InuYasha depositou o pescado sobre a pequena mesa de madeira, Kagome o ficou em silêncio. Era a primeira vez nos últimos quatro dias que ele trazia alguma comida para casa, todas as tardes, Kagome ajudava Kaede a organizar o templo e a velha miko lhe oferecia algum alimento em retribuição. A jovem sempre agradecia um tanto constrangida, ela embrulhava o alimento e o levava para casa, onde grande parte, Kagome oferecia ao hanyo.
- Precisa de ajuda? - Kagome o perguntou, rompendo aquele estranho silêncio que há tempos já era parte da rotina deles.
- Esta tudo bem, posso fazer isso.
Kagome não o questionou, ela o assistiu cortar, descamar e ticar o peixe, mesmo que aquela não fosse uma cena nada romântica, a miko se sentiu um pouco contente. Eles teriam sua primeira refeição juntos depois de tanto tempo, aparentemente ela estivera certa em escolher persistir, em continuar o amando.
- Kagome, você irá preparar algo?- InuYasha fala novamente depois de um tempo, o pescado já tratado estava ainda sobre a mesa, o hanyo se afastou para poder se limpar.
- Sim, gosta de ensopado?
- Parece bom. - Não há entusiasmo na voz, mas Kagome não se atenta a esse detalhe, sorridente, ela apenas espera o companheiro sair para iniciar seus afazeres.
Há vegetais frecos que colherá mais cedo, a água também é limpa e recente, o fogo estala, ela faria um ensopado delicioso, sua mãe sempre dissera que homens podiam ser conquistados pelo estômago, talvez com machos não fosse diferente. Kagome puxou as mangas do kimono e prendeu os fios negros, tinha muito o que fazer.
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InuYasha não estava em lugar algum. Kagome, o esperou por mais de três horas, mas o hanyo não voltou a aperecer, há vinte minutos, ela deixara o ensopado já frio e intocado para trás e percorreu cada canto daquele finito vilarejo.
Contrária à si mesma, a miko o buscou mesmo onde residia a árvore sagrada, contudo, ele também não estava lá. Kagome não queria acreditar que aquilo voltava a acontecer, mas as evidências estava ali diante dela. Ela sentiu o comichão no peito, seus olhos arderam, mas Kagome apenas mordeu os lábios, ela não podia ceder ali, não quando havia tantos para testemunhar o quão destruída ela estava, e a miko sabia, se ela deixasse vir, seria como naquela noite, ela não conseguiria parar.
Kagome teve cuidado em ocultar toda aquela confusão sentimental, antes de andar em direção a pequena casa que Sango, Miroku e as gêmeas viviam. Ela se encheu de gratidão em encontrar apenas o monje sentado em frente a casa, parecia relaxado, mas assim que seus olhos caíram sobre ela, Kagome notou a tensão que se pôs sobre os ombros do amigo.
Desde sua briga com Sango, Kagome a evitava, assim como evitava todos aqueles próximos a exterminadora, pois tinha medo de como poderiam reagir, se falariam com ela ou apenas lhe dariam as costas. Agora, entretanto, era diferente, a miko precisava ter certeza, e Miroku, sempre parecia saber tudo, antes de todos.
Kagome para em frente ao monge e por um momento ela perde a súbita coragem que havia adquirido, ela desvia seu olhar, morde os lábios com mais força. Miroku se move desconfortável, ele tem ciência de que a miko e a esposa não estão exatamente em bons termos, mas aquilo era algo para elas resolverem, não lhe agrada que Kagome se sinta tão intimidada em falar com ele.
- Kagome? Esta tudo bem?- Ele é o primeiro a romper aquele tenso silêncio.
Kagome não intende por que todos sempre lhe fazem aquela pergunta, era um tanto irritante, quase uma provocação quando pensa no companheiro e os problemas que ambos vinham enfrentando. Antes de respondê-lo, o sorriso que toma seus lábios machucados vem fácil, ela o usa com uma frequência pouco saudável, Kagome desliza seus olhar até poder encarar o amigo, aquele olhar, aquela preocupação que todos parecem carregar quanto a ela, começa a lhe sufocar, por isso ela não o encara por muito tempo, seus olhos se focam na barra do quimono que o monge usava.
- Estou bem.
- Entendo... Há algo que possa fazer por você?- A cautela na voz, como se ela fosse um vaso de cristal e qualquer deslize pudesse fazer ela se estilhaçar, isso é outro catalizador, aquela bola em sua garganta parece dobrar de tamanho.
- InuYasha... -Ela não gagueja e é grata por isso, contudo, seu tom é baixo, como se tivesse vergonha. - Sabe para onde ele foi?
O silêncio novamente recai sobre eles, e cada segundo tráz uma nova sensação desagradável para miko, quando um minuto passa e o monje nada diz, ela quase deseja não ter dito nada e simplesmente sair dali, pôde sentir que esta prestes a vomitar.
- InuYasha foi para o norte, há um tempo, por lá surgiu um rumor de um sacerdote poderoso o suficiente para conceder desejos.- Quando o amigo fala, seu tom é baixo e cheio de pesar.
As lágrimas estão ali novamente, há um grito preso em sua garganta.
- E-Eu...- Ela não consegue formar uma frase coerente, sua mente esta em disparada, e todo aquilo que tanto reprime esta prestes a romper.
Kagome se vira, ela anda rápido e a cada passo, ela se torna mais rápida, até que ela esta correndo, apenas desejando ir para longe, para algum lugar sem ninguém, onde tudo aquilo que lutava pra sair podesse vir sem mas. Em algum lugar de sua mente ela registra os gritos de Miroku ao tentar alcançá-la, mas ela já esta longe demais pra voltar. A floresta a engole, as lágrimas correm grossas por sua face, sua respiração em disparada é a única coisa que a impede de gritar, então, Kagome apenas continua correndo.
InuYasha havia partido novamente, dessa vez ele fora em busca de um sacerdotes que concede desejos. Kagome sabia bem o que o hanyo pediria, o que ele sempre buscaria e esperaria, e certamente não era ela, não importava o quanto ela pudesse oferecer a ele, o quanto ela já havia aberto mão por ele, nada disso iria mudar aquela verdade incontestável. InuYasha, amava Kikyo e ela era apenas o prêmio de consolação.
Seus pés se enroscaram nas raízes de uma árvore, havia sido muito desatenta e agora estava caindo, ela sentiu, mais do que viu, seus joelhos e mãos receberam a maior parte do impacto, ela podia sentir eles arderem, mas aquela dor nada se comparava aquela em seu peito. Kagome se deixou sobre as folhas mortas e raízes, sem forças, cansada e dolorida. As lágrimas continuaram a descer, quanto ela ficava a copa verdejante. Ela se deixou desligar, estava exausta demais, apenas queria dormir e acordar daquele longo pesadelo.
Foi o romper de um galho que a avisou de que não estava mais sozinha, ela deveria estar alarmada, buscando qualquer meio para se defender, mas simplesmente, não tinha qualquer vontade para tal, então, ela apenas esperou e esperou, mas o ataque nunca veio. Kagome virou levemente seu rosto e foi com grande surpresa que contemplou olhos dourados a fitá-la, ela tentou entender o que podia estar se passando por detrás do olhar do youkai, entretanto, os ouros líquidos não lhe passaram nada e ela apenas voltou a posição em que estava anteriormente, novamente desinteressada.
- Levante.- A voz do Lord era como ela lembrava, forte e cheia de comando.
- O que quer?- Ela rebateu, ter uma discussão com o meio irmão de InuYasha não lhe instigava, ela só queria que ele se fosse de uma vez.
- Levante-se, esse Sesshomaru, não voltará a se repetir.
Kagome soltou uma risada seca e fechou os olhos, aquele jeito de falar era ridículo.
Algo a agarrou com firmeza, Kagome abriu os olhos rapidamente assustada, com rapidez, ela se viu sendo erguida e atirada sobre o ombro do inu-youkai como se fosse um saco de batatas. Como a muito tempo não acontecia, aquela Kagome que atravessava eras se mostrou, quando a miko começou a chutar e bater nas costas do Lord, sem Temer o que ele poderia lhe fazer.
- O que pensa que esta fazendo? Me solte! - Ela grita e o chuta, e não muito depois Sesshomaru prende suas pernas e rosna.
Kagome tem mais raiva que medo naquele momento, com suas pernas presas, ela continua a esmurrar as costas do prateado e um repertório de xingamentos que aprendera durante a adolescência os acompanha, mas esse não esboça reação e antes que ela possa dizer algo mais, ele esta correndo e então, voando, a respiração fica presa na garganta da miko, o que diabos significava tudo aquilo?
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