PARTE 5 ▪ NOS CAMINHOS DE ONO-AOKI
Os sentimentos de Emi
Na noite daquele mesmo dia, Sayo não dormiria em sua habitação.
─ Posso entrar?
─ Claro que pode! ─ respondeu, Lin, surpresa, ao ouvir a voz da parceira à porta de sua morada ─ Aconteceu alguma coisa?
─ Não… Vim para saber se você está bem.
─ Tenho que ficar, não tenho escolha.
─ Não, você não tem. ─ concordou, amena ─ Você foi estúpida e preferiu viver aqui, quando poderia ter ido atrás do seu “gentil senhor”, então…
─ Eu não tinha muita escolha, na verdade.
─ Sim, sim… A cegueira, Lorde Sesshoumaru… ─ comentou, já a se sentar no leito, ao lado de Lin, que penteava suas longas madeixas negras com o pequeno pente de madeira ─ Já conheço todas as suas desculpas, Amaya.
─ Motivos justificáveis, na verdade.
─ Motivos justificáveis… ─ zombou, a imitar a voz da amiga.
─ Você diz essas coisas, porque não conhece Sesshoumaru.
─ Vai começar a ladainha…
─ Vou, sim! ─ exclamou, chateada, a interromper o que fazia ─ Ele é frio, mandão, intransigente… Ele odeia ser questionado!
─ Já sei, você já me disse isso.
─ Ele se incomoda com o fato de se preocupar comigo e, pior ainda, com eu ser uma humana! Uma humana fraca e vulnerável, a quem ele tem a missão de proteger! E como se não bastasse, ele ainda é muito ciumento, Sayo.
─ Ah, claro, isso é horrível! É um sinal de que ele não a ama! ─ exclamou, a rir.
─ É sinal de que ele quer me ter sempre embaixo dos pés dele.
─ Mas você ainda continua louca de amor por ele, certo?
─ Viu que meus motivos são justificáveis?
─ Tudo bem, eu entendo seus receios. Você estava preocupada com o príncipe Masuyo e blá, blá, blá… Mas, se você tomou a decisão consciente de ficar aqui, Amaya, não pode agir como agiu mais cedo.
─ Não fiquei insatisfeita com a notícia da nossa parceria, Sayo.
─ Eu sei; e você sabe que não estou falando disso.
─ Acontece que essas restrições de Ono-Aoki me atrapalham quanto ao que eu pretendia fazer, quanto ao que realmente me motivou a ter ficado aqui.
─ Como assim?
Lin não respondeu de imediato, pensou se seria sensato expor suas verdadeiras razões à amiga. Mas, depois de tudo que já lhe havia confidenciado, segredos íntimos e perigosos, os quais deveria guardar a sete chaves, ponderou que poderia confiar na parceira.
─ Sayo… Eu conheço os de Yamashita e Miura, você sabe.
─ Sim.
─ E eu sei que eles são pessoas de bem.
─ Amaya…
─ Eu passei dias em Yamashita! ─ adiantou-se ─ Eu conheci o Senhor Feudal, a princesa, os Samurais de Yamashita… São pessoas excepcionais!
─ Não é o que Masumi-Sama pensa.
─ Eu sei, eu sei… Mas eu convivi com eles e sei do que estou falando. Eu até conheci o Centro de Treinamento de Yamashita!
─ Sério?
─ Sim, eu cheguei a treinar com os Samurais de lá e como próprio Senhor Feudal de Yamashita!
─ Masumi-Sama tem conhecimento disso?
─ Não sei se sabe dos detalhes. Ela sabe que eles são meus amigos, deve supor esses pormenores.
─ Não sei onde você quer chegar, Amaya…
─ Bem… ─ iniciou, após o forte suspiro ─ Minha intenção é descobrir o que realmente houve para que os Clãs se tornassem rivais.
─ Quê? ─ perguntou, descontente.
─ Eu quero entender por que os de Yamashita e Miura nos têm como inimigas, quero saber por que eles nos caçam e por que nós não fazemos o mesmo, e apenas fugimos deles.
─ Amaya…
─ Eu estou entre os dois Clãs, Sayo, eu conheço as duas realidades! Eu sei que nós, Aokis, buscamos a justiça, assim como sei que eles também são pessoas justas e de bem! Eu não posso simplesmente aceitar essa situação!
─ Céus… ─ murmurou, Sayo, preocupada.
─ A verdade é que nem mesmo Masumi-Sama consegue explicar por que logo eu, que os conheço e os amo, vim parar aqui, em Ono-Aoki. Mas eu tenho uma ideia e, sinceramente, acho que ela também tem a mesma suspeita.
─ Então, você acha que pode resolver tudo? ─ perguntou, Sayo, seriamente ─ Você acha que pode solucionar a rivalidade entre os Clãs? É isso mesmo?
─ Não acho que posso solucionar, mas acho que devo fazer algo a respeito.
─ Você acha que DEVE? Você não tem uma vida própria para viver? É isso que está me dizendo? ─ questionou, insatisfeita ─ Você acha mesmo que está aqui, para resolver os problemas dos outros, problemas dos quais, aliás, você desconhece completamente a origem?
─ São nossos problemas agora, Sayo.
─ Tenha dó, Amaya…
─ Você não compreende…
─ Não, eu não compreendo! E acho que você está ficando doida!
─ Não posso ficar com Lorde Sesshoumaru, porque ele não me quer ao lado dele; Não poderia ficar com Masuyo, porque ainda amo Sesshoumaru, e porque temo que ele faça algum mal a Masuyo e aos meus amigos; Não poderia voltar para Murata, porque descobririam que estou cega, e porque não quero ser motivo para mais brigas entre os irmãos…
─ E foi assim que você concluiu que deveria permanecer em Ono-Aoki, para resolver o problema da rivalidade entre os Clãs…
─ Não fale como se eu tivesse agido de forma estúpida, Sayo…
─ Tudo bem, eu não falo. Mas é o que penso.
─ O que eu deveria ter feito, então? Diga-me!
─ Ter lutado por sua maior certeza: o amor que sente por Lorde Sesshoumaru.
─ O quê? ─ questionou, reprovativa.
─ Você o ama, Amaya! Você é louca por ele!
─ E somente por isso eu deveria ter ido atrás dele? E eu que estou ficando doida…
─ Você não entende…
─ É você quem não entende! Sesshoumaru não me quer ao lado dele! Ele me despreza! Ele me abandonou! Ele odeia o fato de ser meu Guardião, e até acha que eu me envolvi com Itilus!
─ Amaya…
─ Ele odeia o que sente por mim, Sayo, essa é a verdade, ele já me disse isso! Eu jamais iria atrás dele, menos ainda depois de tudo o que aconteceu em Nakano!
─ Você acha que ele a desrespeitou…
─ E não?
─ Eu acho que ele a teria desrespeitado, se tivesse ido adiante.
─ Não… Eu não estou ouvindo isso…
─ Ele nem mesmo a beijou, Amaya! Você faz ideia do significado que tem isso?
─ Claro que sim, que ele tem nojo de mim!
─ Claro que não, sua idiota!
─ Você sequer o conhece…
─ E nem preciso conhecê-lo! ─ exclamou, convicta ─ Responda-me uma coisa: o que você sentiu, quando beijou o príncipe de Miura?
─ O quê?
─ Responda!
─ Um beijo não quer dizer tanta coisa assim.
─ Então, você queria tanto se casar com o príncipe de Miura a troco de nada?
─ Acontece que o que houve entre Masuyo e eu tem outra significação! Não quer dizer que eu o ame ou que ele me ame!
─ Então, você pretendeu se casar com Masuyo, somente por se sentir atraída por ele?
─ Essa não é a questão, Sayo! O que tem a ver o beijo de Masuyo com o que Sesshoumaru me fez em Nakano?
─ A questão é exatamente o que ele não fez, sua tonta! Apesar de todos os excessos, Lorde Sesshoumaru não a beijou e nem violou o seu corpo!
─ Em prova e sinal definitivos de que ele não me deseja como mulher!
─ Você poderia pensar dessa forma, se não considerasse o que houve depois.
─ Ele ter me abandonado? Nossa, ele me ama de verdade!
─ Ele parou imediatamente! ─ contestou, meio impaciente ─ Bastou que você lhe dissesse o que sentia, para que ele interrompesse o absurdo ao qual a estava submetendo!
─ Você e suas teorias…
─ Quando se ama alguém de verdade, Amaya, o beijo é a primeira grande conquista. Ele não estragaria esse momento, acredite.
─ Por outro lado, quando não se ama de verdade, nem mesmo se cogita um beijo.
─ Se Lorde Sesshoumaru não a amasse de verdade, ele a teria feito de gato e sapato.
─ Quanta sutileza…
─ Lorde Sesshoumaru é um youkai, não é?
─ Sim, ele é.
─ Demônios têm os sentidos muito mais apurados que os nossos, Amaya. Eles sentem o cheiro do nosso corpo, da nossa fertilidade… Você faz ideia de como isso pode excitá-los?
─ Sim, eu faço.
─ Então, você sabe muito bem que o instinto dele é animal, não humano! Acha mesmo que sairia viva daquelas investidas, se ele não amasse você realment
? Não seja ingênua…
─ Sayo, preste atenção… ─ pediu, Lin, cansada daquela conversa ─ Eu sei exatamente o que Lorde Sesshoumaru sente. Mas a questão é que ele odeia intensamente o que sente por mim. Para ele, amar, desejar e ter que proteger uma humana são coisas humilhantes, entende?
─ Sim, mas…
─ Eu não posso me rebaixar desse jeito! Não posso correr atrás dele, por mais que eu o ame e por mais que o deseje!
─ Eu entendo que você deva se valorizar e se amar mais, Amaya…
─ É o que você sempre me diz!
─ Mas eu também acho que você e Lorde Sesshoumaru poderiam estar vivendo outra história.
─ A história que eu sempre quis viver, mas que ele abomina.
─ Amaya…
─ Minha mãe tinha razão… Amar um youkai é tão difícil quanto ser amada por um youkai… E quando são os dois casos ao mesmo tempo, então…
─ Eu só acho que vocês dois poderiam se entender, porque vocês se amam.
─ Mas, para que isso desse certo, eu teria que obedecê-lo o tempo inteiro, ser quem eu não sou e fazer o que não posso. Sempre que Sesshoumaru e eu tentamos nos entender, acabamos ainda mais afastados.
─ Por puro orgulho!
─ Não é tão simples assim, Sayo…
─ E simples é por em prática esse seu plano absurdo de promover a paz entre Ono-Aoki e Miura?
─ Bem… No momento, é a única solução que vejo, diante do que sou agora, uma Aoki. Eu ainda quero tê-los como amigos.
─ Eu não sei o que você está pretendendo fazer, Amaya… Não sei quais planos mirabolantes essa sua cabecinha está bolando… Só acho que você deve tomar muito cuidado.
─ Você vai me delatar, parceira?
─ Olhe a minha cara de quem vai fazer isso…
─ Eu tomarei cuidado, Sayo, não se preocupe.
─ Você é tão desajuizada… Como não vou me preocupar?
─ Eu vou ficar bem. Nós vamos ficar bem, parceira.
O controle de Masumi perante as súditas não era, na verdade, a maior de todas as preocupações de Lin. Depois da reunião que ela e Sayo tiveram com a Líder, Aoi lembrou a jovem de sua importante tarefa para com a Tenseiga, e aquele passou a ser o novo tormento da Bruxa Cega de Ono-Aoki; de modo que, depois que ela e a parceira despertaram e cumpriram as obrigações matinais do Clã, recolheram-se, com a híbrida, a um ponto mais isolado da floresta Aoki, a fim de estudarem melhor a situação.
─ Você precisa encontrar um meio de capturá-los.
─ Mas eu não tenho ideia de como fazer isso!
─ Não tem? Somente você pode descobri-lo, já que sabe como conjurar os Espíritos!
─ Sim, mas…
─ Além disso, você precisa estudar melhor a Joia.
─ Já o fiz inúmeras vezes, Aoi… ─ respondeu, cansada ─ A única coisa que consegui perceber, pelo som que ele faz ao ser tocado, é que possui um espaço vazio.
─ Provavelmente, para aprisionar os Espíritos.
─ Não me diga!
─ Pois deixe o seu sarcasmo de lado e olhe para dentro de si mesma. Talvez, você consiga descobrir um método eficaz para capturá-los.
E tão logo, Sayo e Aoi veriam a jovem se concentrar, para, depois de um tempo de meditação, entrar em transe. Não era segredo, para nenhuma das duas, o meio ao qual Lin estava recorrendo naquele momento.
─ Aoi… ─ iniciou, Sayo, não muito certa sobre se deveria conversar a respeito daquilo ─ Por que Amaya precisa fazer isso?
─ Para que possa usar o poder dos Elementos da Natureza mais facilmente, sem precisar conjurá-los através do Artefato.
─ Mas ela não poderia associar esse Diamante a outra arma?
─ Não.
─ É que a Tenseiga é de Lorde Sesshoumaru…
─ A Tenseiga pertencia a ele, na verdade.
─ Amaya me disse que a Espada é dele, que é uma herança de família.
─ Uma herança com a qual ele tinha a Missão de proteger sua parceira, Sayo.
─ Sim, ele abandonou a Missão, mas…
─ A Tenseiga, agora, será a arma de Amaya. Com ela, sua parceira poderá lutar com mais desenvoltura, proteger-se do perigo e até mesmo de Lorde Sesshoumaru, se for preciso.
─ Amaya não está muito satisfeita com a manipulação, Aoi, e eu também não acho isso sensato.
─ É necessário.
─ Isso só criaria mais desavenças entre eles.
─ Eles já estão separados.
─ Mas isso os distanciará ainda mais!
─ Agora.
─ Agora?
─ Depois, isso os unirá ainda mais.
─ Você fala como se conhecesse o futuro, Aoi… E isso muito me assusta.
─ Eles vão se entender qualquer dia desses, não se preocupe.
─ Eu torço por isso, você sabe. Apesar de não conhecê-lo, acho que as atitudes de Lorde Sesshoumaru são de quem realmente ama.
─ Você tem toda razão.
─ Tenho? ─ perguntou, instigada.
─ Todo caminho que Amaya trilhar a conduzirá novamente a Lorde Sesshoumaru. Até você, que acha que está em Ono-Aoki por razões particulares, está contribuindo para isso.
─ Estou?
─ Você sempre conversa com ela sobre Lorde Sesshoumaru, você acredita no amor verdadeiro que ele sente por ela… Tenho certeza de que Amaya se lembrará de suas palavras mais tarde.
─ Do jeito que as coisas aconteceram, parece que eles nasceram um para o outro… ─ investiu, mas não obteve resposta alguma da híbrida ─ Eu realmente espero que isso não demore a acontecer, Aoi.
─ E eu espero que você também me ajude a protegê-la.
─ Não é essa a minha mais nova Missão no Clã?
─ A mais nova?
─ Não a compreendo.
─ Veja… Ela está despertando.
Sayo ficou instigada com as palavras de Aoi; mas, assim que viu a amiga abrir os olhos, voltou sua atenção à jovem.
─ Preciso encontrar um meio de Conjurar todos os Espíritos de uma única vez.
─ E por que tem que ser dessa forma? ─ perguntou, a parceira.
─ Se eu conjurar um por vez, o primeiro espírito a ser capturado ocupará todo o espaço da Joia, e eu preciso do poder de todos, não apenas de um.
─ E você sabe como capturar todos de uma vez? ─ perguntou, Sayo.
─ Terei de fazer isso em um Ritual Energético.
─ Nesse caso, nós vamos precisar da ajuda de todas as Bruxas, inclusive das habilidades de nossa Líder, Amaya.
─ E o que estamos esperando?
Pouco tempo depois, as recém-aceitas já estariam a conversar com a Líder do Clã.
─ Claro que podemos ajudá-la, Amaya! ─ assegurou, Masumi, animada com o que estava por vir ─ Mas não acredito que o uso de Magia Negra seja viável para este fim.
─ E por que não seria?
─ Se usar esse tipo de energia contra os Espíritos, e se você capturá-los sob tal circunstância, a energia usada para prendê-los, suponho, também ficará presa dentro da Joia. Assim, é bem possível que os Espíritos possam dominar você, quando usar a Espada.
─ A tentativa de dominação acontecerá naturalmente, Masumi-Sama. Aoi me explicou que, quando se aprisiona um Espírito da Natureza, é preciso ser forte o bastante para controlá-lo, pois ele vai querer se libertar. Se eu for fraca, eles me dominarão, usarão o meu corpo e assumirão o controle. É assim que eles conseguem “se libertar” do enclausuramento.
─ E você é suficientemente forte para dominá-los, Amaya?
─ É o que iremos descobrir.
─ Não gosto dessa incerteza, mas… Se é o que Aoi está lhe orientando a fazer…
─ Então…
─ Sim, nós faremos o Ritual.
─ Arigatou, Masumi-Sama.
─ Mas sem Magia Negra. Não quero potencializar a ação dos Espíritos sobre você, após a manipulação. Você terá de fazer isso sozinha, Amaya, utilizando as suas habilidades.
─ Se a senhora achar melhor…
─ Eu não tenho dúvida, Aoki.
─ E quando podemos realizar o Ritual?
─ Rituais funcionam melhor à noite. Receio não estarmos em dias favoráveis. Melhor esperarmos a próxima lua cheia.
─ Aoi disse que não devo tardar na realização dessa manipulação.
─ Então, que seja daqui a oito dias. Será noite de lua nova, que também é propícia para Rituais Energéticos. Nós daremos um jeito de iluminar o ambiente.
─ Tudo bem, então.
─ Será preciso prepararmos o lugar e as Bruxas. Será um evento e tanto em Ono-Aoki.
─ É impressão minha, ou a senhora está bastante animada?
─ É a minha chance de conhecer melhor o poder da minha Aoki usuária de Magia.
─ Claro… ─ respondeu, Lin, resignada.
─ Temos tempo de sobra para nos preparar.
A semana transcorreria depressa, mas não para Lin, que se via demais ansiosa em cumprir aquela desafiadora tarefa; nem para o Guardião do Mundo dos Vivos, que não encontrava uma pista sequer do paradeiro de sua protegida; e nem mesmo para os de Murata, que também se viam preocupados com o sumiço da jovem.
Cinco dias antes do Ritual em Ono-Aoki, Sango e Miroku chegariam ao vilarejo, de regresso de Shimizu, e não trariam boas notícias.
─ Nenhum sinal dela, pessoal. Assim que recebemos a mensagem de vocês, deixamos Shimizu e partimos com Kirara em busca de Lin. ─ informou, Miroku.
─ Procuramos nos vilarejos e feudos da área sul e não encontramos nenhuma pista. Na volta, inclusive, passamos por Kobayashi e também não encontramos nada.
─ Na verdade, querida, havia indícios de luta na área do poço.
─ Luta? ─ instigou-se, Inuyasha.
─ Mas não dá para saber quem lutou, Miroku.
─ Mas Lin tem uma conexão com aquele lugar, querida.
─ Isso não garante nada! ─ exclamou, a esposa, chateada.
─ Fico a me perguntar se não terá sido obra da ave novamente. ─ insistiu, Miroku ─ E se Sesshoumaru está procurando por Lin também, eu tenho quase certeza disso.
─ Não acho que tenha sido a ave.
─ E por que não poderia ser, Kagome?
─ Miroku… A energia de Lin não desapareceu como da vez em que ela foi selada em Ishikawa. Apenas não estamos conseguindo localizá-la.
─ Neste caso, Lin está se escondendo de propósito! ─ exclamou, Sango.
─ Mas de quem?
─ De todos! Do príncipe, de Sesshoumaru, de nós… Vai saber o que se passa na cabeça daquela menina! ─ reclamou, a Taijiya, já a se afastar do grupo ─ Quer saber, eu vou descansar! Estou exausta da viagem!
─ O que foi que deu nela, Miroku? ─ perguntou, Inuyasha, após a partida de Sango.
─ Kohaku.
─ Aconteceu alguma coisa? ─ preocupou-se, Kagome.
─ Ele ouviu uma conversa nossa e acabou descobrindo que Lin havia desaparecido novamente. Decidimos não lhe falar a respeito, mas ele nos surpreendeu, enquanto Sango e eu conversávamos.
─ Essa não…
─ O pior é que, agora que está casado, Kohaku não pode deixar Shimizu e unir-se a nós nas buscas, como gostaria de fazer. Ele está angustiado com a situação e isso tem causado alguns problemas em seu casamento.
─ Pensei que Kohaku tivesse desistido de Lin.
─ E desistiu, Inuyasha. Mas isso não o impede de estar preocupado com ela. Afinal, ele sempre a amou.
─ Mas ele pode comprometer seu casamento, agindo dessa forma. Sango tem toda razão de estar preocupada. ─ ponderou, a Sacerdotisa.
─ Tanto que está pensando em passar um tempo em Shimizu.
─ Então, vocês irão para lá?
─ Não decidimos ainda, Inuyasha… Mas é bem provável que sim. Caso não seja possível irmos nós dois, terei de ficar em Murata com as crianças.
─ Nesse caso, acho que já sei qual é a verdadeira preocupação de Sango, Miroku…
─ Qual?
─ Deixar você sozinho não é algo seguro.
─ Tem razão, Inuyasha!
─ Até você, Kagome?
─ Vamos entrar. Daqui a pouco o sol irá se por.
Enquanto isso, na Escola de Exterminadores de Shimizu, Emi e Kohaku tentariam se entender.
─ O que há, Kohaku?
─ Não é nada, Emi.
─ Tem certeza?
─ Estou um pouco cansado, só isso.
─ Cansado…
─ O que houve? ─ perguntou, ao notar o descontentamento da esposa.
─ Está preocupado com ela, não é?
─ Emi, por favor…
─ Tudo bem, eu entendo.
─ Você entende? ─ perguntou, surpreso.
─ Eu sempre soube do que sente por ela… Não tenho o direito de questionar sua preocupação, já que aceitei me casar com você, mesmo ciente do fato…
─ Emi…
─ Eu só não queria que isso interferisse tanto em nosso casamento, Kohaku.
─ Querida…
─ Não precisa se justificar.
─ Escute-me… ─ pediu, durante o carinhoso abraço que deu na esposa ─ Eu amo você, Emi… Muito! De verdade!
─ Eu sei.
─ A última coisa que quero é fazer você infeliz!
─ Eu não duvido disso.
─ Sei que não tenho me comportado como deveria… Sei que tenho estado um pouco ausente… ─ admitiu, já a fitar a esposa, mas ainda abraçados ─ Eu só ajo dessa forma, para que você não sofra, para que não se entristeça por me ver tão preocupado com ela…
─ Eu sei…
─ Emi… Não chore… Por favor! ─ pediu, cheio de remorso, a beijar os olhos lacrimosos da esposa ─ Não fique triste assim, querida…
─ Não se preocupe comigo… ─ pediu, após afastar-se.
─ Como não vou me preocupar com você? ─ questionou, receoso quanto àquela ação.
─ Não se importe com demonstrar, a mim, as suas preocupações a respeito dela… ─ respondeu, ainda de costas para o marido ─ Eu disse que ficaria ao seu lado em toda e qualquer situação, não disse?
─ Sim, mas…
─ Aqui estou, Kohaku. ─ disse, já a fitar o esposo com amor.
─ Por que está sempre tentando ser compreensiva? Sei que está com raiva, sei que está odiosa por causa do que está acontecendo!
─ Sim, eu estou! Estou com muita raiva, Kohaku! ─ admitiu, seriamente ─ Mas de que me adiantaria lhe fazer cobranças? ─ perguntou, resignada; e ao silêncio encabulado do marido, aproximou-se novamente ─ Lin está viva, Kohaku… A sacerdotisa garantiu que consegue sentir a energia dela… Então, por favor, não se preocupe tanto! ─ suplicou.
─ O que me preocupa, Emi, é supor que Lin esteja, outra vez, seguindo o caminho errado. Independente do que senti por ela, ou do que… ─ hesitou por um instante ─ Ou do que eu ainda sinta.
─ Kohaku…
─ Incomoda-me saber que Lin, talvez, não tenha feito o que seria melhor para que ela pudesse seguir em frente. Ela me pareceu tão feliz e animada a respeito do príncipe de Miura, não entendo!
─ E você não se incomoda com saber que ela está feliz com outro?
─ Incomoda-me saber que ela está infeliz, apenas isso. Se ela está feliz com Masuyo, ou com quem quer que seja, isso já me basta.
─ Até mesmo se fosse com o youkai?
─ Receio que Lin nunca consiga amar outra pessoa, Emi… Quando ela não tinha absolutamente nada, Sesshoumaru lhe deu tudo de que mais precisava, inclusive a vida. E eu acho que talvez Sesshoumaru nunca tenha amado outra pessoa na vida além de Lin. Mas estou certo de que ele nunca ficará com ela. Pelo que percebi, independente de amá-la, ele parece não gostar de sentir o que sente por ela. Por isso, sequer cogito a possibilidade de que eles fiquem juntos.
─ Você não respondeu à minha pergunta, Kohaku. Eu quero saber se você se incomodaria se Lin e Sesshoumaru ficassem juntos.
─ Faz diferença para você?
─ Não, mas… Talvez, faça diferença para você, já que parece não se importar com o fato de ela estar com Masuyo e hesitar quando eu falo do youkai.
─ Já disse, Emi: Lin me pareceu feliz ao falar do príncipe, mas sempre falava de Sesshoumaru com profunda tristeza.
─ Bem… ─ iniciou, após o longo e desconcertante silêncio que se fez entre ambos ─ Eu vou me recolher agora, Kohaku…
─ Mas já? Sequer anoiteceu ainda.
─ Eu trabalhei muito naquelas porções hoje. Estou cansada.
─ Não vai comer?
─ Mais tarde, talvez.
─ Emi…
─ Está tudo bem… ─ disse, após beijar o rosto do marido ─ Procure não demorar muito, sim?
─ Encerrarei as atividades da Escola mais cedo. ─ prometeu.
─ E eu estarei esperando por você, então… Não se canse muito, sim?
Kohaku lhe responderia apenas com o sorriso encabulado, ciente do que Emi lhe faria àquela noite ─ talvez, o mesmo que atormentaria o juízo do Guardião do Mundo dos Vivos, num tranquilo ponto de uma floresta qualquer, onde ele descansava, após mais um dia perdido de buscas.
─ O senhor é muito grande… ─ sussurrou, Lin, a fitá-lo com riso devasso, após a tentativa frustrada de envolvê-lo completamente em sua boca.
Mas, tão logo, ela voltaria a por à prova a resistência do Guardião, que permaneceria, por um tempo, do modo como estava, parcialmente despido, sentado e recostado ao tronco da robusta árvore, enquanto se embebia de prazer e assistia, extasiado, às carícias libertinas que a protegida lhe fazia com desejo e sem o menor pudor. Vê-la despida, naquele instante, nem mesmo era necessário para excitá-lo daquela forma. O calor de sua boca molhada e o cheiro de sua excitação bastavam para atiçá-lo e mantê-lo refém daquela humana, naquele tipo de intimidade que ele jamais havia permitido à fêmea alguma.
─ Meu senhor… ─ sussurrou, lasciva, a acariciá-lo também com as mãos ─ Eu não vou parar…
E o Lorde logo se levantaria, então, para fitá-la de cima, com seus olhos sérios, mas cheios de desejo, exibindo e segurando seu imponente membro rígido, como forma de consentimento ao que viria em seguida. Após o gozo, ele veria a jovem, ainda de joelhos, fitá-lo com malícia, deslizar a língua sobre o lábio superior, morder o inferior e engolir seu sêmen sem a menor hesitação. Aquela não seria a primeira vez em que ele despertaria naquele estado, após sonhar com a protegida.
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