POV-Raven
O que me despertou foram os barulhos dos trovões e da chuva batendo fortemente contra a janela do meu quarto. Abri os olhos levemente e percebi que ainda estava escuro, assim que olhei para relógio ao lado da cama constatei que eram quase seis da manhã.
A janela estava entreaberta então eu fui obrigada a levantar para fechá-la.
Abracei meus próprios braços e procurei uma blusa de frio antes de sair do quarto para ver onde estavam os outros.
Eu nem sequer lembrava de ter ido dormir.
Segui pelo corredor, que parecia ficar cada vez mais gelado, até que senti algo úmido sobre meus pés. Ignorei por um momento até perceber que eu estava andando sobre algo extremamente úmido, o que fez com que eu olhasse para baixo.
Arregalei os olhos quando notei que havia sangue no corredor. Muito sangue. O liquido vermelho tomava o carpete e descia por toda a escada que dava no andar de baixo. Ignorei minha repulsa e continuei a caminhar, mesmo sentindo um calafrio pela espinha. Desci as escadas devagar, tomando cuidando pois estava escuro.
Quando cheguei a sala, as luzes se acenderam de repente, revelando uma cena que fez com que eu gritasse alto.
Havia corpos jogados pela sala. Os corpos dos meninos: Steve, Slash, Axl e Izzy mortos, enquanto Duff estava jogado no canto ao lado da lareira. O loiro estava respirando pesadamente e havia buraco de tiro em sua barriga e sangue escorrendo por sua boca.
Havia um homem no centro da sala. Eu não conseguia ver seu rosto, mas ele era alto e vestia um terno completamente preto. Seus braços estavam manchados de sangue e suas mãos apertavam o pescoço de uma mulher.
Essa mulher era minha mãe.
Ela chorava e seu rosto estava completamente espancado.
— Olha o que você fez, sua cadela! — disse o homem sem rosto. ― Isso é culpa sua. Tudo culpa sua!
Cloe estava lá também, jogada sobre a mesa da sala, morta entre os estilhaços de vidro. Todos eles estavam. Havia muito sangue ali e o homem sem rosto continuava a gritar. Ele gritava, gritava e gritava...
— E você também tem culpa, sua putinha. — disse ele, olhando diretamente pra mim.
Pisquei algumas vezes até notar que minha mãe agora morria agoniada no chão enquanto ele apontava uma arma para mim. Seu rosto não existia, mas eu sabia que ele iria atirar, eu apenas sabia.
— Não! — gritei assim que ele começou a rir sadicamente. — NÃO!!
E foi então que eu ouvi mais um trovão cortar o céu e o barulho do gatilho e...
— Raven... acorde... Raven! — uma voz conhecida chamou enquanto alguém balançava meus ombros.
Abri os olhos assustada e sentei rapidamente, olhando ao redor e tentando entender a situação. Eu estava no meu quarto e Duff estava ao meu lado. O loiro tinha um olhar preocupado no rosto e parecia assustado.
— Raven? — ele questionou.
— Duff? Tinha... um cara e ele estava armado e eu não sei... — tentei falar, mas eu meus lábios tremiam.
Tudo parecia tão real e tão cruel.
— Calma... está tudo bem! — falou ele, alisando levemente meus ombros.
— Ele tentou atirar em mim e... mamãe estava lá... e ela chorava e... os meninos estavam todos...
— Uol! Calma, Raven! Está tudo bem. Você está segura! — disse ele e me puxou, abraçando-me.
Eu simplesmente não conseguia me acalmar. Eu odiava pesadelos por que eles sempre me deixavam mal e sempre faziam com que eu me sentisse completamente impotente. E aquele... aquele tinha sido real demais. Muito real.
— Eu... desculpe... foi apenas um sonho ruim. — falei enquanto me afastava e passava as mãos pelo rosto.
— Tudo bem. — disse ele e mordeu o lábio levemente. — Os meninos estão lá embaixo comendo pizza. Você adormeceu no carro e eu decidi te trazer, mas voltei quando você gritou. Você... quer descer? Talvez você se acalme e...
— Não! — respondi rapidamente e suspirei. — Desculpe... mas eu só quero voltar a dormir.
— Tudo bem. — disse ele calmamente. — Eu vou te deixar descansar então. Apenas chame se precisar de algo.
Ele acenou levemente com a cabeça e tentou se levantar, mas eu segurei seu pulso, fazendo com que ele me encarasse.
— Você... poderia ficar? Pelo menos até eu dormir novamente? — questionei.
Duff pareceu receoso, mas possivelmente ele estava um pouco preocupado, então ele concordou com a cabeça e apenas se afastou para fechar a porta, em seguida ele voltou para a cama. Ajeitei meu corpo para o lado, dando espaço para ele, e logo ele se deitou, encarando-me, mas mantendo uma certa distância.
— Obrigada! — falei suavemente enquanto fechava os olhos. — Boa noite, Duff!
— Boa noite, Raven! — foi a última coisa que eu o ouvi dizer.
POV-Vicky
Eu acordei com a chuva batendo contra a janela do meu quarto enquanto o relógio marcava pouco mais das seis da manhã.
A temperatura do quarto estava um pouco baixa, mas meu corpo estava protegido pela coberta e também por outro corpo quente. Ergui levemente o rosto para encarar o ruivo que dormia pacificamente embaixo de mim. Seus olhos estavam completamente fechados e ele exalava uma calma muito incomum para ele.
Uma das suas mãos estava plantada em minha cintura, um leve aperto indicando que talvez ele não quisesse que eu fugisse. Axl era um dorminhoco nato, mas seu sono era leve, fruto dos seus abusos do passado.
Havia algumas cicatrizes em seu peito, de acordo com ele foram causar pelo cinto de Stephen, seu padrasto. Se eu pudesse voltar no tempo... eu gostaria de poder curar toda a dor que ele sentiu.
— Você sabe... eu consigo ouvir você pensando. — disse ele, fazendo com que eu sorrisse ainda mais.
Ele abriu os olhos, revelando aquelas esmeraldas que eu tanto adorava.
— Bom dia! — falei enquanto dava um selinho em seu peito. — Dormiu bem?
— Bom dia! — disse ele enquanto nos movia, ficando de frente e bem próximo a mim. — Eu dormi maravilhosamente bem!
Ele apertou ainda mais meu corpo, abraçando-me fortemente.
— Nós vamos ficar o dia todo na cama. — ele exigiu.
— Você fala isso como meu chefe ou meu namorado? — questionei rindo enquanto alisava seu rosto.
— Ambos. — ele respondeu. — Está chovendo e eu já tenho grana o suficiente para ter outro dia de folga.
— Oh claro! Devo lembrar que já não estamos mais no topo da Billboard? — brinquei.
— Nha! Recuperamos no próximo lançamento! — ele resmungou.
— Você é tão bobo às vezes! — falei e dei um selinho em seus lábios.
Axl abriu os olhos novamente e sorriu maravilhosamente.
— Eu sou bobo e sortudo por ter você. — disse ele, abraçando-me ainda mais forte.
A chuva lá fora começou a aumentar, fazendo com que eu acabasse me rendendo ao ruivo. Mesmo acabando de acordar, nós trocamos alguns beijos e algumas caricias até que a fome começou a falar mais alto e fez com que saíssemos da cama para o café da manhã.
Axl decidiu cozinhar dessa vez enquanto eu apenas o observava.
— Então... o que sua colega de apartamento fez? — ele questionou. ― Eu ouvi o telefone tocar de madrugada e ela saiu correndo.
Eu soltei um suspiro, sabendo que não adiantava fugir do assunto.
— Ela é Delegada. — respondi e Axl me encarou seriamente.
— Você mora com uma policial e nunca me disse? — ele questionou incrédulo.
— Bem, não achei que fosse importante. — falei e mordi o lábio levemente. — Anne é uma pessoa legal. Ela quase nunca para em casa e está sempre correndo, então tenho certeza que não haverá problema entre vocês dois.
— Ela é policial. — ele resmungou.
— E você um rockstar. — falei e ri. — Não fique encanado com isso. Sério! Ela é mais legal do que parece!
Axl resmungou mais um pouco, mas acabou deixando de lado e focando no nosso café.
POV-Raven
Quando acordei novamente, a chuva já tinha diminuído e o dia já havia começado. O relógio ao lado da minha cama marcava pouco mais das nove da manhã e, para a minha nem tanta surpresa, a cama ao meu lado estava vazia.
Soltei um suspiro pesado e saí da cama, indo direto para o banheiro.
Imagens do meu pesadelo tomaram conta da minha mente, mas eu fiz questão de afastadas, afinal, era apenas um sonho.
Tomei um banho rápido e vesti uma roupa quente, em segui saí do quarto a procura dos outros. A sala estava cheia de caixas de pizza e Steve estava cochilando no carpete. Eu acabei rindo e segui para a cozinha, onde encontrei Cloe sentada junto ao balcão enquanto assistia á TV e tomava seu chá.
— Bom dia! — falei com um sorriso.
Ela virou-se para me encarar e deu um sorriso.
― Bom dia, querida! ― disse ela. ― Dormiu bem?
— Mais ou menos. ― respondi rapidamente. ― Mas não se preocupe.
― Está com fome? ― ela questionou.
— Faminta.
― Então sente-se, eu vou preparar seu café. ― disse ela enquanto se levantava.
Eu apenas obedeci e me sentei, enquanto ela foi para o fogão. A TV permaneceu ligada e mostrando algo realmente perturbador sobre uma descoberta de corpos.
— O que houve? ― questionei curiosa.
― Aparentemente eles encontraram um contêiner com vários corpos no píer nessa madrugada. — Cloe respondeu sem dar muita atenção. ― Los Angeles é um lugar realmente estranho.
― Com toda certeza! ― concordei sem tirar os olhos da TV.
Aparentemente, eles não tinham muitas informações, porém, havia algumas imagens do píer lotado de policiais enquanto uma equipe estava tirando várias macas com corpos cobertos.
Aquilo era realmente perturbador.
— Bom dia! — a voz de Duff ecoou pela cozinha.
Virei rapidamente para encontrar o loiro vestindo apenas uma calça de moletom e os cabelos loiros amarrados despojadamente.
— Caiu da cama? — questionei rindo.
— Algo do tipo. ― ele respondeu e riu, enquanto caminhava até Cloe para beijar sua bochecha. — Bom dia!
— Bom dia, querido! — disse ela e sorriu. — Sente-se, vou fazer seu café da manhã.
Duff sorriu e sentou-se ao meu lado, voltando sua atenção para a TV.
― Caramba! — disse ele, surpreso. — Isso é verdade?
― Parece que sim. — respondi. — Isso parece ser bizarro.
— Concordo! — disse ele, logo voltando sua atenção para mim. Ele me encarou por alguns segundos em silêncio. ― Você está bem?
— Sim, estou bem melhor. ― respondi e sorri levemente. ― Obrigada!
Ele apenas piscou, dando um leve aceno com a cabeça e permaneceu ali ao meu lado. Por fim, Cloe terminou o nosso café e começou a conversar conosco sobre diversos assuntos aleatórios..
Depois de quase meia hora, porém, mais um dos meninos apareceu. Dessa vez, era Axl. Ele tinha um enorme sorriso no rosto e parecia estar chegando naquele momento.
― Bom dia! ― disse ele.
— Onde você esteve? ― questionou Cloe, preocupada. ― Eu achei que voltasse ontem.
― Uol! Calma! ― disse o ruivo, erguendo as mãos em rendição. ― Eu tive um contratempo e passei a noite com uma amiga.
― Que amiga? ― Cloe questionou curiosa.
― Uma que eu tenho certeza que você vai gostar. ― o ruivo disse e piscou levemente. ― Bom, como eu acordei cedo demais, eu vou fazer o que faço de melhor, ou seja, dormir.
Dito isso, ele deu de ombros e saiu rapidamente, fazendo Cloe bufar e eu rir.
― É... na verdade eu combinei de encontrar com a Renee para o almoço. ― disse o cabeludo enquanto segurava os cabelos para longe do rosto.
― Renee? Eu achei que ela estivesse na França. ― disse Duff.
― Sim, mas ela voltou e quer me ver. ― disse Slash, dando de ombros. ― Enfim, eu vou indo.
Slash deu de ombros e logo saiu da cozinha também, deixando apenas nós três novamente.
― Hm... Duff, você pode me levar até minha casa hoje? ― questionei.
― Claro. Mas... por quê? ― ele questionou curioso.
― Bem, minhas aulas preparatórias para as bolsas de estudos das faculdades começam em três semanas e... como eu não tenho notícias da mamãe, eu preciso começar a estudar, mas minhas coisas ainda estão em casa. ― expliquei e sorri levemente.
― Claro. Podemos ir depois do almoço, tudo bem? ― ele questionou, dando de ombros, mas sorrindo levemente.
— Seria ótimo!
POV-Anne
Eram quase quatro horas da tarde.
Eu estava com o estômago vazio e com uma enxaqueca que faria meu professor de balística ter pena de mim — algo impossível para alguém como ele, que era cruel como o inferno ― além disso, o caos que se instalava na delegacia não parecia querer diminuir.
Minha cabeça doía tanto quanto os meus pés e minhas costas enquanto eu encerrava uma reunião com alguns dos policiais que iriam reforçar a vigilância nas ruas próximas aos pontos de grandes chefões do crime, tentando ver se eles encontrariam alguma coisa.
Soltei um suspiro assim que todos saíram da sala, deixando-me sozinha com minha secretária.
― Você precisa dormir um pouco ou pelo menos se alimentar, senhora. — disse ela com aquele tom maternal que me lembrou Vicky. ― Você está aqui desde a madrugada.
Soltei um suspiro pesado.
— Alguma notícia do serviço social ou do hospital? — questionei curiosa.
Depois de encontrarmos o bebê, ele foi levado diretamente para o hospital e desde então eu não tinha mais notícias, haja vista que não era minha jurisdição, mas sim do FBI.
— Ele está no hospital central. — ela respondeu com um sorriso triste. — O FBI não pôde passar muita informação, mas um dos agentes informou que é um menino de possivelmente dois anos de idade e que eles estão tentando identificar se uma das mulheres era a mãe.
— Um bebê! — falei para mim mesma e respirei fundo. — Eu preciso saber quem foi o maldito que fez isso.
— Sim, mas antes você precisa comer e dormir um pouco. — disse ela, suspirando. — Você não irá ajudar de nada caso desmaie durante o caso.
Encarei-a seriamente até que não resisti e suspirei pesado.
— Você venceu, Sara! Eu vou passar em casa e comer algo, tudo bem? — falei.
— Bem, menos mal. — disse ela e piscou levemente.
Eu apenas concordei com a cabeça e me despedi, saindo dali. Passei pela minha sala para pegar minhas coisas e depois saí da delegacia, deixando o subchefe no comando até que eu recuperasse minhas energias.
E um estava realmente cansada, mas a minha fome falou mais alto, fazendo com que eu parasse em um restaurante japonês no caminho para casa.
Como eu estava com pressa, optei por passar pelo drive-in.
Aguardei por alguns minutos na fila de carros, até que algo muito curioso chamou minha atenção: um casal extremamente chamativo saiu do restaurante. Uma mulher com um vestido preto curto extremamente brega e um cafajeste vestindo uma cartola, o qual eu conhecia muito bem.
Era Slash e... uma garota desconhecida.
Mas a qual ele parecia conhecer muito bem, tendo em vista que eles estavam se beijando loucamente sem se importar com o mundo ao redor deles.
Eu nem sei o porquê daquilo me chocar, afinal, eu sabia que ele era um rockstar e que não era digno de nada, e que nossas noites não passavam de verdade. Porém, confesso que sim, não gostei daquela cena, e por um momento desejei que aquela garota não estivesse ao lado dele.
Entretanto, este não era meu direito, então desviei o olhar e segui meu caminho, logo saindo dali com meus pedidos.
Quando cheguei em casa, para minha sorte, o namorado rockstar de Vicky não estava mais lá. Agradeci aos céus por isso, já que a última coisa que eu queria era ouvir eles transando de novo.
Vicky, para minha não tão surpresa, estava deitado no sofá. Havia uma xicara de chá na mesinha e um livro aberto em cima da sua cintura. Seu corpo magro estava coberto por uma manta fina e seus cabelos cacheados estavam jogados por todo o travesseiro.
Sorri com a cena.
Vicky era uma das coisas mais preciosas que eu possuía e eu nunca iria me perdoar se ela se machucasse.
Deixei a caixa de comida sobre o balcão da cozinha e tirei meus sapatos, deixando-os no canto, em seguida me aproximei e ajoelhei ao lado de Vicky, então passei as mãos por seus cabelos.
Não demorou muito e ela acordou, logo arregalando os olhos ao perceber minha presença.
― Oi! ― falei e sorri.
Vicky piscou algumas vezes, tentando se situar, e logo bocejou.
― Que horas são? ― questionou.
— Cinco. ― respondi e sorri.
— Caramba, eu acho que adormeci aqui! ― disse ela enquanto se espreguiçava.
— Seu namorado já foi embora? ― questionei, mesmo já sabendo a resposta.
— Sim, ele tomou café e decidiu ir embora para que os meninos não desconfiassem tanto. ― ela respondeu rapidamente.
Ergui a sobrancelha, pronta para questionar, mas Vicky foi mais rápida.
― Isso é peixe? ― ela questionou, já sabendo que eu iria questionar algo.
— Sim, sua comida preferida! Eu vou tomar um banho, por que não arruma os pratos? ― questionei.
― Claro! ― disse ela e piscou.
Eu apenas dei de ombros e fui para o meu quarto, rapidamente me livrando da minha roupa no caminho. Assim que entrei embaixo do chuveiro senti como se um peso estivesse sendo tirado das minhas costas.
Eu iria descobrir o responsável pelas mortes de todas aquelas mulheres inocentes. E ele iria pagar por isso.
Devo ter ficado ali por quase meia hora até sair e vestir uma roupa quente, então segui para a cozinha. Vicky estava sentada ao lado do balcão, comendo seu yakissoba com sashimi de salmão.
— Noite difícil? — questionou.
— Mais do que você imagina. — respondi enquanto pegava um prato e sentava ao seu lado.
— Eu imagino! Você saiu de madrugada e eu nem sequer ouvi. — ela resmungou.
— Vida de policial. ― comentei. — Quando eu trabalhei em Detroit, eu cheguei a fazer plantões de 36 horas sem voltar para casa.
— Essa vida não é pra mim. — disse ela e sorriu levemente. — A vida com o Guns é corrida, mas eu não corro o risco de levar um tiro.
Eu apenas dei um sorriso forçado, lembrando de algo que eu não queria lembrar.
— Falando em Guns... os amiguinhos do seu namorado sabem do relacionamento de vocês? — questionei curiosa.
― Bem, nós nos juntamos recentemente, então não. Eles ainda não sabem. —— minha irmã respondeu e desviou o olhar. ― Mas nós vamos contar logo...
― Por que tanto medo? Eu aposto que eles namoram e sabem muito bem como isso é. — falei e foi minha vez de desviar o olhar. — Quer dizer... eu vi seu amiguinho Slash se pegando loucamente agora pouco com uma garota em frente ao SHoys.
Vicky ergueu as sobrancelhas.
— Slash? Com uma garota? — questionou.
— Sim. Cabelo loiro extremamente cacheado e volumoso, roupa extremamente curta e usando saltos agulha. — respondi baixinho. ― Por incrível que pareça, ela não parecia uma puta. Estava mais para garota mimada filhinha de papai. Quase os enquadrei para questionar se ela maior de idade.
— Filhinha de papai? — Vicky pareceu pensar. — Ohhh, sim. Possivelmente Renee.
— Renee? — falei erguendo as sobrancelhas. — Você conhece todas as mulheres com quem eles se envolvem?
— Apenas aquelas com quem eles dormem mais de uma vez. — ela respondeu e riu. — Ou aquelas que são ricas e herdeiras de donos de jazidas de diamantes, como no caso de Renee.
— Então ela é rica? — questionei e revirei os olhos.
Vicky encarou-me diferentemente por um momento até sorrir levemente.
― Hm... você está com ciúmes disso? ― questionou ela.
Eu arregalei os olhos.
— Por que diabos eu teria ciúmes deles dois? — questionei.
— Por que é o que parece. — disse ela e eu desviei o olhar para a TV ligada. Algo chamou minha atenção. — Quer dizer... Slash não é um cara feio e ele é muito bom em...
― Droga! ― falei enquanto me levantava, interrompendo Vicky. — Isso não deveria ter acontecido!
— O quê? — questionou ela sem entender.
— O caso vazou! — gritei enquanto corria para meu quarto.
Vesti uma outra roupa, peguei minha arma e meu distintivo, e voltei para a cozinha. Vicky ainda assistia a TV e parecia em choque. Um repórter estava na tela com o porto atrás si enquanto falava sobre o encontro do contêiner, mas ao mesmo tempo que eles não tinham muitas informações.
— Espera... eles acharam um contêiner de corpos e você é responsável pelo caso? Eles citaram seu nome como investigadora principal! ― disse ela em choque.
— Você não sabe nem da metade. ― falei enquanto vestia minha jaqueta. ― Eu preciso ir. Tranque a porta e se cuide.
— Mas você acabou de voltar! ― disse ela e suspirou.
— Ossos do oficio! — comentei e beijei sua testa.
Vicky resmungou, mas eu apenas ignorei e saí do apartamento.
Eu realmente iria precisar de um café mais forte.
POV-Raven
Depois do almoço, Duff e eu saímos da mansão no carro dele. O céu estava nublado, mas não parecia que iria chover, pelo menos não como na noite passada. Uma música bem animada tocava no rádio e Duff batia os dedos no volante no mesmo ritmo.
― E então... aulas preparatórias? ― Duff questionou descontraído.
― Sim. A UCLA é uma das poucas faculdades que ainda oferece um programa intensivo de preparação. Os alunos com melhores resultados ganham uma bolsa no curso que desejarem. ― respondi e soltei um sorriso.
― E o seu curso seria? ― questionou ele.
Soltei um suspiro.
― Promete não me julgar e nem rir? ― questionei.
Duff lançou-me um olhar divertido.
― Pelo amor, Raven, eu sou um rockstar. Eu não tenho moral nem pra julgar um esqueleto. ― disse ele, rindo.
― Bem, eu amo literatura e comunicação, então sempre sonhei em ser jornalista, ou pelo menos sonhava até entrar no ensino médio. ― expliquei. ― Mas agora, depois de um longo tempo, eu acho que quero ser médica, sabe? Ajudar as pessoas. Eu acho que o mundo precisa de pessoas assim.
― Bom, se é isso que você quer? Então vá em frente. ― disse o loiro, sorrindo.
― Ah... sério?
― Raven, é a sua vida. Se é isso que você deseja, então lute por isso. ― disse ele com um sorriso. ― Sempre haverá pessoas contra você, não importa o que você escolha.
― Isso é muito gentil. ― falei. ― Obrigada, Duff!
Ele apenas piscou e continuou a dirigir.
Não demorou até que chegássemos no apartamento.
O lugar ainda estava todo revirado e bagunçado, além de um pouco mais empoeirado. Pedi que Duff ficasse à vontade enquanto eu corria para meu quarto. Juntei algumas roupas, livros e calçados que eu estava precisando, não era tanta coisa, mas eu precisaria de algumas malas, então, como todas as que eu tinha já estavam na casa dos meninos, eu decidi verificar se havia alguma sobrando no quarto da minha mãe.
Confesso que, depois de tanto tempo longe, foi estranho entrar lá novamente.
A mala, como eu esperava, estava no closet. Era extremamente alto para que eu alcançasse, porém, ao invés de chamar Duff, eu acabei improvisando e subi em algumas gavetas. Porém, para meu azar, assim que a puxei, acabei caindo no carpete, junto com as malas e várias outras coisas que estavam por cima dela.
O estrondo foi alto o suficiente para fazer com que Duff aparecesse rapidamente com um olhar preocupado no rosto.
― Tudo bem? ― questionou, olhando a bagunça.
― Sim, apenas derrubei algumas coisas. ― respondi enquanto me levantava.
Observei a bagunça no chão até que algo chamou minha atenção. Era uma pequena caixa de madeira, extremamente bonita.
― O que é isso? ― Duff questionou observando enquanto eu pegava a caixinha na mão.
Era uma caixinha de madeira escura com alguns pássaros entalhados ao redor. Era delicada e não muito grande, mas parecia cara. Eu nunca tinha visto aquela peça, e algo me dizia que nem sequer minha mãe lembrava do objeto, haja vista que ele estava todo empoeirado.
― O que tem aí? ― ele questionou.
― Não sei, e acho que não vou saber tão cedo. ― falei, remexendo no pequeno cadeado prateado que estava trancando a caixa.
― Hm. ― disse ele. ― Deixe-me ver.
O loiro pegou a caixinha, observando atentamente, até dar de ombros e ir até a penteadeira da minha mãe. Ele revirou alguns dos acessórios dela até achar o que precisava e voltar para perto de mim. O loiro tinha um par de brincos na mão e agora a pequena tranca estava aberta.
― Anos e anos vivendo em Los Angeles. ― disse ele, rindo.
Balancei a cabeça em descrença e abri a caixa. Havia um anel de prata com um símbolo que eu não reconheci e também alguns papeis em uma língua estrangeira que eu julguei como sendo russo.
― O que diabos é isso? ― questionou o loiro.
― Eu não sei. ― falei, observando tudo aquilo. Eu nem sabia o que era. ― Olha, tem mais algo aqui.
O fundo da caixa estava soltando, permitindo que eu o tirasse. Embaixo, para minha surpresa, havia um pequeno cordão de prata, extremamente fino e brilhante, junto com um pingente de pedra vermelha que era segurado pelas garras de um corvo.
― É lindo. ― disse Duff, maravilhado. ― E olha que eu já vi muitas joias na minha vida.
― Pois é... ― concordei, observando o colar.
Era extremamente belo.
― Vamos, experimente. ― disse ele.
― Oh... claro. ― concordei. ― Será que... você poderia?
― Claro. ― disse ele.
Virei de costas para o outro e senti sua mão passar pelo meu ombro, afastando meus cabelos, e logo depois colocando o colar ao redor do meu pescoço. Quando virei novamente, eu estava próxima demais dele, tanto que podia sentir o calor do seu corpo.
Senti sua respiração contra meus lábios e, mesmo que sem motivo, percebi que eu não queria me afastar. Eu realmente queria aquilo...
Até que a companhia tocou, fazendo com que eu quase pulasse de susto e me afastasse.
― Eu vou ver quem é. ― Duff disse rapidamente, dando de ombros.
Respirei fundo, ignorando os pensamentos e sensações estranhas que tomaram conta do meu corpo. De repente, ouvi algumas vozes no andar de baixo e, curiosa, desci as escadas até a sala. Duff estava com a porta aberta e lá fora havia três homens. Um deles eu reconheci imediatamente.
― Posso ajudar? ― Duff questionou.
Antes que ele respondesse, eu desci o restante das escadas correndo enquanto sentia meu coração bater rapidamente e um formigamento de nervoso tomando minha nuca. Parei ao lado de Duff, já com lágrimas nos olhos.
― Papai?
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