Nem os próprios deuses podiam acreditar no que viam. Seokjin defendia que aquela seria a maior cobfusão de todos os tempos, Namjoon o mandava calar a boca. O alfa atrás do príncipe era alto, alto como não se ousava ser quem não era extremamente bonito por medo de chamar muita atenção. Aquele certamente era um tipo raro de se ver. Como se já não fosse o suficiente, seu sorriso estonteante seria capaz de iluminar nações inteiras, qualquer salão escuro veria a luz ao lado do rapaz. Suas roupas eram o perfeito contraste das do ômega. Os cabelos de Jungkook eram grandes, os dele curtos e penteados num topete. O príncipe usava sandálias de corda, ele amarrou o cadarço das botas pesadas havia menos de 10 minutos. Em seu manto cerimonial, o preto profundo e brilhante, diferente do branco e roxo do futuro marido. Seu peito era adornado por medalhas prateadas, um pequeno lacinho púrpura em uma delas. O laço representava o reino ao qual pertencia, as roupas eram uma clara demonstração de status e poder.
Era um alfa, e não só isso. Era o alfa pessoalmente escolhido pelo rei e indicado pelos céus (nas palavras dos feiticeiros) para se casar com o primogênito e único príncipe dos mais próspero dos reinos. Namjoon não diria que o apontou como ideal, mas não gostava de interferir nos negócios dos homens. Se eles pensavam que aquele era o escolhido dos céus, que os deixasse pensar. Para todos os efeitos, Park Heojeung estava longe de ser uma má escolha. Ele era forte, jovem, grande e potente. Era capaz de construir prédios do zero com apenas as duas mãos como ferramenta se fosse necessário. O que dizer de sua a genética? Aquele homem geraria descendentes que poderiam bater de frente com os heróis das antigas histórias em todos os quesitos. Tinha força, agilidade e inteligência para dar e vender. Tinha tudo o que deveria ter, não poderiam exigir dele por mais. Jungkook não conseguiria nunca, nos sete grande reinos e em todas as suas ramificações, alguém melhor. Não existia alguém melhor, o rei fez questão de se certificar.
O príncipe então se virou para conferir seu projeto de marido. O olhou de cima a baixo, mania antiga que poderia ser entendida como julgamento precoce. Se parecesse que o julgava, ótimo. Estava julgando mesmo. Os ombros largos não o impressionaram nem por um segundo, o cabelo precisava de uma dose extra de shampoo para se livrar da nítida oleosidade. Ele sorria convencido, andava cheio de si e parecia confiar demais na coisinha que tinha entre as pernas que certamente não era nem tão satisfatória assim. Nem perto do satisfatório. Conseguia pontuar ainda mais coisas naquele homem de beleza mediana e personalidade que parecia bem duvidável. Ele respirava alto demais, o tipo de respiração típica de quem ronca alto como um urso a noite inteira, não tinha muita noção sobre espaço pessoal. Também não conhecia o significado de consentimento, haja vista que sequer disse seu nome e suas mãos já buscavam a cintura do mais baixo. “Alfas”, Jungkook revirou os olhos. Sempre achavam que podiam fazer de tudo.
— Oi. — Ele teve a audácia de sorrir. “Oi”? Era o seu primeiro encontro com vossa alteza real, o príncipe herdeiro, e ele tinha a coragem de dizer só “Oi”? Sem nenhuma reverência? Nem mesmo um pequeno, mínimo, minúsculo abaixar de cabeça? Estavam noivos há vinte segundos e Jungkook já se sentia prejudicado por aquela pseudo-relação. Quanto desrespeito em tão pouco tempo.
— Olá. — Seu tom era formal, ligeiramente frio. O rei não pareceu nada satisfeito em ver o filho desviar o olhar do futuro marido para olhar para frente outra vez, sorrindo falsamente para a plateia que os assistia.
— Meus súditos! — O monarca começou. — Aqui, lhes apresento o futuro casal real. Jeon Jungkook, o príncipe herdeiro, aquele que um dia governará em meu lugar ao lado de seu rei com graça e sabedoria, que trará honra e glória aos nossos. — Ergueu a taça de vinho branco em sua mão esquerda. Seus anéis brilhavam como a taça de cristal. O líquido levemente amarelado brilhava no sol alaranjado do fim da tarde. Púrpura, o maior produtor de vinhos de sua região, conhecido pelos tintos marcantes e encorpados. Não eram os melhores porem em produzir o vinho que representava do espírito de um ômega nas cerimônias de batismo, revelação e casamento. Deveriam ser puros e cristalinos como o néctar dos deuses deveria ser. Intocado como as santidades. (Seokjin ria da parte do "Intocado"'. Só os céus sabiam o estrago que já havia feito num certo deus do amor.) Um minuto, Jungkook contou. O segundo desrespeito. Nas tradições sagradas, as mãos eram o maior símbolo de poder, sobretudo as mãos de um rei. A taça de vinho branco nas cerimônias de união deveria obrigatoriamente ser segurada na mão mais “fraca”, já que por entendimento popular a maioria das pessoas possuía destreza na mão direita, empunhava espadas e assinava tratados com essa mesma mão. Uma pessoa de confiança era seu “braço direito”, aquele que é útil. A degradação constante de seu sub-gênero fazia com que Jungkook quisesse se juntar ao grupinho de adolescentes revoltados que vivia atormentando a cidade-forte com pequenos incêndios. Colocaria fogo no mundo, como o mundo queimava a imagem e o poder dos ômegas. — Park Heojung, o escolhido, o futuro regente, a jóia da coroa real. — Foi a vez de tomar na mão direita a taça de vinho tinto. Era escuro, potente e forte, como era esperado que fossem os alfas. Aqueles que eram grandes exemplos de poder. — Tomo em minhas mãos o destino desses jovens, escrevo-o como deve ser escrito. — Não era possível que mais ninguém achasse aquele discurso centenário e obsoleto extremamente absurdo. — Que, pelas bênçãos dos céus, vocês possam trilhar os caminhos da luz, levando junto de seus corações o amor pelo povo acima de tudo. Que pelas bençãos da terra, vocês possam caminhar juntos em harmonia, levando junto de seus corações o amor que sentem um pelo outro. — “Amor?”, o príncipe pensou. “Eu nem o conheço!”. Seus olhos se arregalaram o susto mal disfarçado pela felicidade forçada. Naquele momento, percebeu que entendia o rapaz das histórias de quando era criança, aquelas que apareciam em seus sonhos. “Irá”, o velho rei disse ao jovem na antiguidade. Dizia-se por aí que ele nunca amou o alfa designado para si. Dizia-se que em seu coração morava uma maldição.
As pernas de Jungkook falharam, ocasionando uma queda no frio mármore branco. Seria a fofoca da cidade nos dias que se seguiam, “ Como é adorável o e desastrado príncipe”, “Viram como o alfa o segurou? Parecia uma cena daqueles livros de romance”. Inventariam todo tipo de coisa, culparam a suposta emoção do momento. Só Jungkook saberia a verdade, e era bom que continuasse assim. Só ele saberia que sempre que andava, era gracioso, que prestava atenção em cada passo que dava, que nunca se prestaria a uma cena como aquela só para chamar atenção. Só Jungkook saberia que seus joelhos se renderam ao medo antes que pudesse realmente pensar. Só ele saberia, e era bom que continuasse assim. Sua respiração acelerava, conseguia ouvir a voz grossa e preocupada do alfa atrás de si o perguntando se estava tudo bem. De repente o mundo se tornou um lugar pequeno, apertado e sombrio. O mais puro horror corria por suas veias, o fazendo enxergar tudo sob uma lente alterada pelo medo. Em um instante, o lugar que era claro e colorido tornou-se breu. Em um instante, Jungkook descobriu que tinha a maldição em seu coração.
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