“Eu sou uma brasa prestes a começar um incêndio.”
Katherine McNamara
Quando os livros relatam que corações quebrados doem tanto quanto bater o mindinho em um móvel e incomodam com a mesma força que uma chuva grotesca em uma segunda-feira, eles não estão mentindo, o mais cômico da situação é que, após anos lendo milhares de manuscritos, fazendo analises sobre os mesmos e até mesmo ter tido um coração quebrado na flor da idade, apenas agora eu havia de fato entendido a maldita citação.
Caminhava a passos decididos pelas ruas de Londres há no mínimo três horas, me encaminhava para a terceira editora para mais uma entrevista de trabalho, e era exatamente nisso, e em alguns passeios noturnos com Buff, que minha vida havia se resumido nas duas ultimas semanas.
Entre taças de vinho a meia noite, e contas para pagar chegando há todos os instantes, não havia uma única célula em meu corpo que desse atenção as mensagens de Harry ou Penélope, não era porque eu não os queria ao meu lado – se bem que Harry era um caso a ser analisado de forma minuciosa -, eu apenas não sabia como manter as pessoas comigo agora, sendo que a cada novo momento eu me senta afogando em meu próprio mar de tristeza.
Guardo em um mine cantinho de meu cérebro as dores ainda não superadas, e com meu melhor sorriso adentro a mais uma editora, a ultima entrevista do dia, e eu não conseguia tirar da mente aquele famoso ditado: “A terceira é a da sorte.” E era exatamente isso que eu precisava agora, sorte.
Com meu maior e mais brilhante sorriso vou até a recepcionista da Rostos&Cia, ela me olha e sorri de forma cordial, a informo meu nome e razão pela qual estou ali, em menos de um minuto sou direcionada a sala de espera com mais cinco pessoas, em sua maioria mulheres. Troco olhares cordiais e me sento cruzando minhas pernas, respiro fundo mantendo o pensamento positivo em primeiro lugar.
Alguns minutos passam, e logo os mesmos se transformam em horas, após minha chegada, outra moça havia se sentado ao meu lado com um olhar de pura tensão, sorri para a mesma esperando transmitir tranqüilidade, quanto na verdade tudo em mim gritava por desespero. Eu precisava desse emprego, e eu o teria.
Passei a encarar as tiras pretas de minha sandália de salto contando os segundos de forma controlada, e em poucos instantes ouvi meu nome ressoar por toda a sala, levantei meus olhos azuis de encontro a um homem de meia idade parada ao lado de uma grande porta de madeira, levantei-me sorridente e caminhei até o mesmo que cumprimentou-me rapidamente com um aceno de cabeça.
Adentrei a grande sala sentando-me em uma confortável cadeira de cor nude, o senhor Henrique, como a placa em sua mesa o nominava, sentou-se a minha frente, com um fraco sorriso estendeu sua mão até a minha e o entrei de prontidão um dos milhares currículos que eu havia passado noites imprimindo.
- Bem, lá vamos nós – diz sorrindo enquanto abre o mesmo, mantenho meu sorriso em meus lábios, não me deixando abater por uma pequena ruga que nasce em meio a testa de Henrique.
Ele folheia todas as folhas com tranqüilidade e sorri para algumas coisas, meu coração bate descompensado, pois sei que essa pode ser a minha chance, pode ser o meu sim, porém ainda há algo que me deixa de mãos atadas.
- Nós já estávamos a sua espera, senhorita Allen – diz por fim deixando-me confusa, ele fecha meu currículo e o devolve-me, o pego sentindo meu coração se afundar – Imagino que deva se perguntar em seu intimo a razão de ainda não ter sido contratada, e eu, diferentemente de meus colegas anteriores não irei deixar que saia daqui sem uma resposta.
Encaro-o confusa, mas mantenho-me em silencio a espera de sua fala.
- Fomos informados do ocorrido há duas semanas na Conceito, senhorita Allen. O próprio senhor Malik ligou pessoalmente para mais da metade de editoras bem conceituadas de Londres nos contado de sua suposta traição a editora – diz serio, com as mãos sob a mesma de vidro, engulo em seco segurando as lagrimas que ameaçam molhar todo o meu rosto - E eu digo suposta, pois sei bem que nesse meio em que vivemos uma traição como essa não ocorreria sem que houvesse uma boa quantia por detrás, e levando em consideração que ainda esta se dando ao trabalho de procurar por empregos em sua área, digo que com plena convicção que a autora de tal ato, não foi a senhorita.
Respiro fundo e pigarreio em uma clara demonstração de não deixar-me ceder na frente de um completo estranho que, até alguns minutos atrás eu acreditava que poderia vim a ser meu chefe.
- Imagino que mesmo tendo ciência da verdade, não irá me admitir em sua editora – digo com o ultimo fio de minha esperança sendo cortado ao notar condescendência em seu olhar.
- Eu posso ter fundado essa editora e criado o meu pequeno império, mas até mesmo para os magnatas a idade chega requerendo uma ajuda extra, e posso lhe afirmar que, a amizade que meus dois filhos mantém com Malik é o bastante para que a senhorita não exerça nenhum cargo aqui.
Sentindo-me humilhada sorriu uma ultima vez levantando-me da confortável cadeira, viro-me em direção a porta e olho para Henrique mais uma vez.
- Obrigada pela veracidade em suas palavras, jamais me esquecerei disso – digo, vendo o mesmo sorrir fraco.
- Boa sorte em sua jornada, minha cara – responde-me acenando um adeus.
Caminho a passos contidos pela grande sala branca saindo da mesma acenando um até mais a recepcionista, assim que meus pés pisam na calçada sigo meu caminho sem ao menos parar para analisar as conseqüências, pois foram exatamente por não ter pensado nelas que agora eu estava ali, e o irônico rondava minha cabeça “Não seria mais simples dessa vez pensar e seguir adiante?”, a resposta? Não, não seria.
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