CAP 33
POV Hanbin
Meus pés balançam incessantemente, eu estou inquieto, minha visão passando do meu celular com as horas para o Jinhwan inconsciente deitado na cama do hospital. Eu quero chorar, eu me sinto tão inútil, seguro a pequena e frágil mão de Jinhwan com força, ele parece menor do que nunca, tão frágil...
“Por que eu não pude protege-lo?”
“Por que na hora que ele mais precisava de mim eu não estava lá?”
“Por que eu não estava lá para ele?”
Vozes gritam essas perguntas repetidamente na minha cabeça, eu me sinto sufocado, eu quero fugir da minha própria mente, as lagrimas enchem meus olhos, sinto como se tivesse um peso esmagando meu peito e como se eu não conseguisse respirar.
Tudo vai se escurecendo, ficando cada vez mais e mais escuro, quando de repente, como um holofote em meio a completa escuridão vejo Jinhwan abrir os olhos lentamente.
Nesse momento o mundo inteiro parou, eu rapidamente o abracei chorando, repetindo “me perdoa”, milhares de vezes.
Ele parecia confuso.
Então o doutor entra no quarto acompanhado de um policial, eu solto de Jinhwan e corro até os dois profissionais exaltado.
-E então senhor policial? Vocês prenderam ele? Vocês devem ter provas o suficiente! Eu vi senhor! E-eu vi! Foi Koo Junhoe! Me diz que ele está preso. - digo rapidamente, minha mente está toda misturada.
Antes de se pronunciar o oficial olha para Jinhwan na cama e depois de volta para mim.
-Talvez seja melhor falarmos sobre isso no corredor.- ele diz sussurrando.
Concordo e o sigo até fora do quarto.
-E então? O que está acontecendo?- pergunto ansioso.
-No momento Koo Junhoe se encontra sobre nossa jurisdição, porém contatamos os responsáveis pelo o jovem...
-Kim Jinhwan. O nome dele é Kim Jinhwan.- disse sério.
-Sim, pelo o jovem Kim Jinhwan e eles parecem não querer nenhum envolvimento com ele ou com esse incidente. Como Jinhwan ainda não prestou queixa não podermos fazer muita coisa. Caso ele decida prestar queixas prosseguiremos com o caso e é recomendável que ele consiga um advogado para representa-lo.- o policial continua falando sobre todo o processo judicial e eu acho extremamente difícil acompanhar.
-É claro que ele vai querer prestar queixas! Aquele monstro tem que apodrecer na cadeia!- digo claramente irritado.
-Eu concordo com o senhor, mas...- o oficial me puxa para mais perto e sussurra.- Considerando a já conhecida conduta homossexual do seu amigo... a menos que vocês consigam contratar um bom advogado talvez seja melhor esquecer tudo isso e seguir a vida de vocês... eu não gosto de admitir isso mas... acho difícil o culpado acabar indo para a cadeia por isso... seria só uma perda de tempo e dinheiro para vocês além de uma vergonha publica para os envolvidos.
Sinto o sangue subir a minha cabeça, como ele podia sugerir isso!? Sugerir que um crime tão obvio como esse seja esquecido, varrido para debaixo do tapete?!
-Com todo o respeito senhor policial, isso que você me falou é o maior absurdo que eu já ouvi! Como pode esse horror que foi cometido passar impune! Que tipo de justiça é essa?- me seguro muito para não gritar com o policial na minha frente.
-Foi só uma sugestão, culpe o sistema!- ele diz indiferente virando de costas e se afastando.
Chuto a parede do corredor com força, completamente indignado. Entro no quarto novamente, e começo a dizer tudo que o policial falou para mim para Jinhwan, que só processa as informações calmamente.
-Você acredita que ele sugeriu isso Jinhwan?! É claro que nós vamos prestar queixas! Koo Junhoe tem que apodrecer na cadeia!- grito irritado.
-O policial tem razão.- ele diz calmo.
-Que?- pergunto confuso, sem ter certeza se ouvi certo.
-O policial tem razão... eu já trouxe vergonha o suficiente para minha família, e eu não tenho como contratar um advogado, é um caso perdido...
-Eu arranjo o dinheiro! Eu vou resolver tudo! Vamos lá Jinhwan! Não podemos deixar ele sair ileso dessa!
-Não Hanbin.- ele fala sério.- O policial tem razão, é uma perda de tempo, no fim talvez a culpa seja minha mesmo... eu sou sujo, eu não mereço estar aqui, eu não devia ter escolhido ser assim, a culpa é minha.
Dou um tapa em Jinhwan, não muito forte mas o suficiente para ele parar de falar e me olhar completamente chocado, com lagrimas enchendo seus olhos.
-Nunca mais fale isso, eu não quero ouvir esse tipo de coisa saindo da sua boca. A culpa não é sua, você não tem nenhuma culpa, não é uma perda de tempo, você não escolheu ser quem você é e não tem nada errado com quem você é, eu te amo Jinhwan, não aja como se a pessoa que eu amo não devesse existir. O que seria de mim se você não estivesse aqui Kim Jinhwan?- digo sério, vejo as lagrimas caírem lentamente do rosto daquele pequeno garoto assustado.
Essas lagrimas que caiam lentamente tomam velocidade e se tornam em um choro incessante.
-Me desculpa! E-eu não sei o que fazer! Eu estou com medo eu quero ir pra casa!- Ele grita em meio ao choro.
Eu o abraço ternamente e acaricio a sua cabeça o confortando.
-Vamos para casa.- digo dando um beijo em sua testa.
~
No fim das contas Jinhwan decide não prestar queixas e o caso todo é esquecido, a vida de todos continua como se nada tivesse acontecido, menos a vida dele, a vida dele nunca mais seria a mesma, ele nunca mais seria o mesmo, eu nunca mais serei o mesmo e para nós nada nunca vai voltar a ser como era antes.
Jinhwan passou a viver comigo, eu desisti de vez dos estudos e foquei em trabalhar para ajudar a sustentar ele e minha mãe.
Já faz duas semanas desde o acontecimento, e desde então ele praticamente não se levantou da cama. Todos os dias eu acordo cedo, levo o café da manhã até ele, me despeço e vou trabalhar, no fim da tarde eu volto e subo diretamente até meu quarto para vê-lo. Nos bons dias encontro um prato vazio na cabeceira, nos dias ruis me deparo com um prato de comida intocado no mesmo lugar que eu o deixei. Levo a janta até ele e conversamos enquanto eu tento faze-lo comer, ele não fala muito.
A noite eu estendo um colchão ao lado da cama e o observo até ele cair no sono, é comum ele acordar diversas vezes durante a noite chorando ou gritando por causa de pesadelos, é bem normal ele vomitar após esses pesadelos, eu sento ao seu lado e tento acalma-lo para que ele volte a dormir.
Jinhwan não gosta mais de muito contato físico, eu percebo que ele tenta aguentar por mim, mas é claro que sempre que eu o toco ou o beijo ele recua ou começa a tremer.
Tem sido difícil, mas nós vamos seguindo um dia de cada vez, e eu tenho fé de que vai tudo melhorar um dia, talvez nunca voltemos a ser como antes, mas o fato de tê-lo ao meu lado é o suficiente para que eu continue forte.
POV Jinhwan
-Hey Jinan.- ouço a voz de Hanbin suavemente me acordando.- Seu café da manhã.- ele diz botando um prato de comida na mesa de cabeceira, só de olhar para aquele alimento sinto ânsia de vomito, meu apetite é nulo.- Eu vou indo mas mais tarde eu volto!- ele diz deixando um gentil beijo na minha testa.
Eu não sei porque, mas hoje não é igual todos os outros dias, eu não quero que ele vá, eu preciso que ele fique aqui, eu estou com muito medo eu quero que ele fique aqui comigo.
Seguro a mão de Hanbin com força o impedindo de ir embora, ele olha para trás confuso.
-Fica. P-por favor fica comigo.- digo tremendo.
-Eu preciso ir Jinan, eu volto...
-Fica aqui por favor.- imploro, puxando sua mão com a pouca força que tinha.
-Eu não posso... são só algumas horinhas eu juro que volto!- ele diz beijando a minha mão e saindo do quarto.
-Por favor...- digo em vão para a porta fechada a minha frente.- Fica comigo por favor...- as lagrimas despencam pelo meu rosto.
Eu estou com medo, eu estou cansado, eu não aguento mais, para todo lugar que eu olho só uma coisa vem a minha mente, eu não quero pensar nisso, eu não posso fazer isso, eu preciso aguentar.
Tento voltar a dormir para distrair minha mente, mas sempre que eu fecho os olhos, é como se eu voltasse para aquele dia, para aquela situação, é como se eu estivesse sentindo tudo de novo.
Abro os olhos depressa e salto da cama suando, dormir claramente não é uma opção. Sempre que Hanbin não esta aqui eu sinto tanto medo, eu queria que Hanbin estivesse comigo.
Me reviro na cama por algumas horas, tento distrair a minha mente mas o mesmo pensamento continua voltando, é tudo que eu consigo pensar, eu não aguento mais, eu preciso fugir, eu só quero que pare.
Eu só quero que pare de doer.
Tento comer a comida que Hanbin deixou, mas assim que dou uma mordida a comida volta com tudo a minha garganta e eu desajeitadamente corro até o banheiro, vomitando tudo o que estava na minha barriga.
Agora sentado no chão do banheiro olho em volta, vejo a gilete de Hanbin e todos os pensamentos voltam como uma enchente.
Esse é o único jeito de parar de doer.
Tranco a porta do banheiro, tampo o ralo e ligo a banheira, mas não pretendo tomar um banho. Respiro fundo e pego a lamina que tanto me tenta de cima da pia, olho para ela, observando cada detalhe, me pergunto se essa é a decisão certa, se eu realmente devia fazer isso.
O sorriso de Hanbin vem a minha mente, penso em cada detalhe do seu rosto, seu abraço, seu toque, mas quase que imediatamente o toque do Hanbin se torna no toque de outra pessoa, me encontro cercado de escuridão todas as sensações daquele dia voltam para mim como uma cascata, as lagrimas rolam pelo meu rosto e eu vomito novamente.
Agora vai parar de doer.
Tremendo e hesitando pego a lamina daquela gilete e faço o corte mais profundo que consigo nos meu pulsos, minhas mãos não param de tremer e tudo é tão bagunçado, as lagrimas deixam minha visão embaçada mas consigo ver o sangue escorrendo, sorrio um sorriso quebrado, decepcionado comigo mesmo por não conseguir aguentar mais.
POV Hanbin
Chego em casa depois de um cansativo dia de trabalho, não consigo parar de pensar na suplica de Jinhwan, ele parecia tão triste, ver ele assim me doía tanto, não consigo parar de pensar se devia ter ido ao trabalho hoje, ou se devia ter ficado com ele.
Corro diretamente para o meu quarto, minha mãe ainda não havia chegado em casa. Tenho um pressentimento estranho, como se algo tivesse errado, e a única coisa que acalmaria esse sentimento seria ver Jinhwan.
Abro a porta do quarto ansioso já anunciando a minha chegada.
-Jinan! Cheguei!- falo ofegante de subir as escadas correndo mas encontro o quarto vazio.
-Jinhwan? Cadê você?- pergunto olhando em volta, mas nenhum sinal dele.
Olho em volta preocupado, meu coração a mil, quando vejo a porta do banheiro fechada.
-Jinhwan? Você tá aí dentro?- pergunto batendo na porta.
Nenhuma resposta.
Tento abrir a porta mas ela está trancada, nesse simples momento todos os meus piores medos passam simultaneamente como um flash pela minha cabeça e sinto que meu coração vai sair pela minha boca.
-Hey Jinhwan! É sério! Abre a porta!- grito preocupado esmurrando a porta do banheiro.- Jinhwan eu vou arrombar essa porta! Abre isso por favor!
Desesperado começo a me jogar contra a porta com toda a força que eu tenho, uma vez, duas vezes, três vezes, e então ela abre com tudo. Respiro ofegantemente, e levanto a cabeça para olhar o banheiro.
O que eu vejo lá dentro me causa um desespero que eu achei que nunca ia viver novamente, as lagrimas automaticamente rolam pela minha face e eu grito com todo o ar restante no meu pulmão.
-JINHWAN!
Ele se encontrava encostado na parede do banheiro, uma mão dentro da banheira e outra jogada no chão, sangue o rodeava por toda parte e a água na banheira era completamente vermelha.
Eu em completo pânico sem saber o que fazer corri até ele e me ajoelhei a sua frente.
-J-Jinhwan, por favor não, acorda Jinhwan por favor isso não pode ser verdade.- digo sacudindo seu rosto.
-H-Hanbin, me desculpa.- ele diz com a voz extremamente fraca e eu grito.
-Meu deus! Fica comigo Jinhwan por favor, por favor fica comigo.
Ele não fala mais nada e rapidamente pego meu celular, minhas mãos estão tremendo tanto que é difícil teclar mas o mais rapidamente possível ligo para o numero de emergência enquanto tento manter ele consciente.
-Alo? Qual é a emergência?- uma mulher atende.
-A-alo, e-e-e- eu não consigo falar, todo o meu corpo treme e Jinhwan todo ensanguentado na minha frente, é demais para processar.
-Por favor se acalme senhor, qual é a emergência.
-M-meu amigo, e-ele tá todo ensanguentado, n-n-no banheiro, e-eu não sei o que fazer.- digo gaguejando.
-O senhor sabe o que aconteceu? poderia me passar o seu endereço?- a atendente pergunta
-É a rua XXX no XXX por favor mande uma ambulância o mais rápido possível.- digo ainda gaguejando.
-O que aconteceu senhor?
-E-ele cortou os pulsos.- digo em choque olhando as suas mãos ensanguentadas.
-Entendido a ambulância está a caminho por favor continue na linha que eu irei te auxiliar.
-P-por favor moça, e-e-ele não pode morrer, ele não pode.- grito chorando.
-Por favor mantenha a calma, você pode checar se ele ainda tem pulso.
Levo minhas mãos tremulas e confusas até seu pescoço e tento detectar algum batimento cardíaco.
-Sim! S-s-sim o coração dele tá batendo.- digo chorando e um alivio enorme me atinge.- ele ainda tá vivo!- digo tentando sorrir esperançosamente.
Jinhwan não pode me ver chorando assim, eu tenho que sorrir.
-Otimo, o senhor precisa parar o sangramento, caso não tenha gaze pode usar uma camiseta ou qualquer pano, mas é importante que você coloque pressão sobre o corte.
-O-o-ok.- digo respirando fundo.
Tiro minha camiseta e a rasgo em dois pedaços, com o máximo de cuidado que minhas mãos tremulas permitem seguro a mão de Jinhwan e amarro os pedaços da camiseta nos seus pulsos.
-E-e agora?- pergunto com medo.
-Continue colocando pressão nos ferimentos, a ambulância está a caminho, até lá não o mova muito e tente fazer com que ele recupere a consciência.- a atendente explica calmamente.- Agora preciso desligar, fique calmo, vai dar tudo certo.
A ligação se encerra e o meu desespero se multiplica um milhão de vezes, começo a tremer mais violentamente do que antes mas respiro fundo tentando me acalmar, com medo de que a tremedeira piore o sangramento.
Checo o pulso de Jinhwan novamente e sinto uma batida frágil e fraca, mas ela está lá. O abraço fortemente chorando sem controle.
-Jinhwan, por favor não desista. Você prometeu Jinhwan, você prometeu que ia ficar sempre comigo você não pode desistir.- digo chorando.- Eu te amo tanto Jinhwan, me desculpa, me desculpa por não ficar com você, por favor não me abandone. Eu preciso de você!
-h-Hanbin...-ouço Jinhwan murmurar.
-Hey! Eu estou aqui! Eu estou aqui com você, por favor não vá embora, você não pode desistir, você prometeu pra mim Jinhwan, eu te amo tanto, fique aqui.- grito em meio a uma cachoeira de lagrimas
Sou como uma fita quebrado, repito e repito as mesmas coisas, que eu preciso dele, que ele não pode ir embora, não assim.
Sinto um leve sorriso se formando nos seus lábios. E separo o abraço para olhar no seu rosto.
-Você é bom demais para mim.- é a ultima coisa que ele diz antes de cair inconsciente.
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