História Três é melhor do que dois (Taekook - ABO) - Prólogo

Era para ser mais um dia rotineiro e monótono no trabalho de Kim Taehyung. Na verdade, não se espera muitas surpresas quando se trabalha no departamento de recursos humanos de uma empresa. Na maioria das vezes, os dias terminam bem e, apesar de alguns problemas que surgiam do nada, a resolução sempre estava a fácil alcance.

Só que o ômega se deparou com algo totalmente inesperado por si e não sabia dizer exatamente se era um problema, contudo, tinha certeza de que era uma situação que iria desconcertar os seus dias a partir de agora, não só naquela empresa, mas também em sua vida pessoal. E não conseguia definir se isso era bom ou ruim.

Seu lado racional foi completamente deixado de lado quando abriu uma carteira de trabalho qualquer depois de ter feito o mesmo com várias outras, de diferentes pessoas. A quem aquele documento pertence o surpreendeu de tal forma que ele quase deixou o pequeno caderninho cair, de tão fora de órbita que se viu.

Sua boca estava entreaberta, os olhos arregalados e o coração disparado, um frio intenso perpassou pelo seu estômago, o fazendo se contrair. Mesmo tremendo, ele precisou conferir várias vezes se aquilo não era apenas uma alucinação de sua cabeça cansada ou se era de fato real e, consequentemente, uma ironia do destino. Os olhos atentos revezavam entre a foto da pessoa e o nome dela, presentes na primeira página do documento. Ficou perplexo.

De imediato, seu lobo interior se agitou e foi aí que seu lado emocional tomou à frente. Sim, era mesmo verdade, conhecia aquele alfa, e muito bem.

Quem diria que depois de seis anos iria reencontrar Jeon Jeongguk ali, pronto para ser contratado como engenheiro na empresa em que trabalhava?

Se sentiu como um adolescente com todas aquelas sensações malucas que reverberavam pelo seu corpo inteirinho e foi inevitável de sua mente voltar alguns anos atrás, para quando ainda estava fazendo sua faculdade. Piscou atônito, uma chuva de lembranças dos momentos que passou ao lado daquele homem nublaram sua mente enquanto seu coração continuava descompassado em seu peito.

Deus, como sentia falta daquela época!

Sua respiração se tornou pesada de uma hora para outra devido aos sentimentos intensos que chegaram como um turbilhão, mas mesmo assim respirou fundo, ainda segurando a carteira entre seus dedos. Seria mesmo verdade? Céus, mal podia acreditar!

Se esqueceu por completo da realidade quando segurou na sua mesa organizada e impulsionou a cadeira de rodinhas para trás, assustando alguns dos funcionários que trabalhavam no mesmo setor consigo. Suas mãos suavam e seu corpo tremia levemente, seu lobo inquieto o impedia de pensar com clareza, então apenas deixou seus instintos o levarem para fora de sua sala e seguiu o caminho entre as mesas. Muitos funcionários continuavam a trabalhar, alheios ao desespero no coração do ômega. Seu olfato se aguçou e uma onda de cheiros mesclados o deixou zonzo, precisava encontrar e sentir aquele cheiro.

Andou entre os setores, sabendo que ali ele não poderia estar. Foi até os fundos do escritório, indo em direção à copa. Assim que se aproximou, o cheiro forte de menta inundou seus sentidos, seu lobo reagiu instantaneamente e não demorou para encontrá-lo ali, sentado em uma das cadeiras altas, com o notebook apoiado na mesinha e uma caneca de café indo de encontro aos lábios. Taehyung inspirou profundamente e por instinto seu aroma de cereja se intensificou, querendo atrair a atenção do alfa absorto à sua presença e, bom, funcionou.

Jeongguk se virou em sua direção, atentivo, e sua caneca ficou parada no ar. Seus olhos negros se arregalaram assim que reconheceu a pessoa que acabara de entrar na copa e Taehyung achou que iria desfalecer ali mesmo, as pernas vibraram com a tensão que se instalou de repente no ambiente. Seu coração, se possível, descompassou ainda mais do que outrora, a carteira de trabalho permanecia sendo apertada pelos seus dedos trêmulos. Uma onda de choque cruzou sua espinha e um arfar escapou de seus lábios sem nem perceber.

Por Deus, era mesmo Jeongguk ali! Depois de seis anos…

O alfa não havia mudado muito desde a época da faculdade, porém, claro, seus ombros estavam mais largos; seus cabelos negros estavam um pouco mais compridos do que o ômega se lembrava e o penteado não era mais bagunçado e caído sobre os olhos, mas sim dividido, permitindo a visão de sua testa; os lábios continuavam pequenos e cheinhos e Taehyung podia jurar que ainda conseguia sentir o gosto deles em seu paladar. A imensidão brilhante de seus olhos ônix também continuou intacta, fazendo o Kim viajar para longe enquanto os observava.

Ele continuava igual ao Jeongguk que se lembrava, igual ao seu Jeongguk.

Algumas rugas sutis contornavam os olhos do mais novo e o terno caro em seu corpo faziam Taehyung lembrar de que ele não era mais o jovem adulto por quem se apaixonou.

— Ta-Taehyung? — ouviu a voz doce e aveludada de Jeongguk. Sentiu seu corpo tremer e o aroma de menta foi captado por seu olfato com mais facilidade ainda, e sabia que seu cheiro não estava diferente.

— Jeongguk… — sussurrou e engoliu o bolo que se formou em sua garganta, queria chorar.

O alfa se levantou e engoliu a seco assim que viu o mais velho caminhar lentamente até si, os dois não sabiam com exatidão como reagir, as mentes estavam entorpecidas pela surpresa, por isso deixaram apenas que seus instintos tomassem a frente. Taehyung sentia o olhar de Jeon o analisando e sabia que o moreno conseguia ouvir o ritmo desmedido em que seu coração batia, mas isso não importava naquele momento.

O mundo de repente deixou de existir assim que o Kim parou a alguns centímetros do outro, o cheiro de menta estava muito mais intenso agora de perto, fazendo seu ômega lamuriar de saudade, implorando por mais. Nem viu quando impulsionou seus calcanhares para frente, num ato totalmente involuntário, apenas para estar naqueles braços mais uma vez, depois de longos anos.

Nem conseguiu conter um suspiro bobo quando sentiu os braços de Jeongguk lhe contornar a cintura, trazendo seu corpo para ainda mais perto, num enlace apertado, recíproco, cheio de saudades. O mais novo tirou proveito da proximidade e levou seu nariz até o pescoço do ômega, inalando mais do aroma frutado de cereja dele, que ao mesmo tempo que era doce, possuía uma pitada de acidez, proporcionando aquele sentimento gostoso de incitação que adorava provar quando estavam juntos. Foi somente assim que teve noção do quanto sentiu falta de Kim Taehyung e de sua presença acolhedora e atordoante.

Se separaram para fitar um ao outro e um sorriso amplo se fazia presente em ambas as bocas, os dois pares de olhos percorriam cada partezinha do rosto alheio, tentando ler e lembrar das características existentes ali.

— Você voltou para a Coreia. — Taehyung pronunciou num murmúrio aliviado, como se estivesse em êxtase.

— Sim, Tae. — o moreno respondeu, igualmente satisfeito. — Eu não sabia que você trabalha aqui. — comentou, externando partes do motivo de ter ficado tão desconcertado.

— Hm, pois é. — disse tímido ao desviar o olhar para baixo. — Eu peguei sua carteira de trabalho lá no departamento de RH e tive que vir te ver com meus próprios olhos. — e sorriu.

Aquilo provocou uma reviravolta no interior de Jeongguk. Sempre gostou daquele sorriso, mas hoje ele parecia ainda mais atordoante, roubando toda sua atenção. Teve que recobrar a racionalidade, senão acabaria fazendo papel de tolo.

— Você mudou muito. — pontuou, impressionado, e sentiu vontade de tocar o rosto dele com carinho, mas se conteve.

— Já você não mudou nada! — o mais velho riu soprado, apesar de sentir o rubor subindo pelas suas bochechas. Sempre acontecia quando aquele alfa reparava em si. — Eu realmente gostaria de conversar mais, mas estou em horário de trabalho ainda… — lamentou.

— Podemos jantar depois que seu expediente acabar, o que acha? — o Jeon sugeriu, ávido, e temeu demonstrar demais sua vontade de saber como Taehyung passou durante esse tempo todo longe dele.

Entretanto, logo se tranquilizou ao lembrar que, antes mesmo de qualquer outra coisa, os dois homens foram muito amigos, o que trazia fundamento para seu pedido impensado, que mais pareceu como se seu lobo tivesse falado por si próprio.

O ômega em sua frente piscou seus longos cílios algumas vezes e o encantamento fez parecer que tudo ocorria em câmera lenta. Jeongguk observou com atenção a expressão pensativa do castanho, como se ele refletisse sobre a proposta, um sorriso contido estava esboçado em seus lábios.

— Olha, não costumo fazer isso. — foi sincero, sem parecer, necessariamente, presunçoso, apenas soou como alguém com incerteza. — Mas acho que seria uma boa ideia. — e mordeu o lábio inferior, embaraçado.

O alívio que se instalou dentro do mais novo deixou evidente o quão tenso estava, e sequer percebeu! Sorriu abertamente para Taehyung e acenou em positivo com a cabeça.

— Certo, te espero no estacionamento.

Taehyung assentiu, se sentindo como um adolescente repleto de hormônios mais uma vez, seu ômega interno suplicava, pedindo para voltar aos braços do homem à sua frente, mas se reteve, lembrando-se de imediato do alfa que o esperava todos os dias depois do trabalho. E isso foi o suficiente para que a realidade retornasse com força, mas se permitiria aproveitar aquele reencontro.

Após confirmar o que precisava para sair com Jeongguk, Taehyung se despediu meio sem graça, com o coração batendo rápido e um turbilhão de pensamentos invadindo sua mente sobre o jantar que poderia mudar o rumo de seus dias monótonos.