axl, por sua vez, estava em um completo estado de dormência. Nos últimos dias o ruivo parecia estar viajando em um planeta distante da Terra, e algo me dizia que isso tinha a ver com Vicky, já que a mesma quase nem aparecia mais na Hell House.
Os únicos que estavam, de certa forma, tranquilo, éramos Stee e eu. O loiro quase nunca tinha problemas, exceto as bad trips causadas pelas drogas, e eu... bem, sou eu! Minha vida é uma completa montanha-russa de emoções, sendo que a maioria são boas.
Todavia, confesso que nos últimos dias minha mente estava vagando por territórios que eu deveria evitar, sendo o principal: Anne Laurence.
Depois do que ocorreu no apartamento de Vicky, nós dois nunca mais nos vimos. Eu ainda estava fazendo as consultas com o terapeuta e, mesmo a contragosto, confesso que isso estava me ajudando bastante. Mas o verdadeiro problema é que — não sei bem porquê e nem como — eu não conseguia me esquecer do que aconteceu naquele apartamento.
Estive com outras mulheres — uma diferente a cada noite — mas nenhumas delas parecia me satisfazer completamente. Faltava alguma coisa que eu não sabia o que era e o meu medo era que esse déficit estivesse relacionado com aquela maldita delegada.
Soltei um suspiro e fui tirado dos meus pensamentos quando ouvi alguns passos nas escadas e logo Izzy apareceu na sala. O moreno tinha um cigarro nos lábios e uma expressão um pouco séria.
— Tudo bem? — questionei, enquanto ele se sentava ao meu lado no sofá.
— Na mesma. — disse ele, soltando a fumaça branca.
Eu ri sem humor.
— E a garota? — perguntei, lembrando de que ele comentou que precisava falar com ela.
— Nos despedimos. — disse ele e sorriu de canto. — Vou sentir falta daquela boca.
— Relaxa, man, logo você arranja alguma outra distração. — comentei e acabei puxando um cigarro. — E o McKagan?
Izzy suspirou pesado e jogou a cabeça para trás.
— Na mesma. — respondeu. — Ele me evita e também evita ela.
Eu nunca fui o tipo que se importou com as relações sociais, mas Duff e Izzy eram dois dos meus melhores amigos e estava ficando difícil ver a situação sem fazer nada. Além do mais, a relação estreita dos dois estava tão fria que começava a afetar a banda, e siso era inaceitável.
Dessa forma, eu decidi tomar uma decisão e fazer algo, tanto pela amizade dos dois quanto pela banda.
— Ah, era de se esperar. — comentei e levantei. — Mas eu vou dar um jeito nisso.
— Aonde vai? — ele questionou.
— Resolver uma coisa. — respondi e pisquei.
Dei de ombros e subi as escadas, indo para o quarto de Duff. Bati algumas vezes na porta, mas não obtive respostas, então a abri minimamente. O quarto estava vazia, mas não demorou até que o loiro saísse do banheiro. Ele estava vestindo apenas uma cueca box e parecia um pouco nervoso.
— Man? — chamei-o. Ela encarou-me. — Tudo bem?
Seu olhar ficou vago por um breve momento enquanto ele procurava uma calça para vestir. Quando o fez, sentou-se na cama e passou as mãos pelos cabelos. Definitivamente... ele não estava bem. Soltei um suspiro e entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim, em seguida sentei na poltrona ao lado da cama.
— O que está havendo? — questionei.
O loiro ergueu a cabeça para me encarar.
— Abstinência. — foi a única coisa que ele disse.
Soltei a fumaça do cigarro com calma, refletindo. Eram três as opções: sexo, drogas ou bebida. Eu sabia que o punk tinha bebido bastante na festa de Shannon e também usado um pouco de erva e cocaína, mesmo que muito pouco. Então, sendo assim, a única opção viável e mais certa era a abstinência de sexo.
— Você gosta tanto dela assim? — questionei, referindo-me a Susan. — Digo... para não ir atrás de alguém...
Ele concordou com a cabeça.
— Prometi a mim mesmo que andaria na linha, dude. — disse ele com uma voz firme. — Eu realmente gosto dela e não quero magoá-la.
Traguei meu cigarro com mais força.
Não posso negar que aquilo realmente me surpreendeu!
Eu conhecia Duff há anos e sabia que, se ele não tinha ido atrás de alguma prostituta ou groupie, era por que ele realmente gostava bastante de Susan, o que era ainda mais surpreendente, já que eu nunca imaginei que o veria tão apaixonado.
— Certo. — falei, escondendo minha surpresa. — E como está lhe dando com isso?
— Com o de sempre. — falou ele, desviando o olhar. — Mas está ficando difícil. Não é a mesma coisa, você sabe... O problema é que eu realmente estou com medo de fazer merda.
— Está com medo de traí-la? — questionei.
— Isso. — ele respondeu. — Ela está fora para cuidar da mãe e não por simples vontade. Seria muito injusto com ela, ou melhor, com nós.
— Se você diz... — falei, soltando um longo suspiro. — Mas, eu não vim aqui para falar disso.
Ele encarou-me sem entender por um momento até sacar o porquê de eu estar ali, fazendo com que seu olhar ganhasse um tom escuro.
— Eu não quero falar sobre isso. — disse ele.
— Cara, você não quer, mas tem. — revidei. — Eu sei que o que ele fez foi errado, principalmente por conta da idade da menina e tudo mais, porém, você não pode simplesmente agir dessa maneira.
— E por que não?
— Por que é idiotice. — falei sério. — Duff, ele não a obrigou a nada, não a ameaçou, não a forçou, nada disso. Ela fez por que quis. Na verdade, na minha opinião, você deveria estar feliz com isso.
— É o que? — ele questionou incrédulo.
— Michael, eu não sei se você percebeu o nível da situação, mas foi a primeira vez da Raven. — falei, tentando ter calma. — Ela poderia ter feito isso com qualquer um, mas não. Foi com o Izzy. Você conhece ele tanto quanto eu e sabe que ele não a machucaria, ou melhor, não a machucou.
— Então você acha que eu deveria aceitar a situação? — riu incrédulo. — Você é louco.
— Não foi isso que eu disse. — falei e soltei um suspiro. — Eu só acho que você deveria ser mais compreensivo, até mesmo por que você já fez coisa bem pior do que isso. Você só está abalado assim por que a menina é sua futura enteada, mas se fosse qualquer outra, você nem ligaria, assim como nunca ligou.
De todas as palavras que ele poderia ter dito, ele optou pelo silêncio. Eu o conhecia e sabia que ele estava terrivelmente abalado coma situação, mas logo ele iria esfriar a cabeça e se acalmar.
— Bem, eu só vim aqui para dizer isso. Você realmente deveria pensar pelo outro lado, cara. Raven sabia bem o que estava fazendo e eu tenho certeza de que Izzy não foi um cafajeste com ela. — falei enquanto me levantava. — Se cuide!
Dito isso, eu apenas sai do quarto e fui para o meu.
POV-Duff
Assim que Slash saiu, eu joguei meu corpo para trás na cama e fechei os olhos, respirando fundo. Os últimos dias não tinham sido fáceis. Eu tentava muito me distrair com bebidas e cigarros, mas nada superava o desejo de ter um orgasmo. Eu realmente estava com saudade de Susan e nem sequer conseguia falar com ela no telefone, pois eu simplesmente não suportava não poder vê-la, tocá-la, amá-la. Era uma tortura.
Fui tirado dos meus pensamentos quando alguém bateu na porta.
— Entre! — mandei enquanto ficava sentado novamente.
No segundo seguinte, Raven colocou a cabeça para dentro do quarto.
Senti meus músculos tensos ao vê-la. Não tínhamos nos falados desde que descobri sobre ela e Izzy. Por mais que eu tentasse, não conseguia aceitar a situação. Izzy tinha a seduzido e isso era inaceitável para mim. Porém, o que me deixou ainda mais irritado foi que, além de esconder tudo de mim, ela pretendia continuar com aquilo.
— Desculpe atrapalhar. — disse ela com um tom receoso. — Mas é que Vicky ligou e perguntou se eu queria jantar com ela em um restaurante no píer. Eu gostaria de saber se eu poderia ir.
Eu já estava prestes a negar, contudo, quando encarei aqueles olhos verdes uma parte de mim — por mais estranho que seja — cedeu. Era incrível como aquela adolescente emanava inocência sem ao menos abrir a boca. Tão incrível que ainda me custava acreditar que ela tinha se deitado com Izzy.
— Tudo bem. — falei. Ela encarou-me surpresa. — Eu preciso ir fazer algumas coisas no centro essa noite. Que horas você quer ir?
— Ela disse ás oito. — respondeu ainda surpresa.
— Ótimo. Saímos as sete. — respondi um pouco frio.
Raven apenas concordou com a cabeça e se retirou, fechando a porta. Eu suspirei pesado e tentei colocar meus pensamentos em ordem depois de tudo que Slash me disse.
****
POV-Raven
Quando o relógio marcou exatamente sete horas da noite, Duff e eu saímos da mansão. O silêncio doloroso do carro só não era completo devido ao som baixo que ecoava do rádio. O loiro mal me encarava, mantendo seus olhos fixos no caminho, enquanto eu tentava ao máximo me distrair com a estrada escura.
O trânsito estava calmo, então acabamos chegando no restaurante no horário combinado. Já de longe eu pude ver o carro de Vicky estacionado ao lado da praia, sendo que Duff parou atrás do mesmo.
Preparei-me para descer, mas foi então que o loiro segurou meu braço.
— Espera... — disse ele.
Encarei-o curiosa, esperando por mais um sermão.
— O que eu fiz agora? — questionei com um tom receoso.
Ele suspirou pesado e olhou para os lados antes de me encarar novamente.
— Nada. — disse seco. — Apenas tome cuidado!
Duff soltou meu braço e eu concordei com a cabeça, descendo do carro com minha mochila nas costas, já que eu iria dormir na casa de Vicky. Confesso que fiquei um pouco chateada... quer dizer, eu não queria que ele brigasse comigo, mas também não queria ser tratada tão friamente.
Soltei um suspiro e, sendo assim, não olhei para trás, apenas caminhei pelo píer até chegar ao restaurante. Vicky e Anne estavam sentada em uma mesa perto e acenaram assim que me viram.
— Oi, meninas! — falei assim que me aproximei.
Cumprimentei as duas com um abraço e depois me sentei. A mesa era redonda e toda enfeitada com coisas relacionadas a praia, como conchas, garrafas de arreia e peixes de madeira.
— Obrigada pelo convite. — falei com um sorriso. — Eu estava mesmo precisando sair daquele lugar.
— Eu logo imaginei. — disse Vicky e riu. — Mas agradeça a Anne, ela quem teve a ideia.
Encarei a ruiva, que sorriu meio tímida.
— Jura? Muito obrigada então. — falei.
— Não agradeça. — disse ela e piscou. — Enfim, vamos pedir?
Eu apenas sorri e concordei com a cabeça.
POV-Axl
Confuso. Essa era a palavra que definia a mim mesmo naquele momento.
Durante dias eu tentei colocar meus pensamentos no lugar, mas quanto mais eu tentava, mais eu acabava me enrolando. Era uma mistura de sentimentos que eu não sabia explicar. Raiva. Medo. Tédio. E, principalmente, desejo.
Por diversas vezes, eu me peguei pensando naquela boca fina e rosada. Eu nunca havia a visto de outra forma, mas depois de experimentá-la, eu acabei começando a sentir algo que eu não sentia antes: desejo. Muito desejo.
Eu não podia negar que Vicky realmente beijava bem. Tão bem que eu não conseguia me esquecer do que aconteceu. E, por mais que eu tentasse evitar, as palavras de Shannon ecoavam pela minha mente e se juntavam ao desejo que eu estava sentindo por Victória.
Isso estava me deixando completamente louco.
Eu não conseguia mais se concentrar nos ensaios e nem em qualquer outra coisa que eu tivesse que fazer. E o pior de tudo era que eu não podia desabafar com ninguém sobre isso, haja vista que a própria loira era minha confidente e ela nem sequer aparecia mais na Hell House.
Ela estava me evitando e isso era bem evidente. Cloe tentou diversas vezes e ligar e pedir para que ela fosse almoçar conosco, mas ela sempre dava alguma desculpa dizendo que estava ocupada ou com muito trabalho.
Fui tirado dos meus pensamentos quando alguém bateu na porta.
— Entra! — falei.
No segundo seguinte, a porta do quarto se abriu e o loiro baixinho e sorridente adentrou meu quarto.
— Hey, ruivo! — disse ele com sua típica animação. — Tudo bem com você?
— Tudo ótimo. — falei e revirei os olhos. — O que você quer?
— Ah, eu só vim saber como você está... — disse ele e se jogou na minha cama como uma criança. Tive vontade de soca-lo. — Você tem andado estranho esses dias por conta da briga com a Vicky.
Suas palavras fizeram com que meu olhar de ódio se transformasse em um de curiosidade.
— Por que acha que estou brigado com ela? — questionei.
— Ah, é meio óbvio. — disse e riu. — Você tem andado meio distraído e Vicky não aparece na mansão há dias. Isso só acontece quando vocês brigam ou discutem.
— Não é verdade. — fiz uma careta. — Talvez ela esteja ocupada.
Stee fez o que mais faz: riu.
— Qual é, ruivo?! Eu sou lerdo, mas não sou burro. — disse ele com um enorme sorriso. — Você e Vicky são tipo rosa e espinho.
— O quê? — perguntei e ri com a comparação.
— Ah, você sabe. — disse ele, rindo ainda mais. — Você é todo agressivo, pavio curto, sádico, mau e sempre acaba machucando as pessoas como um espinho, enquanto Vicky é toda meiga, doce, paciente e linda como uma rosa.
Apesar da explicação ridícula — até mesmo por que eu sou um amor de pessoa — eu acabei ficando meio apreensivo e pensativo.
— O que quer dizer com isso, Stee? — perguntei meio sem entender.
— Ah, depois eu que sou lerdo. — disse ele e revirou os olhos, mas sorriu. — Vocês são o oposto, sabe? E o que acontece com os opostos? Eles se atraem. Se completam. Você e Vicky não funcionam muito bem quando estão separados. Você fica todo confuso e sem rumo, e ela desaparece por que está, provavelmente, machucada com algo que você fez.
Encarei-o seriamente. Stee não era a pessoa mais inteligente do mundo, mas confesso que fiquei bem mexido com suas palavras.
— Olha, eu não sei o que você fez para ela. — disse ele e se levantou. — Mas, se eu fosse você, tentaria consertar tudo. Vicky é uma garota incrível e você seria muito idiota de deixa-la sair da sua vida.
Então ele saiu, deixando-me sozinho novamente.
Agora... se eu estava confuso antes, naquele momento eu fiquei ainda mais.
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