Maika~
Acordei com Mikene me sacudindo de leve.
-Hey, bela adormecida. Acorde.
-Nnh? - Abri meus olhos.
-Se levante. Daqui a uma hora temos que embarcar no avião.
Me sentei.
-Já?
-Sim. - Ela riu. - Vou preparar algo para você. Ela disse e desceu. Me levantei e fui tomar um banho rápido para acordar. Saí e me vesti enquanto descia. Depois de comer, Mikene organizou tudo e ficou à minha espera. Carregava uma maleta cinza de metal, como aquelas dos cinema americano em que eles portavam dinheiro.
Quando estava pronta, perguntei o que havia ali dentro.
-O que você acha? - Ela sorriu.
-Realmente colocou dinheiro nisso?
-Por que não?
-Não será um atrativo para ladrões?
-Talvez. Mas de qualquer forma, vamos indo.
Suspirei e colocamos as malas no táxi. Mikene preferiu não ir de carro, já que teria que pedir para levarem-no de volta, e ninguém podia dirigir seu carro senão ela mesma. Não demoramos a chegar no aeroporto. Sentamos e pouco depois embarcamos. Mikene apenas estava quieta. Eu observava a janela, que ela encarava sem muita emoção.
-Quando vai me contar sobre seu passado?
Ela me olhou.
-Está tão curiosa assim? É uma longa história.
-Tenho tempo.
Deitei sobre seu colo.
-Quando eu era criança, eu vivia feliz. Meus pais se amavam muito. Éramos uma linda família. Mas um dia, minha mãe apareceu grávida. Não sabia de quem era o filho. Mas meus pais tinham uma vida sexual ativa, então não era de se estranhar. Mas a minha mãe foi piorando conforme os meses da gravidez avançavam. Ela ficou doente. Meu pai ia trabalhar, e eu deixei a escola para cuidar dela. E quando os nove meses se completaram, ela deu à luz a um garoto, mas não resistiu. Ela morreu. E esse garoto era Eiichi. Loiro de olhos verdes. Minha mãe nem o meu pai eram loiros. Mas meu pai tinha olhos verdes sim, apesar de no fundo saber que o filho não era seu. Ele não gostava de Eiichi. E não demorou até o verdadeiro pai vir buscá-lo. A partir daí, meu pai enlouqueceu. Foi quando começou a abusar de mim. Eu voltei à escola para ter menos tempo em casa. E os anos passaram, e aquilo continuava. Eu me odiava, tinha nojo de mim mesma. A cada banho minha pele ficava vermelha do vigor do qual eu utilizava para me esfregar. Até que eu fugi. E conheci Yamato. A essa altura, Eiichi tentava se comunicar comigo, queria ajudar. Eu sabia que a culpa não era dele, mas foi por causa desse bebê que a minha mãe morreu. - Ela fez uma breve pausa. - Você sabe a história do Yamato. - Concordei com uma aceno de cabeça. - E então eu parei de estudar denovo. Até algum tempo depois eu ouvir que meu pai havia se suicidado. Ele deixou um testamento no qual tudo ficava para mim. Mas eu tinha apenas 17 anos. Eu não podia tocar em nada. Então eu voltei para casa e comecei a estudar lá mesmo. Entrei numa escola para constar o meu ensino completo, mas eu já sabia tudo. Completei dezoito e pude pegar o dinheiro. Resolvi fazer faculdade. Foi quando conheci o Ryan. Ele era apenas um garoto popular, amigo de todos. Menos meu, claro. Ele iria experimentar as drogas. E eu havia dado um belo chute em sua mão. Gritei com ele. Sabia que ele estaria cometendo um erro. Mas no fim do curso, eu era uma viciada. Conheci o Hikaru quando fumava, sozinha. Ele passou a mão na minha cabeça, e me ajudou a lutar contra aquilo. Namoramos por alguns anos e nos separamos. Nunca mais voltei a vê-lo, até conhecer a Mart. Eu já era famosa por derrotar qualquer um. E nos tornamos amigas. Ela até me buscou na faculdade um dia. Mas eu comecei a me apaixonar. E ela me usava a seu favor. Mas no fim, ela apenas via o Hikaru. Foi quando eu fiquei tão abalada que bebi e depois fui procurar por ele. Estava consciente do que fiz. Mart chorou por todos aqueles anos, e eu voltei a fazer favores para o pessoal dela. E naquela balada, eles haviam me pedido para ir atrás de uma garota. Mas eu te encontrei. - Ela sorriu. - E nesse meio tempo eu já havia namorado várias garotas. Quando eu era mais nova, pouco antes de me envolver com a morte do Hikaru, conheci Ally. Era uma garota incrível. Seu físico era de tirar o fôlego. E eu me envolvi com ela, foi quando quase aceitei entrar no ramo dela, apenas para podermos ficar juntas toda noite. Mas ela já era produto usado. E seria uma prostituta até hoje... Não é porque foi ela que assumiu a culpa do assassinato do Hikaru. Cogitei tirá-la de lá. Mas aquela noite que tivemos depois da balada ocupava minha mente a todo momento. Acabei esquecendo. Então ordenei ao meu confidente que pesquisasse e lhe procurasse. Inclusive, a foto que Martini encontrou nas minhas roupas para ir atrás de você foi da noite que tivemos. Oh, sim, que foto. - Ela suspira ao se lembrar da foto.
-Que foto? - interrompi. Ela pegou seu celular. Procurou pela foto e me mostrou. Corei. Eu estava fazendo uma cara envergonhada, de como quem estava sentindo um prazer imenso, meu vestido estava bagunçado no meu corpo.
- Que espécie de foto é essa?! - Digo.
-Você estava muito bonita. Não pude deixar de tirar. Sem contar que estava gostando naquela noite. E como não se lembra... Não há o que fazer. - congelei.
-Você vai me contar o que houve. - Digo. Ela ri.
-Talvez.
-Mikene... - choraminguei.
-Em um momento mais privado.
-Tá...
-E ele te encontrou. Para minha surpresa, era filha de um dos meus amigos de negócios. Entrei na sua escola e tentei te conquistar.
-Passei por muitas coisas desde que te conheci. - Digo e começo a brincar com o pingente das letras M.H. douradas na longa e fina corrente no pescoço de Mikene.
-Mikene Hannibal?
-Maika Haruna. - Corrigiu ela. - Sim, você passou por muitas coisas por minha culpa. - Refletiu.
-Confesso que tive medo, e te achava uma louca.
-Você nem nunca ouviu falar no meu lado profissional, a incrível e grandiosa Mikene Hannibal.
-Eu já havia te visto em revistas. Mas não cheguei a saber de fato.
Pego uma revista que a aeromoça ofereceu e a abro.
-Você está em todo lugar, Mikene.
-Desculpe se sou bem sucedida. - Ela ri, meio arrogante. -Em breve nós apareceremos juntas. Mesmo que seus pais não aprovem nosso namoro, eu não te deixarei ir, e te levarei comigo para os eventos da empresa.
Olho ela.
-Não acho que nasci para isso.
-Você estava maravilhosa no evento de comemoração.
-Bajuladora.
-Não bajulo ninguém, é verdade.
-E eu sou apenas uma colegial.
-Não se preocupe. Eu tenho apenas 28 anos.
-E isso é pouco?
-Está me chamando de velha?
-Você vai fazer 30 anos logo, logo.
-Está me dizendo que vai me largar porque sou velha?
-Não distorça minhas palavras.
Ela ri. Ficamos conversando. Uma hora depois todos dormiam. Mesmo Mikene. Eu não sabia como meus pais iriam receber a notícia. Mas não seria bom.
....
.....
Desembarcamos e Mikene estava feliz.
-Voltar à América é muito bom.
-Já veio aqui?
-À negócios, sim. Onde seus pais moram?
-Estão em um hotel, creio eu.
Chamei um táxi. Eles nos levou e descemos.
Na recepção, pergunto à garota se meus pais estavam naquele hotel.
-Sim, eles estão aqui. No quarto 769.
O japonês dela não era dos melhores, e apesar de saber falar inglês, sou bem mais o japonês.
Subimos e eu entrei no quarto deles. Mikene foi para o nosso quarto.
-Maika! Senti sua falta! - Minha mãe exclama, feliz em me ver. Eu a abraço.
-Também senti a sua. Vim aqui para conversar sobre o Eiichi. Então vamos sair para jantar hoje à noite. Vamos nos encontrar no restaurante que preferirem.
Meus pais se entreolharam.
-Como quiser. - Meu pai diz. Eu o abracei.
-Posso escolher? - Minha mãe sorri.
-Claro. Hoje vocês não pagam.
-Se precisarem, batam no 698.
-Certo, querida.
Voltei ao quarto e Mikene estava na cama.
-Essas camas são melhores que a minha.
Eu ri.
-Não é verdade.
Conversamos e depois damos uma volta. De noite, já pronta, eu estava apreensiva.
-Espero que sinceramente, não haja muito drama.
Mikene riu.
-Também estou nervosa.
-Você?
-Sim. Muito. Afinal, são seus pais. Queria poder ter tido a oportunidade de te apresentar aos meus. Sei que eles iriam te adorar.
Sorri. Entrelacei meus dedos com os de Mikene e fomos. Meus pais esperavam, animados. Ela me deu um último sorriso muito gentil e nós entramos. Ela está sempre tão linda. Meus pais pareceram surpresos. Especialmente o meu pai.
-Hannibal?
-Olá, senhor. Já faz um tempo. Prazer em conhecê-la, Sra. Haruna.
-...O prazer é todo meu. - Ela trocou um sutil beijo na bochecha e um abraço com minha mãe, e um aperto de mão vigoroso com meu pai.
Respirei fundo.
-Pai, mãe... Mikene é a minha atual namorada.
Meu pai arregalou os olhos, e minha mãe exclamou um oh! e tampou a boca logo depois.
Era uma sala privativa, então não havia problema.
-Como demonstração de minha felicidade por conhecer a Maika, estou oferecendo este jantar. - Mikene diz. Gentil, mas firme em suas palavras. - Infelizmente eu já não possuo mais uma família, mas que não seja por isso, tenho certeza de que meus pais estariam muito felizes de saber que eu estou com alguém tão maravilhosa como a filha de vocês.
Meus pais apenas concordaram com um aceno de cabeça. O garçom entrou e perguntou em um inglês meio italiano o que iríamos pedir. Apesar de estarmos diante de uma iminente desaprovação, Mikene não se abalou nem um pouco. A sua compostura em tal situação fez com que eu me mostrasse determinada também. Após o jantar, nos juntamos, eu e meus pais, em uma pequena sala que havia nos quartos.
-Maika... Minha filha...
-Não precisa nem começar. - Digo e suspiro. - Mikene é o que eu quero para mim, ela é gentil, educada, me leva para muitos lugares, eu a amo do fundo do meu coração. Não prefiro seu meio-irmão, Eiichi Hannibal, que agora é o Eiichi Shinyashiki. Estou feliz com ela, e mesmo diante da desaprovação de vocês, eu não irei desistir. - Digo, séria.
-Não posso aceitar isso, Maika. - Meu pai diz, firme.
-Pai, não tereremos só uma garota muito bela e bem educada em nossa família, mas também poderá fazer uma parceria com a Sena Productions.
-Uma filha lésbica é demais para mim. - Ele diz. Olho minha mãe.
-Você também pensa assim? - Tento manter meu tom de voz firme. Mikene cobre meus olhos. Não a vejo, mas sei que é ela. Ouço seu suspiro leve. Acaricia minha bochecha. Ela estava com seus habituais saltos de 10 cm.
-Sr. E Sra. Stanley. Não irei colocá-los contra a parede, falando sobre como são homofóbicos. Eu não jogaria tão baixo com a família da garota que eu amo. - Ela sorri de um jeito um pouco cruel. - No entanto, a sua atitude é desprezível, para o dono de uma empresa que fez uma propaganda de seus produtos contra essa questão. E hipocrisia é uma coisa que me enoja profundamente. - Ela fica séria. Meu pai parece nervoso.
-Não dissemos nada a respeito de proibir Maika.
-Não, mas eu sei que tinham isso em mente. É um direito de vocês. São os pais dela, devem saber o que é melhor para ela e ela é menor de idade. Mas isso é apenas um pretexto. Vocês colocam a felicidade da sua filha abaixo de seus princípios do que acham "certo" ou "errado"?
Minha mãe abriu a boca para falar, mas Mikene apenas levantou seu dedo indicador.
-Apenas pensem sobre isso. Quase fizeram a filha de vocês chorar. Estaremos nos retirando por hoje. Tenham uma agradável noite. - Ela diz e sai do quarto. O silêncio reina por ali. Entramos no nosso quarto e ela me abraça.
-Acho que eu iria chorar primeiro que você se eles tivessem dito. - Mikene suspira.
Meiko Haruna Stanley~
Estava irritada. Aquela tal de Hannibal acha que pode tudo.
-Essa mulher... - Eu digo, cerrando os dentes.
-Mulher mesmo. Ela tem quase 30 anos com aquele rosto.
-TRINTA?! - grito.
-Sim.
-Você sabe que não podemos deixar isso assim.
Akihiko ergue as sombrancelhas.
-O que pretende, Meiko?
-Você verá.
Me lembro da primeira vez que segurei a minha pequena Maika. E eu serei a única mulher em sua vida além de suas amigas. E essa tal de Mikene não poderá ser nem ao menos uma amiga. Aliás, ela deveria ser um zero à esquerda na vida da minha pequena e doce Maika.
Me aguarde, Hannibal.
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