História Tiny Heart - Breakaway - Parte 2

”Queria fazer parte daqui, mas algo parecia tão errado aqui”

Seus olhos castanhos sondam-me e sua boca se retorce em frustração, Malik olha para o lado e passa as mãos por seus cabelos pretos suspirando.

- Quero pedir desculpas por mais cedo – diz olhando-me fixamente. Levanto minhas sobrancelhas em surpresa por seu ato inusitado, abaixo meu olhar para o painel indicativo e vejo que estamos próximos a nosso destino.

- Não cabe ao senhor pedir desculpas, mas sim a ela – respondo olhando-o de volta, suas sobrancelhas se unem formando um pequeno vinco em sua testa.

- Sabemos que isso não irá acontecer. Sei que tem perguntas para mim, e sei que não as fará. O que é excelente, pois eu não as responderia – diz sorrindo de canto – Tudo que deve saber é que seu lugar aqui estará a salvo desde que continue me entregando bons resultados, além de que tem a minha palavra que situações como a de hoje não se repetiram.

- Como pode me garantir isso? – indago arqueando as sobrancelhas enquanto as portas se abrem.

- Porque não faço promessas em falso, senhorita Allen – responde saindo do elevador sendo seguido por mim.

 Passamos pelas demais salas e mesas sendo seguidos pelos olhares. Era sempre assim quando o assunto era ele, os homens o olhavam com medo e até mesmo inveja, e as mulheres, que por sinal eram maioria ali, o olhavam com desejo explícito, poderiam ser facilmente confundidas com seus tapetes particulares.

Eu não era cega, Malik realmente era fascinante aos olhos, com seu sotaque britânico forte e caminhar ereto e confiante, ele esbanjava beleza por toda Conceito. Poderia ser facilmente confundido com um modelo, tinha os olhos castanhos claros mais obscuros e cheios de segredos que eu já havia visto, e de certa forma o mistério existente em sua personalidade forte e dominante atraia, mas assim como não era cega, também não era burra, e apesar de admirar sua beleza, nunca passaria disso, e jamais explanaria em palavras como as demais funcionárias.

- E senhorita Allen – diz virando-se para mim – Deveria usar mais o cabelo solto.

Em um rompante Malik volta-se para frente e adentra a grande sala de reuniões já repleta de pessoas, ainda parada na porta com meu material preso entre meus braços, observo boquiaberta o homem confuso que aperta mãos e sorri de forma prepotente para os demais.

Um nó em minha cabeça, era isso que Zayn Malik era. Respiro fundo e adento a sala cumprimentando os presentes com simples acenos, com rapidez e agilidade divido as devidas pastas em frente a cada acento antes de sentar-me no fundo da sala com meu bloquinho verde em mãos.

Malik se senta em sua cadeira central de CEO e após desabotoar o botão central de seu paletó preto, pega sua caneta e sepõe a analisar a pasta que eu havia colocado a sua frente, abrindo e vendo seu conteúdo um leve sorriso se forma em seu rosto arrogante, como que guiado pela sensação de que estou a observá-lo, ele levanta seus olhos castanhos e encara-me por poucos segundos antes de voltar sua atenção para o material. Involuntariamente me pego sorrindo, simplesmente por saber que aquele sorriso era o que ele dava para coisas que realmente o agradavam.

Meu sorriso se desfaz com a entrada de Harry seguindo por Zoey, ele passa direto por Malik que se mantém alheio a sua entrada, Harry senta-se e encara-me com veemência apontando para seu celular, sabendo o que o mesmo quer com este sinal, jogo meu celular no chão o chutando para baixo de minha cadeira, arqueio minhas sobrancelhas para o mesmo que sorri mostrando seus lindos dentes.

A seu lado Zoey engasga com sua água rindo ao perceber o que eu havia feito chamando a atenção de alguns acionistas que ainda se sentavam em suas respectivas cadeiras. Desvio meus olhos para Malik que mantinha um olhar sereno acompanhando tudo em silencio com sua mão direita sob seu queixo perfeitamente quadrado, envergonhada por ter minha vida intima tão exposta abaixo meus olhos para meu bloquinho desenhando no mesmo.

Não demorou para que a voz de Malik se fizesse presente por todo o ambiente chamando e calando a todos, ele apresentou Harry como um velho amigo que agora faria parte da companhia juntamente com sua esposa, Zoey. Não passou despercebido que o termo não agradou muito a Harry, mas isso pouco importou para Malik que prosseguiu a reunião calmamente informando os lucros que havíamos tido nos últimos seis meses, o quanto ainda haveríamos de ganhar, os novos projetos, livros e autores que lançaríamos no mercado ainda este ano e os demais planejamentos, não deixei de notar sua expressão de surpresa ao ver que cada acionista conseguia acompanhar tudo o que ele dizia graças aos gráficos e tópicos que eu havia criado nas folhas contidas nas pastas. Como ele havia dito a pouco, eu teria meu lugar garantido na Conceito enquanto mostrasse bons resultados, e esse sempre havia sido meu objetivo ali.

 Zoey não perdeu a oportunidade de jogar olhares maldosos e cheios de ironia sobre mim. Já Harry se mostrava inerte sobre minha presença e as tentativas ridículas de Zoey em se encostar-se a ele, se havia algo que poderia definir Harry era seu comprometimento com o trabalho. Durante toda a reunião poucas perguntas foram feitas para Malik, o que me deixou com poucas funções e mais tempo livre para avaliá-lo, assim com Harry ele também já se encontrava na casa dos 30 anos, mas tão bem ou até mesmo bem mais bonito que o mesmo, apesar das rugas de expressão e das fundas olheiras ainda era possível se ver um belo homem ali. Eu não era capaz de julgar Aisha por se envolver com ele, ou vice-versa, mas ainda assim não era capaz de vê-lo com uma moça tão jovem quanto ela, apesar de saber que a preferência estava nas mulheres mais jovens.

Em meio a meus devaneios ao menos fui capaz de perceber que em determinado momento fui pega por ele o observando intensamente, o que com certeza não era a melhor coisa a ser feita, envergonhada por meu flagra desvio meus olhos encontrando os da cobra de vermelho que tinha um sorriso nada agradável sobre seus lábios, olhando de mim para Malik ela volta sua atenção para as folhas contidas em sua pasta.

Frustrada por tantos eventos subsequentes fora de minha jurisdição e bem longe de minha competência para afastar suas consequências, me abaixei devagar e disfarçadamente para pegar meu celular debaixo da cadeira, pela Graça ele não havia sofrido com minha ira temporária e se encontrava sem nenhum dano, olhando para cima e vendo que todos se encontravam concentrados em Malik, entro em minhas mensagens checando as mesmas e apagando todas as que Harry havia me enviado, para minha surpresa e alivio havia uma de Penélope, finalmente a princesa havia saído de seu castelo e me mandando uma mensagem perguntando se poderia me esperar em meu apartamento, hoje à noite para conversarmos, a respondo instantaneamente confirmando o horário em que eu sairia.  

Olho para cima ainda sorrindo pela mensagem de Penélope e noto os olhos de Harry sobre mim que mantém uma caneta em sua mão e o celular na outra. Minha mão vibra com meu iPhone ainda em minhas mãos.

HARRY: Posso te dar uma carona depois do trabalho?

ME: Deixe-me em paz, faça seu trabalho e se concentre na reunião.

HARRY: Com você na mesma sala é impossível.

ME: Se era uma cantada foi horrível, adeus Harry.

 Respondo desligando o aparelho erguendo meus olhos até Harry que sorri como um idiota deixando suas adoráveis covinhas à vista. Volto meus olhos para Malik que continua falando, no entanto, mantém seus olhos em Harry, quando o mesmo se volta para mim sinto-me em uma fração de números variados sem uma resposta ao meu alcance.

 Meu coração sente uma leve formigada com os olhos castanhos, todavia ele quase para com os azuis. Nesse instante eu percebo que há algo muito maior prestes a acontecer.