Mesmo sendo rei, Sasuke Uchiha não abria mão de certos hábitos, entre eles, cavalgar todas as manhãs pelo reino da Frígia, o qual governava desde a morte de seu pai. Fazia questão de ostentar sua suntuosidade e imponência por onde quer que fosse, afinal, receber os muitos olhares de admiração e respeito de seus súditos fazia seu ego inflar ainda mais.
Além de muito rico, também era dono de uma beleza arrebatadora, fazendo com que todas as mulheres do reino o desejassem. Mesmo podendo ter qualquer uma delas em seu leito, o coração do jovem rei há muito tempo já pertencia a alguém, e esta era Sakura Haruno, uma das mulheres mais lindas já vista antes, com quem era casado fazia alguns anos. Não bastasse o amor explícito que havia entre eles, o jovem casal estava radiante, pois muito em breve aconteceria a chegada de seu primeiro herdeiro, o qual o Uchiha sonhava ser um menino, pois assim poderia assumir seu lugar no trono futuramente.
Aos olhos dos súditos, seu soberano não precisava de mais nada, visto já possuir tudo aquilo que um homem poderia almejar. Ele, porém, pensava diferente. Sua ambição era tão desmedida, que todos os dias dormia e acordava pensando em inúmeras formas de aumentar sua fortuna.
Foi então que certo dia, durante um de seus habituais passeios à cavalo pelo reino, no qual pensava em uma forma de avolumar seus bens, estranhou quando seu Friesian negro parou de sopetão, o que por muito pouco não o fez ir de encontro ao chão.
— O que houve, Chidori? — perguntou acalmando o animal, só então se dando conta de que havia alguém desfalecido diante deles, um homem de pele extremamente pálida e longos cabelos negros.
Após tranquilizar o cavalo, o jovem rei foi de encontro a figura misteriosa para certificar-se de que ainda estava vivo.
“Está frio e com o pulso muito fraco, além de respirar com dificuldade. Certamente não viverá por muito tempo se eu deixá-lo aqui. Nesse caso, não me resta outra alternativa a não ser levá-lo para o castelo”, pensou colocando o homem sobre o Friesian, que mostrou-se insatisfeito com tal atitude.
— Calma, garoto, assim que chegarmos ao castelo, lhe darei maçãs frescas para te compensar — falou acariciando a crina macia do cavalo. — Agora vamos.
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Mal havia adentrado os portões do castelo, foi recebido por Sakura, já portando uma barriga avantajada de cerca de sete meses de gestação. Tinha os olhos verdes como esmeraldas arregalados, olhando para o desconhecido desmaiado sobre Chidori, mostrando-se confusa e preocupada ao mesmo tempo.
— Pelos céus, Sasuke, o que aconteceu? E quem é esse homem?
— Não faço ideia — respondeu simplesmente, levando uma das mãos ao ventre da rainha, sorrindo.
— Como assim não faz ideia? — inquiriu com indignação. — Desde quando traz desconhecidos para o castelo, colocando a nossa segurança e a de todo o reino da Frígia em risco?
— Ele estava quase morrendo, Sakura, como rei, o que esperava que eu fizesse? O largasse lá, à míngua?
— Não, claro que não — respondeu ponderando o que o esposo disse, mas ainda assim, mostrando-se um pouco insegura —, mas você sequer sabe quem ele é. E se for algum bandoleiro em fuga?
— Não creio que seja o caso, minha rainha. No muito, deve ser algum camponês desafortunado — disse logo tratando de acalentá-la. — Peça aos servos que cuidem dele, lhe deem comida e roupas quentes. Assim que estiver em condições, falarei com ele e, caso note que seja uma ameaça para o reino, eu mesmo cuidarei para que se arrependa de ter cruzado meu caminho, está bem? — falou beijando a testa da esposa.
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Haviam se passado três dias e três noites desde o encontro com o homem desconhecido, que não havia acordado desde então.
Somente na quarta noite durante o jantar, que um dos servos dirigiu-se até o rei, cochichando algo em seu ouvido. Mesmo do lado oposto, Sakura mostrou-se alerta, não perdendo tempo em questionar o que havia acontecido.
— O que houve?
— Parece que finalmente nosso hóspede resolveu acordar, e deseja falar comigo — respondeu limpando a boca. — Irei ao encontro dele.
— Sozinho?
— E qual o problema? — interpelou com um sorriso discreto. — Acha que um homem naquele estado será capaz de fazer algo contra mim, treinado e acostumado a combates desde a minha mocidade?
— Ainda assim, algo me diz que, como rei, não é certo que baixe a guarda diante de uma ocasião tão atípica como essa. Em outras palavras, meu soberano, temo por sua vida.
— Não exagere, minha rainha — buscou tranquilizá-la, levantando e indo ao seu encontro. — Acalme-se e pense somente no bem estar do nosso bebê.
— Estou pensando no de todos nós — respondeu, recebendo um beijo na testa.
— Termine sua refeição e vá descansar em nossos aposentos, prometo não demorar.
Mesmo a contragosto, Sakura fez como o esposo havia dito, mas, ainda assim, com uma forte angústia dentro do peito.
Sasuke, por sua vez, não perdeu mais tempo e foi de encontro ao homem misterioso, afinal, tinha muitas perguntas a fazer.
Chegando ao local, pediu que os guardas o deixassem a sós com ele, porém, permanecessem em estado de alerta do lado de fora.
Ao adentrar o cômodo, deparou-se com o homem em pé, ao lado da cama, observando o céu noturno através da janela. Percebendo que não estava mais sozinho, virou-se na direção do rei, fazendo uma reverência respeitosa.
— Soberano, é uma honra conhecê-lo pessoalmente.
Em um primeiro momento, Sasuke nada disse, apenas o observou atentamente. Apesar de sua aparência estar deveras melhor, a palidez de sua pele ainda era um tanto assustadora.
— Um dos servos me informou que deseja falar comigo.
— Exato, Majestade. Antes de mais nada, permita-me que me apresente. Meu nome é Orochimaru e sou um curandeiro do reino vizinho.
— Curandeiro? — repetiu desconfiado. — E posso saber o que o trouxe ao reino da Frígia?
— O vilarejo onde eu vivia foi associado a feitos de bruxaria, por isso foi atacado e todos os habitantes foram mortos em fogueiras. Eu consegui escapar, caminhando sem rumo, e foi assim que cheguei às terras da Frígia. Teria tido o mesmo destino dos demais habitantes de onde vim se não fosse por seu ato de bondade em me resgatar.
— Todos no seu povoado eram… curandeiros?
— A maioria, Majestade, mas, modéstia à parte, eu era o melhor entre todos eles, por isso mesmo consegui escapar.
— Claro, imagino, inclusive, que isso deve-se a algum feitiço poderoso, no qual fez com que todas as suas reservas de energia se esgotassem, não é? Por isso, acabei por encontrá-lo naquele estado deplorável, estou certo? — inquiriu estreitando os olhos na direção de Orochimaru, que por sua vez, apenas sorriu.
— Vossa Majestade é muito perspicaz.
— Imagino que saiba que feitiçaria é proibida no reino da Frígia, por isso mesmo, ter minha imagem ligada a sua pode me trazer sérios problemas. Sendo assim, ordenar sua execução imediata seria o melhor caminho para mim.
— Tenho ciência de tudo isso, Majestade, por isso mesmo quero lhe fazer uma proposta, algo que vai beneficiar ambas as partes.
— E que proposta seria essa, feiticeiro? — inquiriu.
— Como forma de mostrar minha profunda gratidão por ter salvado minha vida, mesmo sem ter qualquer obrigação ao fazê-lo, estou disposto a recompensá-lo por tal ato ao lhe conceder a realização de um pedido.
— Um pedido? Que tipo de pedido? — perguntou interessado.
— O que Vossa Majestade desejar. A única coisa que peço em troca, é que me deixe partir em seguida.
Sasuke passou a andar em círculos pelo aposento, ponderando as palavras de Orochimaru. Tal oferta realmente lhe pareceu muito atrativa, porém, o que pediria? Foi então que seu lado ganancioso aflorou, fazendo com que um pensamento até então impossível para qualquer mortal surgisse. Voltou-se novamente para o feiticeiro, que apenas aguardava por seu parecer.
— Disse que posso desejar qualquer coisa, certo?
— Exato, Majestade.
— Pois bem — falou decidido, com as íris negras brilhando como a noite fora do castelo. — Quero ter o poder de transformar em ouro tudo aquilo que eu tocar. Julga-se capaz de fazer isso, feiticeiro?
O pedido de Sasuke deixou Orochimaru estupefato. Já havia realizado inúmeros desejos ao longo de sua vida, mas nada comparado ao do rei Uchiha.
— Claro, Majestade, mas…
— Mas o quê? Não me diga que prefere ser lançado em uma fogueira? Ou quem sabe, ter a cabeça cortada em uma guilhotina?
— De forma alguma, soberano, apenas esperava que desejasse por algo que lhe trouxesse boa-venturança.
— E acha que acumular uma grande fortuna não será capaz de fazer isso? — demandou com certa zombaria. — Pelo visto, viver em um simples vilarejo fez com que você não conhecesse as coisas boas da vida, meu caro feiticeiro.
Orochimaru nada disse, afinal, não cabia a ele decidir pelo rei, apenas conceder seu pedido.
— Será como quiser, Majestade. Por favor, me estenda suas mãos.
Sasuke fez conforme lhe foi solicitado, sentindo um leve calafrio ao ser tocado pelas mãos frias do homem, que pronunciou alguns dialetos desconhecidos para ele.
— Está feito — Orochimaru declarou, fazendo uma breve referência diante do homem, que olhava para suas palmas com o cenho franzido.
— Não sinto nada de diferente, feiticeiro. Se ousou me enganar…
— Se duvida de minha palavra, toque qualquer objeto, Majestade, e veja seu desejo se concretizar diante de seus olhos — respondeu seguro.
O Uchiha então olhou em volta, pegando um castiçal que havia sobre a cômoda. Segundos depois, um sorriso formou-se em seus lábios ao ver o objeto transformar-se em ouro maciço. Não satisfeito, repetiu o ritual com mais alguns objetos que estavam ao redor, não conseguindo esconder a alegria que aquele poder estava lhe proporcionando.
— Muito bem, feiticeiro, como cumpriu sua parte do acordo, cumprirei a minha. Pode ir embora e não ouse dizer a ninguém o que aconteceu aqui.
— Assim será, soberano — disse Orochimaru ao transformar-se em uma cobra branca, não demorando a rastejar para fora do quarto através da janela aberta.
Como havia assegurado a rainha, Sasuke não retornou aos aposentos reais como havia dito que faria. Ao invés disso, preferiu testar seu mais novo poder transformando uma série de diferentes objetos espalhados pelo castelo em ouro.
“Não direi a ninguém sobre minha mais nova habilidade, farei com que pensem que estou multiplicando o tesouro real com muito trabalho duro e assim serei visto, não apenas como o rei mais afortunado que o reino da Frígia já teve, como também o mais engenhoso”, pensou admirando as peças recém transformadas em suas mãos abençoadas.
O rei Uchiha permaneceu extasiado por dias, transformando todos os objetos do castelo em ouro, vendo-se obrigado a dar uma pausa apenas quando sentiu fome, afinal, há dias não comia uma refeição decente. Foi a partir daí que sua alegria logo deu lugar a frustração e desespero.
Sasuke percebeu que tudo que ele tentava comer ou beber também se transformava em ouro, frutas, pães, assim também como pratos, copos, taças, absolutamente tudo em que ele tocava.
— Maldição! Aquele feiticeiro miserável brincou comigo — vociferou, atirando longe um pedaço de pão, agora também transformado em ouro. — Mas ele verá que ninguém faz o grande rei Sasuke Uchiha de bobo!
Soltando fogo pelas ventas, o monarca saiu apressado do castelo, não parando nem mesmo ao ouvir a voz de Sakura chamar por ele:
— Enfim, resolveu aparecer! Posso saber onde esteve durante todos esses dias, que sequer dormiu nos aposentos reais?
— Agora não, Sakura, tenho assuntos mais importantes a tratar.
— Mais importantes do que explicar o porquê de ter deixado sua esposa grávida do seu herdeiro sozinha por vários dias e noites? — inquiriu carrancuda, ficando ainda mais insatisfeita ao ver o esposo ignorá-la por completo, saindo a passos rápidos. — Aonde vai?
Ele não respondeu, logo dirigindo-se até o estábulo. Chegando lá, pouco se importou em ver que as porteiras transformaram-se em ouro ao ser tocadas por ele, dando-se conta da dimensão do seu poder apenas ao tocar seu cavalo e ver Chidori transformar-se em uma estátua de ouro diante dele. Desnorteado, o jovem rei caiu de joelhos ao lado do animal, apertando um punhado de palha entre as mãos, fazendo assim com que também se transformasse em ouro.
— Agora eu entendo o que o feiticeiro quis dizer quanto a eu escolher algo que supostamente não me traria boa sorte. Aquilo que julguei ser uma dádiva era, na verdade, uma maldição — murmurava entre lágrimas. — Preciso ir atrás dele, preciso encontrar o Orochimaru e fazer com que ele reverta a maldição do toque de ouro.
— Maldição do toque de ouro? Do que está falando?
Sasuke então virou-se, encontrando Sakura esbaforida logo atrás dele. Em um primeiro momento, a rainha não entendeu as palavras do esposo, mas bastou olhar para os portões do estábulo, assim como para o cavalo logo atrás dele e o punhado de palha que segurava para juntar as peças.
— Ah meu Deus, Sasuke! Foi aquele homem, não foi? — indagou aproximando-se do Uchiha.
“Se eu tocá-la, ela irá se transformar em ouro assim como o Chidori e todo o resto”, concluiu, dando-se conta do risco que a amada corria.
— Afaste-se, Sakura! Volte para o castelo agora mesmo e só saia de lá quando eu mandar! — ordenou levantando-se apressado.
— Nem pense que apenas porque estou grávida vou me sujeitar a suas ordens, Sasuke Uchiha! Você pode até ser o rei da Frígia, mas como sua rainha, é meu dever saber tudo o que está acontecendo, e assim ajudar você — falou ao dar alguns passos na direção dele, que na tentativa de manter uma distância segura da mulher, acabou tropeçando e caindo sentado diante dela.
Antes que tentasse afastá-la mais uma vez, Sasuke só teve tempo de ver sua rainha ajoelhar-se diante dele e sorrir, levando as mãos delicadas até as suas para, segundos depois, transformar-se em uma estátua de ouro diante de si.
— Não… não, não, não, não, você não, tudo menos você! — gritava tocando a imagem dourada e fria diante de si, negando-se a acreditar no que havia acontecido com sua amada.
Ficou abraçado a figura de sua rainha por incontáveis minutos, chorando copiosamente enquanto amaldiçoava a si mesmo por ter deixado sua ganância cegá-lo.
— Não deveria ter pedido algo para aumentar seus bens, Majestade, mas sim um meio de diminuir sua cobiça.
Aquela voz era conhecida pelo rei Uchiha, que afastou-se brevemente de Sakura para ver de onde ela vinha, logo avistando uma cobra branca enrolada sobre a estátua de Chidori.
— Você disse que poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse, não é? Então desfaça essa maldição, feiticeiro, faça com que minha esposa, meu cavalo e tudo aquilo que eu toquei volte ao normal.
— Infelizmente, não posso fazer o que me pede, Majestade. Por conta da ambição que contaminou seu coração, o soberano foi sentenciado a ver tudo o que tocou ser transformado em objetos de ouro por toda a eternidade, incluindo a mulher que mais amou nessa vida e o herdeiro que jamais conhecerás — explicou o feiticeiro. — Porém, como salvou minha vida, me vejo no dever de fazer o mesmo.
— O que quer dizer?
— Como deve ter notado, nada está isento do toque de suas mãos, soberano, nem mesmo os alimentos. Sendo assim, para que não morra de fome, deve banhar-se nas águas do rio Pactolo. Ao fazer isso, a maldição do toque de ouro será quebrada e nunca mais nada será transformado em ouro através do seu toque.
Sem olhar para trás, o rei fez como o feiticeiro lhe instruiu, correndo o mais depressa que pôde em direção ao rio Pactolo. Atirou-se nas águas pouco se importando com suas vestes. Ao sair de lá, avistou uma macieira carregada de maçãs maduras e, mesmo receoso, arriscou-se em colher uma delas, chorando de alívio ao ver que a fruta não se transformou em ouro. Devido a fome, acabou com ela em poucas mordidas, voltando apressadamente para o castelo, mais precisamente para o estábulo, onde encontrou as estátuas de Sakura e Chidori no mesmo lugar, porém, Orochimaru não estava mais lá.
Pegou a imagem da esposa nos braços e caminhou com ela mais uma vez até o rio, esperançoso de que ao banhá-la lá, assim como fez consigo, ela também voltaria ao normal. Entretanto, para sua infelicidade, isso não aconteceu, e assim como Orochimaru havia dito, Sakura permaneceu como uma estátua de ouro para sempre.
Devastado, Sasuke retornou para o castelo, onde colocou a estátua da esposa e de Chidori no mausoléu da família. Abdicou do trono da Frígia e tornou-se um eremita, uma forma de autopunição por não ter valorizado aquilo que ouro nenhum no mundo seria capaz de comprar, o tesouro mais valioso do mundo e que sempre esteve guardado dentro de seu coração corrompido pela ganância: o amor.
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