PARTE 2 ▪ LONGA ESPERA
O duelo
Na noite anterior ao duelo, a princesa de Yamashita deu um pouco de sossego a Lin, que lhe parecia ansiosa com o confronto. Daí, antes de dormir, a jovem pode meditar e concentrar sua mente apenas no evento do dia seguinte. Não que Lin estivesse preocupada com os julgamentos e com as conclusões do Samurai a seu respeito; aquele duelo lhe serviria para uma avaliação de si mesma. Vencer o poderoso e experiente guerreiro seria um verdadeiro teste de suas forças e de suas habilidades, e ansiava por descobrir se era, realmente, capaz de derrotá-lo.
─ A senhorita está pronta?
─ Sim, Masanori-Sama.
─ Vamos, então.
─ Onde será o duelo, Chichiue?
─ No Centro de Treinamento. Já estão à nossa espera.
A caminho, Masanori não deixaria de notar a ansiedade no semblante de sua oponente. Mas, em vez de lhe dar a possibilidade da desistência, ele se manteve calado. E até que chegassem ao Centro de Treinamento, Masanori, a serva Kaya e Lin ouviriam a fala constante da princesa, que se dedicaria o caminho inteiro a tentar diminuir o clima de tensão.
O Centro de Treinamento de Yamashita não era novidade para Lin, que já o tinha visitado algumas vezes durante aqueles dias. Mas havia algo estranho no ar, um misto de preocupação e de curiosidade no olhar dos aprendizes, dos Mestres e dos Samurais já graduados. Masanori, contudo, mantinha-se sério e convicto de que o duelo deveria ocorrer. Lin, por sua vez, não conseguia evitar o constante frio na barriga.
─ Acalme-se, Lin, vamos… Você já passou por coisas muito piores… Acalme-se… ─ dizia a si mesma, enquanto aguardava o início do confronto e via os homens se organizarem, para assistirem à luta.
Lin trajava um modesto kimono liso, de cor salmão, cinturado por uma obi marrom, da mesma cor da calça, e usava suas tão estimadas botas. Na cintura, carregava suas duas katanas. Masanori, por sua vez, optara por não usar sua tradicional armadura Samurai, a fim de não assustar a rival, nem de tornar a luta ainda mais difícil para ela. Vestia um elegante kimono branco de detalhes negros nas mangas, cinturado por uma faixa preta, que sustentava suas três espadas samurais.
A princesa de Yamashita, obviamente, torceria pela vitória do pai, embora não quisesse ver sua amiga sofrer no combate.
─ Hikari, por favor, não faça escândalo, sim?
─ Eu? E quando foi que eu agi assim num duelo?
─ Eu preciso mesmo dizer, Princesa?
─ E como eu deveria agir? Parecia que o senhor e Samanosuke iam se matar…
─ Sem escândalos… ─ frisou, o nobre, antes de se dirigir ao seu posto.
Lin já o aguardava em seu lugar. O Senhor Feudal, que se via bem disposto e concentrado para o duelo, se surpreenderia, porém, com a nova postura que a rival havia adotado: diferente de como esteve até aquele instante, Lin se via mais concentrada, séria e com o olhar preciso. Não demonstrava medo, nem a angústia de outrora. De que era corajosa, o Samurai não tinha nenhuma dúvida; restava apenas medir suas habilidades e suas fraquezas, para se decidir quanto ao que faria a respeito da jovem.
Quando o sinal foi dado, ambos permaneceram parados. Em vez de partirem para o ataque, procuraram concentrar seus esforços em analisar e em estudar o adversário. E assim, permaneceram durante alguns minutos, até que o nobre resolveu investir: deu três passos laterais e, de súbito, partiu em direção a Lin, com sua espada precisa em mãos, pronto a desferir ataques certeiros contra as espadas da oponente.
Não era fácil se livrar dos golpes do grande Samurai: eram fortes, rápidos, de técnica impecável, a ponto de o nobre conduzir o ataque com apenas uma de suas katanas. Lin notou que, se continuasse apenas na defensiva, perderia a luta; então, resolveu também investir nos ataques. Com a mesma destreza que assumira no combate contra os meliantes na floresta, começou também a contra-atacar, ao mesmo tempo em que se defendia. Masanori, porém, logo notou que ela, apesar de bastante habilidosa, não conseguiria vencê-lo, devido à sua forma rústica e indisciplinada de lutar. Com um golpe rápido, quase imperceptível aos olhos da jovem, ele lançou uma das espadas de Lin ao chão, o que fez com que ela se assustasse e tomasse distância de seu oponente, com saltos rápidos para trás.
─ Por essa eu não esperava… ─ confessou, ofegante, mas animada com a luta.
─ É melhor prestar mais atenção! ─ advertiu-a, Masanori, seriamente, partindo para o ataque.
De longe, ouvia-se o som das katanas se chocarem. O nobre era forte, mas Lin era insistente ─ mesmo com toda dificuldade, enfrentou o Samurai bravamente e, ainda com o cansaço que logo tomou seu corpo, insistia nas investidas e, ao mesmo tempo, defendia-se dos perigosos golpes de Masanori. Num lapso de distração, porém, ela deixou que ele, com um movimento certeiro, lançasse, para longe, sua outra katana. Sem suas espadas, provavelmente seria impossível vencê-lo, mas, mesmo assim, ela se manteve em posição de ataque.
─ Quer mesmo prosseguir com a luta, criança? ─ surpreendeu-se, o nobre.
─ O que está esperando? ─ desafiou-o, após sacar duas pequenas lanças, que mantinha escondia no ponto cego de suas botas ─ A luta ainda não acabou! ─ exclamou e partiu ao ataque.
Era muito mais arriscado lutar com aquelas armas de curto alcance, pois era preciso ficar muito mais perto de seu adversário. Lin, contudo, não temia sua sorte e investia bravamente nos ataques contra Masanori, que se impressionava cada vez mais com a garra da adversária.
─ Seus movimentos são muito lentos!
─ Cale-se!
─ Desse jeito, nunca me atingirá!
Lin, contudo, continuou a investir em ataques cada vez mais rápidos. Masanori, que se defendia habilmente, insistiu com as provocações e, nalguns momentos, percebeu que a oponente, por mais que se esforçasse em não fazê-lo, começava a deixar que suas palavras comprometessem seu desempenho na luta. No primeiro instante em que Lin vacilou, ele desferiu um golpe circular com sua katana e fez com que ambas as lanças que ela usava fossem ao chão. E por vê-la surpresa com a ação e a se demorar em reagir, socou o ventre de Lin e a fez cair a certa distância.
─ Chichiue!! O que está fazendo?? ─ bradou, Hikari, preocupada ─ Por favor, não a machuque!!
Masanori, porém, ignorou os berros da filha e partiu hostilmente em direção a Lin, que permaneceu caída até o instante em que o Samurai se deteve diante dela.
─ Vai ficar parada aí, esperando que eu acabe com sua vida?
Lin, porém, mal conseguia se mexer, tamanha a dor que sentia.
─ Olhe seu estado… Não é tão forte quanto pensa ser, nem como eu imaginava que seria… ─ criticou-a com descaso ─ Sugiro que desista de viajar por aí, minha cara. A senhorita é fraca e incapaz de se defender.
─ Ora, cale-se!! ─ bradou, odiosa, com lágrimas nos olhos.
─ Não pode me vencer…
─ Eu vou acabar com você!! ─ assegurou, após se levantar do chão, mas ainda cambaleante.
─ Não seja tola, menina! Desista de uma vez!!
─ Eu nunca vou desistir…
Determinada, Lin enxugou as lágrimas, cuspiu o sangue de sua boca e respirou fundo, a fim de recobrar o equilíbrio e de concentrar suas energias na luta. Depois, posicionou-se para atacar novamente.
─ Você está em grande desvantagem. Sequer tem uma arma… ─ tentou dissuadi-la, o nobre.
─ Isso não me impede de lutar!
─ Receio que sim.
Mesmo com a desvantagem, Lin intencionava prosseguir. Masanori, então, ao notar o ato inconsequente da rival, livrou-se de suas katanas, para que lutassem em igual condição.
─ O que está fazendo? ─ questionou, furiosa.
─ Não seria uma luta justa, minha cara.
─ Não preciso da sua piedade!
─ Vejamos o que sabe fazer…
Contrariada com aquelas provocações, Lin partiria para a luta corpo a corpo, mas seu cansaço a impediria de seguir no combate por muito tempo. Não demorou muito a perder seus reflexos, e Masanori a atingiu com um forte chute na barriga, que a lançou para ainda mais longe. Quando diante da oponente, soube que o duelo havia terminado. Lin não demoraria muito a perder a consciência, e demoraria mais tempo que o previsto para recuperá-la.
─ E como a senhorita Sizu está?
─ Como está… O senhor quase a matou, Chichiue…
─ Hikari, por favor…
─ Ela está bem! ─ adiantou-se, chateada ─ Mas ainda não acordou.
─ E o que os médicos disseram depois da última visita?
─ Que ela só está cansada, que precisa repousar…
─ Viu só? Além disso, os remédios dão sono, fique tranquila.
─ Ficar tranquila…
─ Vamos jantar, sim? Depois, nós lhe faremos uma visita.
─ Espero que ela já tenha acordado. E o senhor, como está?
─ Estou bem, não me feri muito. E os remédios que ela produz são mesmo muito bons.
Ao contrário das expectativas da princesa, porém, Lin só despertaria na manhã do dia seguinte.
─ Ela está muito abalada, Chichiue…
─ Como assim?
─ Não quer comer direito, não quer conversar… Estou preocupada.
─ Deixe-a descansar, Princesa…
─ Mas eu…
─ Diga que eu irei visitá-la à tarde, sim?
─ Ela voltou a dormir… ou está fingindo que está dormindo, não sei…
─ Mais uma razão para deixá-la sozinha, não acha?
O Senhor Feudal, contudo, só teria oportunidade de visitá-la no final da tarde. No corredor externo, que dava para o quarto da princesa, conversaria com Noriko, antes de adentrar o aposento.
─ Talvez o senhor consiga fazê-la falar… Ela chorou o dia inteiro.
─ Afora isso, como está?
─ Mais disposta. Já se levantou algumas vezes e se alimentou melhor.
─ Isso é bom. Diga que vim visitá-la.
─ Masanori-Sama… ─ disse, a Samurai, antes de adentrar o aposento ─ Ela passou o dia inteiro com uma obi nas mãos.
─ Irei investigar.
Noriko, então, adentrou o quarto, deu o aviso e saiu logo em seguida. Quando o Senhor Feudal entrou, viu que Lin estava de pé e que parecia mesmo mais disposta; mas se surpreenderia ao ver seu semblante tão abatido e entristecido.
─ Agora entendo a preocupação da princesa…
Lin, porém, não responderia à observação do nobre, que, após o longo silêncio, faria uma nova investida.
─ Apesar disso, vejo que está mais disposta.
─ Estou bem.
─ Está?
─ Sim.
─ Está mesmo? ─ insistiu, ao vê-la enxugar as lágrimas na obi ─ Não é o que parece.
─ Eu estou bem. ─ disse, por fim, a fitar o Senhor Feudal como ar de quem encerra um assunto.
─ Sabe… É decepcionante vê-la desse jeito… ─ rompeu, o nobre, o silêncio ─ Eu a julguei tão madura… E o que vejo aqui, senão uma criança chorona, que não aceita uma derrota?
─ O senhor não me conhece…
─ E preciso conhecê-la para chegar a essa conclusão? ─ questionou, mas viu a jovem apenas mover a cabeça, em sinal de discordância ─ A derrota não a define como uma pessoa fraca, mas como alguém que apenas precisa melhorar.
─ Bem, não foi o que o senhor me disse durante a luta.
─ Eu a estava provocando, apenas isso. Descobri o seu ponto fraco e o estava utilizando ao meu favor. É o que os adversários fazem numa luta, a senhorita deveria saber disso.
─ E sei.
─ Então…?
─ E me incomoda muito que o senhor o tenha notado, que eu o tenha deixado tão perceptível… ─ reconheceu, resignada.
─ Então, é isso? A senhorita está desse jeito somente porque eu descobri seu ponto fraco?
─ Não.
─ Pois diga, então!
─ É que… ─ hesitou por um instante ─ O senhor tinha razão.
─ A respeito de quê?
─ O senhor estava certo, ele estava certo…
─ Ele?
─ Eu perdi a luta vergonhosamente…
─ Eu não a compreendo.
─ Eu sou tão fraca e vulnerável, que… ─ deteve-se, chateada ─ Como pude achar que eu poderia segui-lo?
─ De quem a senhorita está falando? De Sesshoumaru?
─ Quê? ─ perguntou, Lin, em choque.
─ Certamente.
─ Mas… Como o senhor…
─ Hikari e eu viemos visitá-la ontem à noite. ─ adiantou-se, o nobre ─ A senhorita sussurrou esse nome algumas vezes, enquanto dormia.
─ Eu não acredito… ─ recriminou-se, a esconder a face enrubescida com a mão ─ A Princesa também ouviu? Céus, ela não vai me deixar em paz…
─ Não, ela já tinha saído quando aconteceu. Mas Hikari me falou, em outra ocasião, de certo amigo de infância, de um Youkai no Taijiya, pelo qual, ela acredita, a senhorita tem sentimentos.
─ Mas que confusão… ─ pensou, ainda desnorteada.
─ É ele? Sesshoumaru é o nome desse Taijiya?
─ Masanori-Sama… Por favor…
─ Ele não a julga forte o bastante, não é mesmo? ─ questionou, e viu a jovem hesitar ─ É tão óbvio… Não que a senhorita não seja forte, mas, pela situação, por suas atitudes e pensamentos…
─ Eu não quero falar sobre isso.
─ Posso apostar que essa obi tem uma história. A senhorita a segura com tanto apreço…
─ Por favor…
─ Olha… Eu não sei o que há nem o que houve entre a senhorita e esse Taijiya. Mas, ao que parece, ele não a corresponde, não a julga boa o bastante…
─ Masanori-Sama…
─ E ao que percebo, a senhorita insiste em lhe provar ─ ou provar a si mesma, não sei ─ que é forte o bastante e digna de estar com ele.
─ Eu apenas…
─ No entanto e sinceramente, não sei como conseguirá provar isso a ele, enquanto estiver a viajar sozinha por aí, a enfrentar diversos perigos e a arriscar sua vida.
─ Na verdade, eu…
─ A senhorita está certa em insistir em algo que deseja e em querer evoluir suas habilidades, mas a forma como tem conduzido tudo isso está equivocada e chega a ser insana!
─ Eu poderia falar?
─ Não, não pode. Escute… ─ ordenou, a fitar a jovem seriamente ─ Não é torturando a si mesma que conseguirá provar a absolutamente ninguém que é forte, corajosa, habilidosa ou seja lá o que a senhorita pretenda provar… Por ser o que é e como é, a senhorita já é valiosa.
─ Masanori-Sama…
─ E se esse Taijiya não a vê dessa forma, então, arrisco-me a dizer que ele é quem não a merece.
─ Não…
─ Não?
─ Na verdade, ele… Ele é perfeito…
─ Oh, céus… ─ resmungou, o nobre, em tom de crítica.
─ E tão bondoso, Masanori-Sama… ─ insistiu, a sorrir abobalhada, como quem recorda bons momentos ─ E eu nunca, nunca chegarei aos pés de alguém feito ele…
─ A senhorita tem noção do quanto esse tipo de pensamento pode lhe fazer mal? ─ questionou, seriamente, ao ver a jovem enxugar as lágrimas na obi.
─ Sim, eu sei. Mas hei de me acostumar à minha condição.
─ Condição?
─ Nunca serei boa o bastante para ele, eu sei. Está muito além das minhas possibilidades…
─ Eu não esperava por isso…
─ Wakatta…
─ Preciso de mais tempo para digerir melhor essas bobagens que a senhorita está me dizendo.
─ E eu para digerir a minha humilhante derrota de ontem.
─ Pois saiba que a senhorita não se saiu tão mal.
─ Ah, não? ─ questionou, duvidosa.
─ A senhorita só precisa de mais disciplina em sua forma de lutar.
─ Disciplina?
─ Eu reconheço sua força, sua garra, suas habilidades… Mas a senhorita é muito rude com as espadas.
─ Rude?
─ Lutar é muito mais do que segurar uma espada e desferir golpes com ela, minha cara. Lutar é uma arte! E a senhorita ainda é incipiente nela.
─ Tanto assim?
─ Acho que aprenderia rápido.
─ Acho que o senhor está dizendo isso apenas para me animar.
─ Bem… Aproveitando o ensejo… Por que não fica um tempo em Yamashita, para que possa treinar e aprimorar suas habilidades?
─ Não sei… É complicado…
─ Noto um pouco de vontade em sua hesitação.
─ Sim, mas… Eu não posso ficar.
─ E por quê?
─ Porque eu prometi aos meus Mestres que regressaria em breve; e já faz um tempo que estou fora, então…
─ Criança…
─ Mas eu lhe agradeço muito por querer me ajudar! ─ adiantou-se, ao notar que não havia convencido o nobre.
─ Bem… Isso não está definido.
─ O que o senhor quer dizer?
─ Procure pensar melhor a respeito, sim?
─ Mas…
─ E descanse!
─ Mas eu…
─ Amanhã de manhã, conversaremos melhor.
─ Masanori-Sama…
─ Oyasumi nasai, senhorita Sizu. ─ despediu-se, o nobre, antes de deixar o aposento.
No meio da manhã do dia seguinte, Masanori iria ao encontro de Lin novamente. Ao notá-la melhor, ele a levaria para o Centro de Treinamento de Yamashita, também em companhia da serva Kaya. No local, Lin se surpreenderia com o respeito e com a admiração com que os aprendizes e Mestres do Centro a tratariam.
─ Não entendo tudo isso… Eu perdi o duelo!
─ A senhorita lutou contra mim. Sabe quantos desses jovens aprendizes teriam coragem de fazê-lo? Nenhum.
─ Porque são sensatos.
─ Exatamente!
─ E eles me admiram por minha insensatez? ─ zombou.
─ Por sua coragem, na verdade.
─ O senhor não vai se cansar de tentar elevar minha autoestima, não é?
─ Na verdade, eu quero que veja uma coisa… ─ informou, a conduzir a jovem a um grupo de guerreiros em treinamento ─ Quero lhe mostrar em que a senhorita é falha e o que pode aprender se assim o desejar. Observe-os.
Lin, então, ficou um tempo a analisar o treinamento dos aprendizes, e se impressionou com tamanha disciplina e com a precisão dos golpes dos jovens Samurais.
─ Eles parecem não se esforçar…
─ Kaya… Sua vez.
─ Sim, Masanori-Sama.
Lin, então, ficaria ainda mais surpresa, ao ver a serva se juntar aos aprendizes para enfrentá-los. Em questão de segundos, ela derrotaria os seis aprendizes, utilizando uma espada de bambu com a qual treinavam.
─ Senhorita Sizu, Noriko é uma Samurai e foi treinada aqui em Yamashita. Ela é superior a muitos dos meus homens, é minha guerreira de confiança.
─ Que interessante… ─ disse, Lin, após o silêncio que se fez entre ambos ─ Todos os seus servos são Samurais?
─ Por favor, compreenda meus motivos… ─ disse, ao notar o descontentamento de Lin ─ Eu não conhecia a senhorita como a conheço agora. Por isso, ordenei que Noriko as acompanhasse.
─ Nesse caso, o senhor sabe mais ao meu respeito do que eu posso imaginar, já que Noriko esteve todo esse tempo a me seguir…
─ E é exatamente por isso que confio na senhorita. Se não confiasse, não teria lhe mostrado a verdade.
─ A Princesa sabe disso?
─ Sim, ela sabe.
─ Céus!
─ E apoiou a ideia, pois queria me convencer, a todo custo, de que eu poderia confiar na senhorita.
─ Sinceramente, eu não sei o que todos vocês temem… ─ resmungou, a se afastar do nobre.
─ Não nos leve a mal, por favor… ─ pediu, o nobre, a segui-la ─ Nós temos inimigos, precisamos manter a segurança de Yamashita.
─ Perdoe-me a sinceridade, mas se está tão preocupado com a segurança de Yamashita, não deveria pedir para uma estranha ficar aqui, menos ainda para fazer parte de seu Centro de Treinamento.
─ Já lhe disse que não a tenho como uma ameaça a Yamashita.
─ Pois eu não estou convencida disso.
─ A senhorita é inteligente, vai juntar as peças e entender minha postura. ─ disse, e logo viu a jovem interromper a caminhada, para se voltar para ele.
─ Então… O senhor achou que conseguiria me convencer a ficar em Yamashita, se me contasse a verdade e se me mostrasse sua habilidosa Samurai?
─ Ainda acho.
─ Não é tão simples assim… ─ resmungou, inconformada com a tranquilidade do nobre.
─ Claro… Sua obsessão por Sesshoumaru a impede de viver sua vida…
─ Masanori-Sama, por favor…
─ É a verdade!
─ Eu apenas lhe peço que não pronuncie mais esse nome, que não fale a respeito disso novamente, e a ninguém… ─ pediu, a fitar o nobre seriamente ─ É a minha vida, o senhor não tem esse direito…
─ Tudo bem. ─ concordou, compreensivo, e prosseguiu após o silêncio ─ Apenas acho que, se o que tanto deseja é ficar mais forte, poderia aceitar viver em Yamashita e se tornar uma Samurai como Noriko.
─ Tudo que desejo, agora, é ficar em paz com meu coração.
─ E não ficaria em paz se ficasse aqui?
─ Sinceramente?
─ Diga.
─ Acho que, quanto mais eu alimentar esse desejo de me tornar mais forte e de me superar, mais estarei ligada ao passado. E eu preciso esquecê-lo…
─ Pois bem… ─ disse, Masanori, após o silêncio ─ Se a senhorita pensa dessa forma, respeitarei sua decisão. E se deseja partir, o que poderei fazer, além de lhe desejar boa sorte em sua jornada?
─ Bem… O senhor poderia me dar algumas dicas.
Estrategicamente, então, o Senhor Feudal aceitaria a proposta de Lin.
─ A senhorita gostaria de começar agora?
─ Não me superestime, ainda não estou em condições de lutar.
─ Pois assim que estiver, começaremos ─ até quando a senhorita desejar, ou aguentar.
─ Desafio aceito.
Na manhã do dia seguinte, Lin se dirigiria logo cedo ao Centro dos Samurais de Yamashita, onde se dedicaria ao treinamento intensivo com o Senhor Feudal durante uma semana. A princesa os acompanharia todos os dias e, assim como o pai, ficaria feliz e empolgada com os progressos da amiga.
─ Ela me faz lembrar seu irmão, Hikari. ─ disse, o nobre, enquanto assistiam Noriko e Sizu duelarem.
─ Samanosuke?
─ Não só por sua coragem, mas pela determinação e insistência.
─ Sim, eles se parecem nesses aspectos.
─ Mas não se pode comparar suas habilidades. Da última vez que duelamos, Samanosuke me venceu; e ele ainda era jovem…
─ Oniisan é um grande Samurai.
─ Sim, ele é.
─ Chichiue… O senhor acha que os príncipes ficariam satisfeitos com a permanência de Sizu aqui em Yamashita?
─ Não acho que devamos nos preocupar com isso, Princesa. A senhorita Sizu já disse que não ficará conosco.
─ Mas, se fosse o caso…
─ Certamente, teríamos alguns entraves. Mas pensar nisso agora é bobagem.
─ Ela vai mesmo partir amanhã?
─ Sim, Princesa.
─ Ela esteve tão empolgada com os treinamentos… Pensei que fosse mudar de ideia.
─ Esse era o plano, mas…
─ É mesmo uma pena…
─ Não faça essa cara… Ela prometeu regressar em breve.
─ Mas eu vou ficar sozinha outra vez…
─ Ah, sim? A companhia de seu pai não mais lhe serve, Princesa?
─ Claro que sim, mas… É diferente, Chichiue…
─ Eu sei, querida… Eu sei. ─ disse, o nobre, compreensivo ─ Quem sabe ela mude de ideia da próxima vez…
Na manhã do dia seguinte, à hora da partida, o Senhor Feudal de Yamashita e Miura acompanharia Lin até os portões do feudo.
─ Perdoe a indelicadeza de minha filha. Ela está descontente com sua partida.
─ Eu sei. Não queria que ela ficasse zangada comigo.
─ Não é nada pessoal, saiba. Hikari age dessa mesma forma com os irmãos, sempre que estão de partida. Veja: ela preparou os alforjes com os mantimentos para a viagem, selou o cavalo… O mesmo que faz a eles. Não está chateada, apenas preocupada com a senhorita e triste por ter que nos deixar.
─ Se o senhor diz, fico mais tranquila.
─ E sua recompensa? Não vai mesmo aceitá-la?
─ Aquele ouro só atrairá bandidos. Também por isso, não posso partir com os refinados trajes que Hikari me deu.
─ Está certa. Realmente, a senhorita chama menos atenção vestida assim, feito homem.
─ São as melhores roupas!
─ Falando sério… Ainda me sinto em débito com a senhorita. Não há outra forma de recompensá-la?
─ Bem, já que o senhor insiste tanto… A leste daqui, há um pequeno vilarejo chamado Murata. Fica um pouco distante de Yamashita, mas, lá, vivem algumas pessoas que me ajudaram depois que fiquei órfã. Elas me ensinaram muitas coisas e lhes sou muito grata por tudo. Então, se o senhor puder, envie esse ouro a Murata. Estou certa de que eles ajudarão as vilas menos favorecidas que há naquela região. Peça que entreguem em mãos da Sacerdotisa Kaede e com os cumprimentos da pequena Sizu.
─ Pois assim o farei. Enviarei a encomenda ainda hoje.
─ Fico imensamente grata, Masanori-Sama.
─ E eu pelo que fez por minha família.
─ Bem… Espero que seus Samurais regressem sãos e salvos. Permaneci aqui em Yamashita por quase um mês e nenhum sinal deles…
─ Agradeço sua preocupação.
─ Então… Eu preciso ir…
─ Se diz…
─ Prometo que, em breve, estarei de volta.
─ Estaremos à sua espera.
─ Temos negócios a tratar, sim?
─ Sem dúvida… Sem dúvida.
─ Espero não precisar de uma indicação para entrar em Yamashita, senhor desconfiado.
─ Não mais, minha cara.
─ Ótimo. Então… Obrigada por tudo… Pelo duelo, pelos sermões… e também pelo treinamento.
─ Não agradeça. Nem vá se meter em lutas desnecessárias, sim?
─ Pois esse é um cuidado que sempre tenho.
─ Também não se esqueça de aquecer seu coração.
─ Sabe… Eu ouvi dizer que o inverno será rigoroso, então…
─ Há tantas formas de se aquecer um coração, minha cara…
─ Eu sei, mas… ─ hesitou por um instante ─ Se o senhor conhecesse a inexpressividade daquele olhar, entenderia perfeitamente a frieza de meu coração.
─ Ele não pode ser a única pessoa que a senhorita conseguiria amar…
─ Talvez… Fui eu que cometi o erro de achar que poderíamos ser algo, então…
─ Apenas fique atenta, sim? ─ aconselhou, compreensivo.
─ Mande um abraço meu a Hikari.
─ Mandarei.
─ Até a volta, Masanori-Sama.
─ Itterasshai, senhorita Sizu.
Lin, então, deixou Yamashita. Em seu íntimo, havia o desejo de ficar, mas, sempre que pensou em fazê-lo, temeu por ter ganhado a confiança de Masanori, de Hikari e de todos em Yamashita através de uma identidade relativamente falsa. O que o nobre pensaria a seu respeito e como reagiria se acabasse por descobrir a verdade? Lin não quis pagar para ver e seguiu seu caminho sem hesitar.
* * *
Oyasumi nasai significa boa noite e é uma expressão usada para despedidas, quando se está indo embora ou indo dormir.
Itterasshai é uma expressão de despedida e significa cuide-se!.
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