Akaashi estava atrasado. Ele acabou se empolgando no trabalho e perdeu a hora de voltar para casa, então agora ele precisava correr até o metrô e torcer para Bokuto não ter começado sem ele.
Seu apartamento estava silencioso, o cheiro de lavanda preencheu seu nariz assim que abriu a porta. Keiji mal tirou os sapatos e correu para o sofá da sala, procurando o controle da televisão entre as almofadas. Suspirou de alívio assim que ligou e viu que ainda havia tempo. Dois minutos para a corrida começar.
Era sempre assim: a ansiedade tomava conta dele quando assistia a uma corrida de Koutarou, ele vibrava como se estivesse na arquibancada, lembrando da sensação inebriante da primeira vez que correu ao lado dele, e depois de quando o assistiu de perto em sua estreia como piloto de Fórmula 1. Palavras eram insuficientes para dizer o quão orgulhoso Akaashi estava de seu namorado.
Suas vidas mudaram muito nos últimos anos, melhoraram tanto e nunca mais pararam. Akaashi tinha três livros publicados, indo para o quarto, e chegava a ser reconhecido na rua por alguns leitores. O curso de cinema foi a melhor decisão da sua vida profissional, e agora ele estava arriscando novas oportunidades, como diretor. Nunca pensou que poderia chegar tão longe por conta de uma pessoa.
Quanto a Koutarou, ele largou o curso de Direito ao mesmo tempo que Akaashi, o que deve ter sido motivo de festa para os outros estudantes. Ele recebeu muito incentivo do moreno para correr atrás de verdade do que queria, e depois de canalizar sua dedicação e competitividade a ser piloto, ele conseguiu.
E agora Akaashi tinha a honra de dizer que namorava o piloto mais jovem a ganhar mais corridas consecutivas. Ele torcia para somar mais um número a esta lista quando as luzes ficaram verdes e a corrida começou.
Cinquenta voltas. Uma corrida longa e cansativa mas que fazia os olhos de Keiji grudarem na televisão. Ele não perdia um minuto sequer, sua atenção redobrando quando o nome de Bokuto era citado pelos comentaristas.
— Bokuto Koutarou volta à liderança após trocar os pneus, isso que é piloto!
Akaashi raramente entendia o que eles diziam, apenas prestava atenção no tom de voz ou nas palavras-chave que poderiam ser importantes. De resto, o mundo não tinha importância, apenas Koutarou.
Sua coluna estava gritando socorro quando a corrida terminou, e ele mal se deu conta da posição em que estava no sofá. Mal encostou as costas na almofada, sentado na ponta como se assim pudesse assistir mais de perto. Bokuto venceu, primeiro lugar para o melhor piloto. Seu piloto. O sorriso que desenhava seus lábios tremia, prestes a desabar ao vê-lo comemorando com sua equipe, jogando champanhe para cima e se molhando inteiro.
— Essa foi pra você, amor. — Bokuto diz apenas com os lábios para a primeira câmera que vê, o indicador apontando na direção de Keiji. As batidas de seu coração ecoavam nos ossos, abafando os sons externos.
Até que a campainha toca, tirando-o de seu transe para poder atender a porta. Quem poderia ser? Não estava esperando visita nenhuma…
— Já vai, porra! — gritou irritado ao ouvir a pessoa estourar o dedo na campainha.
Abriu a porta com tudo, limpando os olhos com a manga do casaco. Deviam estar vermelhos pelo tempo que ficou vidrado na televisão.
— Desculpe, meu namorado está?
Um sorriso felino, os olhos dourados, e então Bokuto estava de volta. Akaashi soluçou de surpresa, pulando no colo dele sem esperar qualquer sinal. Ele soltou sua bolsa de viagem, gargalhando enquanto segurava as coxas de Akaashi para mantê-lo no ar.
— O que está fazendo aqui? Acabei de te ver na tv e… — Keiji se embolava nas palavras, tocando cada traço do rosto dele, para ter certeza de que era real.
— A corrida foi ontem, gatinho, aquela é apenas a gravação. — Faz sentindo, e ele mal notou o ícone no canto de televisão dizendo que era apenas reprise da corrida. — Viu o que eu fiz pra você no final?
Akaashi assentiu, fechando os olhos e abraçando seu pescoço, deixando um beijo no lugar. Koutarou não tinha cheiro de lavanda, mas de um de seus vários perfumes caros que ele amava. O cheiro o lembrava lar. Seu lar e seu coração estavam de volta.
— Vi, foi muito fofo. Estou orgulhoso de você, piloto — murmurou, encontrando o caminho de sua boca.
Bokuto sorriu no meio do beijo, brincando com seu lábio vez ou outra. Akaashi acabou descendo do seu colo, embora tenha deixado suas mãos ao redor do pescoço de Bokuto para que ele não fugisse. Ele suspirou quando o platinado apertou sua cintura, marcando suas digitais na pele.
— Vamos entrar, Ji. Trouxe um presente pra você — Bokuto diz ainda perto do seu rosto, e então Keiji o ajuda a levar as malas para dentro do apartamento.
Keiji as deixou em qualquer lugar na entrada, doido para saber o que Bokuto havia trago para ele. Foram se sentar no sofá, a televisão ainda ligada exibindo entrevistas com os pilotos, Bokuto estava falando, mas ele não prestou atenção quando aquele cara da tv estava bem na sua frente.
— Certo, feche os olhos e estique as mãos.
Akaashi fez o que ele pediu, tentando espiar mas levando broncas toda vez que abria um olho antes da hora. Algo firme tocou suas mãos, a textura do embrulho não ajudava a identificar o que era. Então outra coisa foi colocada por cima, um pouco mais leve.
— Pode abrir.
Seu sorriso dobrou de tamanho ao ver a embalagem vermelha com um desenho de peixe na frente. Como se não bastasse doces, Bokuto também trouxe uma caixinha branca com macarons coloridos — sua corrida foi na França, afinal. Akaashi olhou para o namorado com os olhos brilhando, se deparando com aquela cara de quem quer contar um segredo antes da hora.
As mãos ágeis de Keiji abriram o embrulho rapidamente, mas tomando o cuidado de não rasgar a embalagem, porque ele ficava muito triste quando os embrulhos iam para o lixo. Não conseguiu segurar o grito de felicidade ao ver bem ali no seu colo um exemplar do seu primeiro livro, mas com uma capa diferente da que ele estava acostumado. Além de ser capa dura, que luxo!
— Não acredito, Koutarou. — Akaashi não aguentaria mais chorar, mas lá estavam as lágrimas ameaçando voltar.
— Quando eu vi na loja não pensei duas vezes em comprar. Desculpa, mas eu precisei dizer que te conhecia para a moça da loja, Kaashi. — ele não parecia arrependido, muito pelo contrário. — E, claro, adoraria um autógrafo do meu ídolo.
— Você é um idiota, sabia? — Akaashi deu um tapinha no braço dele, a risada nervosa escapando.
— Sou só um cara apaixonado que quer ver minha estrela talentosa brilhar!
Bokuto se defende da forma mais Bokuto Koutarou possível, e é impossível resistir àquela carinha apaixonada dele. Seus olhos estavam brilhando do mesmo jeito que faziam quando ele começava a contar sobre algo que gostava, e Keiji não poderia ficar menos feliz com isso.
— Amo você, Kou, e eu sempre achei que te odiaria por fazer o mesmo curso que eu.
Bokuto tirou os presentes do colo dele, colocando no chão em um canto seguro para poder deitar Akaashi no sofá e ficar por cima dele, aquela correntinha que ele nunca tirava agora tilintava com uma aliança prateada.
— Também amo você, Ji, meu rebelde. — eles se beijaram rapidamente, apenas um toque suave dos lábios.
— Pode pegar uma caneta, por favor?
Ele assentiu, saindo de cima dele e sumindo no corredor. Bokuto voltou saltitando pela casa, segurando uma caneta qualquer que encontrou. Akaashi abriu o livro — o seu livro —, inspirando o cheiro de folhas novas antes de colocar na primeira página, antes da dedicatória.
“Para o meu fã número 1, com muito amor de seu garoto rebelde.”
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