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História Trent - O pacto - História escrita por charllottnawar - Spirit Fanfics e Histórias
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História Trent - O pacto


Escrita por: charllottnawar

Notas do Autor


Olá, leitores!! Tudo bem?

Nesse capítulo, Lin e Masuyo farão um pacto, que os unirá para sempre num elo de esperança.
Que pacto será esse e por quais motivos Lin o aceitará?
Descubra nesse capítulo!

Boa leitura, e apreciem a música tema ;) Eh muito linda! ♪

Desenho de Letícia Silva =)

Capítulo 28 - O pacto


Fanfic / Fanfiction Trent - O pacto

PARTE 4 ▪ NOVAS ENERGIAS

O pacto

 

Apenas a Floresta testemunhou aquele terno momento. Sob a luz da lua e ao som das criaturas da noite, Lin e Masuyo se deixaram levar pelo desejo e pela paixão, que tão depressa nasceram e que tardariam a lhes devolver a paz.

─ Sora… Existe a possibilidade de a senhorita deixar de amá-lo? ─ perguntou, Masuyo, ainda com os olhos fechados, enquanto acariciava o rosto de Lin com a ponta do nariz.

─ Receio que não… ─ respondeu, também com os olhos fechados e com os lábios suplicantes.

─ Eu não quero parar…

─ Não pare…

Seus lábios, então, encontraram-se novamente e com o mesmo fervor do primeiro beijo. Seus corpos, porém, viam-se ainda mais próximos, e Lin se permitiu tocar o rosto e os cabelos de Masuyo, enquanto ele desceu suas mãos suavemente até a cintura da jovem, que estremeceu com aquela nova sensação.

─ O que estamos fazendo? ─ perguntou, a sentir os lábios de Masuyo tocarem uma de suas orelhas suavemente.

─ Sora, deixe-me fazê-la esquecê-lo… ─ sussurrou, suplicante ─ Case-se comigo…

─ Não posso, Masuyo… ─ sussurrou, entregue às carícias do nobre, que, naquele momento, deslizava os lábios por seu pescoço, enquanto puxava, para trás e suavemente, os cabelos de sua nuca.

─ Por favor, não hesite… ─ insistiu, antes de morder delicadamente o pescoço de Lin, fazendo-a suspirar de desejo ─ Aceite meu pedido, Sora…

─ Não insista, Masuyo… ─ advertiu-o, intencionando afastar-se do príncipe, que, porém, envolveu-a em seus braços outra vez.

─ Olhe para mim, Sora… ─ pediu, com ternura, e logo viu os olhos da jovem fitarem os dele, sem receio ─ Eu quero que faça apenas o que a deixar feliz… Mas também gostaria que aceitasse minha proposta, pois sei que posso lhe dar a felicidade de que precisa; da mesma forma que a senhorita também me daria, aceitando ser minha esposa.

─ Eu sei, mas… E depois?

─ Depois?

─ E depois de lhe dar a alegria de aceitar sua proposta, eu poderia lhe dar a alegria de ser verdadeiramente sua?

─ Não poderia?

Lin, então, abraçou o nobre com ternura.

─ Masuyo… Eu sinto que posso deixá-lo entrar em meu coração… Sinto que o senhor poderia andar por seus caminhos tranquilamente… E acredito que eu poderia lhe dar meus mais puros sentimentos, enquanto nos amássemos em seus campos de flores, em seus rios e em suas selvas…

─ Sora… ─ sussurrou, a abraçá-la com mais força.

─ Mas também sei que, se um dia, num desses caminhos, o senhor encontrasse aquela pessoa, ficaria muito magoado; e com toda razão! ─ prosseguiu, a ouvir as batidas do coração do nobre ─ Então, o senhor tentaria, de todas as formas, expulsá-lo dos campos, dos rios, das selvas, mas todos os seus esforços seriam em vão… Então, num acesso de cólera, também justificável, o senhor lançaria um de seus venenos contra essa pessoa, sem sequer se dar conta de que, assim, estaria envenenando também o meu coração, fazendo-me sofrer, definhar e morrer aos poucos…

─ Sora, eu não…

─ E depois, Masuyo… ─ adiantou-se, ainda nos braços do nobre ─ O que aconteceria depois?

─ E se, em vez de encontrá-lo nos campos, nos rios e nas selvas de seu coração, eu sequer o encontrasse, Sora, por a senhorita tê-lo banido desses caminhos espontaneamente? ─ insistiu, docemente.

─ Masuyo…

─ Nós poderíamos tentar…

─ Escute… ─ pediu, após afastar-se do nobre, para fitá-lo com sinceridade ─ Desde que eu era criança, desejei estar ao lado dele para sempre… Quando cresci, meu desejo tão somente se potencializou e se converteu em amor… ─ revelou e viu o príncipe desviar o olhar ─ Masuyo, olhe para mim! ─ pediu, ternamente, a segurar as mãos do nobre ─ Não há um só dia em que eu não pense nele, não há uma única manhã em que desperte e me revolte quando ele não aparece em meus sonhos…

─ Sora…

─ Não há um único dia em que eu tema não mais poder ver o rosto dele…

─ Eu já entendi, não precisa dizer mais nada. ─ pediu, cabisbaixo, antes de se afastar de Lin.

─ O senhor saberia conviver com isso? ─ perguntou, após o tenso silêncio que se fez entre ambos ─ Para sempre, se fosse o caso? Saberia dividir o meu coração com outro? Saberia aceitar se eu pensasse tanto nele quanto no senhor?

─ O que está me pedindo é tão absurdo…

─ Masuyo…

─ Eu não poderia viver com isso… Estar com a senhorita sem sequer saber se está comigo realmente… Não posso.

─ Eu não estou lhe pedindo para fazer isso, foi uma pergunta retórica. Eu sei que o senhor jamais aceitaria isso e eu jamais lhe faria uma proposta dessas, Masuyo-Sama… ─ explicou-se, com franqueza ─ Estou apenas tentando lhe dizer que, apesar de o senhor ter me feito hesitar, eu amo outra pessoa.

─ E para que toda essa formalidade? Para reforçar o seu “não”? ─ perguntou, a fitar a jovem, chateado.

─ Masuyo-Sama, eu…

─ Já disse que tudo bem.

─ Por favor, compreenda minhas razões…

─ Eu, sinceramente, não consigo, Sora! O que acabou de acontecer entre nós foi sincero demais para que a senhorita queira me convencer de que não poderíamos dar certo!

─ Eu sei, eu o compreendo, mas… ─ hesitou por um instante ─ Eu não posso… Eu não consigo fazer isso…

─ Se eu a fiz hesitar, se a senhorita pensou duas vezes, como não consegue fazê-lo?

─ Eu não sei!

─ Não entendo o que se passa em sua cabeça… ─ queixou-se, a fitar um ponto qualquer da floresta.

─ Eu também não entendo tudo isso… ─ concordou, meio entristecida, a se aproximar do nobre ─ Não é algo racional, eu não consigo pensar a respeito disso… Eu apenas sinto. ─ confessou, com as mãos sobre o peito, a fitar o príncipe com sinceridade ─ Eu nunca pensei que alguém pudesse despertar, em mim, as sensações que o senhor me causou… Não faz ideia do quão confusa o senhor me deixou…

─ Sora…

─ Eu nunca senti isso antes! ─ confessou, meio encabulada ─ E o que me deixa espantada é o fato de eu me sentir confortável, de não me sentir errada nem envergonhada por sentir o que o senhor me fez sentir…

─ Por que deveria se envergonhar?

─ Eu não sei… Não me parece certo… Talvez, o correto fosse eu não hesitar…

─ Mesmo que ele não a ame?

─ E ainda que seja frio e que me ignore completamente.

─ Ele só pode ser louco… ─ resmungou, inconformado ─ E a senhorita ainda mais, por pensar desse jeito.

─ Eu sei. ─ concordou, após o forte suspiro.

No longo silêncio que se fez, Lin não soube definir se a tristeza que sentia naquele momento vinha da hesitação que Masuyo lhe proporcionara, se da dor do desprezo de Sesshoumaru ou se da impossibilidade de se unir ao filho de Masanori.

Masuyo, então, ao vê-la tão inconsolável, se aproximaria novamente e a abraçaria com carinho. Assim, ambos permaneceriam durante um tempo, até que Lin se recompusesse.

─ Gomen nasai, Masuyo-Sama… ─ desculpou-se, solenemente, a se afastar do nobre ─ Eu não deveria estar em seus braços, a chorar por outro…

─ Tudo bem, Sora… Não se envergonhe de seus sentimentos, eu a compreendo.

─ Não, o senhor apenas está sendo gentil… ─ discordou, a enxugar as lágrimas ─ Aliás, o senhor tem sido gentil comigo o tempo inteiro, e isso já está começando a me irritar.

─ Pobre do seu prometido, que terá de se esforçar bastante para agradá-la.

─ Não será o contrário?

─ Não… Ele, certamente, acabará se rendendo à senhorita.

─ Não sabe o que está dizendo… O senhor não o conhece.

─ Decerto. Não dá para entender o que se passa na cabeça das pessoas, menos ainda em seus corações… Mas do que estou certo, Sora, é que, sem sombra de dúvida, é impossível alguém não se apaixonar pela senhorita. Se ele não se apaixonou à primeira vista, será à segunda.

─ Como consegue me dizer isso?

─ Eu não sei.

Ambos riram de toda aquela sinceridade que, não se sabia como, conseguia se sobrepor ao desejo que sentiam um pelo outro.

─ Apenas quero que a senhorita seja feliz… ─ disse, a tomar as mãos de Lin novamente. 

─ Mesmo que seja com ele?

─ Será feliz com ele? ─ perguntou com sinceridade, mas viu a jovem desviar o olhar ─ Se estiver certa disso, não me importo que seja feliz com ele.

─ Essa sua gentileza me irrita…

─ Não me tenha em tão altas contas, Sora… No fundo, o meu desejo é paralisá-la novamente, raptá-la e levá-la a Miura…

─ Hontou ni? ─ fingiu o assombro.

─ Eu a tornaria minha esposa, ainda que a senhorita não o consentisse…

─ Que cruel!

─ E eu a manteria para sempre escrava do meu amor… A senhorita nunca desejaria fugir, nem voltar para ele…

─ O senhor é tão modesto… ─ criticou, a rir timidamente.

─ A senhorita debocha de meus sentimentos…

─ Não, Masuyo… Absolutamente, não. ─ respondeu, convicta ─ É o destino que debocha de mim, de nós dois…

─ Ah, o destino… ─ repetiu, com pesar.

─ Meu riso é de resignação. Eu jamais debocharia dos nossos sentimentos.

Masuyo, que em momento algum havia soltado as mãos de Lin, beijou-as novamente com carinho, ao ouvir aquelas palavras.

─ Veja… Eu exagerei nas cordas… Seus pulsos estão machucados.

─ Reflexo do medo, talvez.

─ Receio e medo são duas coisas diferentes.

─ O senhor, então, estava receoso a meu respeito?

─ Sim, eu estava.

─ Pois não deveria.

─ Por que não?

─ Porque eu seria incapaz de machucá-lo.

─ Ah, sim?

─ Sim.

─ Mesmo sem me conhecer?

─ Ainda sem conhecê-lo.

─ E por quê? ─ questionou, instigado, ao vê-la desviar o olhar de repente.

─ Bem, porque… ─ buscou as palavras ─ Porque o senhor é…

─ Se não intencionou me ferir, nem mesmo antes de saber quem eu era ou de termos nos conhecido melhor, posso supor que eu devo ser bem parecido com o seu prometido.

─ Quê? ─ perguntou, ligeiramente desconcertada.

─ É a única explicação, certo? ─ insistiu, e viu a jovem desviar o olhar novamente ─ Algum problema?

─ Não.

─ Tem certeza?

─ Está tudo bem.

─ Não me parece bem.

─ Masuyo… Eu preciso…

─ Diga… ─ pediu, ao vê-la preocupada.

─ Eu devo lhe dizer que… Na verdade, eu…

─ Por que está tão ansiosa? ─ perguntou, a acariciar o rosto de Lin, mas ainda a segurar uma de suas mãos.

─ Eu devo lhe dizer que tudo bem… Que não tem problema em o senhor ter amarrado minhas mãos daquele jeito… ─ respondeu, e viu o jovem fitá-la com ar de dúvida ─ Eu vou ficar bem; e, na verdade, eu já deveria ter partido, então… É melhor que eu vá e que…

─ O que disse? ─ interrompeu-a de imediato ─ Não, eu não vou deixar que parta nessas condições. Mal consegue andar, Sora!

─ Mas eu estou bem e, além disso, já devem estar preocupados com…

─ Serei rápido!

─ Masuyo…

─ Eu prometo.

─ Mas eu…

─ Deixe-me cuidar da senhorita… ─ insistiu amavelmente ─ Além disso, o tempo que levarei para fazer os curativos será suficiente para que o efeito do veneno diminua ainda mais.

─ Tudo bem, então. ─ concordou, vencida.

─ Venha, vamos voltar para perto da fogueira, minhas porções estão nos alforjes. Vamos caminhando devagar, sim?

Durante o tempo em que Masuyo fez os curativos nos pulsos de Lin, poucas palavras foram ditas ─ apenas explicações sobre o procedimento e sobre os efeitos dos remédios que ele aplicava nos arranhões. O nobre sentia que a jovem o fitava, ainda ansiosa, como se quisesse lhe dizer algo; mas deixou-a à vontade para fazer ou dizer o que e se quisesse. Lin, porém, conteve seu ímpeto e permaneceu calada, a confundir-se em seus tantos pensamentos.

─ Está feito.

─ Arigatou.

─ Não se preocupe, a senhorita vai melhorar depressa. ─ assegurou, ao vê-la analisar os curativos.

─ Tudo bem.

No longo silêncio que se fez, ambos permaneceram sentados, diante um do outro, a se entreolharem vez por outra e a sorrirem ─ ela, timidamente, ele, meio abobalhado. Mas em seus rostos e em seus olhos, dançavam intensamente as chamas da fogueira, que melhor iluminava a floresta e que traduzia bem o desejo que prendia um ao outro. Tão perto das chamas, Lin quase não via o verde dos olhos do nobre, mas podia imaginá-lo perfeitamente, tão intensa era a lembrança daquele olhar. Masuyo, por sua vez, sentia-se impotente diante daquela com quem, estava certo, queria passar o resto de sua vida.

─ A senhorita é tão bela… O que eu não daria para tê-la comigo para sempre?

─ Masuyo… Por favor…

─ Não repreenda os meus sentimentos, Sora… São muito sinceros.

─ Eu sei.

─ Mas tudo bem… Ouvi dizer que a vida é longa… ─ investiu, e viu a jovem fitá-lo de modo interrogativo ─ Quem sabe um dia, não é mesmo, Sora?

─ Um dia?

─ Sim, um dia… Quem sabe um dia possamos nos ver outra vez… Quem sabe tudo seja diferente, e possamos… A senhorita sabe.

Mas Lin não conseguiu responder, nem mesmo entender a esperança traduzida naquele sorriso gentil. Masuyo logo veria as lágrimas flamejantes se formarem no olhar da jovem. Não demorou, então, a se aproximar de Lin novamente, para lhe oferecer o ombro amigo, no qual ela repousaria sua cabeça e ficaria por um tempo, a repensar o seu destino e a fitar as chamas dançantes diante de ambos.

─ É tão doce e encantadora… ─ disse, a acariciar as mãos de Lin entre as dele ─ A senhorita não pode ser de verdade… Tinha mesmo que viver em meus sonhos…

─ O que o senhor quer dizer com isso?

─ Que tenho sonhado com a senhorita há muito tempo.

─ Como assim? ─ perguntou, a fitar o nobre, instigada.

─ Isso é bobagem, Sora… ─ disse, meio evasivo.

─ Não… Por favor, conte-me…

─ Bem, eu… ─ iniciou, meio incerto sobre se deveria ou não lhe falar ─ Acho que… Acho que, de alguma forma, eu previ esse encontro.

─ O senhor o previu?

─ Não sei se essa seria a palavra certa para definir tudo isso.

─ E qual seria? O senhor sonhou comigo? ─ insistiu, interessada.

─ Não exatamente. Eu sonhava com uma ideia, entende?

─ Não.

─ Eu sonhava com alguém assim, como a senhorita…

─ Mas não me reconheceu ao me ver…

─ Por isso que lhe disse que sonhei com uma ideia, não com uma pessoa específica.

─ Wakatta…

─ Coincidências, não é mesmo?

─ Não sei… ─ respondeu, Lin, a se lembrar de seus tantos pesadelos e do que descobriu depois ─ O senhor poderia definir essa ideia?

─ Eu não sei… ─ respondeu, a fitar a fogueira ─ De alguma forma, Sora, não me peça para lhe dizer como, eu sabia que eu a encontraria. Não exatamente onde, nem exatamente quando… Mas eu sabia que a senhorita viria até mim.

─ Como? ─ insistiu, instigada com aqueles sinais.

─ Eu não sei como! ─ respondeu, risonho ─ Eu… Simplesmente sabia.

─ Masuyo… ─ sussurrou, ao ver os olhos do nobre fitarem os dela outra vez.

─ Eu sabia que alguém especial cruzaria o meu caminho e que…

─ Diga…

─ E que eu teria que proteger seus segredos a todo custo, porque… ─ deteve-se, ao notar a jovem meio receosa ─ Porque ela é diferente de todas as outras… Porque ela precisa estar a salvo… Ainda que não seja ao meu lado… Ainda que nosso tempo demore ou que nunca chegue…

─ E o que mais os seus sonhos lhe disseram, Alteza? ─ perguntou, entre o temor e a cumplicidade.

─ Nada mais.

─ Tem certeza? ─ perguntou, meio esperançosa.

─ Apenas sei que aconteceria… Apenas sei do agora… ─ respondeu, e viu a jovem olhar para a Floresta ─ O que mais eu poderia saber, Sora?

─ Eu não sei, Masuyo… Eu não sei…

─ Mas sei também desse laço que nos une…

─ Ainda que não seja ao seu lado… ─ repetiu as palavras no nobre com resignação.

─ O que a senhorita disse?

─ Eu disse que meu destino mais parece uma cilada…

─ Sora… ─ sussurrou, surpreso, ao sentir a mão da jovem tocar seu rosto.

─ E que eu não sou um sonho, Masuyo…

O príncipe de Miura não soube descrever a euforia que tomou conta de seu espírito diante daquela iniciativa. Sem que esperasse, sentiu os lábios de Lin tocarem os seus de repente, e logo correspondeu ao beijo com o mesmo desejo e afeto que sentia da jovem. Seus pensamentos se confundiam durante o contato: Masuyo não sabia se deveria criar esperanças, não sabia se suas revelações haviam influenciado, de alguma forma, aquela iniciativa; mas o beijo era demais ansiado para que ele pudesse se demorar naquelas preocupações ou evitá-lo. Lin, por sua vez, diante daquelas confidências, ficou a pensar em como o príncipe de Miura poderia ser um presente de seu destino, em vez de uma cilada, e deixou-se envolver por ele ainda mais. Ambos, porém, ao se lembrarem de quem eram e ao se perceberem tão cúmplices no modo como tocavam seus corpos, ali, no chão da floresta, interromperam o beijo lascivo ao mesmo tempo e se entreolharam, meio assustados.

─ Oh, céus… ─ disse, Lin, envergonhada, antes de se levantar.

─ Gomen nasai…

─ Não! Sou eu quem lhe peço desculpas, Masuyo-Sama…

─ Sora… Não me chame assim… ─ pediu, também a se levantar.

─ O que eu fiz? Isso não está certo… ─ condenou-se, a esconder o rosto entre as mãos.

─ Por favor, acalme-se… ─ insistiu, a se colocar diante da jovem.

─ Devo partir… Não posso mais ficar…

─ Escute-me, por favor… ─ insistiu, ao notá-la demais abalada.

─ Esperam por mim!

─ Ele pode esperar!

─ Ele? ─ questionou, aturdida.

─ Por favor, escute-me! ─ insistiu, a tocar os ombros de Lin delicadamente ─ Não me leve a mal, Sora… Por favor!

─ O que está dizendo?

─ Não pense que eu intencionava…

─ Céus! ─ interrompeu, desgostosa ─ Mas o senhor não fez nada!

─ Não fiz?

─ A culpa foi toda minha, eu o beijei!

─ E eu não a correspondi do mesmo modo?

─ Sim, mas… ─ deteve-se, nervosa ─ O que estamos fazendo?… ─ lamentou-se.

─ Por favor, Sora… Olhe para mim… ─ suplicou, e logo viu os olhos da jovem fitarem os seus timidamente ─ A senhorita não traiu seus sentimentos.

─ Não?

─ Não! Eu sei que o ama, sua hesitação e todo esse constrangimento são provas do amor que tem por ele e de sua honra!

─ Não deveria ter acontecido novamente, menos ainda daquela forma…

─ Eu sei, perdoe-me! A culpa foi toda minha!

─ Sua?

─ Eu a induzi a fazê-lo, ao lhe falar dos meus sonhos! Eu não deveria ter lhe contado aquilo!

─ Eu preciso ir…

─ Por favor, não vá ainda!

─ Não devo ficar… Já estou recuperada, preciso partir.

─ A senhorita está chateada, está decepcionada comigo, não é?

─ O que está dizendo? Mas é claro que não!

─ Claro que está! ─ insistiu, entristecido.

─ Não… Não estou… ─ respondeu, após o forte suspiro ─ O senhor sabe que eu preciso ir.

─ Wakarimashita… ─ resmungou, cabisbaixo.

─ Masuyo-Sama…

─ Não, tudo bem… Tudo bem.

─ Céus… ─ lamentou, descontente com a situação.

─ Não precisa fingir que não está decepcionada comigo, Sora… Sei que me excedi.

─ Masuyo, por favor… ─ insistiu, cansada ─ Não percebe que estou cheia de remorso pelo que fiz? Não torne as coisas mais difíceis para mim…

─ Remorso pelo que fez?

─ O senhor sabe tanto quanto eu que não deveria ter acontecido outra vez. Tanto sabe, que se deteve junto comigo.

─ Mais um motivo para a senhorita não julgar inadequadas as minhas intenções.

─ A única coisa inadequada foi a minha iniciativa. Não julguei desrespeitosa a sua reação… ─ disse, a fitar o nobre com sinceridade ─ Sei que não tinha outras intenções, eu confio no senhor.

─ Sora…

─ Não sei como, nem por que… Eu apenas confio.

Hahaue… Estou confuso… O que devo fazer?­ ─ pensou, Masuyo, a fitar a jovem com ânsia…

─ Por favor, acredite em mim…

Não posso, não quero deixá-la partir…

─ Diga alguma coisa…

─ Tudo bem, Sora… Já esperei pela senhorita minha vida inteira, não me importo se tiver de esperar novamente…

─ Por favor, não fale como se houvesse esperanças para nós…

─ Eu a deixarei ir, se é o que a senhorita tanto precisa fazer… Eu a ajudarei a partir, eu protegerei seus segredos… Eu lhe prometo, Sora!

─ Alteza… ─ sussurrou, meio assustada com aquela repentina determinação.

─ Mas saiba que nunca desistirei da senhorita, NUNCA!

─ O que está dizendo?

─ Eu a esperarei… ─ explicou, a segurar as mãos de Lin outra vez ─ Se mudar de ideia, a senhorita sabe onde me encontrar, não sabe?

─ Do que está falando? ─ questionou, a encará-lo, meio preocupada.

─ De nós, Sora!

─ Nós?

─ Ainda que sigamos nossas vidas separadamente, estarei sempre a esperá-la em Miura.

─ O quê? ─ indagou, surpresa.

─ Se mudar de ideia, já sabe o que fazer.

─ Masuyo-Sama… O que está dizendo? ─ questionou, reprovativa ─ Isso é loucura!

─ É o que farei. ─ assegurou, com tom de quem encerra o assunto.

─ O senhor está mesmo falando sério?

─ Nunca falei tão sério em toda minha vida, Sora-Sama. ─ respondeu, solenemente, e viu a jovem ficar novamente pensativa ─ Lembre-se sempre dessas palavras.

─ Masuyo… ─ iniciou, com ternura ─ O senhor vai encontrar alguém que o faça muito feliz… Eu tenho certeza!

─ É bem provável que isso aconteça a nós dois…

─ Então, se está tão consciente disso, por que insiste nessa ideia absurda?

─ Porque eu sinto… Eu sinto aqui dentro, Sora, que a senhorita será minha… ─ respondeu, com paixão, a dispor a mão de Lin em seu coração, para que ela pudesse sentir a euforia de seu espírito ─ E esse sentimento é tão forte, tão real, que…

─ Não acredite tanto em seus sonhos, Alteza…

─ Não sabe o que eles me dizem, Sora…

─ O que eles dizem, Masuyo? Conte-me! ─ pediu, quase suplicante, tentando compreender aqueles sinais.

─ É exatamente o que já lhe disse. ─ respondeu, a fitar a jovem com anseio.

─ Estou tão confusa… ─ disse, a se afastar.

─ Não fique! Apenas me prometa!

─ Prometer?

─ Prometa-me que, quando mudar de ideia, irá até Miura, Sora…

─ Masuyo… Não me peça uma coisa dessas…

─ Por favor!

─ Não pode condicionar sua vida a algo que talvez nunca aconteça!

─ Nem a senhorita pode negar esse sentimento que temos um pelo outro!

─ Eu não nego!

─ Então, qual o problema de uma promessa baseada num sentimento real e consciente?

─ Céus, eu não sei! ─ exclamou, temerosa quanto aos seus próprios anseios e quanto à sua real situação ─ O senhor está insistindo em que eu lhe faça uma promessa que não sei se poderei cumprir…

─ Não podemos lutar contra isso, Sora…

─ Contra o quê? ─ perguntou, suplicante.

─ Contra o que sentimos!

─ Não… ─ disse, vencida, mas preocupada com o olhar cúmplice e ameno do nobre ─ Nós não podemos…

─ Nesse caso, esteja certa de que eu a esperarei.

─ Masuyo…

─ Eu a esperarei ainda que parta… Eu a esperarei se desistir de se casar com ele…

Hahaue… O que ele sabe? O que viu em seus sonhos? ─ pensava, esperançosa.

─ Eu a esperarei, se a senhorita se casar e decidir deixá-lo…

Por que me diz essas palavras absurdas com tamanha naturalidade? Será mesmo louco a esse ponto?

─ Eu a esperarei, ainda que me case e que construa uma vida harmoniosa ao lado de minha esposa…

─ O senhor está se escutando? ─ perguntou, incrédula.

─ Eu ainda a estarei esperando, mesmo depois de décadas, quando já estivermos velhos e cansados de mentir para nós mesmos, Sora…

─ Masuyo… ─ sussurrou, comovida, antes de abraçar o nobre com ternura ─ Eu não sei o que dizer… ─ sussurrou, lamentosa.

─ Tudo bem… Quando a senhorita for a Miura, eu lhe direi que nada me fez esquecê-la… E sei que irei escutar também as suas doces confissões…

─ O senhor fala como se já soubesse de algo… ─ disse, a abraçá-lo com mais intensidade.

─ Quem me dera sabê-lo…

─ O senhor está sendo muito inconsequente…

─ E o que a senhorita me diz? ─ insistiu; mas demoraria um tempo a ouvir a resposta.

─ Que sim… ─ disse, Lin, ainda nos braços do nobre, a fitá-lo cheia de esperanças ─ Prometo que irei a Miura, se o meu destino me permitir.

─ E eu lhe prometo que estarei à sua espera, Sora… ─ garantiu, a fitar a jovem, comovido ─ Nunca se esqueça disso.

─ Não me esquecerei.

Apesar do imenso desejo de sentir os lábios da jovem nos seus novamente, o príncipe de Miura apenas beijou-lhe o rosto com amor. Lin apreciou a ação respeitosa.

─ A senhorita é livre, Sora… ─ disse, com tamanho pesar, a desfazer o abraço ─ Eu a permito partir… Mesmo sabendo que a senhorita poderia ter partido quando quisesse…

─ O senhor é muito gentil… ─ disse, a sentir a estranha dor no peito.

─ Como pretende ir até sua gata de fogo?

─ Não sei, ainda não consigo me locomover muito bem… ─ respondeu, a analisar a floresta, tentando identificar o paradeiro de Kirara ─ Eu posso chamá-la até aqui?

─ E por que não poderia? Essa floresta, com a qual estou tão familiarizado, é mais sua do que minha…

─ O senhor não a temeria, se Kirara viesse até mim?

─ Não.

Lin, então, emitiu um forte e contínuo assovio. Depois de alguns minutos, ambos sentiram a energia de Kirara se aproximar; também os Samurais, que estavam a certa distância do lugar e correram ao encontro do nobre, preocupados.

─ O senhor poderia devolver minhas katanas? ─ pediu, gentilmente, e viu o nobre se afastar, para regressar, em seguida, com as espadas em mãos ─ Arigatou.

─ Muito cuidado com essas espadas demoníacas… ─ advertiu-a, com riso de cumplicidade.

─ Terei cuidado, senhor louco. ─ concordou, risonha, ciente de que sua história não havia convencido o nobre, e ainda mais instigada por ele não a ter questionado.

Kirara, então, surgiu entre as árvores ─ não parecia ofensiva ─ e logo se colocou ao lado de Lin. Masuyo ficou a observar aquele youkai, que outrora lhe parecera tão hostil.

─ Posso ajudá-la a subir? ─ perguntou, ao ver a gata de fogo abaixar-se para que Lin a montasse.

─ Arigatou. ─ permitiu, a sorrir ao nobre.

─ É hora de ir… ─ disse, a fitar a jovem, resignado ─ Espero que façam uma boa vigem.

─ Desejo o mesmo ao senhor e aos seus Samurais.

Masuyo, então, abaixou-se e pegou algo do chão da floresta.

─ Para a senhorita não se esquecer de mim… ─ explicou, a entregar, à jovem, a pequena flor.

─ Arigatou, Masuyo-Sama… ─ disse, comovida, a admirar a delicada angélica entre suas mãos ─ Não me esquecerei.

─ Então… Até qualquer dia, Sora.

─ Até qualquer dia, Masuyo.

Ambos tinham lágrimas em seus olhos.

─ Vamos, Kirara… ─ pediu, Lin, sem mais conseguir encarar o nobre, que, por sua vez, fitou-a a todo momento, sentindo o coração apertar cada vez mais.

Antes de ganhar os céus, Lin viu os Samurais de Masuyo aparecerem e o nobre, a eles, emitir um sinal de que tudo estava bem. O príncipe ainda assistia à partida de ambas, quando as viu desaparecerem no céu.

─ Deixou-a ir, Masuyo-Sama?

─ Já obtive a informação de que precisava. ─ respondeu, seriamente.

─ E então?

─ Não é uma usuária de Magia.

─ Como não?

─ As katanas são raras. Pertenciam a um youkai.

─ Mas, Masuyo-Sama… Não havia energia demoníaca naquelas espadas!

─ A energia permanece camuflada, quando as espadas estão inativas. ─ explicou, o nobre, como quem intenciona encerrar um assunto.

─ Sim, mas…

─ Escutem… ─ adiantou-se, solene ─ Não dirão, em Yamashita e em Miura, absolutamente nada a respeito do que houve aqui hoje.

─ Masuyo-Sama…

─ Eu mesmo falarei a respeito a Chichiue; e a menos que ele se dirija a algum de vocês, permaneçam calados. Estamos entendidos?

─ Sim, Masuyo-Sama. ─ responderam, os guerreiros.

─ Partamos. Chichiue já deve estar preocupado com nosso atraso.

Quando o príncipe e os Samurais realmente deixaram o lugar, Lin já se encontrava distante ─ sua intenção era viajar novamente durante toda a madrugada, a fim de recuperar o tempo perdido e chegar o quanto antes a Murata. Faltava pouco para o amanhecer, mas as horas pareciam não passar, enquanto ela, em seus tantos pensamentos, angustiava-se com os últimos eventos. Pensava em como seria perfeito aceitar a proposta de Masanori e de Masuyo, pois, assim, poderia viver tranquila e em segurança em Yamashita ou em Miura, conforme sua mãe lhe dissera que seria adequado. Mas, ao mesmo tempo, receava não conseguir esquecer seu grande amor, ou nem mesmo ter a aprovação de Masanori quanto ao casamento dela com Masuyo, tendo, o Senhor Feudal, plena consciência de que Lin amava um youkai e de que estava a viver sob sua ameaça ─ querê-la em Yamashita para ser princesa e Samurai, pensava ela, poderia não lhe dar o direito de se unir a um dos filhos de Masanori, os quais, aliás, estavam quase certos para se casar. Por outro lado, o olhar cúmplice de Masuyo, sua insistência em que ela o aceitasse e o procurasse a todo custo e suas confissões a enchiam de esperanças e a deixavam com a certeza de que o destino de ambos deveria mesmo ter se cruzado naquele momento, não para afastá-la de Yamashita e de Miura, mas para levá-la, definitivamente, à fortaleza. Masuyo a queria intensamente, ele a fizera hesitar como nenhum outro homem o tinha feito até aquele dia… Lin parecia ver uma luz no fim do túnel, e estava decidida a conversar com as amigas de Murata, a fim de lhes pedir conselhos sobre a decisão que tanto desejava tomar.

De repente, em meio a tantos pensamentos, Lin e Kirara sentiram um poderoso youki se aproximar e se detiveram imediatamente. Ao reconhecer aquela energia, a jovem se pôs demais receosa.

 

*      *      *

 


Notas Finais


♪ Música tema do capítulo: "Angelica" (acústica), by Anathema ♪


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