Os tentáculos pareciam vir de todas as direções, ela estava sozinha, InuYasha não viria pra lhe salvar, ele tinha outro alguém para proteger, Naraku lhe mataria, ela podia sentir isso. Os tentáculos se estenderam e lhe envolveram, eles a apertavam, seria uma morte lenta, ela sentiria cada segundo.
Kagome abriu os olhos de repente, ela puxou o ar com força e se sentou, ela não conseguia respirar direito, podia sentir o bili na garganta. Seus olhos deslizaram pelo quarto claro, um lugar onde ela nunca havia estado, e seu terror cresceu. Kagome se ergueu cambaleante, havia duas portas ali, ela correu para uma delas, quando a abriu, um amplo banheiro estava diante dela, mas nada disso importava. A miko correu para a latrina, bem a tempo de não fazer um estrago no piso perfeitamente branco. Kagome vomitou até sentir todo o corpo trêmulo e a garganta raspar, seus olhos se encheram de lágrimas, ela queria sua casa, sua mãe.
Foi apenas um bom tempo depois que a miko ousou se erguer, ela vasculhou o banheiro desconhecido, o explorou e o utilizou, tornando sua aparência lamentável, mais aceitável. Ela não fazia ideia de onde estava ou o que esperar, sua última lembrança, por mais bizarra que pudesse parecer, era de Sesshomaru, o mesmo senhor do Oeste, dono de poucas palavras e feições sempre fechada, lhe raptado. Tudo aquilo, mais parecia uma brincadeira muito bem bolada e de péssimo gosto.
Ao deixar o banheiro, pela primeira vez Kagome se ateve ao quarto em que despertou. Provavelmente a pequena casa que dividia com InuYasha, facilmente caberia ali dentro. As paredes eram pintadas de um tom claro de beje, sobre o piso, estendia-se um macio carpete, a cama em muito se assemelhava as de sua época, porém, tinha um aspecto mais vintage. Havia ainda uma pequena mesa de madeira clara, ela era ricamente entalhada e suas cadeiras, possuía almofadas. Ela caminhou curiosa até a longa estante, havia uma pequena variedade de livros dispostos ali, na outra extremidade, um longo armário estava fechado. O que mais lhe chamou atenção, entretanto, foi as janelas abertas, assim como o que ela imaginava ser a varanda, o sol adentrava por elas, a brisa suave fazia as cortinas longas e floridas balançarem. Ela não era uma prisioneira, por mais que não estivesse ali por sua própria vontade, o quarto e as janelas e varanda abertas, era quase um afago em seu coração agitado, se ela quisesse ir, havia por onde escapar.
Kagome buscou a vontade de ir, com o corpo ainda trêmulo e o estômago ainda embrulhado, ela não tinha sequer forças e sinceramente, nehuma vontade de partir, o que poderia lhe esperar lá fora? Se voltasse para o vilarejo, encontraria apenas uma pequena casa vazia, sem amigos ou qualquer outro para estar com ela. Tais pensamentos trouxeram de volta todo o desanimo que a derrubara antes do lord jogá-la sobre o ombro e arrastá-la até, seja lá, que lugar fosse aquele. A miko sentou-se sobre a cama macia, não dando devida atenção a isso, ela ficou um canto qualquer, ela não tinha forças para sequer chorar.
Uma batida suave rompeu o silêncio matutino, ela olhou para a porta que não ousará abrir até então, Kagome não disse nada, seja lá quem fosse, ela não queria conversar ou ver ninguém naquele momento. Mais um minuto se passou e logo a porta se moveu, não houve rangido, uma pequena fêmea de cabelos platinados e olhos achocolatados, vestida como criada, adentrou. Ela trazia uma bandeja, com o que a miko supôs ser chá, quando a desconhecida se aproximou mais, ela notou alguns doces e futinhas vermelhas.
- Senhorita, aqui está seu dejejum.- A voz da youkai foi suave e baixa, ela parecia um pouco apreensiva.
Kagome deslizou seu olhar para longe dela e da bandeja cheia de comida, o cheiro doce devia lhe fazer saliva, afinal, sequer lembrava da última vez que comeu algo, contudo, seu estômago ainda embrulhado a fazia querer voltar correndo para o amplo banheiro. Mesmo não a fitando, a miko pode sentir a outra se mover ao redor, querendo ou não, ambas eram energias opostas, Kagome sabia dizer quando um youkai se aproximava ou se afastava, o que parecia não funcionar a maior parte do tempo quando se tratava do inu-youkai, afinal, poderoso como era, não era supresa alguma sua capacidade de ocutamento. Foi pensando nele, que ela voltou-se novamente para a outra presença dentro do quarto, naquele instante, ela deixava os alimentos que trouxera sobre a pequena mesa.
- Que lugar é esse? - Sua voz foi mais baixo e rouca do que esperava, ainda havia presente um pequeno comichão pelo vomito recente.
A youkai pareceu se atrapalhar um pouco quando deixou uma das futinhas cair e rolar pelo carpete, a mesma foi rápida em recolhe-la e logo se curvava.
- Perdão, ainda estou aprendendo.- Falou afobada.
Kagome sentiu certa empatia pela a youkai, ela sabia que provavelmente estava errada, mas aquela diante de si, parecia ser mais nova que ela, seus rosto arredondado ainda conservava certos traços infantis.
- Esta tudo bem.- Sem animo para lhe dar um de seus sorrisos, essas palavras foi tudo o que a miko pode oferecer, antes de voltar com a questão anterior.- Diga-me, que lugar é esse?
A youkai piscou algumas vezes supresa, então corou, antes de responder:
- Estamos no castelo do senhor do Oeste, para todos os efeitos, essa é sua residência oficial.
Kagome já esperava por algo do tipo, tanto luxo não poderia ser encontrado com tanta facilidade, o que a surpreendia e continuava a deixá-la intrigada era ele a ter trago até ali, não como uma prisioneira, mas como, ao que parecia, hóspede, ela achou importante lembrar.
- Onde esta ele?
Mais uma vez a youkai pareceu surpresa e agora, mais nervosa.
- O Lord?- Sua voz veio esganiçada.
- Sim.
Kagome estava certa de que só o sentiu, por que ele permitiu, sua presença pareceu tomar todo o quarto, quanto Sesshoumaru adentrou pela porta deixada aberta. A pequena youkai se enconlheu e se curvou, antes que qualquer palavra pudesse ser dita, a mesma se apressou em deixar a miko e o inu-youkai sozinhos.
Eles se encaram, Kagome estava tão oca que sequer se importou, era a primeira vez que ela olhava para aquelas orbes douradas por tanto tempo. Sesshoumaru parou a alguns passos de onde ela estava sentada, suas feições eram ilegíveis, seu olhar impenetrável. Ele era uma beleza para se apreciar e temer, tão inalcançável quanto o sol, tão perigoso e convidativo, ambos em proporções equivalentes.
- Coma.- Para a surpresa de qualquer um, foi ele o primeiro a falar e como sempre, o que era dito, mais parecia um comando que qualquer outra coisa.
- Não tenho fome.
Kagome começava a se cansar, já havia dito muitas palavras, ela queria voltar a estar sozinha, onde ela poderia não pensar em nada e apenas esperar, em um desejo mudo que as inúmeras feridas que lhe tomavam se curassem.
- Venha.- E ali estava, mais um comando.
Foi apenas um tremeluzir do que um dia ela havia sido, um ímpeto de coragem e desejo de contrariar.
- Não.
O Lord que já se virava, parou, ele se voltou novamente para ela, seus olhos estavam mais afiados e ela começou a pensar que não demoraria muito para que ele usasse suas garras nela.
- Esse Sesshoumaru, não irá se repetir.
- Essa Kagome, não irá a lugar algum, antes que a digam o que significa tudo isso.- Era bom demais para ela deixar ir, a cada palavra a miko se agarrava mais aquele tremeluzir que a muito não se via.
Foi com satisfação que ela o viu contrair suas feições e rosnar, imitá-lo naquele jeito estranho de falar, havia sido proposital e alcançara seu objetivo. O Lord deu dois passos para frente, uma de suas mãos se ergueu levemente, as unhas mais longas seriam certamente mortais. Kagome contemplou a ideia, se ele a matasse ali, ninguém sentiria sua falta, niguém jamais saberia o que aconteceu e ela não precisaria sentir nada mais. Sim, era bom que ele fizesse aquilo por ela, pois a miko jamais teria forças para fazer por si mesma.
A raiva pareceu brilhar mais nos dourados, ela viu, mas ele não voltou a avançar, ao invés disso, Sesshoumaru retrossedeu. Ela não conseguia enteder o que mudou para ele, nunca entendia na verdade. Então, o silêncio se fez novamente, foi apenas quendo a raiva pareceu abrandar nele, que o mesmo voltou a falar:
- Um acordo.
- O que?- Kagome disse confusa.
- Façamos um acordo, eu preciso que faça algo, em troca, poderá pedir algo também.
Kagome continuava confusa e agora, também supresa, eram poucas as vezes que o ouvira falar tanto. Um acordo, ele dissera, ela faria algo por ele e ele por ela, não parecia ruim, na verdade, era bastante justo. O que ela poderia querer? Certamente Sesshoumaru não tenha como fazer os sentimentos de InuYasha mudarem, também não cabia ao Lord refazer a amizade perdida com Sango ou trazer de volta o pequeno filhote de raposa. Mas talvez... Uma ideia começava a passar por sua mente, Sesshoumaru era poderoso, ele tinha poder e influência, se alguém era capaz, certamente era ele. Talvez, Sango estivesse certa, talvez, ela não devesse ter voltado, aquele não era seu tempo.
- Eu aceito.
- Qual será seu pedido?
Ela olhou bem para ele e pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu determinação, esperança. Não importava que parecesse que ela estava fugindo, ela já havia tentado demais, estava cansada, destruída e perdida, ela só precisava que alguém lhe abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem, não importava o quão minimalista e clichê tudo aquilo parecia ser. Naquela era ela não tinha mais ninguém, mas dali a 500 anos, sua mãe certamente a receberia e estaria sempre lá por ela, sem que ela precisasse desistir de qualquer coisa por isso.
- Quero voltar para casa.- Quando ela disse aquelas palavras, sua voz soou mais firme e alta que em qualquer outro momento.
Ela não chorou, ela não gritou ou sorriu, mas nem por isso ela se sentiu oca, pois agora, havia esperança.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.