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História Toques e Melodias (degustação) - I - Roots - História escrita por CoraFelix - Spirit Fanfics e Histórias
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História Toques e Melodias (degustação) - I - Roots


Escrita por: CoraFelix

Capítulo 2 - I - Roots


Fanfic / Fanfiction Toques e Melodias (degustação) - I - Roots

I

O interior da Irlanda era conhecido por ter as quatro estações do ano em apenas um dia.

Roots saiu sábado para fazer uma caminhada, parou o carro próximo ao centro do vilarejo de Killarney e decidiu caminhar um pouco pelos arredores. Naquela manhã, o tempo estava ameno, mas levou sua jaqueta mesmo assim, acompanhado de algumas provisões.

A hora do almoço já havia passado há séculos; Roots sabia disso pela última vez em que tinha visto as horas no celular, há muito descarregado, e pelo barulho ensurdecedor que seu estômago fazia. À medida que dava passadas largas, com as botas encontrando a grama fofa da paisagem, o som aumentava. O último cisco de civilização foi no Parque Nacional, onde visitou o Castelo de Ross. Roots sempre gostou de castelos e no Reino Unido eles eram encontrados em punhados satisfatórios, cada um com sua história específica.

Decidiu por comer seu último sanduiche, um dos vários que havia enfiado no bolso antes de sair para aquele passeio.

Aos sábados, a banda parava um pouco de trabalhar nas composições. Ele sabia que não havia muito a fazer no interior da Irlanda. Tinham alugado uma casa para se afastar da civilização e tirar um tempo para que o cérebro fosse injetado com novas referências e inspirações. Jack provavelmente estaria em Dublin, junto com o restante dos meninos e Eve. Já Roots preferia ficar onde estava, explorando os pequenos lugares que Killarney possuía. Abocanhou metade do sanduíche de uma vez, pensando se seria prudente começar a fazer sanduiches maiores ou se precisava dar mordidas menores. Terminou em menos de cinco minutos e sentiu o estômago parar de urrar, mesmo sabendo que aquela sensação não duraria nem uma hora.

Enfiou o papel pardo no bolso — que se juntou aos outros vários de sanduíches há muito devorados — e voltou a andar, caminhando sem rumo pela paisagem extremamente verde da Irlanda. Roots gostava da cor. Se buscava algo para compor ou descobrir harmonias novas, ali era o lugar perfeito. A mente vagava por diversos assuntos quando ele chegou a um lugar com uma paisagem espetacular. Como um desfiladeiro, era uma mistura perfeita de verde, pedras e algumas árvores.

Atravessou uma ponte de pedra e teve plena consciência de que, se havia uma ponte ali, provavelmente do outro lado poderia encontrar civilização o suficiente para perguntar onde estava. Minutos se passaram e conseguiu ver andarilhos em locais mais afastados e algumas ovelhas que pareciam algodão em meio ao verde extenso. Depois de quase duas horas, o céu azul abriu espaço para a cor alaranjada e Roots percebeu duas coisas: a primeira era que o fim do dia se aproximava e a segunda era que estava completamente perdido.

— Merda.

O som pesado da sua voz se mesclou ao som do vento batendo na grama alta. Ele andou até uma pedra, sentou e respirou fundo para recuperar o fôlego. Enfiou a mão no bolso da calça cargo para tirar outro sanduíche, até perceber que já havia devorado todos. O celular estava descarregado.

Roots tinha todos os motivos para ficar desesperado, mas, de certa maneira, aquele céu alaranjado, salpicado por pássaros, o barulho da vegetação e a brisa amena que batia em seu corpo fez uma peculiar sensação de paz inebriar sua mente, e a harmonia que ele tanto procurava, de repente o encontrou.

[...]

Mab sentiu quando o fim do dia se aproximava. Sentiu isso pelo modo como a brisa soprou mais leve e como o campo foi banhado por uma luz cálida. As nuvens deram espaço para um céu aberto e o sol começou a descer, dando ao local um último espetáculo com sua cor alaranjada. Ela sorriu, sentindo-se abençoada, como sempre se sentia ao andar por ali.

Não era o tipo de pessoa que precisava de muito para se sentir bem. No momento, apenas a grama batendo em suas pernas trazia uma sensação de desconforto, mas ela ignorou aquilo, já era hora de ir para casa. O local estava mais ermo — os turistas gostavam de visitá-lo na parte do dia, andando com guias e tirando fotos das paisagens lindas que apenas a Irlanda poderia proporcionar. Ela cortou a ponte de pedra, subiu as montanhas e caminhou pelo grande desfiladeiro. Um pequeno ponto em meio ao verde chamou sua atenção e ela franziu o cenho, semicerrando os olhos para tentar ver, até perceber que era um homem.

Aproximou-se vagarosamente. Ele estava imerso em pensamentos, não percebeu a sua presença nem mesmo quando ela parou a apenas dois metros de distância e o observou com atenção. Estava sentado em uma pedra. Vestia uma calça verde cheia de bolsos, uma blusa de mangas longas preta e botas. Havia uma jaqueta ao seu lado, mas ele não parecia sentir frio. Mab perguntou-se o motivo, os turistas sempre se agasalhavam àquela hora, por causa da brisa. Ele não. Não usava nem mesmo touca, o que deixava a cabeça careca completamente exposta. Seus dedos batucavam na coxa direita uma melodia que parecia estar apenas na sua mente; os lábios estavam cerrados, mas o pescoço mexia de acordo com o movimento dos dedos. Mab fitou aquele local, percebendo desenhos estranhos subirem até certo ponto. Não conseguiu identificá-los. Não teve tempo. Ele se virou rapidamente e parou o movimento dos dedos, bem como o do pescoço.

O rosto possuía traços duros, mas foram os olhos que a fizeram se lembrar de alguns animais que corriam pelas montanhas. Eram negros e possuíam um brilho selvagem estranho, mas ao mesmo tempo belo. Ela sorriu para ele.

 — Olá — disse, em um cumprimento. — Atrapalho?

[...]

Roots não sabia o que responder, a garota devia ter saído de algum buraco na terra, pois não havia notado sua aproximação de forma alguma. Seus olhos não se desviaram, mas ele percebeu que o tom alaranjado do céu dava espaço para um arroxeado. A noite estava mais próxima. Por quanto tempo tinha ficado ali? Depois, percebeu que ela parecia esperar uma resposta e limpou a garganta.

— Boa tarde... Eu estava compondo... — ele disse, como se fosse óbvio.

O sorriso dela aumentou e Roots percebeu que chegava aos olhos castanhos claros e pequenas sardas pintavam a pele.

— Compondo? Você é músico? — ela fez a pergunta autoexplicativa de forma automática.

Roots esperou qualquer reação àquilo, esperou que ela perguntasse o que estava fazendo ali, sentado em uma pedra no interior da Irlanda. Esperou que ela sentasse ao seu lado para conversar sobre o novo álbum. Esperou perguntas de todas as formas, até perceber algo que o deixou no mínimo surpreso: aquela garota não fazia ideia de quem ele era.

Ela continuava esperando uma resposta. Roots limpou a garganta pela segunda vez, sentindo-se um tolo.

— Sim... sou — respondeu.

Mab percebeu que ele não era de muitas palavras, mas continuou sorrindo. Depois de um tempo, olhou para o caminho que tinha percorrido e respirou fundo.

— A noite está chegando. Não é muito seguro ficar aqui. Você é turista? — ela perguntou, voltando a lhe dar atenção.

Ele assentiu e correu os olhos escuros em volta.

— Na verdade, me perdi... só que a paisagem é tão bonita que continuei por um tempo aqui, mas não percebi que estava tão tarde...

Ele se levantou e Mab percebeu como era alto. Teve um pouco de dificuldade em olhá-lo nos olhos naquele momento, mas fez o seu melhor. Gesticulou para que a seguisse e Roots pegou sua jaqueta, que descansava na pedra, jogando-a no ombro.

— Bom... Meu nome é Mab. Sou daqui e estou indo para casa. — Os passos dela eram largos e calmos, parecia estar acostumada a andar pelos campos. — Tenho uma pequena pousada que é usada exclusivamente para visitantes do Gap de Dunloe.

— Gap de quê?

Mab virou-se para ele novamente e Roots percebeu que ela carregava uma cesta de vime.

— Gap de Dunloe, um dos pontos turísticos mais conhecidos de Killarney... — ela voltou a andar, seguida por Roots. — Onde está seu carro?

— No centro.

De repente, ela parou e a cesta de vime bateu em suas coxas. Roots acompanhou o movimento: ela vestia apenas um vestido escuro, as pernas pálidas contrastavam com o tecido fino que ele não fazia ideia de qual era. A brisa batia levemente naquele tecido e o levantava, deixando parte das coxas expostas. Engoliu em seco e Mab interpretou o olhar dele de forma errônea.

— Está com fome? — percebeu como ele olhava para a cesta. — Como chegou aqui?

— Vim andando — ele disse. — Meus sanduíches acabaram há horas.

O fantasma de um sorriso percorreu o rosto de traços brutos. Ele parecia sério demais. Mab não tinha esse problema, não precisava de muito para abrir um sorriso.

— Deve estar faminto. Vamos, vou pedir algo na pousada e algum carro para vir te buscar e deixá-lo no centro.

[...]

Choveu como o inferno naquela noite. Assim que Mab e Roots colocaram os pés dentro da pousada, as primeiras gotas da tempestade bateram nos vidros das janelas e um raio riscou o céu, fazendo as luzes da pousada piscarem. Roots colocou a sua jaqueta. Alguém se aproximou de Mab para transmitir o que havia acontecido na pousada em sua ausência.

— Preciso resolver umas pendências. Fique à vontade — ela disse. — Vou pedir para prepararem um jantar para você e chamar um carro!

Ele abriu a boca para dizer que não precisava se incomodar com um jantar, mesmo que seu estômago dissesse o contrário. Roots conseguia ouvi-lo urrar para ele que era um absurdo recusar comida.

Mab se afastou e ele ficou ali, parado no meio da saleta comum da pousada. Enfiou as mãos no bolso e olhou em volta. O local era simples, muito diferente dos hotéis cinco estrelas que estava acostumado a ficar quando a banda saía em turnê, mas era encantador. As janelas possuíam cortinas de tecido leve, deixando a claridade dos relâmpagos penetrar o cômodo e o piso de madeira polida emanava um leve cheiro de pinho. Os sofás confortáveis estavam vazios, os visitantes já haviam subido após o jantar, e a saleta era ocupada apenas por uma mulher, que parecia organizar documentos atrás de um balcão.

Ela voltou quase quarenta minutos depois e dispensou a mulher que estava ali. Parecia ponderar se valia a pena enfiar os pés nas galochas e ligar o carro para ir para casa. Depois de alguns minutos, estavam a sós.

— Mil desculpas pela demora — ela disse, mesmo que ele tivesse gesticulado para que não se preocupasse com isso. — Não consegui um carro para buscá-lo e levá-lo até o centro... A tempestade está intensa.

— Será que vai durar muito tempo? — ele não entendia nada daquilo, olhou através da janela para o céu, mas a escuridão parecia eterna, cortada apenas pela claridade dos raios.

— Provavelmente a noite inteira. Hoje fez muito calor, é normal que tempestades caiam assim.

Não, não é. Apenas a Irlanda possui esse clima insano, ele pensou. Roots acenou com a cabeça, voltando a olhar ao local. Pensou em como passaria o tempo ali. Ela solucionou o problema.

— Tenho um quarto vazio na pousada, você pode dormir aqui hoje, se desejar.

Roots não tinha muita alternativa.

— Tudo bem. Acerto com você agora ou amanhã?

Mab levantou uma das mãos.

— Não se preocupe, depois vemos isso. — Sorriu, andando em direção a uma porta. — Venha. Dispensei meus funcionários, mas pedi para que deixassem uma mesa posta.

O estômago de Roots urrou novamente e ele perguntou se ela poderia tê-lo escutado. Seguiu-a em um corredor largo e entraram por uma porta dupla em uma sala grande com mesinhas redondas espalhadas por todo o piso de madeira. O cheiro de pinho não era sentido, já o delicioso cheiro de comida foi facilmente captado por Roots. Ele salivou.

Ela indicou uma mesinha e, sem esperá-lo, sentou-se em uma das cadeiras. Roots acompanhou-a e percebeu que ali havia comida para metade da Irlanda.

— Fique à vontade para comer. Eu ainda não jantei, então espero que não se importe em acompanhá-lo.

— Claro que não.

Na verdade, ele estava no mínimo curioso para saber onde aquilo ia chegar. Há anos não comia junto de uma pessoa que não tinha a mínima ideia de quem ele era e tê-la como companhia estava sendo uma experiência nova. Roots sentiu o leve sabor da liberdade. Ela se serviu e, enquanto abria a garrafa de vinho, observou cada gesto: as mãos eram delicadas e pálidas, e em um dos dedos usava um anel de prata, que fazia um desenho parecido com uma flor. Havia algumas sardas salpicando os seus braços. Os cabelos eram ondulados e alaranjados, combinavam com o tom castanho claro dos olhos e, ao contrário dele, tinha uma enorme necessidade de conversar.

— Os turistas subestimam as montanhas da Irlanda — disse enquanto servia uma taça de vinho para ele. — Você bebe? — perguntou e, quando ele assentiu, colocou um pouco mais da bebida. — Ficam tão fascinado pelas paisagens que se esquecem do caminho de volta.

Ela piscou para ele e Roots precisou sorrir. Mab percebeu que era o primeiro sorriso aberto que tinha visto dele e, quando as linhas duras do rosto desanuviaram, pareceu mais jovem.

— Este lugar é lindo. Mas, é, realmente me perdi. — Roots começou a colocar a comida no prato e enfiou um pedaço de lombo na boca, fechando os olhos ao saborear a carne macia. — Mas não achei isso ruim.

— Ainda bem que te salvei, você estaria debaixo da tempestade. — Ela sorriu. — Fica tão concentrado quando está compondo?

Roots observou o prato dela.

— Não vai comer o lombo?

— Oh, não! Sou vegetariana — ela disse enquanto beliscava a salada.

Ele continuou observando o prato dela e se perguntou como alguém vivia sem carne. Enfiou mais um pedaço de lombo na boca, depois, olhou-a com um semblante meio culpado. Mab riu.

— Não se preocupe! Não julgo.

Na verdade, estava fascinada por vê-lo comer. Ele parecia apreciar cada prato que estava servido à mesa, das folhas mais simples ao lombo assado com batatas. E talvez seu estômago não tivesse um fundo: a comida diminuía à medida em que se deleitava com o jantar. Comia com tanta educação que ela se perguntava como ele conseguia enfiar aquilo tudo dentro de si com tanta elegância e sem passar mal.

— Não respondeu minha pergunta — ela disse.

— Qual? — Ele se serviu de mais batatas.

— Fica tão concentrado quando está compondo? Vi você batucando algo... A música parecia estar na sua mente...

Roots nunca havia lidado com aquilo. Ela parecia genuinamente curiosa e não como uma pessoa que acompanhava o trabalho da banda e fazia as perguntas em forma de entrevista, mas como alguém que não entendia muito do assunto e o achava fascinante. Cruzou os talheres e ficou extasiado quando Mab se levantou da mesa para buscar a sobremesa. Não sabia o que era, mas era marrom e, se era marrom, era de chocolate. Ele experimentou uma grande colherada e percebeu que se tratava de uma mousse, um de seus pratos preferidos.

— Mais vinho? — ela perguntou. A garrafa da mesa já estava vazia.

Ficou surpreso por terem acabado com uma garrafa, mas aceitou o convite. Ela andou até uma adega e inclinou-se para escolher algo. Roots torceu o rosto, observando as pernas pálidas sob o tecido do vestido. Ali dentro não ventava, mas conseguiu ver mais pele exposta do que quando estavam lá fora.

Sentiu um leve desconforto entre as pernas e percebeu como parecia um trasgo quando a olhava daquele jeito. Há tempos não tinha uma mulher. Ficar em uma casa isolada para compor o obrigava a viajar horas até Dublin se quisesse voltar à rotina de mulheres, uísque e música.

Quando ela voltou, com uma garrafa na mão, Roots sentiu-se péssimo. Por Deus, quantos anos aquela garota tinha? Vinte? Talvez o vinho começasse a fazer efeito em seu discernimento, mas era muita canalhice colocar a culpa no álcool, visto que estava acostumado a entornar litros dele em seu corpo. Contudo, as mulheres com que lidava não eram nem de longe parecidas com Mab.

Ela era... delicada. Até mesmo os pulsos eram finos e pareciam quebradiços quando ela os girou para torcer e retirar a rolha da garrafa, servindo-o de mais vinho. Sentou-se novamente na cadeira e olhou para ele com diversão.

— Vinho é minha bebida preferida — assumiu.

Roots não teve tempo de responder. Um raio riscou o céu e dessa vez o som que o acompanhou foi ensurdecedor — e estava acostumado com sons ensurdecedores. A luz piscou e não voltou como mais cedo, o que deixou a sala de refeições mergulhada em escuridão.

— Não se preocupe. — Ela se levantou. — Vou alimentar as lareiras.

Roots estava só. Cogitou pegar mais um pouco da mousse, até perceber que havia acabado com ela. Bebeu um pouco do vinho e apreciou a bebida, era diferente da que estava acostumado a consumir. Sua mente flutuava, sentia o cheiro de pinho vindo do chão de madeira, assim como um leve perfume doce no ar. Recostou-se.

Dez minutos depois, Mab voltou. Vestia agora um casaquinho claro. Alimentou as duas lareiras que pertenciam à sala de jantar, sentou-se e capturou a taça de vinho para beber mais um pouco.

— Sabe o que estou pensando? — ela perguntou. — Não sei seu nome.

Roots engoliu em seco. Não queria falar seu nome, parte porque ninguém realmente o usava, nem ele mesmo. Parte porque temia que ela conectasse o nome à sua figura e ser anônimo estava sendo uma experiência tão boa...

Mas, se ela não o tinha reconhecido assim que o viu, quais as chances de fazê-lo por causa de um nome?

— Meu nome é Conrado — ele disse e bebeu um grande gole de vinho. — Mas pode me chamar de Roots.

[...]

Duas horas e quatro garrafa depois, ele já não conseguia entender o que estava fazendo sentado naquela mesa, enquanto comia um pedaço frio de batata cozida. O vinho não parecia ter surtido efeito nela, mas Roots sentia o efeito que fez em seu corpo. Mab havia arrancado mais palavras dele do que Jack, quando sentava ao seu lado nos sofás do hotel e desatava a falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo.

A tempestade caía lá fora e a sala de jantar ganhava um brilho prateado momentâneo toda vez que um raio riscava o céu. Ele se perguntava se a energia voltaria naquela noite.

Conversaram de tudo. Falou um pouco sobre seu trabalho, mas omitiu o alcance que a banda tinha, e também um pouco do que gostava de fazer no tempo livre, quais lugares pretendia conhecer na Irlanda. Mab contou lendas locais e quais castelos ele poderia visitar em um dia no país, se desse tempo de percorrê-lo nas férias que havia tirado. Poderia ser o vinho, mas Roots percebeu certo desânimo na voz dela com a possibilidade de ele ir embora no dia seguinte.

— Gostaria de te mostrar um pouco mais do Gap de Dunloe. Aqui é tão lindo... Vai ficar por quanto tempo em Killarney?

— Realmente não sei, depende muito dos meninos — ele respondeu, passando a mão no rosto. — Que horas são?

— Oh! Deve estar exausto e eu aqui te importunando, desculpe — ela disse e se levantou.

Na verdade, Roots não sentia um pingo de exaustão. Sua energia circulava pelo corpo e o deixava inquieto, canalizada em suas mãos. Sentia necessidade de pegar as baquetas para tocar, mas aquilo era impossível no momento. Mab o olhava, esperando por uma reação. Ele se levantou da mesa.

— Obrigado pelo jantar... — disse e se perdeu nas palavras. — Comi como um rei.

Ele sorriu de forma tímida. O sorriso de Mab foi mais aberto. Você comeu como um leão, ela pensou.

— Venha, vou mostrar seu quarto. — Gesticulou para que a seguisse.

Roots andava ao lado dela. Sentiu um calor estranho, retirou a jaqueta e jogou-a nas costas. A escada era estreita e Mab foi na frente. Ele respirou fundo e resolveu olhar para cima, mas a visão que teve não era realmente o que desejava no momento.

Oh, merda. Se as coxas de Mab puderam ser vistas quando ela andava pelos campos de Killarney ou quando se inclinou para escolher um vinho da adega, dali ele podia ver até mesmo a curva de suas nádegas. Roots parou, sabia que se continuasse estaria colocando a garota em uma situação perigosa.

Mab percebeu que ele parou de segui-la e se virou.

— O que foi? — Sorriu. — Está tonto?

— Preciso de muito mais vinho para ficar tonto — respondeu e pensou na quantidade de álcool que consumia nos shows e após as apresentações.

Mas estava tonto. Percebia isso pelo modo como encarava descaradamente as coxas pálidas dela e como sua boca salivava ao pensar como a pele devia ficar marcada se ele enfiasse os dentes naquela carne ou se as apertasse com suas mãos...

— Sei... — O sorriso se alargou e Mab se virou para voltar a subir as escadas. Roots engoliu em seco, mas não conseguia tirar os olhos das pernas dela. — Venha.

 Levou-o para um quarto dos fundos e abriu a porta, convidando-o a entrar com um gesto de mãos. Roots assim o fez e olhou em volta. Havia uma cama de casal no centro do quarto: tinha tirado a sorte grande. Roots possuía pouco menos que um metro e noventa e as camas sempre eram um problema para ele. A lareira já estava acesa e deixava o quarto iluminado com uma luz cálida.

— Espero que te atenda bem essa noite — ela disse, como toda boa anfitriã. — Temos suítes com água aquecida por caldeira, então, acho que apesar da falta de luz, você pode tomar um banho quente antes de dormir.

Roots queria se enfiar em algo quente antes de dormir e certamente não era debaixo de um chuveiro. Jogou a jaqueta em uma poltrona que havia ali e respirou fundo. O cheiro adocicado invadia seus sentidos e percebeu que vinha dela. Os olhos escuros dele possuíam um brilho incomum quando ela o encarou.

— Por que está me olhando assim? — perguntou.

— Desculpe — ele pediu, mas não desviou os olhos, tampouco a olhou com menos fome. — Estou apenas tentando contar suas sardas.

Aquilo era adorável. Mab sorriu, ele se aproximou e correu os olhos pelo rosto dela. Ela precisou levantar o rosto para acompanhá-lo e percebeu no olhar dele algo que ainda não havia visto: desejo. Aquilo era adorável, não era?

— Contando minhas sardas?

Roots levantou o braço e os dedos tocaram algumas das sardas. Mab percebeu que eram ásperos e fizeram com que um arrepio prazeroso percorresse seu corpo. A presença de Roots parecia engoli-la e cada gesto dele parecia naturalmente brusco. Mab devia ter tomado mais vinho do que ele, afinal. O modo como a olhava tirava o fôlego. Parecia pensar no que tinha debaixo de sua roupa.

E era justamente nisso que Roots pensava. O que tinha debaixo daquele vestido de tecido fino, que subia sempre nos momentos inoportunos para mostrar a pele de Mab e tentá-lo? Não era um homem que mergulhava em curiosidades para não saciá-las, mas sabia que a garota a sua frente era bem diferente das que convivia. Ela não fazia ideia de quem ele era, logo, não pulava em seu colo na primeira oportunidade que tinha. E havia uma inocência nos olhos de Mab que o deixava louco.

— Você é virgem?

A pergunta a pegou desprevenida. Os dedos dele ainda tocavam a pele do seu rosto.

— Não... Por quê?

Os dedos desceram pelo pescoço e sentiram a tez suave. Roots tinha os olhos semicerrados. Precisou se inclinar para que os lábios alcançassem o ouvido dela.

— Porque o que estou pensando em fazer com você... — Mordiscou o lóbulo da orelha e um arrepio percorreu sua espinha. — Acho que uma virgem não aguentaria.

Mab precisou soltar uma pequena risada ao escutar aquilo e pousou as mãos nos ombros dele, uma forma de ter certo controle.

— Meu Deus... como você é... direto — ela disse.

Tosco, pensou. Não de um modo ruim, mas parecia um homem das cavernas ao expressar suas ideias. Roots não se importou com o que escutou. Não foi a primeira garota a dizer aquilo.

— Desculpe... — ele disse e mostrou um requinte que Mab ainda descobriria onde escondia. — É o meu modo de falar.

Roots deu de ombros e Mab sorriu. Era uma mistura perfeita de bárbaro com cavalheiro. Não o conhecia de fato, mas apenas o toque dos dedos calosos a fez se arrepiar como nenhum homem tinha feito. Poderia ser o modo direto como falou, ou o jeito como a tocou, explorando as manchas de seu rosto, ou apenas os olhos escuros e selvagens. Aquilo podia ser assustador, mas ela pagaria para ver.

— Bom... Acho que dou conta.

Foi o suficiente para que Roots tomasse a atitude que queria tomar desde que a viu se afastar dele, enquanto segurava uma cesta de vime e pedia para que a acompanhasse. Ele circulou o corpo delicado com os braços fortes e mordiscou o queixo dela em forma de provocação, antes de tocar os lábios com os seus.

O beijo era primitivo como suas atitudes, mas possuía um requinte peculiar que Mab conseguiu sentir em cada toque da língua. Mordiscava os lábios dela enquanto a beijava. A boca dele era ávida e ao mesmo tempo macia, uma combinação muito perigosa se ela queria fazer aquilo durar. As mãos desceram e ela sentiu o vestido começar a subir.

Meu Deus, faria aquilo... Com um homem que havia acabado de conhecer, um hóspede, um turista. Mab tinha a regra de nunca se envolver com um turista.

Ao sentir as mãos dele passarem por suas nádegas e apertarem a carne dali, separou os lábios.

— A porta está aberta — avisou.

— Foda-se a porta, Mab — ele replicou impaciente.

Ela riu quando ele fez um barulho com a boca e andou até a porta. Fechou-a rapidamente e a trancou. Mab continuou sorrindo quando ele se aproximou de novo e as mãos voltaram para o exato local onde estavam, mas não apenas a tocou: içou-a com facilidade e a colocou de qualquer maneira no colchão. Mab caiu como uma pluma, mal fez barulho. O vestido subiu mais um pouco e Roots sentiu que perderia o controle se continuasse apenas olhando para aquelas pernas.

Ele retirou a blusa que vestia e os olhos de Mab correram por toda a pele revelada. Ficou impressionada com o que viu, o corpo era percorrido com uma tatuagem que parecia única e enorme. Os desenhos nasciam do peito através de um símbolo estranho, que não conseguiu identificar, e rumavam por toda a extensão do tórax até os braços. Subiam pelo pescoço e desciam para o abdômen... Não pôde ver até onde, porque ele ainda vestia as calças.

Raízes. Eram raízes.

Roots notou o modo como ela o observava.

— Se quiser desistir agora... — ele deixou no ar.

Rezou para que ela não o fizesse, mesmo sem ser religioso. Sabia que sua figura podia impressionar um pouco. Talvez não as fãs com que se relacionava todas as noites, mas Mab não tinha ideia do que era capaz de fazer com ela. Sua altura, combinada às tatuagens e seu modo indelicado de falar e agir poderiam assustar qualquer uma, mas estava se mostrando bem corajosa.

— Desistir? — Ela negou com a cabeça. — Não vai tirar as calças?

Roots gemeu quando escutou aquilo. Ia matá-lo. A ansiedade em tocá-la era ridícula, parecia um adolescente virgem que nunca tinha visto uma garota nua. Desfez-se do restante das roupas e os olhos de Mab brilharam com o que viu. Sim, as raízes desciam por todo o abdômen, tomavam as coxas grossas e corriam até as panturrilhas. Ela subiu os olhos para encarar as coxas mais uma vez, uma das partes que mais admirava em um homem, precisava admitir. O que estava entre elas a fez perceber que talvez, se não fosse pelas quatro garrafas de vinho, não teria coragem de encarar.

Retirou o casaco, mas quando subia o vestido, ele fez um gesto com a mão e pediu para que parasse.

— Quero tirar sua roupa — disse, para depois se lembrar dos modos. — Posso?

Aquilo era tão ele que Mab já se sentia à vontade com o contraste. Bárbaro e cavalheiro.

— Claro.

Ele subiu na cama e voltou a tomar os lábios femininos, o corpo forte a prensava contra o colchão. Mab sentiu as mãos calosas correrem por sua pele e subirem o vestido. Retirou a peça de roupa com lentidão, parecia adorá-la com o toque e se demorava em suas coxas, nas quais corria os dedos como se estivesse lendo os símbolos que escrevia quando compunha. Subiu-os até chegarem por entre as pernas dela e tocaram-na levemente ali.

Mab gemeu e curvou-se em direção a ele. Roots se aproveitou disso para tomar um dos seios com a boca. Ela não usava lingerie na parte de cima e ele pensou seriamente como não tinha notado isso enquanto conversavam. Ao mesmo tempo em que se deliciava com a carne trêmula, as mãos desciam o restante da peça de roupa pelas pernas delicadas. Ele deu atenção ao outro seio e os dedos voltaram a tocar por entre suas pernas.

Mab achou que enlouqueceria. A umidade era notável e ele fez questão de não esconder o quanto havia se deliciado com isso: levou um dedo à boca e sugou a sua essência enquanto a olhava.

O rosto dela pegou fogo, mas não teve tempo de deixar a timidez tomar conta de si, porque ele logo se encaixou entre suas pernas. A respiração de Roots estava acelerada e Mab o viu engolir em seco.

— Eu... eu não sou muito delicado com isso.

Mab percebeu que as garrafas de vinho de fato tinham ajudado. Ouvir aquilo não a fez ter vontade de sair correndo, pelo contrário, ela abriu ainda mais as pernas e tocou o pescoço dele com os lábios.

— Não me importo.

Roots a invadiu de uma vez, preenchendo-a por completo. Mab quase gritou ao senti-lo ali, onde poucos estiveram. De fato, não era delicado. Antes que ela pudesse gemer seu nome, ele procurou seus lábios e afastou o quadril para possuía-la novamente. Cada movimento foi brusco, mas ao contrário do que achou, ela não sentiu que ele estava preocupado apenas com o próprio prazer. Roots parecia ler cada movimento que ela fazia, parecia entender quando Mab gostava de um toque ou quando queria mais de outro. As mãos dele estavam por toda parte e parecia ter seis delas. Tocou-a por cada pedaço de pele que conseguiu alcançar, com os lábios experimentando-a de diversas formas. Movimentava o quadril e a levava à borda de algo que não sentia há um tempo considerável.

Roots se sentou na cama e a puxou com facilidade para seu colo. Mab enlaçou-o na cintura e sentiu com as pernas todos os músculos masculinos tensos. Correu os dedos pelas costas, passando as unhas sobre a pele, o que o deixou arrepiado. Os olhos dela fitavam a pele dos ombros, mas quando ele a abraçou e iniciou os movimentos, Mab observou o reflexo dos dois no espelho em frente a cama. Observou as raízes tatuadas que tinha nas costas se movimentarem de acordo com as investidas. Aquilo a levou à borda da loucura e ela sentiu o orgasmo inundar todo o seu corpo. Tentou não gritar, para que os hóspedes não a ouvissem, então canalizou aquele prazer em uma mordida no ombro dele. Roots pareceu gostar de sentir aquela dor e apertou as nádegas dela quando chegou ao seu prazer.

Mab observou-o travar o corpo: as raízes pararam momentaneamente antes que relaxasse por completo. Ela ficou ali, abraçada a ele, e sentia seu coração quase sair pela boca. Correu as mãos pela cabeça careca e tocou a raiz da nuca, que observava pelo espelho. Sentiu-o palpitar dentro de si e Roots finalmente se afastou, colocando-a no colchão com delicadeza.

Bárbaro e cavalheiro.

O coração dela se acalmou e as dores foram sentidas antes mesmo do sono vir. As coxas estavam doloridas pelo modo como a tocou, as nádegas seguiam o mesmo padrão. Entre as pernas... Não sentia nada. Seu sexo pulsava e parecia querer mais daquilo, mais dele e das investidas bruscas.

— No que está pensando? — A voz de Roots a tirou dos pensamentos.

Precisava de muitas garrafas de vinho a mais para responder aquilo com sinceridade.

— Que a tempestade não acabou — ela mentiu. — E os turistas ficarão ilhados nessa pousada até termos carros para todos.

Roots se aproximou e circulou o mamilo dela com um dedo. O corpo de Mab respondeu ao toque no mesmo momento e o rosto dele foi percorrido por um sorriso enviesado.

— Acho que posso pensar em algumas coisas para fazer enquanto esse aguaceiro cai.



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