”Foi real ou foi falso? Foi tudo um erro?”
- E ela apenas saiu correndo? – indaga-me Penélope do outro lado de nossa pequena mesa.
Após o estranho surto de Aisha a mesma não mais havia retornado até a pausa para o almoço, indo contra o que eu havia suposto, Zayn e Harry conseguiram ser ainda mais impassíveis de compreensão após sua secreta reunião.
Dando-me um leve beijo na bochecha, Harry se despediu afirmando ter coisas sobre seu filho a serem resolvidas, sendo assim apenas voltaríamos a nos ver na noite seguinte.
Inevitavelmente Zayn ignorou-me por todo o resto da manhã e como penitencia – e egoísmo – escondi do mesmo o ocorrido com Aisha, até mesmo pelo simples fato de que, seja quem for o tal Bruce, ele não é nem de longe alguém de total irrelevância.
- Sim, foi estranho – respondo enfiando as ultimas fritas do pequeno saquinho em minha boca, Penélope morde os lábios e franze o cenho olhando para sua porção intocável de fritas, encaro a mesma saindo de meu mundinho e lhe faço a pergunta que havia nos trazido até aqui: - Como foi?
Ela suspira e passa a mão por seu rabo de cavalo impecável, seus olhos voltam-se aos meus e me preparo para a resposta da mesma – Foi ótimo, eles foram incríveis, não perguntaram nada que me deixasse desconfortável, Grace pediu para ir ao próximo ultrassom, e Willian disse que faz questão de comprar o berço do neto.
Franzo meu cenho para sua expressão cansada enquanto me conta os fatos ocorridos, empurro o saco vazio de fritas e bebo o resto de minha coca-cola.
- Então qual a razão da cara de enterro? – indago colocando o copo vazio sob a mesa.
- Eles querem conhecer meus pais – diz balançando a cabeça em negação – Eu passei quase uma hora tentando explicar que não nos falamos há alguns anos e que ter esse bebê longe deles é a melhor decisão, mas não me deram atenção.
- E quanto ao Liam? Ele não disse nada? – indago.
- Não é como se eles quisessem ouvir o que tínhamos a dizer – diz revirando os olhos, suspiro passando minha mão por sob minha testa e tento procurar uma saída para a catástrofe - Da ultima vez que vi meus pais eles foram bem categóricos sobre o que pensam sobre mim – sussurra, ergo meus olhos até a mesma e a vejo cabisbaixa, levo minha mão de encontro a sua a apertando.
- Você não é o que eles dizem Pê, você é o que acredita ser – digo sorrindo para a mesma que aperta minha mão.
- E quanto a sua mãe? Não falamos dela há um tempo – diz.
- Bem, desde o dia em que deixei de lhe mandar dinheiro a mesma resolveu ser mais insistentes em suas mensagens, mas eu também decidi ser mais insistente em ignorá-las.
- Que bela equipe de merda são os nossos pais, não é mesmo? – ri encostando-se em seu acento.
- Sim, que bela equipe – digo sorrindo fraco.
**
Empurro a grande porta giratória e me encaminho entre os demais funcionários em direção ao elevador, em minha mente ainda guardo comigo minha ultima conversa com Penélope sobre nossos pais e suas terríveis decisões.
Após seis anos longe de casa eu já devia estar acostumada com a repentina tristeza que meu coração sentia ao me lembrar dos meus entes, no entanto, quando seu pai te troca pela esposa e sua mãe decide que tem apenas um filho te excluindo assim do rol da família, algumas cicatrizes se formam, e nem sempre se curaram rapidamente.
Suspiro fechando os olhos decidida a afastar tais pensamentos de minha mente, uma pena que não é tão simples como bloquear chamadas ou ignorar mensagens falsas e repletas de segundas intenções.
- Olá querida.
Abro os olhos e vejo Zoey em seu típico vestido vermelho, no entanto este é longo e tem uma fina tira acima dos seios dando-lhe um caimento lindo, ela me olha e vejo seu sorriso falso debochado recair sob mim.
- O que quer? – indago voltando a olhar para minha frente vendo que todos os dois elevadores estão cheios demais para caber mais alguém, frustrada suspiro cruzando meus braços.
- Entrar em um desses malditos elevadores, tenho uma reunião importante com seu chefinho – diz olhando para suas unhas perfeitamente pintadas de um azul escuro quase preto.
- Reunião? Não há nada na agenda dele sobre ter alguma reunião com você – digo franzindo o cenho para a mesma.
- Você acha que sabe tudo sobre ele, não é mesmo? – indaga sorrindo debochadamente para mim.
Reviro meus olhos para a mesma – Eu não acho, eu apenas sigo com o que esta na agenda.
- Não fique bravinha querida, ele não te deixa de fora porque quer, mas você sabe, assuntos de família devem ficar entre a família – diz caminhando em direção ao elevador deixando-me confusa.
- O que quer dizer com isso? – indago enfiando-me atrás da mesma que adentra a grande caixa de aço.
- Sabe, eu poderia dizer que é engraçado vê-la no escuro se não fosse patético – diz revirando os olhos, fecho a cara para a mesma que sorri e balança a cabeça – Há uma razão para Aisha estar aqui, e não é exatamente a razão que você acredita ser, ao menos não para ele – ri olhando para os lados, Zoey volta seus olhos para mim e abaixa o tom de sua voz – Eu não contei toda a historia a você sobre como separei você de Harry.
Encaro a mesma em silencio e sinto meu peito inchar, minha pulsação se acelera ao imaginar o que a mesma possa vim a dizer em seguida, no entanto apenas arqueio minhas sobrancelhas para que a mesma continue.
- Considere o que eu vou te dizer agora um obrigada por ter sido sincera comigo na ultima vez que nos falamos – diz arqueando sua fina sobrancelha para mim, reviro os olhos e assinto para a mesma - Zayn que tirou as fotos de você e Harry, ele era uma espécie de fotografo Junior nos tempos da faculdade, e a única pessoa em quem eu confiava o bastante para vim até Londres e investigar.
- Como assim vim até Londres? Ele não é daqui? – indago vendo o elevador parar no 18º andar.
- Nem sempre fomos todos um povo londrino querida, nossas historias se cruzaram muito antes de chegarmos aqui – responde-me.
- Eu não entendo como isso a torna da família – digo.
- Eu não sou parte da família, ao menos não mais – diz virando-se de costas para mim.
- Por que não? – indago sentindo-me perdida em meio ao imenso quebra-cabeça que se mostra diante de mim.
- Porque me casei com Harry ao invés de Bruce – sussurra saindo do elevador que finalmente para no ultimo andar.
Corro atrás da mesma não me importando com o barulho irritante de meus saltos contra o chão aproximo-me da mesma segurando em seu cotovelo a virando para mim.
- Quem é Bruce? – sussurro olhando de sosleio para as demais pessoas a nossa volta que fingem não nos ver.
- Bruce Malik, irmão mais novo de Zayn – responde-me soltando-se de meu aperto em seu braço, olho para a mesma em choque, com um sorriso triste a mesma se vira voltando a caminhar em direção a ala de secretariado.
De longe avisto Malik que franze o cenho olhando atentamente para algumas folhas em suas mãos tatuadas, ele ergue os olhos para Zoey que o abraça, sorrindo de leve de lado o mesmo devolve o abraço e enfim nota-me parada o olhando, seus olhos se franzem e quando o mesmo se afasta de Zoey seus olhos castanhos ainda estão recaídos sobre mim.
Por um instante tento imaginar o quão envolvido Zayn poderia estar em toda a armação de Zoey para se livrar de mim, pergunto-me se o mesmo sabia que já na época eu me encontrava grávida, e pior, se mesmo sabendo de tudo que passei, qual razão o levou a ter coragem de beijar-me tão apaixonadamente para depois afastar-se de forma tão repentina?
No fim, a única pergunta que me enrola nas sombras de meus devaneios é se: Foi real ou foi tudo na minha cabeça?
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