POV Giovanna
Não demorou muito para que uma pequena aglomeração se formasse ao redor de Alexandre. Otaviano, Rodrigo, Alessandra, Karen e até Leonardo apareceram para ver o que estava acontecendo. Meu chefe, por outro lado, parecia se incomodar muito mais com a atenção que estava chamando do que com a própria dor, não me chocava já que era extremamente reservado.
Poucos minutos se passaram até trazerem uma prancha de socorro, Rodrigo e Otaviano ajudaram a colocá-lo em cima e por sorte a enfermaria do clube não ficava muito longe de onde estávamos. Enquanto era atendido, eu esperava sentada ao lado de fora da sala com a preocupação me consumindo, me culpando até a alma, porque ele estava se esforçando para me ensinar algo e eu só o machuquei.
Quando as coisas finalmente estavam dando certo, eu tinha dado um jeito de estragar tudo.
—Por que essa preocupação, Karen?—Ouvi uma voz distante, que identifiquei como a de Leonardo, um tanto exaltada.
—Que pergunta é essa? Pode ser algo sério.—Karen respondeu.
Curioso, eu levantei e segui as vozes pelo corredor, parei atrás de uma coluna onde os dois não podiam me notar, mas eu conseguia ver nitidamente os dois se encarando com olhares conflituosos.
—Sim, mas qual o sentido de ficar com essa cara de choro? —Ele reclamou, deixando claro o que eu já desconfiava, estavam falando de Alexandre.—Como se ele fosse alguém importante para você.
—Ele é importante, Leo, ele é seu irmão e eu o conheço desde quando éramos crianças, qual o seu problema? —Karen empurrou o ombro do noivo com força, me deixando
boquiaberto.—Alexandre pode ter se machucado sério e tudo graças a essa desastrada que ele chama de noiva.
Se eu não tivesse bisbilhotando os dois, com certeza o xingaria em voz alta, mas por enquanto tenho que me contentar em fazer isso somente no pensamento.
—Você não me engana, mas não se esqueça que foi a mim que você escolheu e é comigo que você vai se casar.
Não me espanta o ciúmes que Leonardo sente da noiva com o irmão, isso porque eles já namoraram quando mais jovens, entretanto, Karen fez uma escolha e isso devia ser o suficiente para ela ter certeza de que a noiva o amava, não é?
—Assim como você meu irmão também está noivo, não preciso refrescar sua memória, preciso?—Leonardo se aproximou perigosamente de Karen, olhando furiosamente em seus olhos.
—Não.—Respondeu, carregando a mesma expressão enraivecida do outro.
—Pega suas coisas, nós vamos para casa.—Deu um passo para trás, dando espaço para que a moça pegasse seus pertences em cima da cadeira ao lado.
—Mas...
—Mas nada, Karen. Vai logo!
Mesmo contrariada, Karen agarrou sua bolsa e o casaco com certa brutalidade e saiu andando em passos firmes para o lado oposto de onde eu estava, Leonardo suspirou alto, sem tardar em seguir a mulher.
Saí dali ainda assimilando o que tinha presenciado e teria me perdido no labirinto de corredores semelhantes se não tivesse avistado Otaviano em frente a sala onde eu estava anteriormente.
—Estava te procurando, por onde esteve?—Ele me olhou com uma feição de desconfiança exagerada, chegando a ser engraçada.
—Pensando.—Inventei uma desculpa esfarrapada, não ia assumir que estava bisbilhotando.
—Não estava traindo meu amigo, não é?—Eu ri.
—Não fale besteiras.—Então lembrei o real motivo de estarmos ali.—Onde ele está? - Perguntei, preocupada.
—Ele está bem, vem.—Me chamou e eu o segui com pressa.
A primeira coisa que vi quando entrei no quarto foi ele, estava sentado em uma maca hospitalar com a perna apoiada em duas almofadas empilhadas. Sua calça tinha sido cortada apenas no lado esquerdo,revelando em sua coxa um roxo não tão intenso, mas grande o suficiente para que o sentimento de culpa e preocupação me atingisse mais forte do que nunca.
Só então percebi Luiza parada ao seu lado, afagando seu cabelo sedoso sutilmente, e por míseros segundos senti inveja dela, desejando estar em seu lugar, compensando a dor que lhe causei. Fernando estava do outro lado da sala, conversando com o médico sobre algo que eu não dava a mínima.
—Oi, querida.—Luiza foi a primeira a falar, chamando minha atenção.
—Oi.—Disse baixinho, quase como um sussurro.—Alexandre, me desculpa, eu juro que...
—Giovanna, já conversamos sobre isso, pare de pedir desculpa.—Ele pediu, então procurei em seu rosto qualquer traço que demonstrasse raiva ou qualquer coisa parecida, mas sua expressão estava calma e sem nenhum sinal de dor.
Adentrando o quarto eu fui para o lado oposto de onde sua mãe estava e segurei sua palma com ambas as mãos, alternando o olhar entre seu rosto e a mancha destacada na derme branquinha da sua coxa.
—Como está se sentindo? Muita dor?
—Ele vai ficar bem.—O médico foi quem respondeu.—Por hoje vai precisar aplicar uma compressa de gelo a cada duas horas e o repouso é de 24 horas, em caso de dor você pode massagear a área com a pomada que receitei. É bem raro, mas se a mancha não sumir ou a lesão ficar rígida no intervalo de duas semanas você precisa procurar um pronto socorro para drenar o sangue que o corpo não absorveu.—Ele parecia direcionar os cuidados de Alexandre a mim, e não ao próprio. Portanto, me senti responsável por seus cuidados quase que instintivamente.—Alguma dúvida?
Quando já estava pronta para perguntar sobre como a massagem deveria ser feita, os avós e os irmãos mais novos de Alexandre invadiram o quarto.
—A gente estava na piscina quando Alessandra nos disse o que aconteceu. Você está bem, querido? - Alice perguntou, preocupada.
—Estou, vovó, foi só uma pancada, nada demais.—Nero a tranquilizou.
—Pancadinha do amor.—Otaviano disse com uma voz aguda, fazendo todos na sala rirem, menos eu e Alexandre.
Eu porque ainda estava preocupada, já ele porque era sério como uma rocha.
—Que susto, Ale, achei que tinha quebrado a perna.—Ana caminhou até ficar do lado da mãe e se inclinou para deixar um beijo casto no rosto do irmão.
—Está tudo bem, nem dói mais.—Ele falou direcionando um sorriso pequeno para a mais nova, mas não demorou para voltar com sua seriedade habitual.
—Que bom, se tivesse quebrado ia andar torto que nem o Lucas.
—Torta é a sua cara, pigmeia.—Lucas rebateu, xingando a irmã.
—Parem de briga, crianças mutantes.
Otaviano e meteu na briga para repreender os menores, o que causou uma revolta ainda maior e quando eu menos esperava o quarto tinha virado um grande palanque para uma briga generalizada. A maioria tentando apaziguar o conflito entre os três, mas o resultado foi um burburinho ainda maior.
Quando olhei para o meu chefe constatei que partilhávamos da mesma expressão confusa, só então percebi que todo esse tempo eu depositava inconscientemente um carinho suave em sua mão que nem ele mesmo parecia notar, de algum modo isso realçou a vermelhidão em minhas bochechas porque minha aversão a parar com aquilo era gigante.
—Até o Alexandre está namorando e você não.—A voz do Lucas saiu elevada quando todos se calaram.
—Hey!—Alexandre e Otaviano exclamaram ao mesmo tempo, ofendidos.
—Chega dessa discussão boba, o Alexandre precisa descansar e vocês não estão ajudando.—Luiza repreendeu.
—O lado bom disso é que a Gio vai cuidar do Ale.—Ana falou com uma voz mélea, mudando de assunto.
—Verdade, Gio, você fica encarregada de cuidar dele.—Luiza disse, me deixando sem graça.
Eu vi na cara de meu chefe que ele ia recusar qualquer cuidado que eu o oferecesse, porém tudo o que eu fiz foi sorrir, prendendo a respiração antes de me atrever a deixar um selinho em sua bochecha.
—Pode deixar.
—Bom, já que está tudo resolvido e não foi nada grave, acho melhor irmos para casa. Hoje foi um dia de muito sol, mas a previsão diz que vem muita chuva ao anoitecer, melhor pegar estrada antes que o céu caia sobre nossas cabeças.—Bento, que estava de pé próximo a cama, afagou a perna de Alexandre ao nos informar, tirando um meio sorriso do neto.
Apesar de estar com o cabelo desgrenhado e sem seu costumeiro terno de grife, não lembro de ver meu chefe tão bonito quanto hoje.
—Tempestade no verão?—Ana perguntou, atraindo minha atenção.
—Isso é normal. Seu bisavô costumava dizer que calor demais atrai chuva.—O mais velho explicou.
E desejei no fundo do coração que ele e a previsão estivessem errados.
…
—É surreal! Eu estou dirigindo seu carro. —Empolgada, eu pulava como uma criança no banco de motorista do seu jaguar.
—Vá devagar. —Ele mandou, me olhando sério.
Estávamos a caminho da casa de seus pais. Como Alexandre e eu fomos ao clube com seu carro, me candidatei a dirigir na volta, já que ele mesmo estava impossibilitado devido ao acidente que causei. Fernando emprestou seu sobretudo para que o filho cobrisse a coxa machucada, e eu agradeci imensamente por não ter uma distração ao dirigir.
É nesses momentos que agradeço imensamente a minha fé na lei da atração, isso porque tirei a carteira de motorista mesmo sem intenção alguma de comprar um carro.
Era contra vontade do meu chefe que eu estava sentado ali, mas quando agarrei o volante ele não pôde mais contestar minha vontade.
Apertei o volante com intensidade quando olhei o tempo à frente e constatei o céu tomado por nuvens cinzas.
Droga! Até no verão?
—Giovanna, diminua a velocidade.—Nero me assustou ao me alertar e quando olhei para o painel, o velocímetro mostrava que estávamos a quase cem quilômetros por hora.
—Perdão.—Pedi diminuindo a aceleração, até um pouco surpresa por não perceber o que estava acontecendo a minha volta.
Então liguei o rádio e troquei as emissoras até achar uma apropriada, tentando relaxar com a música calma que ecoou.
—Pode falar, sou pilota?!—Tentei puxar conversa.
—Hum.—Murmurou com o rosto virado para o lado oposto.
—Acho que esse "hum" foi como um "Você está indo maravilhosamente bem”. Ouvi ele suspirar, talvez cansado das minhas brincadeiras.—Senhor? —O chamei, atraindo sua atenção.
—Diga.
—Você está bravo comigo?
—Não, Giovanna, isso aconteceu quatro horas atrás, deveria esquecer.—Respondeu, ainda me olhando.
—Então não vai descontar do meu salário?—Me diverti com sua cara de indignação ao ouvir minha pergunta, que não passava de mais uma brincadeira. - Desculpa, é que eu adoro ver você me olhar com essa expressão de "Giovanna, eu quero te matar."—Virei à direita como o GPS mandou, vendo que já estávamos na estrada que dava para sua casa.
—Você é estranha.—Acusou.
—Obrigado?! —Ironizei.—Mas mudando de assunto, quando vai ser o casamento do seu irmão?—Já fazia um tempo que me perguntava se iríamos ou não acompanhar o casório e se ele seria realizado dentro dos cinco dias que combinamos ficar.
Entretanto, o arrependimento de fazer tal pergunta me atingiu em cheio quando seu olhar tranquilo ficou carregado e sua mandíbula travou.
Péssima hora.
—Não sei.—Sua voz falhou ao responder.
Preferi deixar ele quieto para não correr o risco de ser expulsa do carro e acabar no meio da estrada pedindo carona. Quando finalmente passamos pelos portões da propriedade e paramos próximo a entrada, Otaviano e Rodrigo ajudaram mais uma vez a levar Alexandre até o quarto e eu estava logo atrás acompanhado de Alessandra, que me chamou para conversar.
…
Narrador
Alexandre sempre odiou chamar atenção, mas todo aquele alvoroço se tornava ainda mais propício para que isso acontecesse. Não culpava Giovanna, pelo contrário, sabia que maior parte da responsabilidade era sua. Porque consciente de que a mais nova era inexperiente no esporte e com medo de que ela machucasse a si mesma, ficou próximo demais durante a jogada. No final quem acabou se machucando foi Alexandre.
Seus amigos, Rodrigo e Otaviano, ajudaram a colocá-lo na cama. Quando sentiu o colchão macio, muito diferente da maca que estava deitado anteriormente, agradeceu pela primeira vez a sua mãe pela cama de casal que a mesma fez questão de colocar em seu quarto.
—Vou falar para a Sra. Yang preparar um chá para você, filho.—Luiza disse, deixando a pomada que tinha comprado para o hematoma do filho na escrivaninha ao lado da cama.
—Obrigado, mãe.—Alexandre agradeceu e a mais velha não demorou a se retirar.
—Então...—Rodrigo começou, sentando no sofá ao lado.—Me conta como Giovanna conseguiu fazer isso com o taco de golfe?
—Não faço a mínima ideia, eu sei que estava perto demais, mas às vezes ela consegue fazer coisas que até eu me pergunto como.—O tatuado respondeu, lembrando da assistente estranhamente maluca.
—Mas o lado bom é que você vai ganhar uma massagem especial.—Otaviano comentou sentando ao lado de Rodrigo, enquanto arrastava a mão uma na outra, maliciando a situação.
Rodrigo riu e Nero apenas balançou a cabeça, inacreditado.
—Que minha mulher não escute isso, mas Giovanna é muito bonita. Se deu muito bem, amigo.—Rodrigo que ainda era inocente sobre a situação, o parabenizou.—Mas me diz como é...—Otaviano riu, já sabendo o que viria a seguir.
—Como é o quê?—Confuso, Nero perguntou.
—Oras, você sabe.—Fez um gesto obsceno com as mãos.
—Pelo amor de Deus, Rodrigo!—Exclamou, chocado.
—O que foi? Nem venha, quando comecei a sair com Alessandra vocês dois me fizeram contar como ela era na cama, o mesmo todas as vezes que Otaviano sai com alguém. Agora chegou sua vez, Ale, pode ir falando.
O empresário observava seus dois melhores amigos rindo a espera de uma resposta, era impressionante como os dois não tinham mudado em nada desde a adolescência, continuavam infantis como meninos de 5ª série. E pensar, que em um passado não muito distante, ele também se permitia ser descontraído de tal forma. Pensou se falaria a verdade sobre seu acordo com Giovanna ou mentiria para Rodrigo como estava fazendo com o resto da família, porém, logo lembrou que ele não conseguia esconder nada da esposa, e Alessandra com informações era como uma bomba relógio.
Respirou fundo antes de continuar com aquele assunto constrangedor.
—É bom.—Foi simplista.
—Só bom?—Rodrigo perguntou, desapontado.
—É, Nero, só bom?—Otaviano incentivou o amigo, que o olhou sério.—Conta mais...
—Minha vida sexual não diz respeito aos dois, mas já que querem saber... Ela é boa, do tipo que me deixa sem fôlego, sem palavras, esgotado de energia e mais surpreso a cada dia.
Lembrou da pancada na perna que o deixou sem ar, das vezes em que ficava tão puto com ela a ponto de não ter palavras para descrever sua indignação, e das inúmeras vezes que Giovanna Antonelli o deixava abismado ao executar seu trabalho tão bem feito em tão pouco tempo.
Ficou frustrado ao perceber que não tinha razões para demiti-la, e ele não precisava de motivos para fazer isso, não conseguiria, nem mesmo se quisesse.
—Uau!—Rodrigo exclamou, boquiaberto.
—Que bom que encontrou alguém como ela, Xandão, estava precisando.—Otaviano zombou, recebendo um dedo do meio em resposta.
Não comentavam sobre isso fazia um tempo, mas os dois sabiam que Karen havia deixado uma cicatriz no amigo. Rodrigo temia que ele não conseguisse se recuperar e voltar a ser quem era antes, mas para ele era perceptível o quanto Giovanna estava o ajudando. Estava aliviado e feliz por Alexandre.
—Sem falar que ela é muito gata!
—Quem é gata?—Rodrigo e Otaviano se levantaram em um movimento rápido e ao mesmo tempo quando viram Giovanna entrando no quarto.
—Uma gatinha que Alessandra ganhou.—Rodrigo disse rapidamente, inventando uma desculpa enquanto coçava a cabeça, constrangido.
—É.—Otaviano concordou, balançando a cabeça de um jeito exagerado.
—Ok, hum...Rodrigo, a Ale pediu para avisar que está te esperando para ir embora.—Deu o recado.
—Claro, eu vou lá então, até mais, irmão. —Rodrigo e despediu dos amigos com um soquinho.—Até mais, Gio.—Fez um gesto com a cabeça em direção á loira.
—Até mais.
—Eu também já vou, cuida bem dele,
Gio.—Otaviano disse, saindo logo em seguida sem esperar uma resposta, restando somente Alexandre e Giovanna.
Confuso, Alexandre observou a assistente rodar todo o quarto, parecendo procurar algo, olhou em baixo da cama e até mesmo dentro do banheiro.
—O que foi? —Finalmente perguntou.
—Não encontro minhas malas.—Respondeu, parada no meio do quarto quando se viu sem opções.—Viu elas?
—Não.—Olhou ao redor, procurando vagamente.
—Elas estavam aqui mais cedo quando saímos.—Giovanna jogou os cabelos para trás, um pouco cansada.
Quando pensou em perguntar se Otaviano e Alexandre estavam tirando uma com a sua cara, Luiza entrou no quarto com uma bandeira de chá nas mãos.
—Algum problema?—Perguntou a mais velha quando percebeu o silêncio.
—Luiza, minhas malas sumiram, você as viu?—Giovanna começou a ficar desesperada.
—Ah, não se preocupe, eu pedi para Yang colocar suas coisas junto com as de Alexandre no closet dele.
—Eu não queria dar trabalho.—Respondeu, suspirando aliviada.
Era claro o quanto Alexandre amava sua mãe, sabia que ela queria ajudar, mas se incomodava quando a mesma interferia em situações como aquela. Não era para ser assim!
—Vocês vão ficar durante cinco dias, não tem motivos para manter suas roupas dentro da mala todo esse tempo. Quando forem embora eu peço para ela organizar tudo na mala novamente.
—Ah, muito obrigado, mas Yang é muito ocupada, pode deixar comigo. —Agradeceu.
—Se prefere assim, então tudo bem. —Colocou a bandeja em cima da cama e serviu uma xícara para o filho, o entregando em seguida.
—Vem, vou te mostrar onde está.—Carregou Giovanna pela mão até o closet.
Alexandre conseguia escutar o som abafado das vozes e risadas das duas. Giovanna definitivamente cativou sua mãe de um jeito que ele nunca imaginou, a sua única opção era não deixar que aquilo se transformasse em uma bola de neve e o mais importante era tomar cuidado com o irmão, doía assumir, mas ele era esperto demais, embora fosse um poço de surpresas desagradáveis.
Evitava pensar sobre Giovanna, mas vinha percebendo um lado fascinante na assistente, umas de suas melhores características era seu bendito senso de humor e seu cabelo cor de ouro caindo no rosto, sem falar no sorriso bonito e a maneira como seus olhos ficam fechadinhos enquanto sorria, a deixava extremamente fofa. As bochechas rosadas, sua boca, seu corpo curvilíneo naquelas roupas casuais...
- Droga. - Suspirou alto, se dando conta de que não deveria pensar tanto assim na loira.
Entretanto, Alexandre não conseguia parar os pensamentos involuntários, Giovanna era o tipo de mulher que conseguia deixar qualquer um de queixo caído, seu corpo desenhado naquele vestido, foi o verdadeiro motivo pelo qual ele perdeu de propósito a competição de golfe.
Marcos, amigo de Leonardo, não tirava os olhos sebosos de cima de Giovanna, saber sobre os gostos esquisitos de Marcos foi o suficiente para Alexandre ficar perturbado com o jeito lascivo que o mesmo olhava para sua assistente.
Falhou propositalmente e a tirou dali, para longe do olhar daqueles parasitas.
- BOO!
- Porra, Giovanna.—Vociferou assustado, vendo a loira se jogar gargalhando do outro lado da cama.—Por que fez isso?—Giovanna se sentou, ofegante de tanto rir.
—Eu te chamei umas quatro vezes, sua mãe até tirou a xícara das suas mãos e deu tchau, nem assim o senhor respondeu.—Explicou, tirando o cabelo do rosto enquanto ainda ria do susto que deu no chefe.
—Só estava distraído.
—Você está aéreo, algum problema? E sua perna, ainda está doendo?—Perguntou preocupada, já se aproximando para ver o estado da perna machucada.
—Não, minha perna está bem, vou tomar um banho.—Alexandre disse, se afastando.
—Eu te ajudo.—Ofereceu, prestativa.
—Não precisa, consigo fazer isso sozinho.—A resposta veio rapidamente.
Sua perna nem doía tanto assim.
—Mas...
—Eu já disse que consigo.—Interrompeu, rude, fazendo Giovanna se calar imediatamente.
Mesmo mancando um pouco o tatuado seguiu até o banheiro sem muita dificuldade, escorou na porta quando ela já estava fechada e logo sentiu a maldita culpa o invadindo como se tivesse acabado de cometer um crime.
Odiava se sentir arrependido, mas o pior de tudo era ver a loira acanhada com a forma que ele a afastava. Era estressante o quanto Giovanna conseguia mexer com seus nervos e sentidos, não queria assumir, mas temia se aproximar demais e acabar sentindo demais.
Talvez tenha sido uma péssima idéia trazer sua assistente até ali para fingir ser sua noiva.
…
POV Giovanna
Eu estava sentada na cama enquanto olhava para a porta do banheiro onde meu chefe tomava banho, ainda era estranho a sensação de intimidade que tinha sido criada involuntariamente entre nós dois em tão pouco tempo.
Entendia sua hesitação em se aproximar, afinal, apesar daquela situação, ainda éramos chefe e funcionária.
Engolindo em seco, eu vi ele sair do banheiro usando apenas uma bermuda preta de tecido fino, nada cobria seu tronco, e mesmo que já tivesse o visto dessa forma pela manhã, a sensação de ter o estômago revirando foi a mesma.
Alexandre está de sacanagem, não é possível.
Sem camisa...
Com os cabelos molhados...
Virei imediatamente para o lado oposto, temendo ser flagrada lhe secando. Então ouvi ele ir mancando até o closet, este que era enorme e mesmo sendo lotado de roupas suas, sobrava bastante espaço vazio.
Respirei fundo e fiquei de pé quando o vi entrar no quarto novamente, dessa vez usando uma camisa, para minha infelicidade.
—Quer a massagem agora?—Perguntei baixinho, me sentindo estranhamente tímida.
—Não precisa.—Respondeu, indo até o sofá.
—Nem pensar!—Levantei uma oitava na voz, não porque estava realmente brava, mas porque não abriria mão de cuidar dele.—Eu prometi que ia cuidar de você e é o que eu vou fazer.—Fui até ele, puxando-o pela mão de volta para a cama.
—Giovanna...
—Nada de "Giovanna isso, Giovanna aquilo", vou fazer e ponto final.—Arrumei os travesseiros na cabeceira da cama para que ele sentasse. —Agora vou fazer a massagem no seu dodói, você vai ver como tenho ótimas mãos.—Brinquei tentando descontrair, pegando a pomada ainda embalada em cima do móvel ao lado.
Não tive muita dificuldade para tirar a bisnaga da embalagem, e quando o fiz, sentei no pequeno espaço entre ele e a beirada da cama. Tomei um certo cuidado para não tocá-lo mais que o necessário, e levantei um pouco mais sua roupa para expor seu machucado, mas resultou em sua coxa torneada também à mostra. Caramba... Meu chefe é todo...
Se concentra, Giovanna!
—Desculpa por isso.—Eu falei, ainda me sentindo ressentida.
Ele não disse nada, talvez cansado de ouvir minhas desculpas.
Em uma conversa breve com Luiza no andar de baixo, ela me ensinou como deveria ser feita a massagem, então prossegui como havia aprendido.
Depositei um pouco da pomada em cima da mancha ainda roxa e coloquei o frasco em cima da escrivaninha novamente. Fui espalhando devagar o medicamento, que tinha um cheiro gostoso de menta, usando apenas os dedos inicialmente.
Senti o músculo de sua coxa contrair de dor sob meu toque quando usei toda a palma da mão para continuar o processo.
—Desculpa.—Pedi mais uma vez, e me amaldiçoei mentalmente por sentir tanta necessidade em me redimir com ele.
Fui um pouco além dos limites da área machucada como Luiza me instruiu, mas fui abruptamente interrompida quando Nero agarrou uma almofada e levou até a frente do corpo, apertando-a ali.
—Estou te machucando? —Indaguei, preocupada se estava fazendo aquilo corretamente.
—Não.—Sua voz rouca, quase falha, saiu em um sussurro.
—Se eu tiver te machucando você pode avisar e eu...
—Chega, Giovanna.—Ele pegou minha mão direita, a afastando de sua perna, mas sem soltá-la definitivamente.
Ao encará-lo me impressionei em como seus olhos estavam escuros e em como seu peito subia e descia com força. Então, não pela primeira vez naquele dia, senti meu coração acelerar junto com a respiração descompassada. Uma vontade incontrolável de colar minha boca na sua me dominou, e sentir seu gosto se tornou quase como uma necessidade naquele momento.
Seu olhar intercalando entre minha boca e meus olhos, sua respiração ofegante fazendo seu hálito gélido chegar até minhas narinas e quando sua mão livre tocou minha nuca foi só o estopim para meus olhos, já pesados demais, fecharem instantaneamente.
Diferentemente do que achei que aconteceria, quem diminuiu a distância entre nós dois foi eu, cheguei para perto de sua boca, mas antes de encostar nossos lábios me afastei olhando em seus olhos, ele repetiu minhas ações, ficamos nesse joguinho, até eu de fato beija-lo.
Seus lábios macios dominaram os meus com vontade, enquanto sua destra puxava os cabelos da minha nuca, causando uma sensação surreal, seus dentes morderam meu lábio inferior para depois chupá-lo usando a língua sem pudor algum e o barulho molhado, quase imoral, me deixou ainda mais afoita.
Respirando fundo, eu livrei minha mão de seu aperto e a levei até seu rosto, só então voltei a grudar nossas bocas com gana. Suspirei forte no momento em que senti sua mão firme apertar minha cintura e me puxar mais para perto, como um convite para aprofundar o beijo.
—Eu trouxe o jantar...—Quase senti sua língua encontrar a minha no momento em que a voz de Luiza reverberou por todo o quarto.
Nos separamos um do outro bruscamente, mesmo contra minha vontade. Assustada, eu olhei para trás e vi a mais velha sorrir sem graça, com uma bandeja em mãos.
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