_Ah mas que droga! - Penguin gritou no convés. O Polar Tang chacoalhava bruscamente.
_O que está acontecendo? - S/n perguntou, segurando-se na murada para não cair. Ventava forte, a chuva caía agressiva sobre eles, encharcando-os.
_Emergi pra pegar um pouco de luz, estava muito úmido… ENTRAMOS NUMA TEMPESTADE!
_Onde está o Bepo? - Falou, aos berros. Era quase impossível que escutassem um ao outro por causa da ventania.
_Ele está tentando mudar a rota do submarino, mas está muito pesado para virar o leme e não consegue achar um ponto de fuga! - Explicou, segurando as cordas das velas, firmemente. - Se eu soltar, o submarino vai tombar.
_E por que não submergimos?
_NÃO TEM COMO SUBMERGIR COM ESSAS ONDAS GIGANTES S/N! - Um lampejo de luz branca reluziu nos céus, seguido de uma trovoada brusca, tão alta e ensurdecedora que os fez retrair.
_Vá ajudar o Bepo, eu cuido daqui do convés. - Disse, indo até lá. O assoalho molhado a fazia resvalar a cada passo. Tomou as cordas das mãos do pirata, mantendo-as firmes na mesma posição. Penguin assentiu correndo no convés, as ondas altas e agressivas invadiam o convés, molhando os pés da mulher e logo recuavam para o mar outra vez. Ela olhou ao redor, buscando uma solução.
“Onde está o desgraçado do Trafalgar numa hora dessas?” - Pensou consigo mesma, trincando os dentes de irritação.
_Shachi! - Gritou, chamando o pirata.
_Aisaka? - Questionou, esperando uma resposta.
_Eu vou amarrar as cordas, cuide pra que elas não escapem! - Ordenou, tirando os cabelos molhados do rosto. Não esperou por uma confirmação, apenas amarrou as grossas cordas de sisal no parapeito da embarcação, Shachi apertou o nó, o metendo firme. Aisaka escalou o mastro, alto o suficiente para enxergar muito além do que se via no convés.
_ESTÁ OUVINDO? - Gritou para o pirata de cabelos alaranjados.
_ESTOU! - Respondeu em um berro.
_DIGA AO PENGUIN PARA VIRAR TRINTA GRAUS, A ESTIBORDO!
_DESDE QUANDO VOCÊ SABE DE NAVEGAÇÃO?
_POR ACASO O NAVEGADOR DE VOCÊS TÁ AJUDANDO?
_…
_POIS DIGA PARA ELE VIRAR TRINTA GRAUS, ESTIBORDO! - Repetiu, impaciente. - Pode soltar a corda, eu estou descendo! - Ouviu os passos apressados de Shachi, e desceu do mastro, a corda continuava firme, o submarino moveu-se abruptamente para a direita, aos poucos ela avistou o céu limpo, logo adiante e os dois piratas atrás dela, aliviados por saírem da tempestade. Ela suspirou, torcendo os cabelos encharcados e limpando a maquiagem borrada. Ouviram o salto dos sapatos vitorianos de Law, ecoarem pelo convés. Sua expressão ranzinza de sempre. Prepararam-se para uma bronca.
_O que aconteceu aqui? - Questionou rouco.
_Entramos em uma tempestade, S/n ajudou a sair. - Penguin explicou.
_Eu havia dito para ficarmos longe da superfície.
_Sim, mas…
_Não debata minhas ordens. Aisaka-ya… - Ela se retraiu esperando ser xingada também. - Fez um bom trabalho.
_Ah… Bom… Eu subi no mastro e enxerguei por cima das nuvens… - Falou, ainda surpresa.
_Óbvio… Como não pensaram nisso? - Questionou aos subalternos.
_Estávamos desesperados. Não pensamos nisso, na hora. - Shachi resmungou.
_Desculpa… - Bepo pediu, melancólico.
_Tsk… Agradeçam à Aisaka-ya. - Ele falou, dando as costas. - Esse é o trabalho de uma boa vice-capitã dos heart.
_Como está? - Penguin cumprimentou Aisaka, se aproximando dela no canto do corredor. Ela gostava de ficar ali, por algum motivo. Estava com os cabelos molhados, enrolada em um cobertor enquanto assistia os tripulantes secarem o convés.
_Bem...- Respondeu e pegou a xícara de chá que ele ofereceu.- Ah, valeu.
_Achei que tinha ido embora... - Comentou. - Ontem…
_Eu queria ir, mas não posso magoar todos vocês porque Law foi escroto comigo... - Explicou falando baixo e dando um gole na bebida.
_Bom saber disso...
_Por que Law não quer que usemos a superfície? Isso é bem ruim pra mim. - Questionou mostrando o maço de cigarros.
_Capitão quer ir por submersão... Além de ser mais rápido, evitamos ser atacados antes de chegar.
_E por que querer ir mais rápido de encontro à morte?
_Acho que ele só quer se ver livre disso logo. - O pirata concluiu.
_Tem razão...
_Ele elogiou você mais cedo.
_Também fiquei surpresa. - Admitiu.
_Foi incrível, em momentos tensos, esquecemos o básico. - Penguin riu e ela também.
_Falta quanto tempo? - Questionou.
_De três a quatro horas.
_Então vou levantar daqui e me ajeitar... - S/n se levantou e terminou de beber o chá.
_ Dá um nervoso, não é? Estar diante do inimigo. - Penguin riu minimamente.
_É... Espero que dê tudo certo.
_Vai dar, o capitão passou anos estruturando um plano.
_Anos? - A loira arqueou a sobrancelha.
_Conheci o Law quando tínhamos quatorze anos, desde já, ele já sentia essa sede de vingança... - Penguin comentou baixinho, temendo que Law pudesse escutar.
_Ele nunca me fala nada sobre ele.
_Não fala nem pra mim... Tiveram coisas que descobri por conta própria, outras eu perguntei. Ele responde, mas não vai tocar no assunto por conta própria.
_Eu entendo ele...- Encerrou o assunto.- Valeu pelo chá. - Entregou-lhe a xícara e foi em direção ao quarto.
_Quer ajuda com as malas?
_Não... Muito obrigado. Ah... Tome isso! - Lhe entregou um bloco de notas. - São cuidados para tomar com o Luke... Cuide bem dele.
_Claro. - Ela sorriu e o abraçou fortemente. Penguin se avermelhou e retribuiu o abraço meio desajeitado e nervoso, seria péssimo se Law os visse assim.
_É... S/n... Melhor arrumar as coisas logo e se preparar... - Falou atrapalhado. S/n se afastou e sorriu timidamente e entrou no quarto.
…
I can tell what you're thinking
Eu posso dizer o que você está pensando
By the look in your eyes
Pelo olhar em seus olhos
You're wanting to hold me close tonight
Você está esperando para ter, essa noite
But I'm just one of the many
Mas eu sou apenas mais uma
On your list of names
Na sua lista de nomes
And I've been wondering
E eu estive perguntando
When you'll get to me
Quando você será só meu?
You're a heart stealer
Você é um ladrão de corações
You love them and you leave them
Você os ama e os deixa
Oh, you never really need them
Oh, você nunca precisa realmente deles
They're just numbers on a telephone
São apenas números na sua lista telefônica
You're a heart stealer
Você é um ladrão de corações
Your number makes a loser
Isso te faz um perdedor
Oh, but I cannot refuse
Oh, mas eu não consigo resistir
The magic of your charm
A mágica do seu charme
You keep telling me something
Você fica me dizendo coisas
Every time we're alone
Sempre que estamos sozinhos
You say you really want me
Você diz que realmente me quer
From now on
De agora em diante
You know my heart's a believer
Você sabe que meu coração acredita
And everything that you say
Em tudo que você diz
I think that I can resist you
EU acho que posso resistir a você
But I don't know
Mas eu não sei.
Heart Stealer - Anne Murray
Law estava uma pilha de nervos, andava de um lado pro outro no escritório revisando várias vezes se estava tudo feito corretamente, um deslize e tudo iria pelo ralo.
Conferiu a mochila uma, duas, três vezes... Retraçou o plano em sua mente e sentou na cadeira colocando as pernas em cima da mesa, suspirou aliviado e fechou os olhos apenas querendo cochilar um pouco antes de chegarem ao que poderia ser seu fim. Ouviu porta ranger sendo aberta, seu corpo tremeu levemente em um susto, mas ele não abriu os olhos, não quando aquele perfume de baunilha invadiu seus pulmões o fazendo arrepiar... O cheiro do corpo de Aisaka era inconfundível.
Ele a ouviu caminhar devagar até a parte de trás do escritório e abrir as gavetas do pequeno armário, ela remexia em busca de alguma coisa.
_Ora, tem uma ratinha no meu escritório? - Ele brincou, esquecendo-se por um momento de toda a merda que fez e, quando se lembrou, sentiu um gosto amargo na boca.
_Droga... Me assustou. - Ela fechou a gaveta e foi de encontro a ele.
_O que veio pegar aqui? - Questionou abrindo os olhos e ajeitando a postura.
_Não encontro minha adaga... - Ele elevou as sobrancelhas e seus olhos desceram para as coxas dela. Aisaka usava um short jeans em um tom azul escuro, a peça era justa demais e Law tinha certeza que não era dela e sim mais uma das roupas que Ikkaku obrigava a loira a vestir, notou as bandagens enroladas em sua perna esquerda, levemente manchadas de vermelho e franziu o cenho.
_Se machucou? - Perguntou apontando discretamente para a perna dela, Aisaka olhou para si depois para ele e sentiu sua garganta secar.
_Estava treinando, caí e me machuquei.
_Machucou só a coxa? O assoalho é bem áspero, estranho que não tenha se arranhado mais. - Law cruzou os braços e a deixou sem palavras. - Aisaka-ya... Foi você quem fez isso?
_Eu não... - Desviou o olhar e Law respirou fundo. - Desculpa...
_Deixe eu ver, posso passar algum cicatrizante. - Sugeriu e ela se encolheu.
S/n pov on
Queria que Law não fosse tão observador... E nem tão cretino, ele sabe que só fiz isso por causa dele e das suas mentiras nojentas.
Estou confusa, Law sempre me deixa confusa... Ele parece estar arrependido, mas muito orgulhoso para pedir desculpas, consigo ver em seus olhos que ele está preocupado e não posso negar que as feridas estão doendo mais que o comum... Seria bom deixar ele examinar... Que merda estou falando? Eu sou médica, eu mesma posso fazer isso...
O observo sentado na cadeira do escritório, ele tem o péssimo hábito de sentar com a coluna torta... Seu jeito desleixado e espaçoso, mantém as pernas abertas esticando esse maldito jeans sobre suas pernas torneadas e firmes, suas mãos grandes e atraentes me fazem desejar seus toques outra vez. Não consigo resistir a ele, não sei se é porque o amo ou porque é com ele que esse vazio some.
Odeio sempre depender de alguém pra me sentir bem... Acho que sempre me dou demais, me entrego fácil e nem todos são iguais ao Ace... Bons garotos. Sinto que Law se aproveitou de mim quando percebeu isso.
_Então? Deixe eu ver. - Ele insiste, sei que no momento que eu deixar que ele veja acabarei deitada nesse sofá com ele em cima de mim. Não nego que adoraria, mas não nessa situação.
_Não precisa. - Afirmei. - Eu mesma cuido disso.
_Se precisarmos lutar quando chegarmos, você pode se machucar mais... - Law é muito insistente, isso irrita. Mas por um lado ele está certo, se os cortes abrirem será um problema... Sou uma boa médica, mas nada se compara às habilidades dele, ou seria só eu arranjando uma desculpa pra ceder pra ele mais uma vez?
_Eu... - Pensei em argumentar, Law bateu duas vezes em sua perna e eu imediatamente dei um passo à frente, como se fosse uma cadelinha. Odeio esse efeito que ele tem sobre mim.
_Não seja teimosa. - Ele sorriu de lado. Maldito sorriso sádico. - Eu só vou olhar e passar um remédio.
_Tá bom...- Concordei em um murmúrio e me sentei sobre sua perna, Law subiu meu short e eu me remexi quando a dobra do jeans pressionou a região mutilada.
_Desculpa...- Ele pediu em um tom baixo. - É melhor tirar. - Eu soltei um riso nervoso, Law estava pedindo pra eu ficar de roupas íntimas na frente dele. Acho que ele tem fetiche em transar com mulheres dentro do escritório.
_Não... Se alguém entrar aqui vai ser estranho. - Desviei do assunto.
_Aisaka-ya... Não vou fazer nada que você não queira. - Disso eu sabia, mas acontece que eu quero.
_Eu sei... - Respondi envergonhada, desci de seu colo e tirei o short o dobrando e deixando sobre a mesa. Law puxou meu corpo para perto dele, eu ainda estava de pé e ele sentado... Eu, virada de lado, podia sentir o anseio dele por agarrar minha bunda. Devo admitir que também fiquei na expectativa. Law desenrolou a bandagem e a jogou fora. Avaliei sua expressão, parecia assustado, senti a ansiedade crescer dentro de mim. - O que aconteceu?
_Fez isso usando sua adaga?
_Foi...
_Não limpou os cortes depois de os ter feito? - Ele fazia muitas perguntas e esse assunto é algo íntimo meu. Odeio me abrir.
_Eu não sei, dá pra dizer o que está acontecendo? - Perguntei de maneira impaciente.
_Os cortes infeccionaram. Como pôde ser tão descuidada? - Ótimo. Lá vem mais broncas... É tudo que recebo. Ele age como se tudo isso não tivesse uma boa parcela de culpa dele. - Você usa sua adaga para muitas coisas, Aisaka-ya... Não use qualquer coisa pra cortar suas pernas.
_Desculpe. - Foi o que consegui dizer.
_Vou pegar algo pra cuidar disso aí. - Law empurrou a cadeira para trás e se levantou indo até o armário e tomando um frasco de um líquido amarelado, um bisturi e algodão. Ele tornou a sentar e me olhou. Fez sinal pra que eu sentasse em seu colo, meio a contragosto eu sentei e ele me ajeitou melhor sobre si. Eu estava ridícula com uma perna de cada lado dele se alguém entrasse ali, facilmente diria que eu estava cavalgando nele. Law espalhou uma pomada anestésica sobre os cortes e senti minha pele formigar e ficar dormente. Ele pegou o bisturi e abriu os cortes espremendo levemente para que a secreção saísse de dentro da minha carne. Com a outra mão, ele acariciava meu braço, com o polegar, tentava me confortar talvez... Eu sentia o cuidado e carinho dele no ato. Ele limpou com um algodão molhado e virou seu rosto pra mim, forçando um sorriso... Nunca havia visto ele assim, Law sorriu... Sorriu como se dissesse que estava tudo bem, ele sorriu me acolhendo e eu me senti aconchegada. Apoiei meus braços em seus ombros e escondi o rosto em seu pescoço.
_Vai arder um pouco. - Law molhou o algodão naquele líquido de cheiro forte a amargo, e passou o braço ao redor da minha cintura me segurando com força e então ele encostou sobre os cortes. Quando ele falou que iria arder eu não imaginei que fosse arrancar minha alma, eu abafei um grito afundando o rosto em seu ombro e me debati sobre ele, ardeu. Ardeu muito. Queimou. Como se água fervente tivesse sido derramada sobre mim, a ardência subiu por todo meu corpo e me deixou fraca. Eu sentia minha carne se retrair, Law me abraçou forte com seu braço.
_Já acabou? - Perguntei.
_Só mais uma vez. - Ele disse e eu balancei minha cabeça em negação.
_Não. Não. Não... - Protestei, Law beijou minha testa e roubou as poucas palavras que haviam presas em minha garganta.
_Eu prometo que é rápido. - Ele não deixou eu responder, deslizou aquele algodão sobre minha coxa e eu gritei agarrando-me em suas costas, fincando as unhas em sua pele e me contorci de dor, minhas pernas tremiam agitadamente enquanto eu sentia um nó em minha garganta, Law sussurrava um pedido de silêncio enquanto de maneira incessante percorria o algodão sobre as feridas, eu não aguentei a dor, era como se minha pele fosse arrancada. Mordi seu ombro e urrei descontando a dor, e minha respiração tornou-se pesada. Parecia uma tortura. Eu finquei os dentes nele, sem ao menos me dar conta de que o estava machucando e então... A dor parou. Eu soltei o fôlego que não percebi estar prendendo e deitei a cabeça em seu ombro esperando que meu corpo parasse de tremer. Law acariciou minhas costas e riu anasalado. - Falei que iria arder um pouco.
_Um pouco? - Minha voz falhou. - Ardeu até minha alma. Por que fez isso?
_Passei um ácido cicatrizante, agradeça a isso ou sua perna iria necrosar e você não iria perceber. - Law repreendeu e eu me senti envergonhada...
_Obrigado... - Agradeci com a voz baixa e então percebi que eu ainda estava no colo dele, com as pernas abertas e o rosto enterrado no seu pescoço. Me remexi pra me levantar e ele impediu. - Law...
_Você tem que parar com isso... Vai se machucar feio uma hora.
_Não é tão fácil quanto parece, pode parecer bobagem mas...
_Eu sei... - Ele falou baixinho. - Não precisa passar por isso sozinha. - Claro. E eu deveria chegar nele e dizer:
"Law, sinto vontade de me mutilar porque peguei você transando com outra"
Ele consegue ser muito cretino.
_Tudo bem... - Dei um fim naquele assunto e por mim me levantei olhando minha coxa, nada além de cicatrizes... Nenhum corte aberto ou exposto. - Ah...- Expressei surpresa.
_Eficaz, né?
_Demais.
_Eu que desenvolvi. - Law falou cheio de si, ele era um médico brilhante.
_É incrível, Law...- Sorri e elevei as sobrancelhas. - Ah, minha adaga! Vim procurar porque não a encontro em lugar algum.
_Veja se não está na sala de mapas, junto com os outros armamentos. Bepo-ya pode ter colocado lá, por engano. - Ele me instruiu enquanto eu vestia aquele short. - Esse short é da Ikkaku?
_É sim... Está muito calor e eu não tenho roupas de verão. - Expliquei. - Obrigado de novo, Capitão.
_Nada de respostas atrevidas? - Ele arqueou a sobrancelha e cruzou os braços.
_As vezes penso que você gosta de ser contrariado... Está até reclamando de eu ser obediente. - Devolvi a provocação em um tom sarcástico. Law se levantou e veio até mim, dei alguns passos para trás até colidir com a porta e não ter onde ir. Ele apoiou a mão na parede atrás de mim e sorriu.
_Só não quero perder minha insubordinada favorita. - Law se inclinou e seus olhos encontraram os meus me roubando o ar... Law me roubava muitas coisas. As palavras, em minha garganta; o fôlego, em meus pulmões; O sossego, na minha mente e também o meu coração.
Law me cativou, aos poucos. Sorrateiramente me conquistou com seu charme e sem que eu percebesse... Se apossou do meu coração. Impregnou minha mente com pensamentos que giravam em torno dele, em torno de nós dois. E envenenou meus pulmões com seu cheiro que me deixava embriagada. Me marcou com seus toques quentes que me levavam ao inferno e desvendou cada parte minha com seu olhar flamejante... Seus olhos queimam como brasa e me fazem arrepiar, me deixam perdida toda vez que o encaro, tiram-me da realidade e me fazem flutuar e esquecer até quem eu sou.
Seus olhos tediosos, cinzentos... Cinzentos como uma tarde chuvosa e fria, que traz o vento gélido da morte, gélido e melancólico como as madrugadas solitárias.
Me sinto perdida e eu gosto disso.
Gosto de me perder em Trafalgar Law.
Percebi que ele se aproximava de mim com seus olhos famintos, podia sentir sua respiração bater em meu rosto, eu sabia que ele iria me beijar. Mas eu não vou sucumbir a ele, não dessa vez.
Coloquei meu indicador sobre seus lábios e Law respirou impaciente, se afastou e ajeitou minha franja. Forcei um sorriso e me virei de costas para ele.
_Melhor eu ir... Tenho coisas pra arrumar. - Ele murmurou em concordância e assim que saí, fechei a porta atrás de mim ouvindo um estouro abafado lá de dentro. Law dera um soco em alguma coisa.
...
Narrador pov on
A ansiedade crescia dentro dos tripulantes, estavam próximos à costa de Punk Hazard, sentiam a atmosfera pesada e nervosa... Agora, encontravam-se na superfície, os raios da manhã iluminavam o convés.
S/n estava, como de costume, na proa. Sentia seu corpo tremer levemente
Com suas coisas organizadas ao lado e um semblante sem emoção no rosto, ouvia a conversa de seus companheiros de dentro da cozinha, estavam lá jogando cartas e se divertindo antes de se despedirem. O céu, aos poucos, escureceu, tornou-se acinzentado e ela semicerrou os olhos vendo vagamente a costa de Punk Hazard, ainda estava distante e parecia que a ilha vinha na direção deles. Irônico, a ilha sempre esteve no mesmo lugar, eles eram os que pretendiam pôr os pés ali. Algo gelado tocou sua pele e ela olhou para o céu: Neve.
Há pouco tempo, estava passando calor e agora, nevava como em um rigoroso inverno no north blue.
Sentiu, imediatamente, falta de casa… como se pudesse sentir o sabor de uma deliciosa torta de maçã, feita por sua mãe. Sentiu-se um pouco melancólica pela saudade de seu lar, faziam anos que ela não lembrava mais o que era o conforto de ter uma casa. Poder sair todas as manhãs para o jardim ou ler um bom livro na varanda ouvindo o canto dos pássaros. Ao seu redor, só havia água. O oceano, o céu, o vento e a areia que gruda em sua pele arranhando-a e pessoas más, corrompidas e impuras… Aisaka se tornou uma delas, assassina, traidora… Sua mente vagueou para muito distante dali, para seus momentos tranquilos onde a vida ainda valia a pena ser vivida. Agora, era só uma sequência de dias exaustivos, entediantes e solitários. Sem um propósito bom o suficiente para fazê-la querer levantar da cama… Há quanto tempo vinha vivendo por viver? Engolindo os dias, mesmo que às vezes esses trancassem em sua garganta, fingindo não ver o tempo passar e seus dias serem desperdiçados e todas as oportunidades irem pelo ralo. Quando foi que ela desistiu de lutar? Sem perceber, ela se rendeu, se entregou e mergulhou num mundo obscuro e sujo. Desistiu de tudo que já desejou e perdeu-se de si mesma… Fez coisas que não gostaria de ter feito, das quais se arrepende, aquelas que causam um gosto amargo na garganta quando lembramos. Aisaka já não existia mais, estava perdida por aí, vagueando como um fantasma por uma dimensão desconhecida. Ela já não se reconhecia mais… Sua vida perdeu a graça, pouco lhe importava estar viva e, sinceramente, a morte lhe parecia muito mais atrativa do que continuar ali. Quando foi que ficou tão fraca? Fraca ao ponto de não saber lidar consigo mesma. Fraca, ao ponto de se deixar ser manipulada. Fraca, ao ponto de se entregar para qualquer um e desesperadamente buscar por algo que ela mesma não sabia o que era. Fraca e vazia…
Quando foi que seu entusiasmo lhe abandonou? Quando as boas gargalhadas de domingo a tarde deram lugar para os suspiros injustiçados e exaustos nas manhãs e madrugadas tristes e nojentas?
Ela se sentia derrotada, não tinha mais força ou desejo de continuar ali… Aquela ânsia por viver e conquistar.
Sem sentido, sem objetivo, estava ali por puro costume. Arrastava-se e deixa-se ser levada pelo destino. Talvez, porque era mais fácil, ir levando, do que resolver de uma vez por todas.
Quando percebeu, um montinho de neve formou-se sobre seus cabelos e ela sacudiu a cabeça para se livrar da neve. Seu corpo tremia e suas bochechas doíam, avermelhadas de frio.
_Aisaka-ya… - A voz preocupada lhe chamou e ela olhou por cima dos ombros. - Entre, vá se aquecer. Está muito frio agora que entramos na órbita de Punk Hazard.
_Estou bem, não se preocupe. - Respondeu, secando as lágrimas, ao menos percebeu que estava chorando.
_Não parece nada bem. - Law se aproximou deixando o casaco pesado sobre os ombros dela. Ela sentiu-se aquecida e confortável. - Odeio frio.
_Eu gosto. - Respondeu, surpreendeu-se com o fato de Law fazer um comentário trivial. - Eu e minha irmã gostávamos de fazer bonecos de neve no quintal. - Law a abraçou por trás, S/n quis recuar mas permaneceu ali. Querendo ou não, gostava do abraço dele.
_Por que estava chorando?
_ Ah… Minha mente foi longe. - Explicou rindo minimamente. - Lembrei da minha mãe, meus irmãos… Eu gosto de estar aqui, mas sinto falta de ter minha casa, uma varanda.
_Nós temos uma varanda, o convés. - Law cruzou os braços.
_Não… Uma varanda mesmo, que dê pra ver o jardim com grama verdinha e as flores. - Ela deu um sorriso amarelo. - Desculpa, sou ingrata por ficar reclamando… é injusto, vocês me acolherem e eu ficar assim.
_Não, não… Uma varanda seria ótimo. - Ele respondeu deslizando a mão sobre o ombro da mulher. - Quem sabe, quando a era dos piratas acabar, cada um de nós terá uma casa com varandas e jardins.
_É estranho conversar com você de uma maneira tão despojada. - Admitiu. - Parece que estou forçando você a ser quem não é.
_Tem razão… - Ele baixou os olhos. - Sou péssimo nisso.
_Estar perto da morte te deixou mais sensível?
_Sempre com essas respostas… Tem noção do quanto me instiga falando assim? - Ele afagou os fios loiros de S/n.
_Não sei, não… -Desconversou.
_Capitão… - Sashi apareceu no convés, Law olhou para trás mostrando-se atento ao subordinado.- Acabamos de atracar.
_Ótimo, reúna os outros na cozinha. -Law pediu e voltou sua atenção para Aisaka. -Vamos, ainda tenho que descobrir onde encontrar o Caesar nessa ilha.
_Se ficar ansioso, só vai atrapalhar. - Sugeriu enquanto o acompanhava para a Cozinha
_Não estou ansioso. - Mentiu
_E minha cor favorita é rosa. - Ela ironizou recebendo uma leve cotovelada do cirurgião. - Ai …
Os heart se reuniram na cozinha conforme o Capitão ordenou, eles pareciam inquietos e palpitantes, conversavam entre si, aos sussurros. Law entrou na cozinha iluminada por uma lâmpada amarelada, Aisaka vinha logo atrás. Ele parou na ponta da mesa e puxou a mulher pelo braço para que ficasse ao lado dele, uma vez que estava misturando-se aos subordinados.
_Ainda não me acostumei a ser vice-capitã deles. - Riu baixinho, se pondo ao lado de Law.
_Silêncio, por favor. - Law pediu, educadamente e os burburinhos cessaram. - Ótimo. Como sabem, acabamos de chegar no destino tão ansiado por todos nós, eu queria levá-los comigo, não fico nem um pouco feliz em ter que deixá-los longe de mim… Mas isso, isso é algo meu, que eu tenho que resolver e vocês já fizeram demais por mim, por coisas que só eu tinha de resolver. Foram formidáveis, competentes, fiéis e destemidos… Tenho muito orgulho de ser capitão de uma tripulação tão incrível! Bom trabalho pessoal! - Law ergueu o punho fechado e o balançou, como sinal de força. Os Heart bradaram em comemoração, Bepo correu, abraçou o cirurgião da morte com os olhos inundados de lágrimas manhosas.
_Isso pareceu uma declaração de amor. - Shashi riu.
_Ele podia falar coisas assim pra Aisaka. - Penguin entrou na onda.
_Deixem ele, não é todo dia que o capitão age igual uma mãe orgulhosa. - Ikkaku completou e os três gargalharam roubando atenção dos outros e logo se calaram quando o silêncio tomou conta do lugar.
_Nem em um momento de despedida vocês me dão sossego. - Law ironizou. - Me despeço aqui, pessoal.
_Vamos sentir falta das suas broncas. - Clione brincou também.
_Não se preocupem, vou cuidar bem do capitão de vocês! - S/n riu levemente e Law a encarou.
_Não preciso de babá. - Resmungou.
_Você está abraçado no Bepo, não tem muita moral. - Ele riram deixando Law sem graça.
_Idiota.
...
_Então, é aqui: Punk Hazard.
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