A mulher de cabelos vermelhos se olhava no espelho com decisão esmagadora. Estava no closet do seu quarto, vestia uma roupa social muito elegante, não era seu estilo do dia a dia, mas para onde estava indo tinha que causar boa impressão. Seus olhos azuis escuros estavam secos e sérios, mas por baixo deles havia bolsas roxas deixando claro que estava há bastante tempo sem conseguir dormir e mesmo assim não sentia um pingo de sono. Apenas raiva.
- Kushina.
- Não adianta me olhar assim Minato - revidou olhando para o marido através do espelho que pegava boa parte da parede. - Já tomei minha decisão e nada e nem ninguém vai me fazer voltar atrás.
O Namikaze respirou fundo fortemente encostando a lateral do corpo no batente de madeira. Sabia que seria inútil discutir, mas não podia deixar de achar que aquilo era uma grande invasão de privacidade.
- Bem, eu sempre soube de quem o Naruto puxou a teimosia - comentou casualmente sorrindo de lado. - Ele vai ficar zangado com você.
- Ele pode ficar zangado o quanto ele quiser - resmungou passando o rímel no olho direto, irritada, não era muito fã daquelas breguices todas.
- Ele não vai ser o único a ficar zangado - continuou Minato fitando a esposa com bastante atenção agora.
Kushina estancou os movimentos e pela primeira vez a expressão dela perdeu aquela firmeza sendo substituída por incerteza, porém durou poucos segundos e logo o brilho de aço voltou aos olhos azuis e ela virou para encarar o marido diretamente agora.
- Sasuke pode não gostar do que eu vou fazer, mas depois ele vai me agradecer, errados ou não eles são os pais deles e nesse momento ele precisa dos pais - explicou rapidamente pegando a bolsa e saindo do closet.
Já haviam se passado quase dois meses que eles tinham descoberto que o jovem Uchiha era portador da LLA ou leucemia linfoide aguda, um tipo extremamente agressivo de câncer e que no caso de Sasuke, infelizmente, já estava bastante avançado. E mesmo que eles tivessem a sua disposição os melhores médicos e tratamentos ela sentia em seu coração que estava faltando força ao genro e por isso iria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajuda-lo, mesmo que isso significasse quebrar a promessa do segredo, afinal de contas ele pedida ao irmão para não contar nada e não a ela.
- Tem certeza de que não quer que eu vá com você? - Minato indagou andando atrás da esposa que cruzava o corredor em direção as escadas rapidamente.
- Não precisar se preocupar comigo - virou para ele no meio dos degraus. - Uchiha Fugaku não me assusta e não é com ele que eu pretendo falar e sim com a Mikoto... De mãe para mãe.
- E se não adiantar Kushina? - O tom de voz do loiro ficou mortalmente suave.
- Se não adiantar - a Uzumaki começou depois de alguns segundos de silêncio. - Eles é que vão se arrepender o resto da vida e não nós e muito menos o Sasuke.
Minato suspirou auditivamente e percebeu que estava completamente sem argumentos e que nada iria fazer a sua 'adorável' esposa mudar de ideia e por isso a deixou ir sem mais nenhuma palavra. Ficou observando o corpo curvilíneo descer as escadas com altivez. Só esperava que Sasuke não saísse ainda mais magoado com daquela situação.
Kushina entrou no carro e logo o motorista deu a partida, era uma viagem relativamente rápida de vinte, vinte e cinco minutos no máximo e quando ela viu a imponente mansão Uchiha surgir não pode deixar de sentir uma raiva silenciosa começa a borbulhar, mas respirou fundo buscando controle. Não podia deixar seu temperamento atrapalhar aquela conversa, tinha que manter a calma e a elegância para atingir aqueles dois.
Desceu do automóvel com as pernas trêmulas e tocou a campainha, logo a porta foi aberta por uma empregada que a olhou bastante desconfiada.
- Pois não?
- Gostaria de falar com a Uchiha Mikoto-san.
- Ela sabe que a senhora vinha? - Uma sobrancelha vermelha se arqueou diante do tom ousado da outra mulher.
- Não, não sabia - respondeu enfaticamente entrando sem receber espaço. - Mas pode ficar despreocupada que eu mesma me anuncio.
A empregada ficou encarando a visitante com um olhar chocado por longos segundos, antes de se recuperar e fechar a porta rapidamente. Logo sons de saltos altos puderam ser ouvidos descendo as escadas junto com uma exclamação sutil de surpresa.
- Kushina?! - A genitora Uchiha parou no degrau claramente surpresa.
A Uzumaki inspirou fundo antes de se virar para morena, adotando a sua melhor expressão de frieza, o que para ela era algo muito difícil. Caminhou alguns passos para frente sem desviar da face pálida da outra.
- Olá Mikoto... Podemos conversar?
- Mikoto-sama, essa senhora entrou sem permissão, eu tentei...
- Está tudo bem - acalmou a serviçal com um gesto de mão. - Eu a receberei, pode voltar aos seus afazeres.
A jovem se retirou rapidamente, mas não pode deixar de olhar pelo ombro uma ou duas vezes, curiosa sobre quem era aquela mulher e o que ela poderia querer ali na mansão Uchiha. Fechou as portas, isolando as duas no saguão principal.
- Desculpe por vir sem avisar, mas eu tenho que ter uma conversa com você, uma conversa muito séria - ditou séria.
- Entendo - pigarreou um tanto sem jeito. - Me acompanhe até a sala que eu-
- Nós já fomos amigas, há muito tempo - interrompeu com a voz rouca. - Mas não somos mais, então não precisa me tratar cordialmente.
Mikoto engoliu a seco e terminou de descer os degraus de maneira firme e de cabeça erguida. Ficou frente a frente com a ruiva, mas desviou o olhar ao bater de frente com os orbes azuis escuros intensos.
- Muito bem, o que veio fazer aqui exatamente?
- Como eu disse nós já fomos amigas antes... Uma amizade que eu acreditei que levaria para toda vida, porém eu estava errada e tudo porque seu filho e o meu se amam. - Sorriu triste tendo os olhos negros idênticos aos de Sasuke fixados em si novamente. - Eu estou aqui porque eu sou mãe, por isso me senti na obrigação de vir pessoalmente lhe deixar a par da situação.
- Kushina, você nunca foi o tipo que faz jogos, então eu peço que vá direto ao ponto, por favor - exigiu cruzando os braços.
A ruiva estreitou os olhos, ali estava. A mesma expressão que Sasuke fazia quando era contrariado, seu genro era tão absurdamente parecido com a mãe que, às vezes, ela até se assustava.
- Você ama o Sasuke?
- Que tipo de pergunta é essa?! - Exclamou surpresa.
- Só responda.
- É claro que eu o amo! Ele é meu filho! - Caminhou alguns passos para longe apertando a mão contra o peito. - Eu sei que não tenho sido a melhor mãe do mundo para ele ultimamente, mas é lógico que eu o amo.
Kushina respirou profundamente de novo, se perguntando se o que estava preste a fazer era o melhor. Quando decidiu vir até a casa dos pais de Sasuke, tinha certeza que aquilo era o ideal, mas agora frente à Mikoto não tinha mais tanta certeza.
Bom... Tarde de mais para voltar atrás.
- Ele está doente, Mikoto - falou de uma vez só fazendo com que a morena se voltasse para si com rapidez invejável. - Ele está com leucemia.
- O que?!
- É um tipo bem agressivo e ele pediu para que ninguém dissesse nada a vocês por que... Você sabe o porque - engoliu o choro ao ver as primeiras lágrimas riscarem o rosto da Uchiha. Ela era mãe também, podia compreender a dor que a outra mulher estava sentindo. - Eu tomei a liberdade de vir aqui porque ele está perdendo, é triste admitir isso, mas ele não parece estar lutando tanto quanto pode e eu acredito que só você e Fugaku podem dar a ele a força necessária para continuar.
Os soluços curtos de Mikoto preencheram o saguão e ela caiu ajoelhada, todo o corpo feminino tremia como uma folha ao vento, Kushina apiedou-se e se aproximou colocando a mão sobre o ombro dela com ternura.
- Você afirmou que o ama, mas não ficou a lado dele nos últimos cinco anos, eu não conheço suas razões e por isso não vou julga-la, mas... Seu filho precisa de você agora, nesse exato momento, essa pode ser sua última chance de ser uma boa mãe. - Deu suaves palminhas e se afastou.
Já tinha dito tudo que havia ido falar, manteve-se neutra por todo o caminho até fechar a porta atrás de si. Foi nesse momento que as suas próprias lágrimas fugiram dos seus olhos, permitiu-se chorar de leve ouvindo o soluçar de Mikoto ecoar dentro da sua cabeça. Não havia ido ali com a intenção de ser cruel, Deus não era esse tipo de pessoa. Fora ali porque sabia que Sasuke precisava dos pais e amava aquele menino como se ele fosse seu. E também porque sabia que se algo acontecesse com Sasuke, Naruto sofreria de uma forma inimaginável.
Ainda sentada no chão, Mikoto estremecia, um frio cruel brotava de dentro para fora, deixando suas extremidades dormentes. Aquilo só podia ser um castigo, um castigo perverso que ela sabia que seu caçula não era merecedor. Piscou controlando-se ao ver uma mão estendida para si.
- Você ouviu? - Aceitou a ajuda para se levantar.
- Sim.
- E?
- Mikoto...
- Chega Fugaku...! É tempo de você superar seus fantasmas - sibilou quase agressiva. - Eu não vou enterrar meu filho, eu não posso!
O patriarca Uchiha assentiu deixando-a passar para a escada. Ainda não conseguia acreditar que Sasuke estava morrendo, mas Uzumaki Kushina não era o tipo que fazia drama. A grande dúvida ali.
O que fazer em seguida?
~*~
Naruto encarava a porta com raiva e sem realmente prestar atenção aos detalhes de madeira da mesma. Estava em seu escritório na Konoha com uma pilha de papéis a sua frente e por mais que tentasse não conseguia se concentrar em nenhum daqueles relatórios. Já havia se passado algum tempo desde que eles descobriram que Sasuke estava doente e as coisas não estavam ficando melhores, seu namorado teve que começar a quimioterapia quase que imediatamente e os feitos eram tão ou mais destrutivos que o câncer em si. Sasuke estava no chão de uma maneira que ele nunca havia visto.
Era desesperador e triste.
- Ei - Itachi bateu de leve antes de entrar, o Uchiha estava com a expressão cansada. - Estou te interrompendo?
- Não - jogou a folha sobre a mesa. - Não é como se eu estivesse conseguindo trabalhar mesmo.
A amargura na voz de Naruto era mais do que palpável e Itachi sentiu o próprio peso das suas emoções aumentarem significativamente. Para Uzumaki Naruto estar tão desolado daquela forma tudo devia estar indo de mal a pior.
- Sem melhoras?
- Ele só fez cinco sessões de quimioterapia é muito cedo para dizer e parece que tudo tem que piorar antes de começar a melhorar, a leucemia dele está no estagio dois quase pulando para o três.
- Quantos graus existem?
- Só quatro.
Aquilo significava que o câncer de Sasuke estava avançando mais rápido do que eles esperavam. O que não era nada bom.
- Eu estou tentando falar com ele, mas-
- Ele não quer falar com você Itachi - Naruto interrompeu sério. - Ele não quer falar com ninguém, ás vezes ele sequer fala comigo - murmurou cheio do dor. - Eu sinto que ele não esta lutando... Está desistindo.
Um músculo repuxou no rosto de Itachi, sua expressão se tornou carregada e ele fechou os olhos buscando de conter, mas Naruto não estava prestando atenção nele para notar isso. Era verdade que pacientes recém-diagnosticados câncer sofriam um baque emocional muito grande e isso às vezes levava a depressão, não era incomum as duas doenças andarem lado a lado.
- Meu irmão não costuma recuar diante de batalhas.
- Verdade - riu seco. - Mas acho que tem uma primeira vez para tudo nessa vida, não concorda? - Naruto levantou da cadeira indo para janela de vidro que pegava boa parte da parede, lá de cima ele conseguia ver Tóquio em seu esplendor. Fazia um belo dia de sol e o céu estava em um perfeito azul que, Sasuke costumava dizer, rivalizava com seus olhos. Tal visão só o deixava ainda mais irritado, era como se o próprio tempo estivesse zombando deles. - Por que você não tenta falar com ele?
- Eu estou tentando, mas ele tem me ignorado há semanas.
- Ele está constrangido pelo o que aconteceu na festa - justificou ainda sem se virar. - Ele sente muito pelo o que te disse.
- Ele disse isso? - Itachi piscou surpreso.
- Não, mas eu conheço seu irmão melhor do que maioria - Naruto olhou pó cima do ombro. - Acredite, ele sente muito.
Itachi riu ácido consigo mesmo e com aquela situação surreal, passou a mão pelo cabelo nervosamente, nunca antes na sua vida havia se sentido tão estupidamente impotente.
- Ele não precisa sentir muito quando é verdade - admitiu pesaroso. - Cada acusação daquela tem um fundo de verdade, eu só esperava que elas nunca fossem levantadas, apesar de saber que provavelmente não vou ganhar o prêmio de irmão do ano.
O silêncio pairou entre eles como um velho amigo e por isso não era carregado e muito bem vindo. Cada um mergulhou em seus próprios temores e arrependimentos genuínos e também nas coisas boas e momentos de pura alegria que remetiam a uma única pessoa.
De repente um toque de celular quebrou a atmosfera e levou alguns segundos para Naruto se dar conta que era o seu que estava tocando.
- Oi pai - O Uzumaki atendeu com a expressão exausta, mas ela rapidamente mudou para surpresa e depois para furiosa, o que causou curiosidade em Itachi. - Ela fez o que?! Por que o senhor deixou...?! Ela não tinha o direito! - Naruto ficou quieto parecendo ouvir algum tipo de explicação nervosamente. - Eu sei que ela é teimosa, mas não justifica... Ta bom, ta bom. Eu vou falo com Sasuke. Não, eu lido melhor com ele do que qualquer outra pessoa. Tchau - encerrou a ligação bruscamente.
Itachi se manteve quieto, não sabia ao certo qual era o assunto, mas claramente envolvia seu irmão e por isso ficou esperando o outro falar alguma coisa, mas o loiro parecia estar em modo irritado e voltou para sua mesa com uma onda de ira.
- Aconteceu alguma coisa? - Não conseguiu se conter.
- A minha mãe contou para aos seus pais que Sasuke esta com câncer.
- Que?!
Wow, aquilo foi inesperado. Quando seu irmão exigiu que ele não dissesse nada aos progenitores ele não concordou de imediato e ficou dias remoendo essa decisão. Mas respeitou a vontade do mais novo, nunca esperou que Kushina seria a pessoa que iria quebrar o silêncio.
- Ela não devia ter feito isso - resmungou o Uzumaki aborrecido. - Esse era o último assunto que eu gostaria de conversar com ele agora.
- Não conte a ele que os meus pais sabem - mandou automaticamente vendo surpresa brilhar nos olhos azuis.
- Por que não? - Franziu a testa.
- Pelo o que nós estamos vendo, Sasuke esta beirando a uma depressão e saber que os meus pais estão cientes do estado de saúde dele, pode não ajudar muito, afinal eu não sei se meu pai vai ir até ele e se ele não for mesmo com ele doente...
- Vai piorar tudo - concluiu sombriamente, quase triste. - Eu entendi o seu raciocínio, não vou dizer nada.
Perder alguém que se ama é uma das dores mais difíceis de se suportar, só quem já passou por situações semelhantes pode compreender, mas se um mero expectador de toda aquela dor parecia ser pior ainda. Era isso que Naruto sentia, ele sentia-se sentando em uma arquibancada observando impotente, correntes negras e grossas se enrolarem cada vez mais ao corpo de Sasuke e o tragarem para baixo, cada vez mais distante e fundo.
- Naruto se precisar de ajuda é só pedir, vocês não precisam enfrentar isso completamente sozinhos.
- Não fui eu que fui deixado sozinho Itachi, você sabe disso - respondeu firme sem a intenção de ferir o cunhado. - Eu vou para casa, prefiro ser um inútil lá do que aqui. Meus projetos ficaram sobre responsabilidade do Shikamaru ele é mais do que capaz de dar continuidade neles. - Pegou seus pertences pessoais rapidamente indo para a porta sem esperar resposta. - Você disse que não fez um bom trabalho como irmão, você sabe que tem a chance de mudar isso agora não sabe? - Falou sem se virar. - Ele ama muito você.
Itachi piscou sentindo a ardência lacrimal e murmurou um som em resposta já que as palavras pareciam ter fugido completamente. A porta de madeira maciça bateu o deixando isolado e sozinho. E pela primeira vez em anos ele se perguntou se era sempre assim que seu irmãozinho se sentia conforme ia crescendo ignorado naquela enorme mansão e se de certa forma, aquilo não contribuíra diretamente para a provação que ele estava sendo obrigado a passar.
~*~
Aquele definitivamente não era ele...
Sasuke se olhava no espelho do banheiro do quarto de hospital com uma fraqueza inédita. O espelho refletia seu novo eu. Havia perdido pelo menos uns dez quilos, sua pele que sempre foi branca leitosa ostentava um aspecto doentio, seus olhos tinham manchas avermelhadas nos glóbulos brancos com profundas olheiras e até seu cabelo que costuma ser completamente rebelde e indomável, carecia de brilho e por isso estava fosco e escorrido pela primeira vez.
Já haviam sido mais de cinco sessões de quimioterapia e os efeitos estavam o deixando completamente enfraquecido. Agora seu mundo era um mundo de agonia constante e que o impedia de continuar a vida como fazia antes, sabia que aquilo era uma fase, mas não estava conseguindo reunir a força emocional necessária para lutar contra aquilo. Dor, fadiga, insônia, infecções gerais eram seus novos companheiros ao invés de cadernos de anotação e canetas.
- Sasuke-san? - Ouviu a voz de Yamato lhe chamar com cuidado.
Estava na hora de receber mais uma carga pesada de drogas pelo cateter que fora inserido no seu peito há pouco tempo. Respirou fundo, exigindo do próprio corpo só mais um pouco de força.
Yamato era extremamente paciente com ele, isso tinha que admitir e não o forçava a falar quando não queria, por isso sabia que sua expressão aborrecida não iria ofender o médico. E de fato não ofendeu, o castanho apenas sorriu complacente e sinalizou para a enfermeira vir aplicar o coquetel.
- Naruto teve alguma reunião importante e não pode vir?
- Por que ele teria que estar aqui? - Arqueou a sobrancelha. - É a minha luta não a dele.
- Hmmm, interessante - avaliou sereno. - Bom, eu não sou casado, mas ao que me consta os votos não são na saúde e na doença?
- Não somos casados - respondeu inexpressivo.
- São sim - sorriu radiante ao ver que tinha conseguido atingir o Uchiha em cheio. - Você não vai conseguir encarar isso sozinho, Sasuke, e você não precisa - hesitante retirou um cartão do bolso do jaleco. - Eu tenho um amigo psicólogo e acho que seria bom você ir conversar com ele.
- Eu não preciso de um psicólogo - resmungou começando a sentir a pele e os músculos queimarem conforme as drogas eram injetadas. - Eu estou bem!
- Não, você não esta bem Sasuke. Você está com câncer e possivelmente com um quadro de depressão e isso não vai te ajudar em nada, muito pelo o contrário, só vai piorar - respondeu calma e neutro, já tinha experiência o suficiente para lidar com pacientes teimosos e o moreno poderia dar aula de doutorado no quesito teimosia.
Sem argumentos, Sasuke baixou a cabeça, não havia julgamento pela parte do médico, mas isso de forma alguma era algum consolo. Sabia que estava soando como uma criancinha rebelde, mas a gama de sentimentos dentro de si estava desenfreada demais, intensa demais para ele lidar.
- Eu vou pensar - ditou baixo.
- Já é alguma coisa - Yamato pareceu surpreso. - Eu quero que você pense-... Olá Naruto, não morre cedo - os olhos do oncologista pularam do paciente ao loiro que abriu a porta do quarto com a expressão bem fechada. - Não sabia que estava aqui.
- Minha avó me avisou - grunhiu entre dentes com os olhos azuis fixos ás costas de Sasuke que não tinha se virado ainda para olha-lo.
- Entendo - pigarreou limpando a garganta. - Já que você está aqui eu vou dar uma olhada nos outros prontuários. - Voltou-se para Sasuke. - Sabe como é se sentir alguma coisa fora do normal...
- Chamar a enfermeira imediatamente - completou automático. - Eu sei.
Yamato apertou de leve o ombro dele e foi para saída, pedindo com o olhar para que o Uzumaki fosse um pouco paciente. Naruto assentiu, relaxando o corpo e fechando a porta suavemente quando o médico saiu.
Os dois ficaram em silêncio por longos segundos, até Naruto suspirar e sentar ao lado do namorado na cama e segurar a mão dele, sentindo-a fria e pegajosa.
- Aconteceu alguma coisa na empresa? - Sasuke obrigou-se a perguntar.
- Não, só decidi tirar o dia de folga, as vantagens de ser o herdeiro de boa parte das ações - deu os ombros rindo satisfeito ao ver um meio sorriso se formar no rosto do moreno. - Estava indo para casa quando a baa-chan me mandou uma mensagem dizendo que você estava aqui e eu quis vir.
Sasuke fez um som de entendimento, com aquilo estava implícito a pergunta do loiro para ele, de o porquê dele não ter avisado que
tinha uma sessão de quimio, eles vinham jogando esse jogo há um tempo e o Uchiha esperava ganhar mais tempo para compreender seus próprios sentimentos, antes de ter que responder aquilo, já que nem ele sabia a resposta.
- Não vai acontecer nada de interessante por aqui eu te garanto - amargura pingou na voz do moreno, que já era íntimo dos efeitos imediatos do tratamento contra câncer.
- Pode continuar tentando Sasuke- mandou sorrindo para os olhos negros que o miraram confusos. - Eu não vou a lugar nenhum Teme, não importa o que você faça - sibilou com desafio e segurança.
- Você é um... - Sasuke se interrompeu levando a mão a boca, Naruto mais rápido do que o esperado levou a pequena bacia de alumínio até o moreno e segurou enquanto o via vomitar com violência, com a outra mão desocupada puxou a franja para trás, impedindo os fios negros de se sujarem. Após alguns momentos e com o estômago completamente vazio o Uchiha sinalizou que poderia se afastar. - Desculpa...
- Pelo o que? - Indagou buscando um copo de água para ele que bebeu com goles curtos. - Você não fez nada errado - acariciou o rosto pálido e riu sapeca. - Será que eu consigo adivinhar o que você comeu no almoço?
- Argh... Você é um idiota - grunhiu o Uchiha com a testa apoiada no peito do loiro. - E é melhor você sair da minha frente, essa foi só a primeira.
Naruto voltou a se sentar na cama, ouvindo os gemidos e a respiração esganiçada de Sasuke. Não era um ignorante completo, sabia que naquele momento ele devia estar sentindo dor e provavelmente um forte enjoo. Ficou bastante tentado a chamar uma enfermeira, mas pelo jeito de agir do Uchiha aquilo parecia normal.
- Dói? - Perguntou com a voz mais fraca do que pretendia e o outro só assentiu. - Aonde?
- Em toda parte - respondeu rouco voltando-se para ele com os olhos entre abertos. - Você não precisa ver isso...
- Não me empurra para longe, Sasuke, não vai funcionar.
Franco demais para discutir o moreno só fechou os olhos, agora a visão estava girando e isso só aumentava a vontade de vomitar, inspirou e expirou lentamente tentando controlar as reações no organismo. Sentiu o celular vibrar no bolso e o tateou as cegas, desbloqueando-o apenas na terceira tentativa. Era uma mensagem e seu conteúdo o fez arregalar os olhos.
- O-O que...
- Que foi? - Naruto esticou o pescoço tentando ler.
- O Shisui está me pedindo se ele e o Itachi podem ficar com a gente por uma semana, parece que teve um problema em um cano de água no apartamento deles - ficou mortalmente sério e olhou para o namorado desconfiado. - Naruto...?
- O que? - Riu, não tinha nada haver com aquilo e talvez fosse uma armação, talvez não, mas quem era ele para julgar? - Problemas acontecem... Diz que vai ser um prazer ter eles com a gente.
Sasuke revirou os olhos, digitando uma mensagem curto e positiva ao pedido, claro que não negaria abrigo ao irmão. Desde que havia conseguido sair de casa, Itachi jamais demonstrara interesse em retornar a mansão Uchiha e ele compreendia bem o sentimento. Ficar em um hotel também era uma opção, mas pelo jeito o primo deles decidira que era melhor ficarem todos juntos.
Agora teria três pares de olhos lhe seguindo em casa... fantástico.
~*~
Enquanto o elevador subia até o andar do apartamento de Sasuke e Naruto, Itachi encarava Shisui completamente abismado. Quer dizer que não podia acreditar que o primo realmente tivesse feito aquilo e continuava agindo como se não fosse nada demais... Cantarolando tranquilamente!
- Você quebrou o registro de água? - Perguntou de novo só para ter certeza.
- Pela décima vez... Sim! - Olhou-o impaciente. - Seu irmão é muito desconfiado, vai que ele quisesse provas? Teve que ser autêntico - revirou os olhos como se aquilo fosse completamente óbvio.
Estava cansando de ver o namorado amuado pelos cantos sem saber o que fazer. Se eles se oferecessem para ficar com Sasuke e Naruto por causa da doença o escritor provavelmente os arremessaria pela janela a fora. Por causa disso teve que bolar um plano para colocar aqueles dois debaixo do mesmo teto, esperava que isso ajudasse os irmãos a se entenderem.
As portas metálicas se abriram e Shisui agarrou sua bolsa de viagem com uma mão e a sacola de compras com a outra e sem esperar por Itachi saiu do elevador indo em direção a porta número 1004. Tocou a campainha e a porta de madeira abriu no mesmo instante que Itachi o alcançava depois de quase ficar preso no elevador.
- Yo - Naruto saudou dando espaço para eles entrarem. - Fiquem a vontade.
- Obrigada por nos receber - Shisui agradeceu tirando os sapatos.
- Com licença - Itachi imitou o de cabelos curtos. - Desculpe pela invasão Naruto.
- Que nada Tachi - o loiro sorriu. - Acho que vai ser ótimo ter vocês aqui - piscou ao final da frase. - Sasuke ta lá na sala brigando com a televisão que de acordo com ele não passa nada de interessante.
O trio andou pelo corredor com Itachi indo na frente, já que Naruto ficou para trás para fechar a porta e conversar alguma coisa sobre o jantar com o Uchiha mais velho. De repente o moreno de cabelos escorridos estancou e os outros dois o imitaram confusos.
- O que foi? - Shisui olhou na mesma direção e compreendeu.
No sofá, Sasuke estava sentando com as penas cruzadas, estava usando moletom e uma touca preta grossa, um cobertor estava em volta dele e mesmo com as roupas pesadas dava para ver o quanto ele tinha emagrecido. No entanto o pior era o seu rosto, só de olha-lo dava para notar que ele estava simplesmente arrasado.
- Ele fez uma sessão de quimioterapia hoje - Naruto explicou baixinho. - Oe, Teme! Seu irmão e seu primo chegaram!
O Uchiha de cabelos rebeldes desviou o olhar da tela com esforço e só maneou a cabeça. Estava muito nauseado e não queria alarmar ninguém desnecessariamente.
- Bem, como agradecimento por terem recepcionado a gente eu me proponho a fazer o jantar - Shisui colocou a bolsa com as roupas em um canto. - Alguém tem alguma preferência?
- Nada pesado ou picante para mim - Sasuke se obrigou a falar.
- Pode deixar - o mais velho sorriu. - Vem me ajudar Naruto, o Itachi fica aqui fazendo companhia para o irmão.
E como em uma nuvem de fumaça os dois se foram deixando os irmãos sozinhos. No primeiro momento Itachi ficou meio desconfortável até que notou que na mesa de centro havia vários frascos de remédios e seu constrangimento pareceu ser uma completa besteira.
- É para dor, enjoo, tontura, combater a acidez no estômago e dormir - Sasuke apontou para cada um. - Meus novos colegas de quarto - riu irônico. - Senta aí nii-san.
- Eu sei que é idiota perguntar, mas... Você está bem? - Acomodou-se ao lado do menor que apenas assentiu com a cabeça. - Otouto...
- Estou tão bem quanto se pode estar nessa situação - deu os ombros resignado. - Hoje até que está sendo um bom dia, as horas após a quimio costumam ser infernais - admitiu tirando a touca, não estava acostumado com aquele acessório.
Itachi não esperava por aquilo, realmente não esperava. Sasuke estava com o cabelo curto quase rente ao couro cabeludo e ver aquilo fez com se seus olhos enchessem de água. Nem mesmo ao nascer o caçula tivera tão pouco cabelo. Uma das suas lembranças mais amadas era da sua mãe colocando nos seus braços aquele bebezinho meigo e cabeludo, cujos os fios despontavam para todos os lados. Piscou afastando as lágrimas e desviando o olhar.
- Decidiu cortar? - Sua voz saiu mais falha do que pretendia.
- Sim, não estão caindo desde a raiz como costuma acontecer, mas estavam cada vez mais secos - observou o rosto do mais velho e percebeu que aquilo havia mexido bastante com ele. - Desculpe.
Essa decisão também chocou Naruto, teve essa atitude repentinamente após sair da sessão. O loiro até abriu a boca para protestar, mas no final decidiu respeitar os seus sentimentos. O coração de Sasuke doeu ao ver pelo espelho lágrimas silenciosas cruzarem o rosto moreno conforme a máquina foi passando pelos fios negros. Teve que fazer, estava com câncer e tinha que abraçar à causa para ganhá-la.
- Não precisa pedir desculpas, foi só... Hmmm surpresa.
- É... eu também me assustei quando me olhei no espelho - confessou baixinho colocando a touca preta de volta. - Mas eu tenho que te pedir desculpas sim, pelo o que houve na festa - o par de olhos negros se encontraram. - Não foi justo te fazer aquelas acusações, eu estava, eu... - as palavras morreram na sua boca.
- Eu sei Sasuke - Itachi passou os braços pelos ombros do irmão o abraçando pela primeira vez em muito tempo. - Nós Uchihas somos umas coisinhas difíceis de lidar, você não precisa dizer nada, eu sei - sentiu a blusa ser apertado pelos dedos do menor e riu. - Você sempre fazia isso quando era bebê - sorriu nostálgico. - Vinha correndo para mim e escondia o rosto no meu ombro e apertava minha blusa, ninguém conseguia te desgrudar de mim, só quando você dormia que eu encontrava a liberdade de novo - brincou.
- Devia ter bastante chato para você...
- Não, eu gostava - acariciou o topo da cabeça dele pelo tecido da touca. - Eu sentia que tinha uma conexão muito especial com você.
Sasuke fez um murmúrio de compreensão, sentindo as bochechas aquecerem de leve e esconder o rosto parcialmente com o edredom. Com exceção de Naruto, lidar com sentimentos sempre foi uma grande dificuldade.
- Então - limpou a garganta. - Nós estamos bem?
- É claro otouto - franziu a testa. - Você está com febre?
- Não, só com muita roupa, tá tudo bem Itachi, eu juro que está.
Não era uma mentira completa, mas também não era uma verdade. Aquela noite queria fingir que tudo estava bem.
O jantar transcorreu em um clima íntimo e agradável, Itachi provocava Sasuke com histórias de quando eles eram crianças e Shisui fazia o mesmo com o irmão mais velho. Naruto só se escandalizava de rir já que ninguém ali conhecia suas peripécias infantis.
Logo os quatro foram deitar, pois em meio às conversas nem perceberam a hora passar e já era quase meia noite. Os visitantes estavam devidamente acomodados no quarto de hospede e Itachi após o banho caminhou como um ninja até a suíte principal. Não pode se conter, sempre foi curioso de como seria a relação de Sasuke e Naruto quando estivessem entre quatro paredes e sem ninguém olhando. Bisbilhotou pela brecha da porta entre aberta.
Eles estavam deitados, Naruto de barriga para cima e com uma das mãos atrás da cabeça. Sasuke estava usando o peito bronzeado de travesseiro e por isso ficou parcialmente por cima no Uzumaki que usava o outro braço em um aperto de ferro e fazia um sutil carinho nos fios negros agora curtos. Apesar de tem uma cama king size os enamorados naquela posição não ocupariam nem uma cama de solteiro.
- Ei - virou o pescoço para lado, Shisui o fitava de braços cruzados. - Não dique espionando nossos anfitriões, você quer ir parar debaixo da ponte? - Brincou.
O de cabelos longos apenas sorriu culpado, não tinha argumentos para se defender, foi pego no flagra.
- Desculpe - pediu se afastando da porta. - Eles são felizes - concluiu satisfeito, olhou para o mais velho com gratidão. - Obrigado.
Shisui puxou Itachi e beijou os lábios finos e doces dele com suavidade e reverência.
- De nada meu amor.
~*~
- Sério, eu juro para você que eles vão terminar o conserto essa semana - Itachi prometeu a Naruto que apenas riu.
Os dois estavam caminhando pelos corredores da Konoha. O acordo de uma semana na casa do Uzumaki e do Uchiha mais jovem foi extrapolado para vinte dias e pelo jeito seria prorrogado mais um pouco.
- Eu já disse que está tudo bem, você e o Shisui são bem vindos para ficar o tempo que quiserem.
Ter irmão mais velho perto fez muito bem a Sasuke, era como se eles dois estivessem se conhecendo de verdade pela primeira vez. Itachi já não tratava o mais novo com aquele ar de super proteção e afastamento que era comum a ele e Sasuke enxergava melhor o de cabelos longos sem aquela áurea de perfeição que sempre criou uma barreira entre eles. Foi uma transformação e tanto que só contribuiu para a melhora do moreno. No decorrer dessas duas dezenas de dias ele deu pouquíssimos sinais tristeza e apatia.
- Naruto! - Os dois se viraram ao ouvir o nome do loiro ser chamado.
- Tou-chan? - Minato que sempre era muito calmo ostentava uma expressão preocupada. - O que foi?
- Eu recebi uma ligação da sua mãe, ela está tentando falar com você pelo celular e não conseguiu.
- Ah, sim - pegou o aparelho no bolso. - Eu coloquei no modo silencioso por causa da reunião - estremeceu de leve. - Aconteceu alguma coisa?
- O Sasuke teve que ir para o hospital, estava com muita febre e ela não baixava, por sorte sua mãe foi visita-lo hoje e está indo com ele.
Itachi arregalou os olhos enquanto Naruto emudeceu. Inacreditável, apenas algumas horas atrás eles deixaram Sasuke em casa e ele parecia bem. O que podia ter acontecido para ele ter febre do nada?
- Obrigado, Minato-san, nós vamos para o hospital imediatamente - agradeceu Itachi tentando conter o nervosismo.
- Eu vou com vocês - o loiro mais velho focou-se no filho que ainda não tinha dito uma palavra. - O motorista da empresa já está nos esperando com o carro na porta da frente, vamos?
Naruto encarou os olhos azuis sábios do genitor e despertou do choque assentindo vigorosamente. Depois pediu para sua secretaria arrumar suas coisas. O trio andou em passos rápidos até a porta da frente onde Shisui já os aguardava, entraram no carro e o motorista experiente começou a dirigir com velocidade e precisão. Ninguém disse uma palavra durante todo o caminho, Itachi só podia agradecer por ter o primo perto naquela hora, pois não soltou a mão dele um segundo. E nem perceberam que eram observados da janela do prédio por um par de olhos tão negros quando os dos Uchiha.
Chegaram ao hospital bem rápido e foram direto para o elevador. O andar da oncologia era o quarto, era um andar frio e que dificilmente irradiava alguma alegria. Kushina e sua cabeleira vermelha foram facilmente avistadas, Yamato e Tsunade faziam companhia a ela na sala de espera e também os viram.
- Cadê o Sasuke? - Naruto perguntou exasperado.
- Ele está dormindo agora e recebendo medicação na veia - Tsunade respondeu pacata. - Senta, temos que conversar.
- O que aconteceu? - Shisui preferiu ficar em pé ao lado de Itachi que havia se acomodado ao lado de Naruto no sofá, assim como Minato também manteve-se ereto ao lado da esposa que apertava seus dedos.
- Foi um resfriado que evoluiu muito rápido - começou Yamato. - É comum os pacientes em tratamento terem a imunidade praticamente destruída por causa das drogas da quimioterapia e isso faz com que os vírus ajam muito depressa, mas esse não é o problema. - O médico ficou mortalmente sério, fazendo todos tremerem. - Com os novos exames podemos determinar que Sasuke apresenta 26% de células cancerígenas, quase o mesmo percentual de antes e isso indica que o câncer esta resistindo a quimioterapia a tornando praticamente inútil.
- Ele não está melhorando? - Itachi indagou tentando compreender as palavras do médico.
- Infelizmente não - ditou honesto. - Entendam, a leucemia só pode ser curada com um transplante de medula, mas para haver transplante a leucemia deve entrar em remissão ou então só contaminaria a nova medula, já estamos buscando um doador no banco de dados, mas vai ser infrutífero se não controlarmos a LLA.
Minato e Kushina se entre olharam um segundo antes de virarem para o filho. Nunca antes, Naruto pareceu sofrer tanto. Tinha o rosto denso e compenetrado, mas os olhos azuis denunciavam a dor interna que estava sentindo e mesmo assim não se deixou demonstrar.
- Qual é a alternativa? - O Uzumaki perguntou cruzando os braços.
- Radioterapia, ela é mais precisa em função da localidade e eu também vou fazer algumas alterações na quimio do Sasuke.
- Quimioterapia e radioterapia ao mesmo tempo não vão debilita-lo ainda mais? - A voz de Naruto parecia uma pedra de gelo.
- Provavelmente sim - Tsunade assumiu a fala. - Contudo, dado o avanço da leucemia de Sasuke é a melhor opção. Por isso ele vai ficar internado por tempo indeterminado.
Sem esperar por ninguém, Naruto levantou e foi em direção ao corredor que dava para os quartos. Sabia onde o moreno estaria e ninguém o impediu. Itachi, Shisui, Minato e Kushina continuaram trocando informações com os médicos por mais algum tempo. Era mais seguro que Sasuke ficasse ali onde teria atendimento imediato caso alguma coisa alarmante acontecesse.
Yamato se retirou depois de alguns minutos, tinha que verificar outros pacientes antes de ir para casa. Estava perto da recepção quando notou um homem de cabelos escuros parado contra a parede e ao olha-lo soube imediatamente quem era. Aproximou-se devagar, como se estivesse lidando com um animal selvagem.
- Fugaku-san?
O homem desviou o olhar para ele mortalmente sério e ele sentiu vontade de rir, era como se estivesse sendo a personificação de Sasuke quando estava muito irritado.
- Sim?
- Veio ver o Sasuke? - Colocou as mãos nos bolsos do jaleco. - O quarto dele é o 408, Naruto está lá junto com os pais, seu filho mais velho e seu sobrinho. Sasuke está dormindo agora e eu não posso dizer quando ele vai acordar, mas acho que ele ia gostar de vê-lo - entregou um cartão de visitante. - Com isso o senhor vai poder circular livremente pelo hospital. - Faça bom uso.
Fugaku segurou o pequeno retângulo com os dedos firmes. Quando as fofocas de que Naruto e Itachi saíram correndo da empresa chegaram ao seu ouvido ele deduziu que se tratava de Sasuke. Desde que haviam descoberto sobre a doença do caçula, Mikoto tentava convencê-lo a ir até o filho. Mas ele não tinha certeza de que conseguiria. A visão de Sasuke em cima de uma cama de hospital pareceu grotesca demais para ele digerir e por impulso veio para o hospital, contudo em segredo. Com exceção daquele médico, ninguém mais sabia que ele estava ali. Preferia que fosse daquele jeito, ainda não havia se perdoado e achava que nunca conseguiria. Olhar para Sasuke só aumentava sua culpa.
Ele era uma pessoa tão fraca...
~*~
Sasuke acordou em um mundo de dor.
Todo seu corpo doía, dos pés à cabeça. Naquela manhã ao acordar, sentiu uma leve indisposição que só piorou com o passar das horas. Sua febre de 37,5° foi para 40,5° em menos de duas horas mesmo tomando os remédios recomendados. Estava sem força até para pegar o telefone e por isso ficou deitado no sofá enrolado tentando dormir. Felizmente, Naruto sempre pedia para mãe ir dar uma olhada nele quando não conseguia sair da empresa para o almoço. Sua amada sogra nem perguntou como ele estava se sentindo, bastou olha-lo que ela soube. Aquela mulher era incrível.
Sabia que Naruto havia ido em casa trocar de roupa e pegar algumas coisas que ele precisaria já que ia ficar internado. Itachi e Shisui deviam ter ido com ele, não sabia se seus sogros ainda estavam lá, mas agradecia por estar sozinho naquele momento, não tinha certeza se conseguiria encarar algum de seus parentes. Depois de alguns dias, vivendo aquela perfeita ilusão de que tudo estava bem, seu corpo não aguentou o ataque de um simples resfriado. E o lembrou.
Estava doente, estava morrendo.
Afastou o edredom do corpo ficando arrepiado com o vento gelado que vinha do ambiente, mesmo estando de casaco e calça de moletom sentia muito frio. Olhou em volta do quarto, esse era novo. Além da sua cama, haviam duas poltronas reclináveis ao canto e um pequeno sofá de dois lugares, os privilégios de ser namorado do neto da dona do hospital. Uma grande janela ficava em uma das paredes e como as cortinhas estavam afastadas pode ver o céu fechado. Iria chover. Que bom.
Queria sentir a chuva.
Com passos incertos foi para o corredor, tudo estava mortalmente silencioso, quase como um sinal da sua solidão interna. Estava tão frio por dentro quanto por fora. Sua tez ainda queimava, a febre persistia, mas isso não o impediria de vir saudar sua velha amiga e testemunha. Precisar sentir as gotículas geladas. Sempre que algo bom ou ruim acontecia na sua vida, a chuva estava lá, lhe dando forças ou apenas o parabenizando. Agora nesse instante, precisava de forças.
Achou a escada de emergência e começou a subir os lances devagar, se apoiando no corrimão. Iria até o telhado, lá ninguém iria perturbá-lo. Já conseguia sentir o cheiro de gostoso que desprendia na terra sempre que era beijada pela água límpida. E de fato quando chegou ao terraço, já chovia. Parecia uma chuva de verão, forte e barulhenta, mas tão refrescante de algum modo. Seus pés molharam completamente enquanto ele caminhava cada vez mais para o centro. Olhou para a imensidão cinza escuro mergulhado com o negro do céu ao crepúsculo, sentiu as próprias lágrimas quentes se misturarem as gotas.
O céu estava chorando por ele? Ele merecia aquele choro? Merecia estar passando por aquilo? E arrastando todos com ele? No leve despertar que teve, pode ver tristeza nítida nos olhos de Naruto, seu sol estava se apagando e a culpa era inteiramente dele. Ergueu os braços numa tentativa vã de alcançar o infinito. Se ele iria morrer, não era melhor que fosse logo, não era melhor poupar a todos daquele sofrimento continuo?
- Sasuke!
Baixou a cabeça ao ouvir seu nome ser chamado pela mais improvável das pessoas que poderiam estar ali.
- P-Pai? - Sussurrou incrédulo vendo-o correr na sua direção e agarra-lo pelos ombros.
- O que você está fazendo? - Fugaku indagou ofegante.
Mantivera-se escondido nas sombras e observou todos irem embora, sabendo que logo voltariam. Mas por algum motivo não conseguiu deixar o hospital. Ficou lá de guarda até ver o filho entrar na escada de incêndio e o seguiu curioso sobre onde ele poderia estar indo. Levou um susto ao vê-lo andar pelo terraço com os braços erguidos, pegando chuva tranquilamente. Só de segurá-lo dava para sentir o quão quente ele estava.
- Pai - ele voltou a dizer tocando seu rosto de leve, como se fosse uma alucinação. - O senhor está aqui?
- Depois nós conversamos sobre isso - já estava completamente encharcado como o mais jovem. - Temos que entrar você vai ficar mais doente.
- Mais doente? - Sasuke sorriu amargo. - Acho que não tem como eu ficar mais doente - ditou voltando a fechar os olhos e jogando a cabeça para trás para sentir os pingos. - Quem foi?
O Uchiha mais velho segurou a vontade de puxar o filho para um abraço apertado. Não tinha o direito de acalenta-lo, não depois do que tinha feito.
- Kushina-san...
- Jura? - Achou graça. - Delatado pela própria sogra... até que isso não deve ser tão incomum assim.
- É, é provavelmente não - sem esperar ele dizer mais um palavra o pegou no colo com facilidade assustadora. Sasuke estava muito leve para um adulto de 25 anos. - Vamos entrar.
Felizmente para o orgulho do mais novo, ele só pode ser carregado como uma "princesa" até a porta das escadas que eram estreitas para descerem assim, por isso ele chegou ao corredor do hospital apoiado somente pelo ombro sem saber da pequena confusão que sua aventura causou e logo pode ouvir a voz de Tsunade soando de pelo menos quinhentos metros.
- COMO ASSIM ELE SUMIU? - A loira batia o pé no chão encarando as enfermeiras, atrás dela estavam Naruto de braços cruzados e bufando junto com Itachi e Minato que tentava acalmar a esposa. - FOI COMO? EM UMA NUVEM DE FUMAÇA?
As pobres mulheres tremiam de leve diante da médica chefe, a verdade era que nenhuma delas estava no posto base do andar e por isso não tinham visto para onde o Uchiha havia ido. Quando Naruto entrou no quarto e não viu o namorado, chamou pela avó tão alto que mesmo sem usar o sistema de som interno do hospital ela conseguiu ouvi-lo. Tsunade chegou com a intenção de dar uns bons cascudos no seu neto e dizer a ele que ali não era um local para se gritar, mas quando ouviu o motivo encarnou o satanás. Não admitia erros como aquele da sua equipe, ainda mais em um andar tão crítico como aquele.
Itachi estava com o coração martelando no peito. Onde infernos Sasuke estava? Porra! Qual era o problema do seu irmão. Olhou em volta tentando se acalmar e arregalou os olhos.
- Pai?! - Exclamou chamando a atenção de todos.
Os olhos se voltaram ao mesmo tempo para os dois Uchihas encharcados no corredor. Fugaku parecia levemente consternado e Sasuke olhava para todos os lugares exceto para a pequena plateia.
- O que você está fazendo aqui? - Naruto grunhiu se aproximando, ele foi o primeiro a ter reação. - E porque vocês estão tão molhados?
- O Sasuke... Hn, ele achou que... Ele estava no telhado - limpou a garganta. - Ele estava tomando banho de chuva.
Sasuke sentiu o rosto queimar ainda mais quando se viu como centro das atenções. O olhar de todos era de total surpresa, exceto o de Naruto que brilhou com uma ira inédita.
- Você tá maluco, porra?! - O Uzumaki gritou sem se importar. - Qual é o seu problema?!
- Filho, calma - Minato interviu sentindo o perigo do sangue quente dos Uzumaki. - Ele com certeza têm uma explicação que vamos adorar ouvir só que mais tarde, primeiro ele tem que trocar de roupa - olhou para Tsunade em busca de apoio.
- Seu pai esta certo, Naruto - a médica deu alguns passos a frente. - Sasuke precisa tomar um banho e trocar de roupa, eu vou reforçar a medicação dele só para garantir.
Naruto mordeu o lábio inferior para tentar conter o temperamento explosivo querendo sair. Pegou a mochila que tinha feito com algumas roupas e olhou de volta para o moreno que se afastara do pai alguns centímetros e o olhava por entre a franja.
- Eu quero ficar sozinho com ele por dez minutos - murmurou grave e não esperou resposta para puxar o braço dele em direção ao quarto que tinha seu próprio banheiro.
Um silêncio tenso caiu sobre o restante dos telespectadores, as enfermeiras aproveitaram a deixa para escapulir e Itachi se aproximou do pai com passos incertos. Meio descrente que o genitor realmente estava ali e que foi ao auxilio do filho menor.
- Quando o senhor chegou aqui? - Perguntou baixo.
- Ligue para sua mãe - mandou sem responder. - Ela vai querer estar perto do seu irmão - caminhou para a saída.
- Pai-
- Por favor, Itachi - fitou o filho com franqueza. - Agora não.
Kushina o cumprimentou com a cabeça sem julgamento, sentindo uma pontada de satisfação e vitória. Uchiha Fugaku finalmente havia dado o primeiro passo para de redimir, só esperava que não tivesse sido tarde de mais. Sorriu para Minato que rodou os olhos com a nítida felicidade da esposa, sabia que ela devia estar de achando o máximo. Só queria saber como l Naruto e Sasuke iriam se entender depois daquele súbito e estranho incidente.
~*~
Sasuke terminou de tomar banho e se vestiu o mais lentamente possível. Quando saísse daquele banheiro iria enfrentar uma raposa furiosa e não estava se sentindo com forças para fazer aquilo. Quando decidiu ir até o telhado não esperava ser pego no flagra! Mas que droga, que mico terrível que havia pago. Colocou a meia branca e foi para a porta que ligava ao quarto, era melhor não adiar o inevitável.
Surpreendentemente, Naruto não começou a gritar assim que o viu, na verdade ele nem o olhou e continuou sentando na beira da cama e só se afastou para que o moreno se deitasse. Não havia mais fúria nos orbes cerúleos, apenas dor e isso feriu Sasuke de muitas maneiras.
- Dobe-
- O que você estava pensando? - Perguntou franzindo a testa em confusão, girando o pescoço para encara-lo. - O que Sasuke?
- Eu...eu - engoliu a seco. - Eu estava pensando...
- Eu sei o que você estava pensando. Você estava pensando que não queria que nós estivéssemos passando por isso com você - ignorou a surpresa nos olhos negros. - Que você talvez merecesse isso... Que talvez fosse melhor simplesmente morrer de uma vez, eu estou acertando não estou? - Sentiu a primeira lágrima fugir.
Sasuke reprimiu um soluço inutilmente e logo os dois choravam olhando um para o rosto do outro sem se tocar. O moreno esconder o rosto entre as mãos e Naruto desviou o olhar.
-... Você não escolheu ficar doente, que merda, ninguém escolhe! Só... aconteceu! - Se colocou de pé. - Nós temos adiado essa conversa, mas eu acho que é hora de colocar algumas coisas no seu devido lugar... Olha para mim! - Esperou as duas pedras ônix o fitarem. - Eu não vou a lugar nenhum, eu não vou desistir de você e eu não vou deixar você desistir de si mesmo! - Cedeu ao pranto. - O que você acha que vai acontecer comigo se você morrer, heim?- Soluçou. - Depois de tudo, você acha que existe e menor probabilidade de eu ser feliz sem você?
- N-Não - respondeu soluçando também. - P-Porque eu não conseguiria ser feliz sem você -admitiu puxando-o para perto.
Naruto beijou Sasuke com tanta intensidade que pareceu por um momento que eles estavam compartilhando a febre. As mãos tocavam todas as partes possíveis do corpo e logo o Uzumaki já estava parcialmente deitado sobre o moreno na cama. Encerrou o beijo sentindo o parceiro levemente ofegante.
- Vai haver dias bons e dias ruins - olhou dentro dos olhos negros. - E dias terríveis, mas eu quero que me prometa que não vai esconder nada de mim, que não vai me deixar de fora, por menor que seja o que você estiver sentindo - apertou os dedos brancos.
Sasuke assentiu sem conseguir encontrar a própria voz. Apenas passou os braços em volta do corpo do loiro por longos minutos e não se separou nem quando ouviu a porta sendo aberta.
- Então - a voz de Yamato surgiu do nada e ele olhou por cima do ombro. - Aqui estou eu no final do meu plantão e descubro que um dos meus pacientes resolveu fazer a dança da chuva - brincou tirando um termômetro do jaleco.
- Desculpe - pediu sem deixar Naruto se afastar muito e o loiro manteve o abraço beijando sua têmpora. - Acho que eu estava delirando...
- Entendo - sorriu para o casal. - Seu pai foi para casa - informou vendo o Uchiha baixar os olhos. - Mas eu soube que sua mãe está vindo para cá igual a uma bala, sem contar que pelo o que seu irmão disse a empresa que vocês trabalham, todo mundo já está sabendo que você está doente e todos os seus amigos também estão vindo para cá.
- Todos? - Naruto repetiu.
- Todos - afirmou o médico. - E uma tal de Haruno Sakura prometeu via telefone que vai matar vocês por não terem avisado que o Sasuke estava internado.
Sasuke olhou para Naruto que retribuiu o olhar assustado. Não demonstrou no momento, mas por dentro se sentia aquecido por aquela demonstração de apoio, só esperava que Tsunade não expulsasse todo mundo a socos.
~*~
Algum tempo depois...
Remissão.
O primeiro objetivo na luta contra o câncer. Quando a leucemia é descoberta, há em torno de 100 bilhões de células cancerígenas, dependendo do avanço, esse número pode de multiplicar rapidamente. A quimioterapia e a radioterapia tinham como função reduzir pelo menos 99% dessas células doentes, em casos onde um transplante ou intervenção cirúrgica também é uma opção. E ele estava a poucos passos disso.
- Muito bem Sasuke - Yamato o parabenizou após mais uma sessão de radio, sua pele queimava de leve e ficava avermelhada, mas já estava se acostumando com aquilo. - Acho que só mais algumas sessões e vamos alcançar nossa meta.
- Yamato - começou de maneira hesitante trazendo os olhos castanhos de volta para si. - O pessoal vai fazer uma viagem para Ogasawara e eu quero sua opinião se eu posso... bem, ir?
O médico apoiou os cotovelos na mesa pensativo, Sasuke estava lidando melhor agora com o fato de estar doente, o que era muito bom. Como esperado a quimioterapia somada à radioterapia o deixou muito fraco, mas ele lutou bravamente e conseguiu superar muita coisa. Infelizmente a leucemia dele era muito, muito agressiva e parecia se desenvolver exponencialmente.
- Quanto tempo vocês pretendem ficar?
- Só o final se semana, Naruto está super animado com essa viagem, nós não vamos lá desde o colegial e...
- Se você não for ele provavelmente não vai - concluiu rindo. - Você só tem sessão de quimioterapia na terça à tarde, então eu acho que não tem problema tirar uma folga esse final de semana, como seu médico você tem meu aval para ir.
- Obrigado - os olhos negros brilharam de leve.
- Mas, conhece as regras do que pode ou não fazer, certo? - Arqueou a sobrancelha.
- Eu sei - levantou da cadeira indo para a porta. - Vejo você semana que vem.
O médico acenou e Sasuke saiu do consultório mais leve. Não estava tão animado assim para viajar já que ainda sentia os efeitos do tratamento e sua saúde era uma inconstante total, mas não pode deixar de ser contagiar com a alegria de Naruto só pela possibilidade de ver os corais de novo. O loiro realmente adorava mergulhar.
- Tudo pronto Sasuke? - Mikoto baixou a revista que estava lendo. - Vai poder viajar com seus amigos?
- Sim - sorriu para genitora que retribuiu o gesto.
Ela havia chego ao hospital ofegante e desarrumada, depois daquele episódio constrangedor da chuva. Não disseram nada uma ao outro apenas se abraçaram e ela pediu perdão por ter ficado totalmente ausente de sua vida por tanto tempo e queria uma segunda chance. Talvez se estivesse em outro estado ele teria pensando duas vezes antes de deixa-la retornar para sua vida assim tão depressa, porém o câncer lhe apresentara novos medos e dar uma chance pareceu ser a melhor opção.
Claro que foi difícil dos primeiros dias já que eles haviam perdido completamente a intimidade, mas felizmente com algumas conversas e cuidados tudo foi se ajeitando. Seu pai por outro lado era uma história completamente diferente, o genitor Uchiha sempre perguntava por ele e seu tratamento segundo Mikoto e Itachi, mas não tinha voltado a visita-lo. Quando questionava o porquê daquilo, sua mãe sempre dizia que essa era uma conversa que eles teriam que ter sozinhos.
- Contou ao Yamato-sensei que você pretendia ir com ou sem a permissão dele?
- Não...
- Contou que a viagem é hoje?
- Também não.
A mulher olhou para o filho de canto que direcionou a atenção para o outro, só para não ter que encara-la. Mikoto suspirou e depois riu meio frustrada e meio nostálgica de toda aquela teimosia imensurável.
- Tome conta da sua saúde, okay? - Beijou o rosto do filho de leve. - Naruto vem te pegar?
- Sim - acenou para um táxi e ajudou a mãe a entrar. - Nós vamos daqui mesmo, as malas já estão prontas e a Sakura vai com a gente.
- Eu fico feliz com isso.
- Mãe ela esta fazendo residência de medicina mais isso não significa que ela vai ir para cuidar de mim - fechou a porta do carro. - Eu prometo que vou me cuidar.
- Está bem! Divirta-se e se você sentir qualquer coisa nos avise imediatamente!
Sasuke acenou e assentiu enquanto via o carro se afastar. A expressão tranquila se desfez quando percebeu que a matriarca não podia mais vê-lo, estava sentindo falta de ar há algum tempo e uma leve queimação nas costas, sabia que aquilo provavelmente era efeito da radioterapia. Até pensou em comentar sobre isso com Yamato, mas ele provavelmente pediria uma bateria de exames e sua viagem seria frustrada. E ela já tinha sido adiada tantas vezes, duas por sua causa. Sabia que Naruto era extremamente paciente, mas ele realmente estava excitado com a viagem, não queria estragar tudo para ele de novo.
- Ei - Sakura surgiu do seu lado com uma mochila. - Pronto para ir?
- Claro - os olhos verdes o esquadrilharam de cima abaixo. - O que?
- Tudo certo? Sasuke-kun? - A universitária colocou a mão na sua testa para chegar sua temperatura e estreitou os olhos. - Você estava com uma expressão de dor.
Sasuke retirou a mão feminina do seu rosto com impaciência. Era só o que faltava, pelo jeito teria sim uma médica particular durante o final de semana na ilha paradisíaca.
- Eu estou bem - a garota cruzou os braços. - Prometo que vou dizer se sentir alguma coisa.
- É bom mesmo!
~*~
As ilhas Ogasawa também conhecidas como ilhas Bonin ficavam localizadas a 1000 km ao sul de Tóquio e era considerado um patrimônio natural mundial. Apesar de ser um pouco distante a viagem valia a pena, pois além de ser um lugar de beleza icônica os visitantes tinham o privilégio de nadar com golfinhos, fazer caíque e mergulhar nos corais. Era um verdadeiro paraíso.
- Eu senti tanta falta desse lugar - Naruto parecia uma criança olhando para a praia.
- É, faz tempo que a gente não vinha aqui - Gaara concordou. - Vamos nos acomodar nos quartos e aproveitar o resto do dia, o barco está a nossa disposição para fazermos mergulhos - anunciou fazendo os olhos azuis reluzirem de felicidade.
O grupo se deslocou com passos rápidos e Sasuke foi mais lentamente. Não iria com eles para aquele passeio, a viagem como tinha imaginado, havia o desgastado demais. Sentia-se cansado e nauseado, sem falar na dor que percorria seu corpo e na crescente queimação nas costas.
- Vai alugar equipamento também? - Shikamaru perguntou o acompanhando. - Quer dizer, você pode fazer mergulho?
- Posso - respondeu mesmo sem ter certeza. - Mas não vou, prefiro ficar no quarto descansando um pouco e meu médico falou para ter cuidado com exposição ao sol então e melhor não arriscar.
- Todos nós vamos - o moreno de cabelos presos falou. - Tem certeza de que vai ficar bem sozinho? - Perguntou preocupado.
Sasuke apenas assentiu sem transparecer o que realmente sentia. Talvez não tivesse sido a melhor das ideias, pensou olhando Naruto se divertir com os amigos. Normalmente ele não era tão entrosado quanto o companheiro, mas antes o Uzumaki estava sempre buscando seus olhos. Isso não estava acontecendo agora, desde o percurso foi como se Naruto tivesse se desligado completamente dele e curtisse só com os amigos.
Aquela situação já lhe fora descrita por outros pacientes, inconscientemente o loiro estava de "folga", perto dos amigos de infância ele deixou-se levar e só queria ter aquele tempo de tranquilidade e diversão. Honestamente, Sasuke sabia que não podia culpa-lo, desde o primeiro momento o rapaz de olhos azuis foi extremamente paciente e zeloso. Merecia aquele tempo só para ele. Contudo não podia negar que doía demais ser deixado de lado daquela forma. Isso só trazia pensamentos caóticos e tenebrosos que ele não estava tendo sucesso nenhum em afastar.
Já no quarto observou ele trocar de roupa em tempo recorde e não pode deixar de comparar seus físicos. Naruto sempre foi mais musculoso que ele já que sua estrutura era geneticamente esbelta, mas a recente situação tornava aquela diferença cômica. Enquanto o Uzumaki continuava parecendo um deus grego ele cada diz mais se assemelhava a um esqueleto andante.
Arqueou a sobrancelha debochadamente quando os olhos azuis fixaram-se nele.
- Tem certeza de que não quer ir? - Naruto perguntou animado. - Vai ficar sozinho aqui nesse quarto?
- Eu tenho alguns trabalhos para fazer com o Kakashi e quero aproveitar o silêncio para escrever - respondeu desinteressado. - Divirta-se...
- Okay - terminou de colocar as coisas na mochila. - Te vejo a noite para a janta -, e disparou para fora do quarto.
Sasuke permitiu que uma expressão de tristeza se apoderasse do seu rosto. Levantou da cama calmamente e andou até a janela que graças à posição privilegiada do quarto deles, dava de frente para a praia, de lá podia ver o grupo se amontoando, rindo, brincando... Todos amplamente saudáveis. Percebeu Sakura o olhando e acenou discretamente. A garota demorou a responder o cumprimento e pareceu suspirar antes de dar um cascudo violento em Naruto que ficou sem entender o porquê daquela agressão.
E pela primeira vez no dia, Sasuke sorriu de verdade.
Continuou lá até que o carro que os levaria ao píer chegou e em poucos segundos tornarem-se um pontinho negro que logo desapareceu. Uma queimação estranha subiu pela sua garganta e seus olhos doeram, duas lágrimas finas fugiram sem que pudesse impedir. Aquilo era tão injusto. Sentia-se tão desnecessário á todos, a falta de carinho e amor dos pais criou nele um complexo de inferioridade profundo que foi amargamente superado quando conseguiu realizar seus sonhos.
Mas...
A doença que lutava para destruir seu corpo, também tinha poder de destruir seu psicológico, que não era o dos melhores, tinha que admitir mesmo a contra gosto. E ter a felicidade e vitalidade do companheiro esfregada na sua cara daquele jeito não estava lhe fazendo bem. Balançou a cabeça tentando ignorar aquele sentimento mesquinho e egoísta que não tinha o direito de sentir.
O celular vibrou no seu bolso e o atendeu sem vontade.
- Sim?
- Otouto! - A voz de Itachi só fez sua ânsia de choro aumentar. - Liguei porque vi que vocês já chegaram, a Yamanaka postou uma foto de vocês na van, mas não te vi, está tudo bem?
- Sim.
A ligação ficou em silêncio por alguns segundos.
- Sasuke, o que foi? Aconteceu alguma coisa? - Preocupação nítida soou na voz do mais velho.
- Nii-san - começou rouco. - Você, Shisui, Naruto, nossos pais, vocês vão continuar bem sem mim não vão? - Soluçou seco sentindo-se tão fraco.
- Que pergunta é essa Sasuke?! - Itachi se assustou com o teor da conversa. - Onde você está? Cadê o Naruto?
- Naruto não esta aqui - respondeu tristemente sem capaz de conter outro soluço. - Naruto está vivendo...
O celular escorregou da sua mão até o chão antes que ouvisse uma resposta. Pegou um casaco que trouxera apenas por obrigação e o vestiu saindo do quarto sem levar nada consigo. Precisava caminhar, pensar em alguma coisa. Se ficasse preso entre quatro paredes seria pior.
°
- Sasuke?! Sasuke!! - A voz de Itachi ecoou pela sua sala.
Estava em seu escritório na Konoha porque tinha que resolver um assunto relacionado a um contrato que ele mesmo fechou. Quando viu a atualização das redes sociais dos amigos do irmão foi logo stalkear, mas ficou surpreso quando não viu Sasuke em nenhuma das imagens e por isso ligou para saber como estavam as coisas.
Nunca esperou que Sasuke falasse aquelas coisas. Achou de coração que a viagem faria bem a ele e á Naruto. Mas pelo jeito alguma coisa deu muito errado. Saltou da cadeira e praticamente invadiu a sala ao lado que era do seu pai que o olhou confuso.
- O que-?
- Vou pegar o helicóptero da empresa - anunciou. - Aconteceu alguma coisa com o Sasuke e eu quero ir vê-lo.
- O que foi que houve com seu irmão? - Fugaku pareceu preocupado de verdade.
- Não sei, mas eu vou descobrir!
O genitor Uchiha ficou olhando perplexo o filho mais velho falar ao celular com o piloto. A Konoha dispunha sim de alguns helicópteros, mas raramente eles eram usados, muito menos para a vida privada. Era conceito muito bem definido, mas pelo jeito Itachi não estava nem um pouco preocupado com isso. O que indicava problemas graves, mas de acordo com a esposa o filho mais novo não estava passeando com os amigos? Quer dizer, se ele podia viajar significava que estava bem, certo?
Largou-se contra a confortável cadeira com pesar estampado no rosto. Sentia-se um covarde por não ter coragem de encarar o filho que estava tão debilitado. Fechou os olhos em uma prece para que tudo estivesse bem com seu teimoso caçula.
~*~
O sol já começava a descer no céu quando os garotos emergiram pela última vez. Depois de quase cinco horas nadando entre os recifes finalmente começaram a demonstrar cansaço e fome. Naruto postergou o máximo a saída da água, mas finalmente cedeu ao seu estômago que grunhia ferozmente. Estava levemente mais bronzeado e os olhos reluziam pela exposição ao sol. O loiro tirou a roupa de mergulho e aceitou uma garrafa de água oferecida por Kiba.
- Cara quanto tempo que a gente não saia junto e se divertia tanto - O Inukuza comemorou de forma espontânea.
- É, essa vida de adulto é um porre!
- Vida de adulto e de casado... - o moreno com riscos nas bochechas murmurou baixinho fazendo-o o Uzumaki lhe mirar confuso.
- Como assim? - Arqueou a sobrancelha, afinal ele era o único "casado".
- Nada não Naruto - respondeu evasivo. - Falei sem pensar.
Os orbes azuis que há poucos segundos estavam cheiros de alegria pareceram sofrer uma metamorfose e agora parecia aço. Kiba aproveitou para sair de perto e logo seu lugar foi tomado por Shikamaru.
- O que foi? O Kiba fez alguma coisa?
- Não, nada demais - fechou a garrafa plástica. - Só um comentário...
- Sobre o Sasuke? - Olhou firme para o loiro que assentiu. - Eu estava apostando entre ele e o Sai.
- O que? - Fechou a expressão de forma confusa.
O rapaz de cabelos presos pareceu ponderar por um momento e suspirou alto.
- Olha Naruto, vocês estão passando por uma problema tão grande que quem está de fora sequer pode imaginar e claro que isso te afastou um pouco da gente e a maioria entende de verdade, mas um ou dos crianções não conseguem assimilar isso - explicou tranquilamente. - É normal querer esquecer o Sasuke, a doença e tudo mais por um tempo.
Naruto concordou distraidamente até se dar conta do que o Nara havia acabado de falar e arregalou os olhos.
- Oe! Pera aí! Eu não quero esquecer o Sasuke... Quem foi que disse que eu quero esquecer o Sasuke?! - Grunhiu irritado.
Shikamaru lhe fitou por alguns segundos de maneira pacífica.
- Quantas vezes você pensou nele desde que essa viagem começou? - Perguntou sem julgamento vendo-o abrir e fechar a boca várias vezes sem resposta. - Isso aqui não era um final de semana para nós relaxarmos, todos nós, juntos? - Naruto assentiu timidamente. - Sasuke está aqui? - Naruto negou lentamente. - Então nós estamos todos juntos... Estamos?
E sem esperar por uma resposta levantou deixando o Uzumaki sozinho na proa do barco que começava a dar a volta para o porto de onde tinham partido. Avisou aos outros para não o incomodarem até chegaram ao hotel.
Naruto piscava sentindo o rosto arder de raiva de si mesmo. Nem havia passado na sua cabeça que aquele passeio poderia excluir Sasuke, quando Gaara o convidou dizendo que todos iam não pensou duas vezes. Encarou aquilo como uma oportunidade de relaxar e esquecer... Mordeu os lábios fortemente. É, ele podia esquecer, afinal não era ele que sentia as dores e desconfortos. Não era ele que passava por baterias de exames. Que não podia comer mais o que tinha vontade. Que não podia sair na rua sem excesso de cuidados porque uma simples gripe podia piorar tudo.
Não era que estava na porta da morte.
- Naruto - Sakura segurou seu ombro delicadamente. - Nós já estamos chegando... Você está bem?
- Sakura-chan... Eu sou idiota, não sou? - Olhou para amiga tristemente e ela apenas o abraçou carinhosamente de lado.
- Na maior parte das vezes sim - fez carinho dos fios loiros. - Mas dessa vez não foi sua culpa... Você só está... cansado.
A mente de Naruto ficou em branco e ele mal viu quando o barco ancorou no píer, não falou nada com ninguém e sentou na van no ultimo banco com o olhar fixo para janela. Gaara e Sai até tentaram se aproximar dele, mas ele mal respondeu suas tentativas de dialogo. Não queria falar com ninguém, só queria chegar até Sasuke e sentir o cheiro dele. Só isso que importava.
Puxou o celular de dentro da mochila na esperança de que houvesse alguma mensagem de Sasuke, mas só havia uma de Itachi.
O que aconteceu com o meu irmão?
Cadê você?
Naruto, por favor, me responde.
Estou tentando ir para aí de helicóptero, mas não estou conseguindo autorização.
Cuida do Sasuke. Por favor.
Engoliu a seco.
Será que tinha acontecido alguma coisa com o moreno? Por que Itachi estava tentando ir para a Ilha? Sentiu o coração disparar no peito.
Falo com você logo.
Estou chegando ao Hotel
Digitou a resposta envergonhado.
Assim que o automóvel parou ele pulou correndo para recepção. Por sorte o cartão magnético que dava acesso ao quarto estava no bolso da sua bermuda, mas ele ainda travou duas vezes só para testar sua paciência. Quando finalmente conseguiu abrir a porta, encontrou Sasuke deitado na cama com uma roupa leve dormindo serenamente. Foi como se uma carga de chumbo saísse das suas costas.
Devagarinho deitou atrás dele e acariciou o braço suavemente. Sasuke resmungou alguma coisa e se ajeitou melhor na cama, piscando lentamente.
- Naruto? Já é tarde?
- Mais ou menos...? - Roçou seus lábios no dele. - Seu irmão está preocupado, está tudo bem?
O Uchiha o fitou de maneira meio tensa e meio dolorida, mas assentiu calmamente, voltando a ficar de lado e fechar os olhos.
Naruto respirou fundo, alguma coisa tinha acontecido sim, Itachi não decidiria sair de Tóquio a toa. Pegou o celular, era melhor acalmar o irmão mais velho do namorado antes que aparecesse lá com a guarda nacional.
Já estou com Sasuke.
Está tudo bem.
Conversamos quando chegarmos em casa.
Mandou outra mensagem para Sakura pedindo para não ser incomodado, qualquer coisa pedia a janta no quarto. Colocou o telefone no modo silencioso e deitou ao lado de Sasuke na cama, abraçando-o fortemente. O Uchiha entrelaçou seus dedos e pareceu voltar a dormir logo em seguida.
Naruto ainda ficou um tempo acordado, primeiro pela gama de sentimentos que o envolviam e também por estar com o corpo coberto de sal do mar. No entanto naquele momento, não tinha coragem de se soltar de Sasuke.
Não mesmo.
°
Já passava das dez da noite e o silêncio reinava no quarto absoluto. Sasuke estava sentando perto da janela ouvindo o som das ondas quebrando ao longe e volta e meia fitava Naruto que estava quieto e amuado no canto, como uma criança de castigo por ter feito algo extremamente errado. Nem mesmo sua explicação ao irmão que havia tido um surto de depressão tirou o loiro daquele estado vegetativo. Na verdade só pareceu piorar tudo.
Pediu um lanche para eles já que haviam perdido a hora do jantar, também estava curioso com o fato de ninguém ter vindo procura-los nas últimas horas. Será que tinha acontecido alguma coisa no passeio e o Uzumaki não queria lhe contar?
- O Itachi não vem mais - comentou casualmente para tentar preencher o ambiente. - Acho que consegui acalmar ele.
Só teve por resposta um murmúrio incompreensível e começou a ficar realmente chateado com aquela inércia incomum do namorado.
-... Vou para casa amanhã cedo - anunciou repentinamente trazendo os olhos azuis para si assustados. Aleluia uma reação. - Você pode voltar no domingo à tarde como foi combinado.
Naruto o encarou surpreso e ressentido.
- P-Por que?
- Hum? - Virou a cabeça para o lado.
- Por que você quer ir embora? - Sussurrou dolorido.
- Porque você obviamente está incomodado com alguma coisa e não quer falar comigo - respondeu de imediato.
De todas as respostas, aquela sem dúvida, era a última que o loiro esperava. Na verdade, em sua cabeça, as desculpas por ter literalmente ignorado o moreno nas últimas horas já começavam a se formar com velocidade, mas a sentença dele o desarmou completamente.
- Não faz isso - pediu se aproximando do Uchiha e ajoelhando na frente dele, postando sua cabeça no colo dele. - Não faça.
- Ah Dobe - lamentou o moreno acariciando os fios loiros e macios. - Não quero atrapalhar seu final de semana.
Naruto soluçou seco com o tom triste tão inédito para Sasuke e ergueu a cabeça para olha-lo nos olhos e o abraçou com força, ainda naquela estranha posição com o Uchiha sentado e o loiro ajoelhado no chão.
- Me desculpe - pediu Naruto com o rosto enterrado no ombro do moreno que o afastou para olha-lo nos olhos. - Eu sinto muito Sasuke... Eu não queria esquecer você e nem nada do tipo hoje... eu juro!
- Eu sei - dedilhou as bochechas com as marquinhas que demarcavam tanto a personalidade do companheiro. - Você não fez nada de errado - colou os lábios em um beijo doce e delicado.
Naruto correspondeu ao ósculo de maneira sôfrega. Aquela era uma situação irônica. Não era ele quem deveria consolar o escritor? E não ao contrário...
- Eu magoei você - declarou o loiro. - Eu exigi que você me contasse tudo o que estava sentindo e pulei fora na primeira oportunidade... Eu sinto tanto.
Sasuke fitou o namorado com atenção, não havia fingimento nas palavras dele, nunca houve. Naruto sempre foi muito intenso com tudo e realmente estava triste.
- Você não me magoou... Acho que você é a única pessoa no mundo que nunca me magoaria - surpresa reluziu nos olhos azuis. - Você me ama e eu amo você, mas eu estou diferente... como se estivesse deteriorando e morrendo - o impediu de falar colocando os dedos sobre a boca do Uzumaki que ia protestar contra aquele sentença. - Ninguém nunca conseguiria me amar como você me amou, mas você sempre será amado por outro alguém... isso me assusta. - Secou a primeira lágrima que escorreu do seu olho rapidamente enquanto Naruto ainda o olhava estarrecido. - No começo eu me incomodava com esse pensamento, sentia ciúmes só de imaginar você com outra pessoa, mas agora... Agora eu vejo que é uma coisa boa. Você nunca vai ficar sozinho.
- Isso pode até ser verdade - Naruto murmurou sério, embora por dentro estivesse dividido entre felicidade e temor por aquela declaração. - Eu nunca, nunca vou amar alguém como eu amo você.
Sasuke assentiu roçando o nariz elo rosto do Uzumaki que fechou os olhos para apreciar aquele toque suave. Mordiscou os lábios do moreno com carinho antes de finalmente beija-lo. O beijo começou lento e teve que ser espaçado. Naruto sentia a diferença na respiração do Uchiha, antes deles podiam se beijar por minutos até um deles precisar de ar, agora Sasuke cansava muito mais rápido, porém isso de forma alguma o incomodava. Só lhe aspirava mais cuidado e ternura.
- Ei, Teme?
- Uh?
- Quero ser seu hoje - ditou olhando dentro dos orbes negros que brilharam de surpresa e malícia.
- Okay...
...
Naruto ofegou exausto sentindo o corpo relaxar depois do orgasmo violento proporcionado por Sasuke. Sentia o moreno as suas costas respirando com extrema dificuldade e sentiu uma pitada de culpa. Não deveria exigir tanto do Uchiha, mas senti-lo dentro de si naquela noite fora essencial para restaurar a conexão entre eles. Era raro ele assumir a posição de passivo, não que tivesse algum problema com ela, mas Sasuke era tão dominador e controlador em tudo que subjuga-lo na cama era sua fantasia continua particular. Mas tinha que admitir que era extremamente prazeroso embora seu traseiro protestasse levemente.
Girou na cama vendo o parceiro se livrar do preservativo usado com um pedaço de lenço de papel. Era inacreditável que mesmo naqueles momentos ele conseguia ser tão responsável. Segundo o moreno, pacientes em tratamento do câncer só podiam ter relações sexuais com uso de camisinha, porque algumas químicas das drogas podiam ser encontradas nos fluídos sexuais. Ele praticamente lhe deu uma aula sobre aquilo ao iniciar a quimioterapia há meses atrás.
- Você está bem? - Sasuke o olho de canto.
- Você matou minha bunda, mas eu vou sobreviver - respondeu dramático e o outro revirou os olhos.
- Você faz bem pior comigo e eu não reclamo...
- Não é como se você não gostasse quando eu te pego com força - devolveu maliciosamente se deliciando com o leve rubor nas feições leitosas.
Sasuke resmungou um idiota baixinho e deitou na cama, sua respiração ainda estava um pouco agitada. Naruto colocou a mão sobre o peito e podia sentir o coração dele batendo de forma acelerada.
- Tá tudo bem? - Indagou se apoiando do outro braço e acariciando a testa suada. Sasuke entre abriu os olhos, o fitando com tanta intensidade que deixou o loiro desconcertado. - Teme?
- Eu to bem - murmurou bem baixinho, puxando o namorado para deitar sobre seu peito.
Naruto mordeu os lábios agoniado sentindo o silêncio dominar o ambiente de uma forma não tão bem vinda.
- Você ainda vai para casa com o Itachi amanhã? - Perguntou de forma infantil e quase temerosa.
Sasuke acariciava os fios dourados com carinho e não se surpreendeu com aquela pergunta, na verdade estava se perguntando quando ela viria e quase riu ao ouvir aquele tom tão incomum ao namorado.
- Você quer que eu vá?
- Não - respondeu de imediato.
- Você vai se divertir melhor se eu for?
- Não - ouve uma pontada de indignação na segunda negativa.
- Mesmo que a minha presença limite algumas coisas que você quer fazer? - Naruto ergueu a cabeça olhando para o Uchiha com um misto de sentimentos nos olhos azuis que fez Sasuke sentir um bolo na garganta. - Está tudo bem... Estamos em níveis diferentes agora, nossos limites estão muito distantes nesse momento - piscou afastando as primeiras lágrimas detestava estar tão emotivo.
- Eu não ligo - afirmou sem dúvidas o Uzumaki sério. - Eu nunca vou querer esquecer você, eu juro...
E se...
E quando...
Eu morrer?
Você ainda vai pensar assim?
Naruto...?
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