-É uma péssima ideia – Ray falou passando as mãos no cabelo.
Era madrugada e estávamos de volta no hospital como o planejado. Muitas pessoas acham hospitais a noite assustadores, mas bem... eu trabalhava no necrotério, poucas coisas me assustavam.
-Eu disse que era uma péssima ideia! – falei jogando os braços pra cima.
-E o que mais a gente pode fazer?! – Gerard falou parecendo irritado, é aquela vozinha bem no fundo da minha cabeça que viviam dizendo que Gerard era o Paciente Zero do apocalipse zumbi ainda me incomodava, embora passamos a tarde toda assistindo filmes e conversando e eu já não me sentia tão assustado nem tão desconfortável perto dele.
-Que tal não ir atrás de um assassino? – eu disse como se fosse óbvio.
-Ele vai tentar me matar de novo!
-Ele não sabe que você está vivo ainda – Ray comentou.
-E o que eu vou fazer? – eu podia sentir o desespero na voz de Gerard – viver o resto da minha vida escondido na casa do Frank?! Sem poder sair? Sem poder ver meu irmão?
Ray cruzou os braços e suspirou.
-Nós vamos achar uma solução, Okay? – meu amigo cacheado falou – só não vamos entrar em pânico.
Gerard respirou fundo e acabou concordando.
-Ótimo – Ray continuou andando até uma muda de roupa e entregando na mão de Gerard – veste isso, vamos tirar um raio x de você.
-Tem certeza que ninguém vai reparar que usamos as máquinas? – perguntei.
-Tenho sim – Ray me garantiu se gabando – você está falando com um profissional!
Eu revirei os olhos e soltei uma risada um tanto quanto debochada.
Gerard voltou usando uma calça e uma blusa esverdeada, descalço. Ele se posicionou quase encostado em uma parede onde Ray pediu, em frente a máquina de raio x e eu me afastei e deixei que meu amigo fizesse as coisas, não era um procedimento complexo, apenas um raio x e foi bem rápido para terminar, mas demoraria um pouquinho para as imagens saírem.
Gerard passou também por uma máquina de ressonância, ele aprecia um pouco assustado quando a maçã começou a se mexer e levá-lo até o equipamento, o que eu achei engraçado.
Eu ajudei Ray com esse exame, estávamos na sala ao lado enquanto as imagens das partes do corpo de Gerard iam aparecendo na tela aos poucos.
-O raio x deve estar pronto, você pode pegar lá? – Ray perguntou e eu assenti, saindo da sala o mais silencioso e rápido possível, peguei as imagens impressas do raio x e voltei para a sala onde Ray estava e entreguei os resultados.
-Vamos chamá-lo? – perguntei em relação a Gerard, mas Ray estava concentrado demais nos exames para responder – Ray!
-Ah?
-Gerard? Chamá-lo aqui? Tá tudo bem?
-É, chama ele aqui.
Eu bufei um pouco irritado porque estava me sentindo ignorado, mas sai da sala e fui até a porta do lado.
-Pronto – eu falei alcançando a máquina e apertando alguns botões, a maquina andou e logo eu vi o rosto de Gerard sorrindo largo para mim.
-Parecia que eu tinha sido sugado pra uma nave espacial – ele riu. Confesso que achei suas expressões engraçadas, ele parecia que estava anestesiado.
-Espero que não esteja grávido de um alienígena – comentei rindo.
Ele começou a gargalhar, como se esquecesse de todas as preocupações, eu estaria mentindo se não tivesse achado aquele riso adorável e gostoso de ouvir.
Gerard se levantou e voltamos para a sala ao lado, onde Ray estava.
-Nada! – ele disse se levantando, frustrado – não tem nada de errado com ele! Absolutamente nada! Nenhuma fratura! Nem corte! Nada!
-Como assim? – perguntei – não devia ter um sinal? Marca?
-Não tem! Esta cem por cento recuperado como se nada tivesse acontecido!
Eu me senti derrotado de certa forma e totalmente confuso.
-Isso é bom, não é? – Gerard comentou – quer dizer, significa que eu to vivo e bem, certo?
-Mas como?! – Ray passou as mãos pelo cabelo e ajeitou seus óculos – você foi esfaqueado até a morte! E não tem praticamente nenhuma sequela!
-É no mínimo bizarro – eu comentei.
-Eu... eu não sei – Gerard falou com os olhos perdidos entre Ray e eu.
-Tudo bem... – eu falei – pelo menos descobrimos algo hoje.
-O que? - Ray perguntou.
-Que ele tá inteiro.
-Mas isso só traz mais dúvidas, como ele pode estar inteiro?!
Ficamos nos encarando como se as respostas fossem aparecer magicamente na nossa frente, até Ray bocejar e começar a se mover.
-Bem, eu vou esconder nossos rastros – ele disse – enquanto não pensamos em nada, Gerard pode ficar na casa do Frank...
Eu não gostava muito do jeito que o Ray apenas saia dando a palavra final, mas ele já estava fazendo muito por nós três, era melhor eu apenas aceitar que eu teria a companhia de um morto vivo por uns dias, não que Gerard não fosse uma boa companhia, muito pelo contrário, acho que podíamos nos dar bem, mas tudo aquilo era novo e desconhecido, não sabíamos o que tinha feito ele voltar do mundo dos mortos, nem como é aquilo era assustador. O desconhecido.
-E o relatório policial? – perguntei.
-Eu já resolvi o relatório – Ray disse calmamente – coloquei o que encontramos, morte a facada, hemorragia, inventei uma coisa ou outra, mas não precisa se preocupar.
-E o corpo?
-Eu liguei para um amigo da época da faculdade e ele concordou em ceder um boneco, ele é bem parecido com um ser humano, se fizermos direito, ninguém vai reparar.
Eu senti um saco de tijolos sair das minhas costas e suspirei aliviado.
-Frank, você vai montar o boneco – Ray decretou – já que vai ficar com Gerard, vocês dois podem garantir que esteja idêntico a ele, te levo amanhã as coisas.
Eu não tinha nem como negar, apenas aceitei, não era possível ser tão difícil assim montar um boneco idêntico a Gerard. Pelo menos, era o que eu achava.
-Okay, vai ficar perfeito – eu falei me sentindo mais confiante.
-Ótimo, agora vamos logo sair daqui.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.