Caminhando de volta para casa, começo a pensar em como vou arrumar um advogado. Eu nem tenho dinheiro. E então eu penso em Dom. Fui enganada. Não combina com Dominic falar "aloha" e beber coquetéis coloridos. Muito menos não querer falar da sua própria vida a cada duas frases. Então sim, estou sendo enganada.
Para confessar, estou com medo de voltar para casa. Tenho medo de ver a reação de Jonathan ao ser denunciado pela própria irmã. Tenho medo do que ele possa fazer comigo mas não me arrependo pelo que eu fiz e, se voltássemos no tempo, faria tudo de novo.
Veja os letreiros coloridos e a rua movimentada. Fecha os olhos e me sentei em um dos bancos espalhados pela calçada. Respiro fundo e tento ligar para Dominic novamente, na esperança de ser atendida na esperança de escutar sua voz. Eu só quero isso. É o único motivo para que o meu coração esteja tão apertado.
Bicolor não atende. Olho para tela do celular, vendo seu nome: Dominic Sherwood.
Flashback On:
- Você já andou de bicicleta antes?
Dom pergunta para mim, apoiando a bicicleta na parede. Estamos no pátio do hospital, perto do estacionamento. Seu sorriso estava igual quando uma criança entrava em uma loja de doces.
- Dom, eu não sei se você percebeu, mas eu uso muletas! Eu não consigo nem encostar meu pé no chão.
- Ah, a gente consegue resolver isso - o sorriso não some de seus lábios - você vai ver!
Dominic se aproxima de mim, passando as mãos por trás no meu corpo, me pegando no colo. Deixo as muletas caírem de propósito. Ele me segura como se eu fosse uma pena. Sem nenhuma dificuldade para alguém que tem leucemia linfoide aguda, ele solta uma de suas mãos para pegar a bicicleta e me deixa apoiada entre o banco e o guidão.
Bicolor se senta no banco e apoia as mãos no guidão, olhando para mim.
- Recomendo você apoiar suas costas no meu braço.
- A gente realmente vai andar de bicicleta quando, na verdade, a gente deveria estar em uma das sessões de quimioterapia???
- Hmm, sim.
- Dominic isso é...
- Emocionante, não?
É isso que eu gosto em Dominic: ele não vê sua doença como um problema. Pode ser a pior situação possível que ele vai achar um lado bom nisso. Para ele, uma Leucemia com 58% de vida e uma gripe, é a mesma coisa. Para ele, é uma fase, e tudo vai ficar bem.
Como ele aconselhou, apoia minhas costas em seu braço. Bicolor começa a pedalar, desequilibrando um pouco. Depois que ganhamos velocidade, passamos pelo pátio principal. Rimos juntos e ele acelera mais ainda.
- Você é louco! - eu digo, rindo. Dominic assente fazendo uma curva brusca, fazendo meu pé encostar no chão.
- Gostando?
- Eu vou morrer!!! - grito e ele ri mais ainda.
- Todos nós.
Agora, ele está voltando para o estacionamento. Me pega no colo de novo e deixa a bicicleta cair no chão. Alcança as muletas e as entrega pra mim.
- Obrigada, Bicolor. - me apoio nas muletas, ficando em pé. Dominic olha para mim, se demorando em meus olhos. Se aproxima, toca meus ombros e meu rosto. Respira pertinho da minha boca, para depois dar um selinho demorado.
Uma das melhores sensações que eu mais sinto falta.
Flashback off:
Ligo para Dominic mais uma vez, na esperança que ele me atenda. E como o esperado, a ligação cai direto na caixa postal. Resolvo tomar coragem e voltar para casa, e o que acontecer, aconteceu. Levanto do banco e caminho, olhando para o chão, pensando em uma forma de mandar um postal para o-lugar-nenhum a Dominic. Se é que lugar nenhum existe...e se a Terra do Nunca tivesse doenças crônicas e essas coisas? Ela deixaria de ser tão magnífica quanto costumava a ser?
Mal percebo que já estou chegando em casa, falta mais duas quadras. Penso em ir na farmácia, como havia falado para a minha mãe, mas o dinheiro não é o suficiente para eu comprar qualquer analgésico, mesmo que seja do mais barato.
Chego em casa e bato a porta com mais força do que eu pretendia. Amara olha para mim e ergue uma sobrancelha.
- Olá também.
- Não estou com humor pra gracinhas hoje, Amara.
- Ah - a mulher, com seu vestido bordado que daria tranquilamente para ir em um casamento, sorri de lado - Você nunca esteve.
- Ainda bem que sabe - subo para o meu quarto e bato na porta. Bater na porta do meu próprio quarto, isso não faz sentido, faz?
Jonathan abre, olha para mim de cima a baixo e dá de ombros.
- Ah, é você.
Ele volta para a cama, toda bagunçada, praticamente se arrastando pelo chão.
- Gostando da cama? - provocando.
- Confortável, mas faz muito barulho - ele se ajoelha e finge estocadas. Doentio - como você usa essa cama?
- Ah, eu sempre pratico esgrima aí, nunca tive problemas com barulhos - provoco mais ainda, cruzo os braços e semicerro os olhos - você já se apossou do meu quarto, agora vai começar a reclamar dos móveis? Qual é o próximo? O criado-mudo não tem espaço pras suas revistas por...
- Olha como você fala com...
- EU FALO COM VOCÊ COMO FALO COM QUALQUER OUTRA PESSOA - aumento a voz e me forço a encarar para aqueles olhos pretos.
Ele se levanta e eu prendo a respira. Talvez tenha sido uma má ideia. Ao fundo, escuto a porta da sala bater e vozes masculinas. Eu sei de quem são, mas quero que Jonathan não desconfie. Fico como estou, enquanto ele se aproxima de mim e segura o meu braço com força. E eu sorrio. Quero que ele veja e perceba o quão ferrado ele está ao fazer isso. Escuto as vozes ficando mais altas e o sorriso não some do meu rosto.
- Você acha que sabe falar desse jeito comigo? - ele se aproxima da minha orelha e dá uma mordidinha, provocando, pra depois falar bem no meu ouvido - sua cadela submissa.
Ele aperta mais o meu braço, cravando as unhas. Continue assim John, você está se saindo muito bem.
- POLÍCIA DE NOVA YORK! ERGA OS BRAÇOS!!!
Acho que a casa inteira escutou meu suspiro de alívio. Dois policiais entram no quarto. Um deles está com uma pistola preta fosca (maravilhosa por sinal) apontando para o meu adorável irmão, enquanto o outro policial dava cobertura.
Jonathan olhou para mim com os olhos pretos furiosos e lentamente soltou o meu braço, erguendo os seus. O policial que estava dando cobertura abaixou seus braços ruidosamente e os prendeu com algemas. O outro, que estava segurando a arma, abaixou-a e pediu para que eu saísse do quarto.
Depois que eu fiquei parada contra a parede do corredor, esperando ansiosamente, Jonathan saiu do quarto, acompanhado dos policiais. Amara e Jessie ficaram observando e minha mãe chorava dramaticamente.
Os policiais explicaram toda a situação para ela, que concordou com a cabeça. Depois que John saiu pela porta, acompanhado por Amara, Jessie e pelos policiais, me permito sentar na poltrona e respirar fundo.
Minha mãe se aproxima de mim, cautelosa.
- Eu não sabia sobre esse lado do seu irmão - ela engole o choro - me desculpe por deixar esse monstro entrar nessa casa.
- Agora está tudo bem.
XXX....XXX
Mais tarde, vou para o meu quarto. Minha mãe arrumou e organizou as coisas. Ele está do meu jeito de novo. Vejo os postais amassados em cima da escrivaninha. Lembro de quando meu irmão amassou e os jogou no chão. Pego e seguro com cuidado, mesmo que eles estejam quase esfarelando em minha mão.
E eu estou exausta. Minha perna lateja, sendo forçada pela prótese. Caminho até o banheiro e a dor só aumenta. Fecho a porta, sento na tampa da privada e tiro a prótese. Está melada de sangue e suor. Eew.
Chamo a minha mãe e peço a ajuda dela. É bizarro o jeito que eu me tornei tão dependente das pessoas em tão pouco tempo.
Enquanto tomo banho, apoiada na parede para eu não cair, mamãe limpa a prótese com um pano úmido. O tecido que antes era branco, agora está marrom e cheirando ferrugem, mas mamãe não parece estar com nojo. Fico feliz que ela está fazendo o máximo para cuidar melhor de mim, para apagar o passado entre nós.
Depois que ela limpa tudo e sai do banheiro, sem dizer mais nada, olho para baixo.
Puta merda.
Parece que alguém esfaqueou minha perna. Ela tá muito inchada e saindo muito sangue. Merda!
E está sangrando mais que o normal.
Saio do box mas o sangue não para de escorrer. Agora está manchando todo o chão. Volto para o box e chamo minha mãe de novo. Ela chega e fica preocupada com a minha aparência.
- Kat você não está se cortando não né?
- Mãe... eu não sei o que tem de errado comigo! - começo a chorar. Minha mãe se assusta. Ela nunca me viu desse jeito.
- Agora você concorda em chamar um médico?
- E-eu não quero que médicos me ajudem. Não quero ir para um hospital. - sinto uma fincada na perna - essa porra dói!
Minha mãe não me xinga pelo meu vocabulário, só me cobre com uma toalha, dá apoio e ajuda a me levar até a cama. Logo depois que ela confere que eu estou confortável e que não tem risco de cair, ela liga para um hospital e espera assistência.
Depois de meia hora, o doutor chega, verifica minha perna, vendo todos os detalhes possíveis. Sim, estou nervosa. Não gosto que pessoas... exceto Dominic, me toquem. Não tem necessidade, tem?
- Sua perna está infeccionada. - ele diz sem rodeios. - essa prótese não está boa para ela. Não pode mais usá-la.
- Mas e agora? - minha mãe fala - o que vamos fazer?
- Já solicitei uma prótese nova, em New Jersey.
- New Jersey? - minha mãe diz - Por que temos que ir para lá pegar? Eles não encomendam?
- Em New Jersey tem uma das melhores próteses, fora que tem o melhor preço.
- Tanto faz - falo baixo.
Xxx...xxx
Agora eu estou deitada, encarando o teto rachado enquanto minha mãe pegava novas muletas que o hospital mandou para cá. É, muletas. De novo.
Meu celular toca. Está debaixo do meu travesseiro. Como ele foi parar ali? Pego, na esperança de ser Dom.
》asiática penhallow《
Respiro fundo e atendo, preparada para brigar.
- VOCÊ ME ENGANOU! Dom não está viajando!
- Ou, ou. Espera minha querid...
- Você me enganou! Eu sabia!
- Katherine é que...
- Ele deve estar com outra garot...
- Katherine...Dominic está doente.
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