POV: Albert
Dia 30
15:30
Depois das chocantes descobertas de corpo de mais cedo, nós, os cinco ainda vivos e acordados, iniciamos nossa investigação. Para ter uma melhor visualização sobre o que havia acontecido, naquele cenário, nossa primeira atitude fora questionar Yui, sobre o que havia acontecido, durante os últimos dias. Para nossa decepção, Yui não providenciou muitas informações para nós.
De acordo com o mixólogo, anteontem, quando ele estava voltando para seu quarto, ele fora surpreendido por Penélope, que emboscou-o e, fazendo-o inalar clorofórmio, fez com que ele desmaiasse. Depois de um tempo indeterminado, ele relatou ter acordado em um lugar completamente escuro, amordaçado e com pés e mãos amarrados com uma corda.
Ele dissera que sua mente, naquele momento, estava falha e bagunçada. Em uma impressão de estar em um estado, entre acordado e desacordado. Por essa razão, ele não pode dizer ao certo, onde ele estava, e mesmo que conseguisse processar um raciocínio, a escuridão impedia-o de compreender o seu arredor. No entanto, ele podia afirmar uma coisa, Harry estava lá com ele, também na mesma situação que ele. Em algum momento, ele lembra-se de ver Penélope novamente, apenas para injetar algo com uma seringa em seu corpo, fazendo-o apagar novamente.
Essa história soava estranhamente suspeita, apesar de ser plausível. De qualquer modo, não achamos que seria uma boa ideia, apontar dedos para Yui e acusá-lo de mentir, antes do julgamento de classe começar. Agora, os acontecimentos mais recentes, do dia de hoje, foram muito mais interessantes. De acordo com ele, ele acordou, na manhã de hoje, no corredor do quinto andar. Foi quando então ele encontrou-se com Thomas, que o soltou-o de suas amarras e pediu para que ele encontrasse-nos.
Falando em Thomas, o coveiro continuou desacordado, durante toda a investigação. Por esse motivo, Monokuma suspendeu a participação dele, no julgamento, deixando que ele quebrasse uma das regras, com a justificativa de um dorminhoco não ajudaria em nada. Ele fora colocado na enfermaria, e provavelmente ficará lá, até o final do debate. Honestamente, essa era uma decisão parcial que, na prática, apenas prejudicava-os mais ainda. Meu desejo era que Monokuma aceitasse adiar o julgamento, apenas para que Thomas também pudesse participar.
Conhecendo Monokuma, houve uma certa concordância de que Thomas era uma testemunha deste caso, e por isso, fora silenciado pelo próprio assassino. Sabendo disso, Monokuma deve ter pensado que o julgamento seria muito mais “emocionante”, se a pessoa que sabe de tudo não comparecesse, pois se isso não acontecesse, Thomas poderia simplesmente revelar o assassino e acabar com tudo de uma vez. Mas é claro, nada pode ser fácil para nós, e agora, teríamos que resolver tudo da maneira mais complicada e arriscada, assim como fizemos, em todos os outros casos.
Em outra injustiça, o urso também proibiu-nos de usar mais aquele teste, que eu e Louise desenvolvemos. Obviamente, as amostras que já foram examinadas podem ser usadas como provas, porém, todo o suplemento de indicadores que usávamos fora removido do campus, tornando impossível executar mais exames. Pelo menos, com isso, nós podemos afirmar que os testes, de fato, funcionam. O que significa que eu, Louise, Naomi, Kylie e Thomas temos álibis incontestáveis sobre não sermos o infectado.
Agora, com as investigações terminadas, encontrávamo-nos novamente no elevador, inserido dentro do prédio principal. Mais do que nunca, estávamos preocupados com o desfecho do julgamento. Ter menos pessoas vivas, significava menos suspeitas, o que por um lado era bom pois facilitava o processo de eliminação. No entanto, menos pessoas também significava menos mentes pensantes, menos testemunhas e mais oportunidades para o assassino enganar-nos.
Para ser sincero, todos já haviam aceitado o fato de que alguém seria assassinado, no dia de hoje. Entretanto, as expectativas era de que Penélope seria a assassina declarada, e em um caso extraordinário alguém teria matado a youtuber e admitido a todos. Isso não foi o caso, e ninguém admitiu ter matado Penélope e Harry e ter nocauteado Thomas. Portanto, não tínhamos ideia de quem desconfiar, já que, na nossa mente, ninguém entre nós tinha a predisposição de cometer crimes tão bárbaros.
Um luto inegável tomava conta de mim. Harry Green, o Jardineiro de Nível Super Colegial. Tenho de ser sincero, eu nunca fui amigo dele, e realmente preferiria que ele fosse a vítima, ao em vez de Louise, Naomi, Kylie, Yui ou Thomas, porém, isso não torna a perda menos lamentável. Ele parecia ser um bom garoto, realmente apaixonado pelo que fazia. Certamente, a sua personalidade tranquila me faria afastar dele, em outras circunstâncias, mas a sua morte apenas fazia-me suspirar, em saber o mundo possui menos uma mente genial, na área de botânica. E pensar que ele foi-se daquela maneira… Com seu corpo completamente esmagado, por uma engrenagem gigante…
Ao contrário de Harry, não podia dizer que sentia o mesmo pela outra vítima, Penélope Endler, a Youtuber de Nível Super Colegial. Essa posso dizer que mereceu tudo o que recebeu. Antes dos últimos acontecimentos, já não dava-me bem com ela e sua idiotice falsa. Depois da revelação de sua verdadeira natureza, passei a sentir repulsa de sua pessoa, como um todo. Não apenas por ser uma sádica psicótica, como Sayuri era, mas muito pior que isso, uma traidora que trabalhou com Monokuma, durante todo esse tempo. Estava claro, com a morte dela e com Monokuma apenas tratando-a como apenas mais uma vítima comum, que o possível acordo entre os dois havia sido rompido. Talvez, seja por esse motivo que ela acabou sendo exposta, na frente de todos, sendo isso provavelmente obra do urso.
Ter mais um assassinato duplo fazia-me perguntar, se apenas uma pessoa foi responsável, por matar os dois, ou se foram assassinos diferentes. Se são assassinos diferentes, então os dois estariam vivos? Ou talvez, seja apenas um assassino que matou-se em seguida, assim como fora o último caso. Também não posso descartar a possibilidade, do assassino original ter sido morto depois, como é o que Kylie disse suspeitar, durante a investigação. A teoria de que Penélope matou Harry e, em seguida, foi morta por outro alguém, havia popularizado-se entre nós. Eu não compreendo como as regras se aplicariam nesse caso, mas contanto que consigamos descobrir toda a verdade, podemos declarar-nos como sã e salvos, por hoje.
Assim que o elevador chegou no fundo do poço, as portas para o salão abriram-se novamente. Como de costume, Monokuma havia remodelado o interior mais uma vez, combinando com a temática do último andar, do prédio central, liberado. Como tema da vez era “passado”, o urso acabou optando pela escolha óbvia, que ao mesmo tempo cansaria nossos olhos durante o debate, está que não era nada menos que um salão decorado, como uma discoteca.
Com luzes multi coloridas que piscavam freneticamente, refletidas para todos os lados no globo espelhado que substitui o clássico candelabro, não tinha ideia de como seríamos capazes de concentrar-nos, nesse ambiente. Em mínima decência, esperava que Monokuma desligasse todas essas luzes ineficientes, e deixasse uma simples luz branca no lugar, mas eu tinha impressão que ele não mudaria de ideia. Pelo menos, devo agradecer que ele deu-se o trabalho de livrar-se daquele tapete vermelho mofado, presente em todos os julgamentos até agora. Imagino que ele tenha pensado que não faria muito sentido ter aquele pedaço de pano, sobre uma pista de dança composta, por quadrados luminosos multicoloridos.
Quanto a Monokuma, ele ouviu as nossas ressalvas no último julgamento, sobre ele não usar nenhuma roupa especial. Sentado em seu tradicional trono intocável, ele agora usava um macacão comprido furta cor e uma peruca black power, três vezes maior que sua própria cabeça de pelúcia. Havia duas coisas nesse mundo que eu mais odiava com todas as minhas forças, estas sendo o próprio Monokuma e cultura pop retrô. De alguma forma, a manifestação de todas as minhas energias negativas estava na minha frente, com o mesmo sorriso debochado de sempre.
Louise: Monokuma! - exclamou a loira, apertando os olhos, sem coragem de sair do elevador – Por favor, desligue as luzes! Prefiro fazer esse julgamento no escuro, do que com esse pisca-pisca neon!
Monokuma: De jeito nenhum! - negou ofendido – Eu estive entusiasmado a finalmente poder implementar esse tema! Eu não vou deixar seus olhos sensíveis estragarem, esse meu momento nostálgico! - sua peruca balançava de maneira estranha, a medida que ele mexia sua cabeça – Isso lembra-me de minha juventude!
Yui: Nós não precisamos saber disso…!
Monokuma: Naquela época, lembro-me que toda sexta-feira, eu e meus amigos íamos juntos no AMG Hammer do pai do George para a discoteca, no centro da cidade. Nós dançávamos a noite inteira, e sempre voltávamos bêbados. - interrompeu Monokuma, ignorando completamente o mixólogo. Ele parece até ter tido uma juventude normal – Um dia, nós estávamos tão tontos, que acabamos batendo com o carro em um orfanato, bem no quarto das crianças. Dez delas morreram, e outras quinze tiveram que amputar alguma parte do corpo. Felizmente, elas eram todas pobres, então qualquer resquício de culpa é insignificante. - essa era exatamente o tipo de juventude que eu esperava, do Monokuma.
Albert: Espera, você tinha amigos? - nos meus olhos, essa era a parte da história que mais chocava-me.
Monokuma: Sim, eu tinha um grupo de amigos, do qual eu era muito próximo. George, Michael, Trevor e James. - ele limpou a garganta, preparando-se para contar uma longa história – Depois que batemos o carro, o pai do George jogou ele de uma ponte. No mesmo ano, Michael começou a viciar-se em drogas, então eu mesmo tive que matá-lo para não trazer desonra para o grupo. Quando nos formamos, James resolveu optar por fazer faculdade de sociologia, então tive que também matá-lo pelo mesmo motivo do último, só que com um pouco mais de brutalidade.
Naomi E quanto a Trevor? - perguntou, realmente interessada.
Monokuma: Ah, o Trevor vai bem. Hoje em dia ele está casado e tem três filhos. Quando eu vou visitá-lo, eles chamam-me de titio Monokuma. Eles são tão fofos que, se eu tivesse a oportunidade, colocaria todos em um moedor de carne e os comeria com leite! - por sorte, nenhum de nós era considerado como “fofo”, pelo urso – Desculpem-me, fico muito emocionado, quando falo de minha juventude… - disse com lágrimas falsas nos olhos – Vocês se importariam se eu colocasse um dos meus discos de vinil do DeBarge para tocar, enquanto vocês debatem?
Kylie: Essas luzes já são a única distração que precisamos. Nada de música! - Monokuma aceitaria o pedido de Kylie, porém…
Naomi: Quem é DeBarge? - questionou, inocentemente.
Monokuma: Como assim você não sabe quem é DeBarge!? - ele, que estava a pouco calmo, irritou-se em uma única explosão – Essa juventude não sabe o que é música de verdade! Eu deveria trancá-la em uma sala e obrigá-la a escutar, toda a discografia decente dos anos 80!
Naomi: Mas… - ela gaguejou, enquanto Louise cochichava algo, em seu ouvido – Eu nem sou americana, eu sou japonesa! Como você espera que eu saiba, os nomes dessas bandas americanas antigas? Claro, eu conheço os artistas mais famosos, como Michael Jackson e Madonna, mas essas bandas antigas estão além de mim.
Monokuma: Cada dia você mostra-se mais uma decepção, senhorita Nakayama. - disse com desgosto – Agora andem logo. Vão para seus lugares e vamos começar o julgamento, antes que algum de vocês deixem-me ainda mais enfurecido, a ponto de querer executar todos vocês!
Sabíamos que, quando Monokuma botava as suas garras amostra para nós, o melhor que podíamos fazer era obedecer. Navegando entre o escuro e o colorido, com brilho que dava-me dor de cabeça imediata, achei o meu lugar, na mesma bancada circular de sempre, está instalada no centro do salão. Eu já estava tão acostumado com isso que, pude posicionar-me no meu vão de sempre, apenas imaginando de quem eram as fotos, entre os espaços vazios.
Nesse momento, quase todos os espaços já estavam ocupados por retratos dos outros, marcados com um X vermelho no rosto. A minha direita, respectivamente, Sayuri, Dylan e César, sendo seguido pelo espaço vazio de Thomas, que não pode comparecer, mas ainda estava vivo. Depois, Alicia, King e a ainda viva Kylie. Logo ao lado dela, estava a foto da primeira vítima desse caso, Penélope, seguida por Lilian, Izaya, a outra vítima, Harry e então outra viva, Naomi, que estava a apenas uma Yamada de distância de Louise. Por último, Yui estava entre as fotografias de Aiko, Jessica e Christopher e Bruce, Murasakibara, Ashley, Sophia e Akira.
Com ninguém mais sendo vizinho de ninguém, tornara-se muito mais fácil debater, pois não há mais a necessidade de virar-se para o lado, com o intuito de falar com alguém. Isso porque, na prática, todos estavam, em algum ângulo, na nossa frente, na bancada circular. Imagino que referir-se a todos será muito mais fácil, principalmente agora que apenas há mais cinco de nós.
Monokuma: Antes que vocês peçam-me mais alguma coisa, informo-lhes que o Arquivo Monokuma já fora enviado para vocês! - anunciou, deixando claro que havia mais um detalhe que ele havia de mencionar – Como Thomas Morgan não pode comparecer ao julgamento, devido a uma lesão relacionada ao assassinato, resolvi incluí-lo no arquivo, mesmo ele não estando oficialmente morto.
Pegando o tablet que eu sempre levava comigo, acessei o aplicativo do Arquivo Monokuma. Na maioria dos casos, as informações de graça que são providenciadas para nós não mudam nossa perspectiva, sobre nenhum assunto, apenas fazem que nós descartemos as teorias mais absurdas. Na verdade, as informações que eram omitidas diziam-nos mais sobre o assassinato, pois pelo menos ao saber o que era importante, nós já tínhamos alguma ideia de como iniciar o debate.
*
Arquivo Monokuma:
1° Vítima: Penélope Endler
Causa da morte: Uma bala perfurou a sua testa, causando danos em seu cérebro que levaram a sua morte. Também foram observados outros três tipos de lesões. Buracos atravessando seus pés e mãos, mutilação da carne na região de seu ombro e uma fratura em seu tornozelo esquerdo.
Horário da morte: ???
Local da morte: Torre do relógio de Yavard.
Horário de descobrimento do corpo, e quem o descobriu: ???
***
2° Vítima: Harry Green
Causa da morte: O corpo fora encontrado esmagado e irreconhecível. Portanto, não pôde-se obter mais informações de lesões anteriores.
Horário da morte: ???
Local da morte: Torre do relógio de Yavard.
Horário de descobrimento do corpo, e quem o descobriu: ???
***
3° Vítima: Thomas Morgan
Nota da enfermaria: A vítima apresenta um ferimento na cabeça, ocasionado pelo acerto de um objeto pesado. No exame de sangue, detectou-se a presença de uma substância anestésica, na corrente sanguínea.
Horário do ataque: ???
Local do ataque: Torre do relógio de Yavard.
Horário do descobrimento do estudante desacordado, e quem o descobriu: 11:07, por Albert Ducke.
*
Como o esperado, o Arquivo Monokuma em si não ajudava-nos muito. Mais do que nunca, várias informações haviam sido omitidas, deixando-nos apenas com o básico. Enquanto os dois assassinados possuem duas informações a menos, Thomas possui apenas uma. Nada do que estava escrito era novidade para mim, com exceção do laudo médio de Thomas. O fato dele ter sido nocauteado, por meio de um golpe na cabeça, já era de meu conhecimento, contudo, a informação de que o provável assassino teve que anestesiá-lo pode mudar a perspectiva, na qual eu vejo o caso.
Louise: Eu não entendo o porquê, de tratar Thomas como uma vítima. Ele ainda está vivo! - protestou Louise, desgostosa com a falta de sensibilidade do urso, na hora de escrever o arquivo.
Monokuma: É por isso que eu não coloquei “causa da morte”, na parte dele do arquivo. De qualquer forma, ele continua sendo uma vítima, afinal. - Monokuma estava certo, ele ainda era uma vítima, só que de agressão, não de assassinato – Eu não gosto de quebrar as regras, deixando alguém de fora desse debate. Então saibam, que a falta de Thomas aqui machuca mais a mim, do que vocês.
Albert: Então por que não esperamos ele despertar? - questionei, esperando que ele mudasse de ideia.
Monokuma: Porque isso acabaria, com todo o suspense do julgamento. - ele soltou uma risadinha – Para garantir o meu entretenimento, tive que abrir uma exceção nas regras. Mas tenho certeza que essa será a última vez! A partir de agora, contará como assassinato nocautear alguém, durante o período do julgamento. Portanto, se já houver duas vítimas, e mais outra pessoa morrer, eu punirei o assassino da vez.
Yui: Então por que você não pune agora? - Yui hesitou, em sua indagação.
Monokuma: Pois essa é uma regra nova. Logo, não posso punir alguém que não havia como saber, dos erros de seus atos. - e a nossa oportunidade, de livrar-nos do trabalho, fora por água abaixo.
Louise: Eu sinto que estamos sendo muito injustiçados aqui! - reclamou a loira, tentando ser dramática – Primeiro, você instala esse jogo de luzes nauseante, aqui embaixo. Depois, você ainda remove uma testemunha, do debate. Parece até que você está favorecendo o assassino!
Monokuma: Pensando bem, você tem toda razão. - admitiu, sem mostrar-se culpado – Se isso fazê-la sentir-se melhor, posso acrescentar meia hora de debate para vocês. O que vocês dizem-me?
Naomi: Melhor que nada. - ela suspirou.
Monokuma: Ah, e também vou deixar um tempo para vocês, antes de começar o julgamento. Um momento para vocês respirarem um pouco. Eu também preparei um coffee break, com frios e sucos, para vocês. - então ele ouviu a minha sugestão, na última vez que estive aqui – Eu trouxe copa, queijo de cabra e muitas outras coisas. Aproveitem!
Yui: Você não havia suspendido o consumo de carne, pelo mês? - questionou Yui, desconfiado.
Monokuma: A motivação do parasita só valia, até um assassinato ocorrer. Depois que os corpos foram descobertos, tive o trabalho de fazer o Desperandum parasitus desaparecer, desse campus. - ele deve ter dado um vermífugo verdadeiro para o infectado, isso considerando que ele não foi uma das vítimas – Então, devo trazer os hors d'oeuvres?
Kylie: Não, estamos sem fome. - respondeu Kylie, pelo grupo – Nós preferimos utilizar esse tempo extra para revisarmos as pistas.
Monokuma: Então façam em silêncio. - resmungou, irritado por ter desperdiçado seu tempo, preparando lanches para nós, estes que nem seriam comidos.
Parece que não era só eu que tinha a mania de rever todas as pistas coletadas, antes do início do debate. Era como fazer um prova, a qual requer estudo e muito raciocínio lógico. Eu sempre fui um aluno de estudar, na véspera dos testes, por isso, aqui não seria diferente. Pelo menos, eu era organizado o suficiente para anotar toda informação importante no meu caderno, só que nesse caso, no meu tablet. Era tão conveniente, os nossos aparelhos possuírem uma aplicação, feita justamente para salvar pistas coletadas, durante as investigações.
*
Pistas:
1: Crucifixos – O corpo de Penélope fora encontrado, entre dois crucifixos de madeira. Os crucifixos possuíam quatro buracos, cada um em uma das extremidades. Enquanto o buraco superior de cada um aparenta ter sido feito, por uma bala de chumbo, sendo maior em diâmetro, os outros três buracos foram feitos por pregos.
2: Pregos – Três pregos de pontas extremamente afiadas foram encontrados, prendendo o corpo de Penélope aos crucifixos, em seus pés e mãos.
3: Mola, fivela e gancho – Os crucifixos prendendo o corpo de Penélope estavam pendurados, da torre do relógio. Uma longa e firme mola de aço prendia-se a uma fivela, pregada na parte inferior de um dos crucifixos. A outra ponta da mola estava presa a um gancho, fincado no chão da torre do relógio.
4: Torre do relógio – A torre do relógio, localizada no prédio principal de Yavard, tivera seu grande painel de vidro completamente destruído, de modo que seus estilhaços foram encontrados, pelo solo do campus. Não apenas isso, mas os ponteiros, que funcionam de acordo com o mecanismo interno, estavam estáticos.
5: Escopeta com cronometro – Uma escopeta fora achada, presa na parede oposta onde havia o os ponteiros do relógio, acima dos portões do salão da torre, fazendo um ângulo de 90° com a parede. Unida ao gatilho, havia um cronômetro preso a ela, este que, por meio de um processo mecânico, aciona uma alavanca, quando atingia a marca zero.
6: Tábua de madeira com corda – Aparentemente fora usada para bloquear os portões do salão da torre, prendendo-se horizontalmente nas duas barras de metal, que os portões possuíam pelo lado de dentro. Após ser serrada no meio, percebemos que havia uma longa corda de sisal, com uma das pontas amarradas a um dos pedaços. O resto da corda passava por uma pequena argola de metal, instalada acima dos portões do salão. A outra ponta da corda estava suja de sangue, e aparentava ter sido arrebentada de outro segmento, por meio de força bruta.
7: Mecanismos do relógio – Os mecanismos, que faziam os ponteiros da torre do relógio mexerem-se, foram encontrados imóveis. O corpo esmagado de Harry Green estava no espaço, entre duas engrenagens, sendo uma delas a engrenagem que é utilizada às dez horas da manhã, no ciclo diário do relógio. Quando questionamos Monokuma do porquê do mecanismo ter parado, ele respondeu que uma trava de segurança fora acionada, quando foi sentido um corpo estranho entre as peças.
8: Adaga de rituais – A adaga de rituais, antes pertencente ao terceiro andar, fora encontrada ensanguentada na torre do relógio.
9: Balas de escopeta e bolinhas de chumbo – Espalhados pelo chão da torre, estavam algumas balas metal e bolinhas de chumbo, estas provenientes de um tiro de escopeta.
10: Manchas de sangue – Três manchas de sangue secas foram observadas, na torre do relógio. A primeira vinha do centro do espaço e trilhava até onde Thomas estava, no corredor da torre. A segunda estava perto dos ponteiros do relógio, e não fazia trilha para nenhum lugar. A última estava próxima a segundo, mas essa fazia um caminho, até o buraco contendo os mecanismos do relógio, onde o corpo de Harry fora encontrado.
11: Círculo de vidro – Um pedaço circular de vidro fora achado, do lado de dentro da sala dos mecanismos. Pelos desenhos pintados nele, assume-se que ele foi cortado do painel do relógio, antes dele estilhaçar-se.
12: Cano ensanguentado – Um pedaço de cano de metal, arrancado de um dos sistemas de água disfuncionais da torre, estava largado no chão, perto dos portões do salão, com uma de suas superfícies manchada de sangue.
13: Micro SMG – Quando o armazém de armas, do quinto andar fora investigado, encontra-se uma micro SMG, entre as armas alugáveis do dia.
14: Eletroímã – Perto da escadaria do segundo andar para o primeiro, fora encontrado jogado um eletroímã funcional, algo que certamente não pertencia ao cenário, anteriormente.
15: Seringa usada – Quando investigada a cozinha do segundo andar, fora encontrado na lixeira da sala uma seringa já utilizada. Dentro dela, era possível observar-se ainda algumas gotículas, de uma substância líquida transparente
16: Nota com usuário e senha – Na mesma lixeira, encontrou-se um pedaço de papel amassado. Nele estava escrito um endereço de e-mail e uma senha de usuário, estes que eram: “[email protected]” e “soucorderosa”.
17: Testemunha de Yui – De acordo com Yui, na noite de anteontem, Penélope dopara-o com clorofórmio. Ele então passou o dia seguinte amarrado e amordaçado, na presença de outro alguém, este que, no caso, era Harry, constantemente possuindo uma sensação de tontura. Na manhã do assassinato, ele acordou no meio do quinto andar. Thomas, ao achá-lo, libertou-o e continuou a subir até a torre do relógio, enquanto Yui fora encontrar-se conosco.
18: Vídeos de Penélope – No canal do YouTube de Penélope, foram encontrados dois novos vídeos recentes, estes que foram enviados ontem e na manhã do assassinato. O primeiro declarava que a garota havia sequestrado Harry e Yui, e os usaria na gravação de um vídeo no dia seguinte, em seu “esconderijo secreto”. O segundo vídeo apenas informava o local de tal esconderijo, que era os bastidores do salão de apresentações.
19: Folhas de alguma planta – Em uma das gavetas do laboratório de química, foi achado um almofariz repleto de folhas, de um certo tipo de planta. O terminal do armazém do andar não constava nenhum tipo de planta, em estoque.
20: Exames de sangue – Os exames de sangue, feitos em triplicata por Albert e Louise, deram negativo para todas as amostras obtidas, estas que dizem respeito a todos os estudantes anteriormente vivos, menos Harry, Yui e Penélope.
21: Roupas de Yui e Penélope – Quando encontramos Yui novamente, percebemos que suas roupas estavam esfarrapadas e sujas. A poeira em sua roupa era feita de mármore branco e indicava que, durante o último dia, ele esteve em um lugar empoeirado e abandonado. O mesmo tipo de poeira foi encontrado cobrindo as roupas de Penélope.
22: Lista de armas para aluguel – A lista de armas, do Aluguel de Armas Monokuma, expressava as seguintes armas para os seguintes dias: Lança foguetes no domingo, revolver Magnum na segunda-feira, sniper na terça-feira, espingarda na quarta-feira, micro SMG na quinta-feira, escopeta na sexta-feira e metralhadora no sábado.
*
Eram tantas pistas desconexas uma da outra, que eu sentia que havia muitas coisas faltando. Foi um erro ter perdido tempo, investigando os bastidores do salão de apresentação, assim como também os quartos das duas vítimas, já que não havia nada de incriminador em um desses lugares. Portanto, os únicos momentos produtivos da nossa investigação passaram-se, dentro do prédio principal. Apesar disso, devo ser otimista, pois, por sorte, conseguimos encontrar várias pistas apenas por sorte, como aquelas que foram achadas na lata de lixo da cozinha do segundo andar, ou as folhas peculiares no laboratório de química.
Até agora, arrependo-me de não ter olhado no quarto de Thomas. Eu considerei em usar a chave que encontramos, no seu corpo desmaiado, para adentrar em seu quarto, porém, as meninas insistiram em respeitar a privacidade dele, o que eu discordo plenamente. Qual a importância da privacidade, quando está-se em um jogo de vida ou morte?
Louise: Todos já terminaram? Podemos começar? - perguntou a loira, impaciente.
Com todos nós balançando a cabeça positivamente, já guardando seus respectivos tablets em seus bolsos, Monokuma deu-se a liberdade de começar o julgamento. Seria muito bom não termos que passar, por todo o debate, mas as regras tornavam isso inevitável. Como de costume, um sinal para que começássemos a falar deveria ser dado, pelo urso.
Monokuma: Vamos começar com uma simples explicação do julgamento de classe. - começou, cumprindo as mesmas formalidades de sempre, às quais eu não conseguia levar a sério, fitando a sua peruca afro – Durante o julgamento de classe, vocês apresentarão os seus argumentos para determinar quem é o assassino, e votar em quem vocês acham que cometeu o crime. Se vocês votarem corretamente, apenas o culpado receberá a punição. Mas, se vocês votarem na pessoa errada… - não só fazendo um silêncio dramático, ele também balançou as mangas folgadas, do seu macacão chamativo – Eu punirei todos exceto o assassino, e aquele que enganou a todos ganhará o direito de sair do programa de intercâmbio.
Louise: Então, por onde devemos começar? - a mesma pergunta que continuava a ser repetida, em todo julgamento.
Albert: Você, que estava toda impaciente para começar o julgamento, não sabe!? - indaguei, colocando toda minha decepção, em meu tom de voz.
Louise: O silêncio estava incomodando-me. Eu queria que alguém começasse a falar algo… - desculpou estranhamente.
Kylie: Bom, já que vocês não sabem o que discutir, eu tenho uma sugestão. - anunciou Kylie, um pouco desconfortável – Eu sugiro nós começarmos analisando a história que Yui contou-nos.
Yui: Por que? Está duvidando de mim? - apesar da pergunta, o ruivo não soou ofendido.
Kylie: Eu só quero saber se o seu testemunho é plausível ou não. - retrucou, sem importar-se se a sua última fala havia soado acusatória, ou não – Você é a única pessoa viva e acordada que parece ter tido algum tipo de participação, no caso.
Louise: Sim! Você foi um dos sequestrados da Penélope, e ainda por cima, estava no prédio principal, quando tudo aconteceu. - acrescentou Louise.
Kylie: Não leve para o pessoal, mas devemos saber se podemos confiar em você, antes de prosseguir. - não só Louise, mas eu e Naomi também concordávamos com Kylie – Se há uma contradição na sua história, podemos imediatamente descartá-la por completo, e passar para o próximo tópico, assumindo-o como mentiroso.
Yui: Eu entendo. Não precisam explicar toda a motivação de vocês. - ele cruzou os braços.
Naomi: Você começou dizendo que Penélope dopou-lhe com clorofórmio, durante a noite de anteontem, quando você voltava para seu quarto. Certo? - Naomi era uma garota que gostava de analisar tudo, parte por parte, então era óbvio que ela começasse do início, mesmo que não houvesse nada demais sobre isso.
Yui: Sim. Cheirava como clorofórmio, pelo menos. - pergunto-me, como ele sabia reconhecer o odor, desse químico?
Albert: Há bastantes garrafas com clorofórmio, no armazém do quarto andar, portanto, não vejo nada de errado com essa parte da história. - declarei.
Louise: E quanto a Thomas? Vocês não saíram da praça de alimentação juntos, naquele dia? - Louise tentava achar qualquer discrepância, no testemunho de Yui, com a realidade.
Yui: Eu sabia que ele havia saído depois de mim, mas tomamos caminhos diferentes. Não queríamos ter que olhar, um na cara do outro. - Yui respondia tudo, com uma postura elegante e palavras claras, como se fosse um interrogatório policial.
Naomi: Ok, passando para a próxima parte. - prosseguiu a costureira – Você disse ter acordado, em um lugar escuro e empoeirado, tonto, amarrado e amordaçado. Harry também estava ao seu lado, correto?
Yui: Exatamente. - respondeu rispidamente.
Kylie: Eu não vejo nada de errado com essa parte, mas uma coisa incomoda-me… - a psicanalista coçou o queixo, pensativa – Onde vocês dois estavam presos?
Louise: Não está óbvio que eles estavam, no esconderijo secreto de Penélope? - indagou a loira, minimizando a pergunta de Kylie.
Naomi: Mas onde seria esse tal esconderijo? - Naomi fitou o chão.
Louise: Nos bastidores, é claro! Até Penélope admitiu isso. - não, essa declaração de Louise estava errada.
Albert: Eu não acho que esse seja o caso, por dois motivos. - neguei – O primeiro é o fato de nós termos investigado lá, e não acharmos nenhum traço da existência dela. - de fato, quando nós olhamos os bastidores do salão, concluímos que ninguém havia ido ali, recentemente – O segundo é em relação à logística do próprio assassinato. Pense bem, Penélope teria que ter movido os corpos inconscientes de Harry e Yui, de um lado do campus, até o quinto andar do prédio principal. Isso tudo sem ser vista por ninguém.
Yui: Talvez ela tenha feito tudo isso, durante a manhã de hoje. Em um horário, em que todos estavam dormindo. - Yui também parecia inclinado a ajudar-nos.
Naomi: Não. - negou rispidamente – Eu e Kylie acordamos bem cedo, e passávamos constantemente entre o salão e o prédio principal, preparando tudo para abordar a youtuber mais tarde. Se ela houvesse carregado dois corpos de um lado para o outro, nós teríamos notado.
Louise: E se ela tivesse usado uma passagem secreta para ir do salão, até o prédio principal? - supos a fazedora de bonecas – Monokuma sempre parece teletransportar-se, de um lugar para outro. Ele deve usar um tipo de passagem similar, e como Penélope é a ajudante dele, ela pode ter usado-as a seu favor.
Monokuma: Não, não, não, não e não! - protestou Monokuma, em uma mistura de raiva e nojo – Eu uso tubos subterrâneos minúsculos para ir de um lugar para o outro, a senhorita Endler jamais seria capaz de enfiar-se, em um deles! - esse tipo de dúvida sempre cabia a Monokuma esclarecer – Sem falar que, mesmo que ela coubesse em um deles, eu jamais deixaria que ela passasse seu corpo imundo, pelo meu principal meio de transporte!
Kylie: Então… - Kylie esperou por um momento, garantindo que ninguém possuía mais alguma objeção – É correto afirmar, que é impossível que Penélope tenha mantido Yui e Harry, no salão de apresentações. Não só isso, mas também em qualquer outra construção secundária, do campus.
Louise: O que você quer dizer com isso? - perguntou, confusa.
Albert: Ela quer dizer que os três estavam, no prédio principal. - respondi mais uma vez com decepção, por ter que explicar coisas tão óbvias.
Louise: O que!? - Louise ficou surpresa – Mas ontem, nós passamos a tarde inteira procurando por eles, no prédio principal!
Yui: É muito provável que vocês não tenham prestado atenção, em algum detalhe crucial. - até mesmo Yui, que não havia participado da busca, compreendia os fatos melhor que Louise.
Louise: Se eles estavam no prédio principal, onde era o esconderijo!? - perguntou, querendo respostas imediatas.
Naomi: Eu ainda acho que o três primeiros andares são improváveis. Ter que subir vários lances de escada, carregando corpos nas costas, deve ser bem complicado. Ainda mais para uma garota tão frágil, quanto Penélope. - tão frágil que não apenas assassinou uma garota em seus vídeos, mas também conseguiu raptar dois garotos, um atrás do outro.
Yui: Mesmo assim, eu não acho que devemos excluir, os primeiros andares. Se ela tivesse tempo, ela seria capaz de carregar dois corpos, pelas escadarias. - isso considerando que nenhum dos dois acordaram, ao serem arrastados, por degraus duros e desconfortáveis.
Kylie: Eu acho que para descobrirmos esse tal lugar, devemos ater-nos a descrição de Yui, sobre o esconderijo. - ela voltou seu olhar para o ruivo – O lugar, em que vocês dois estavam, era apertado, completamente escuro e sujo, certo?
Yui: E abafado. - acrescentou.
Louise: Talvez eles estavam trancados, em um dos armários do laboratório do quarto andar. - imaginou.
Naomi: Impossível. Aqueles armários são pequenos demais para caberem mais de uma pessoa. Sem falar que, eu inspecionei todos eles, ontem. - defendeu Naomi, implicando que sua inspeção no andar fora perfeita.
Louise: Seria útil se Yui pudesse dizer-nos do que era feito, o interior do esconderijo… - lamentou-se.
Yui: Eu não lembro-me, pois estava tonto demais para prestar atenção, nesses detalhes.
Louise: Será que eles estavam presos, nos mecanismos da torre do relógio? - nesse momento do debate, todos tentaram sugerir ideias absurdas.
Kylie: Não. - negou, como se a ideia de Louise fosse a mais absurda, até agora – Eles seriam esmagados pelas engrenagens, se isso acontecesse! - Kylie pensou por um momento – Talvez eles estavam em um dos túmulos, da passagem secreta do terceiro andar.
Naomi: Faz sentido, mas essa ideia parece-me errada. - disse balançando a cabeça – Acho que nós devemos focar no quinto andar, já que é o lugar mais próximo da torre.
Yui: E qual lugar do quinto andar, você sugere? Aquelas salas não parecem possuir nenhum tipo de esconderijo, por si só! - Yui contestou, atendo-se a tudo o que ele viu, na primeira vez, em que ele subiu no andar.
Naomi: Eu não estou dizendo, que Penélope simplesmente tenha encontrado um esconderijo. Ela pode ter feito um, dessa forma, ninguém suspeitaria em procurar no local, em primeiro lugar… - comecei a ficar interessado, no pensamento de Naomi – Ela pode ter usado um espaço que ninguém suspeitaria, como o interior de uma escultura. - ao ouvir essa ideia de Naomi, as ideias embaralhadas no meu cérebro começaram a juntar-se, finalmente fazendo sentido.
Albert: Isso faz muito sentido! - exclamei, chamando a atenção do grupo, lembrando especificamente de um cometário de Monokuma, sobre um monumento de uma das salas, do quinto andar – O esconderijo pode ser o interior da estátua de Atena!
Kylie: Você está falando daquela estátua gigante, dentro daquele templo estranho!? - Kylie arregalou os olhos, em surpresa.
Albert: Sim! - afirmei – Monokuma disse para mim que aquela estátua enorme era oca!
Louise: Oca!? - indagou – Isso é verdade?
Monokuma: Sim! Eu posso confirmar isso! - interveio o urso – Por algum motivo, quem esculpiu a Atena Partenos a fez vazia, por dentro. Não pergunte-me o porquê, que essa resposta eu não tenho.
Albert: Minha teoria é que Penélope fez uma abertura, na estátua. - disse com uma expressão séria – Dessa forma, ela poderia colocar os dois garotos lá dentro, e quando visse alguém chegando, ela se colocaria dentro e fecharia a estátua, fazendo com que ninguém notasse a abertura.
Louise: Isso explica o porquê de eu não ter encontrado eles, quando eu estava investigando o andar! - ressaltou a loira.
Yui: Mas isso é apenas especulação. - falou Yui, com um tom cabisbaixo – Não temos como provar se eu e Harry estávamos presos lá, ou não.
Albert: Na verdade, há uma pista que indica que a minha teoria é verdadeira. - declarei, fazendo Yui levantar seu olhar – As suas roupas Yui. Aquelas que você estava usando, quando reencontramos você. Elas estavam cobertas de poeira branca. Poeira de mármore.
Naomi: E a estátua era feita de mármore. - conclui Naomi – Isso também explica o próximo acontecimento da história, o qual Yui estava largado no quinto andar.
Albert: Se Yui estivesse incapacitado, em um dos andares inferiores, faria muito mais sentido Penélope ter deixado-o, no próprio andar. - tomei a palavra novamente para mim – Isso torna muito mais plausível, a teoria de que ela arrastou Harry, até a torre do relógio.
Louise: Não há nenhuma outra estrutura de mármore no prédio, portanto, essa deve ser a única resposta lógica. - Louise sorriu, feliz por livrarmo-nos, de mais um mistério.
Kylie: Agora que esse problema do esconderijo está resolvido, podemos passar para a última parte da história. - Kylie fitou Yui – Depois de você ter acordado, no corredor do quinto andar, Thomas encontrou você e libertou-o, certo? - Yui concordou, balançando a cabeça. A garota torceu o nariz, como se estivesse achando essa parte da história, muito estranha – Eu não vejo nenhuma inconsistência nessa parte, logo, digo que podemos encerrar a análise do seu testemunho. - ela certamente não estava feliz, em terminar a interrogação aqui, mas por falta de provas, Kylie foi forçada a seguir em frente.
Yui: Agora que vocês já tiraram as suspeitas de mim… - Yui suspirou, aliviado – Qual outro tópico devemos esclarecer?
Louise: Eu acho que devemos descobrir o que aconteceu, quando Thomas subiu na torre do relógio. - Louise levantou a mão, implorando por atenção.
Albert: Isso é um tópico muito amplo. - respondi – Achar as respostas disso seria resolver o caso inteiro, em uma tacada. - se havia algo que eu aprendi com esses julgamentos é que não é uma boa ideia, tentar digerir tudo, de uma única vez – Devemos quebrar os acontecimentos, em escalas menores.
Naomi: Uma ótima ideia. Mas que parte devemos debater primeiro? - a cena do crime, a torre do relógio, era uma bagunça sem fim, portanto, entender onde deveríamos começar era o maior problema.
Kylie: Eu acho prudente analisarmos, quem morreu primeiro. Harry, ou Penélope. Isso se Thomas não foi o primeiro a ser nocauteado. - disse ajeitando seu óculos.
Louise: Penélope matou Harry, isso é obvio! Foi ela quem arrastou-o até a torre, em primeiro lugar! - gritou Louise, batendo seu punho contra a bancada.
Yui: E quem matou Penélope depois disso? - perguntou em um tom calmo.
Louise: Thomas, imagino eu… - respondeu incerta – Ele é a única outra pessoa que estava na área.
Yui: Isso é impossível. Por simples dois motivos principais. - contestou, mostrando para todos o quão errado Louise estava – O primeiro é o fato dos portões da sala estarem trancados por dentro, ou seja, apenas alguém que estava dentro da sala pode ter feito o assassinato. O segundo problema é que Thomas fora encontrado inconsciente, o que significa que algum dos dois deveriam ter sido responsáveis, por nocauteá-lo, em primeiro lugar. - Yui começou a mostrar dominância, no debate.
Naomi: O que ele está dizendo é verdade. - Naomi balançou a cabeça – Pelas manchas de sangue que encontramos, Thomas parece ter sido nocauteado no lado de dentro da sala, e depois arrastado, até o lado de fora pelo portão. - argumentou pensativa – Por isso, assume-se que ele foi nocauteado, antes dos portões serem selados, pela porta de madeira.
Louise: Então, o assassino tem que ser alguém que permaneceu na sala de mecanismos, até o final. Ou seja, Harry ou Penélope. - Louise ficou boquiaberta – Vocês acham que a Penélope pode ter cometido suicídio?
Kylie: Você viu como estava o corpo de Penélope? - indagou – Ela estava com todos os deus quatro membros presos por pregos. Seria impossível ela mesma colocar-se daquele jeito.
Louise: Então você está sugerindo que Harry matou Penélope, e depois suicidou-se? - até mesmo Louise sabia, que isso era uma frase absurda.
Kylie: Não, estou apenas dizendo para irmos com calma. - Kylie levantou as mãos, pedindo para que ela respirasse – Só porque a porta estava trancada selada, pelo lado de dentro, não significa que o assassino deva ser uma das pessoas que foram encontradas, lá dentro. Até porque, já vimos várias vezes esse tipo de mistério.
Albert: César, King, Lilian… - citei – Todos eles utilizaram o mistério da porta trancada. Não devemos levar isso muito a sério.
Yui: Se a porta trancada pelo lado dentro fora um tipo de truque do assassino, temos que descobrir, qual foi o tipo de truque que ele utilizou. - a essa altura, todos nós já estávamos familiarizados, com os tipos de métodos usados para esse tipo de mistério – Primeiro, podemos já descartar a possibilidade do assassino ter escondido-se dentro da sala, e depois reunido-se conosco, fingindo ter vindo de outro lugar.
Naomi: Sim, nós estávamos já todos reunidos, quando abrimos a sala pela primeira vez. - complementou.
Yui: Segundo, a possibilidade dele ter usado uma passagem alternativa para sair da sala também é bem improvável. - Yui fazia questão de explicar tudo pouco a pouco, garantindo que todos entendessem.
Kylie: Nós vasculhamos todo canto daquela torre, com certeza não há uma passagem secreta ali. - ressaltou – Ele poderia ter descido da torre por rapel, pelo buraco onde antes havia o painel de vidro. No entanto, isso requer uma velocidade absurda, de forma que não o víssemos. - esse palpite faria com que Yui fosse o único suspeito, mas como era muito cedo, antes de apontar dedos, Kylie terminou sua explicação brevemente.
Yui: Ou seja, a única possibilidade é que o assassino usou algum tipo de mecanismo, para que os portões fossem selados, pela tábua de madeira. - ele podia ter ido direto ao ponto, desde o início, economizando tempo e saliva.
Louise: Um mecanismo… - pensou a loira – Penso que isso tem algo a ver, com aquele pedaço de corda, amarrado na tábua de madeira.
Kylie: Sim. - concordou – A corda claramente passava por aquela argola, acima da porta. A tábua deveria estar levantada acima dos portões, e como os puxadores dos portões tinham uma forma de gancho para cima, bastava apenas a tábua cair em cima deles, então selando a passagem. - se isso era verdade, esse mecanismo para trancar a porta era o mais simples, até agora.
Yui: Mas nesse caso, precisaria de algo para soltar a corda, fazendo com que a tábua caísse, em cima dos puxadores. - quanto ao que soltou a corda, eu mesmo tenho uma ideia, sobre o que pode ter acontecido.
Albert: A outra ponta da corda, a que estava solta pela sala, parecia ter sido arrebentada usando força bruta, como se dois caminhões houvessem puxado-a, em direções opostas. - lembrei, apontando para meu tablet, em meu bolso.
Louise: E o que isso conclui? - perguntou, como se estivesse desafiando-me.
Albert: Se fosse uma outra pessoa soltando a corda, a qualquer outra coisa a qual ela estaria presa, ela simplesmente desataria o possível nó, ou simplesmente a cortaria com uma tesoura. - isso era simplesmente senso comum – Não teria sentido pensar que o assassino partiu a corda de sisal ao meio, usando apenas as próprias mãos.
Naomi: Isso requerer uma força absurda.
Albert: Então, a corda deve ter sido partida, por alguma força mecânica. - conclui, sem dizer o que eu imaginava ser a força – Nós devemos pensar aonde a outra ponta da corda estava presa, assim como também descobrir o que a fez partir.
Louise: Talvez ele possa ter usado uma das balas da escopeta para partir a corda! - ela estufou o peito.
Naomi: Se isso houvesse acontecido, a corda estaria chamuscada na ponta. - contra-argumentou.
Yui: Quando Penélope caiu, ela poderia estar presa a corda também. Então, quando a mola esticou-se, apenas a tensão ficou apenas na corda, fazendo-a com que ela partisse-se. - possível, porém, muito específico e difícil de ocorrer. Melhor ouvir outra teoria.
Kylie: E se a corda tivesse sido pressionada, pelos mecanismos do relógio, fazendo com que ela partisse-se ao meio? - era esse o pensamento que havia tido a pouco. Pelo visto, não fui apenas eu que pensei o mesmo.
Albert: Eu pensei o mesmo! - disse de uma vez – No caso, a outra ponta da corda seria jogada nas engrenagens, então, a tensão das engrenagens puxando-a faria com que ela arrebentasse.
Yui: Não, isso não faz sentido! - Yui exclamou, levantando seu tom de voz para mim – Isso requer uma precisão perfeita do assassino, já que ele teria que imaginar o momento exato, em que as engrenagens arrebentariam a corda. Caso o contrário, ele ficaria preso na própria sala!
Albert: Ei calma, ainda não discuti os detalhes! - pedi, torcendo para que ele ouvisse-me e abaixasse o tom.
Yui: Eu acho que você deveria pensar bem, antes de falar. Dessa forma, você vai apenas confundir-nos! - Yui continuou agressivo.
Albert: Eu só preciso pensar um pouco… - pedi por silêncio, forçando meu cérebro a pensar em alguma resposta para sua réplica – Na verdade…! - comecei, já formulando uma resposta – O assassino pode ter sim ter usado as engrenagens e não dependido da sorte, na hora de fechar os portões! Ele só precisava ter amarrado a corda, a umas das engrenagens que mudam, de acordo com a hora! - isso ainda tornaria a teoria ainda mais palpável, já que o assassino não precisaria entrar no buraco para prender a corda a engrenagem.
Yui: Se a corda tivesse sido amarrada a uma das engrenagens trocáveis, nós teríamos visto a outra parte da corda, ainda presa a engrenagem. - Yui era insistente, mas a essa altura, eu já sabia o que havia acontecido.
Albert: Mas eu não acho que a corda estava amarrada a engrenagem em si… - antes de eu poder terminar minha frase, fui interrompido novamente.
Yui: Então ao que a corda estava presa!? - indagou em voz alta.
Albert: Ao corpo de Harry! - ao responder isso, Yui ficou quieto. Parecia até que, ele sabia da resposta esse tempo inteiro – As engrenagens que mudam de acordo com o horário permanecem inertes, até a hora em que elas são usadas. O assassino pode ter pego o corpo de Harry, prendendo a corda a ele e colocando o cadáver, em um dos lados da engrenagem. - tentei focar nos olhos de Yui, o que era uma tarefa difícil, com as luzes coloridas piscando no meu rosto – Então, quando a engrenagem abaixou, a corda partiu-se por causa da tensão gerada pelos mecanismos, fazendo com que a tábua caísse e selasse a porta. É por isso que havia sangue na corda!
Naomi: Se o que você diz é verdade… - Naomi estava surpresa, com meu raciocínio – Então isso explica o porquê do assassino ter feito questão, de esmagar o corpo de Harry, nas engrenagens. Não só o cadáver serviria como um suporte para a corda, mas também é uma forma de destruir as evidências.
Louise: Nossa, eu nunca havia pensado dessa maneira. Bom trabalho Albert! - Louise aplaudiu-me, por alguns segundos.
Kylie: Eu realmente acredito que a teoria de Albert representa exatamente, o que aconteceu. - Kylie, que estava calada até agora, finalmente resolveu posicionar – Sendo assim, podemos concluir três coisas, com base nisso. Primeiro, o assassino tem que ser alguém que estava, do lado de fora do salão, ou seja, não pode ser Penélope ou Harry. Segundo, Harry já estava morto, antes das dez da manhã, já que seu corpo fora encontrado esmagado, por essa engrenagem.
Yui: Sim, isso é óbvio. - disse confiante – E qual seria a terceira conclusão?
Kylie: A terceira conclusão… - Kylie fitou o ruivo, prestes a fazer aquilo que ela queria fazer, desde o início do julgamento – É que você mentiu, na sua história.
Quando Kylie disse isso, o mundo pareceu parar. Essa frase não era uma surpresa para ninguém, mas, de qualquer forma, ouvir uma acusação tão crua assim, ainda mais vindo de Kylie, que antes era tímida e retraída, era algo certamente importante. Yui, o acusado e, agora, principal suspeito, simplesmente levantou a cabeça, confiante que saberia rebater tudo que seria jogado, em cima dele.
Yui: Como eu menti? - perguntou de maneira simples.
Kylie: O relógio parou as exatas dez da manhã. Nós só notamos isso, quando vimos Penélope pendurada, pela primeira vez. Ou seja, os portões estavam trancados desde as dez em ponto. - a lógica de Kylie não estava completa, mas todos sabiam onde ela queria chegar.
Yui: E o que isso prova? - disse Yui, fazendo-se de sonso.
Kylie: Pelas manchas de sangue que encontramos naquela sala, e assumindo que aquele pedaço de cano ensanguentado foi a arma utilizada para nocautear Thomas. - Kylie ajeitou os óculos, em seu rosto – Então podemos dizer que Thomas foi nocauteado e arrastado para fora, ainda com os portões abertos, ou seja, antes das dez horas. No entanto, de acordo com seu testemunho, você deveria ter encontrado Thomas, por volta das 10:45, já que após ele libertá-lo, você veio direto até nós.
Louise: Como você explica isso, Yui!? - agora, Louise também voltou-se contra ele.
Kylie: Considerando que você não mentiu, em relação a ter sido Thomas que libertou-lhe, então responda para nós. O que você fez das dez em ponto, até o momento, em que você encontrou-nos? - agora, Yui estava encurralado. Não havia como ele continuar insistindo, na sua mentira.
Yui: Eu? - ele apontou para si mesmo – Eu fui fazer um lanche, é claro!
Albert: Ah, vamos lá! Ninguém aqui é idiota! - essa era a minha vez de perder a paciência.
Yui: Mas é verdade! - protestou – Penélope deixou-me sem comida, durante um dia inteiro, eu estava morrendo de fome!
Louise: Se isso é verdade, o que você comeu? - até mesmo Louise estava pressionando-o.
Yui: Sanduíche de presunto e geléia de mocotó! - respondeu, dizendo os primeiros alimentos que vieram a sua mente.
Louise: Até agora você está mentindo! Carne estava proibida! - ela bateu os pés, frustrada.
Albert: Você está começando a entrar em pânico não é? - indaguei, de braços cruzados – Você sabe que, nesse caso, você torna-se a única pessoa elegível a ser o assassino.
Yui: Você está dizendo que eu matei Penélope, Harry e ainda sim nocauteei Thomas? - Yui fingiu surpresa.
Albert: Nós, até agora, pensávamos que Penélope havia matado Harry, mas, pelo visto, o culpado também é você! - apontei para ele, do outro lado da bancada – Penélope e Harry estavam dentro da sala, mortos. Thomas foi nocauteado e arrastado para fora da sala, antes dela ser selada. Eu, Louise, Naomi e Kylie comprovamos os álibis um do outro. - parei para respirar – Por um processo de eliminação, você é o único que pode ser o assassino!
Yui: Mas que raciocínio impecável. - ele sorriu – Uma pena que é impossível que eu seja o assassino. E já há provas que dizem isso.
Naomi: Provas? - gaguejou.
Yui: Exatamente, provas. - debochou – O corpo de Penélope, por si só, é a prova que comprova minha inocência.
Kylie: Explique-se melhor. - exigiu.
Yui: O corpo de Penélope foi atirado da torre, depois das dez, no mesmo momento em que o vidro do painel estilhaçou-se. - ele começou a estalar os dedos, inquieto – Uma outra pessoa deveria ter sido responsável, por isso. Alguém dentro da sala dos mecanismos.
Kylie: Isso é fácil! - Kylie replicou, com a velocidade de um trovão – Aquela escopeta presa, ao lado oposto do painel. Havia um cronômetro unido ao seu gatilho. Você pode ter programado a escopeta para atirar, após você ter saído da sala. Com um único tiro, a escopeta atirou em Penélope presa no crucifixo de base no chão, perfurando seu crânio, atirando seu corpo para trás e quebrando o painel, nas suas costas.
Yui: Eu posso até dizer que aquela escopeta foi a responsável, por quebrar o painel. Entretanto, é impossível que ela tenha sido a responsável, por ter atirado em Penélope, fazendo-a cair para trás. - quando todos nós mostramos uma expressão de dúvida, Yui suspirou por ter que explicar o resto – A arma estava posicionada acima dos portões, em um ângulo de 90° graus com a parede. Em outras palavras, o tiro não acertaria o crucifixo de pé no chão, pois ele passaria muito acima do alvo. Não apenas isso.
Naomi: Algo mais?
Yui: Você não concordam que seria muito difícil colocar os crucifixos de pé? Aquela mola, presa na base de um dos crucifixos, desequilibraria todo o corpo, fazendo com que ele caísse para qualquer um dos lados. - droga, justo quando pensávamos ter encurralado o ruivo.
Louise: Pensando bem, você tem razão. - lamentou a loira, triste – Talvez devemos rever de novo, o mistério da porta trancada por dentro?
Albert: Não. - neguei furioso – Todas as pistas indicam que aquela porta foi trancada, daquele jeito. Não há sentido em discutir isso de novo.
Yui: Você não percebe que, ao dizer isso, torna o caso insolúvel? - fiquei em silêncio, sem saber o que responder – Como eu já disse, o assassino deveria ser alguém que ficou dentro da sala, quando ela foi trancada, do jeito que você descreveu. Harry já estava morto, quando Penélope foi atirada da torre, já a youtuber não poderia ter feito isso, pois estava crucificada. Portanto, o caso é insolúvel, a menos que você admita que você estava errado mais cedo.
Maldição. Yui estava usando apenas pura lógica para mostrar, o quanto a minha própria teoria, tornava-o inocente. Ele não precisava falar, mas se eu admitisse estar errado, eu poderia muito bem falar que ele atirou em Penélope e no painel, e saiu correndo para encontrar-se conosco. Infelizmente, isso faria com que nós voltássemos a estaca zero no debate, pois também implicaria que Yui não mentiu em seu testemunho, já que a porta não fora selada necessariamente às dez da manhã.
Deve haver uma outra perspectiva, pela qual eu não consigo enxergar. Certamente, o pensamento de Yui estava correto. Não havia como ter jogado o corpo de Penélope da torre, sem estar na sala, ainda mais considerando, que não havia nenhum outro tipo de máquina para jogá-la. Começo a pensar em questionar, os próprios fundamentos da contradição. Talvez, nós estejamos vendo tudo de maneira mais obvia, sendo que nem ao menos vimos os acontecimentos, em primeira mão. A melhor ideia, a qual consigo pensar, é questionar Yui diretamente, procurando novas possibilidades de como racionalizar, os ocorridos.
Albert: Será… - começei – Que Penélope não foi jogada da torre, em primeiro lugar? - isso soava absurdo, mas eu tinha que tentar visões diferentes.
Yui: Como não? - questionou, sem levar-me a sério – Vocês todos ouviram o barulho do relógio estilhaçando-se. Quando vocês saíram do salão, vocês viram o corpo dela pendurado. Vocês mesmo disseram-me isso.
Albert: Sim, mas nunca chegamos a ver o corpo dela sendo jogado, diretamente. - de alguma forma, Yui relembrando esses fatos apenas deu-me mais ideias – E você também não viu, pois o encontramos, dentro do prédio principal.
Naomi: Isso é verdade. - concordou Naomi, tentando seguir o meu raciocínio – Mas se Penélope não fora jogada, então como ela apareceu crucificada, lá em cima?
Claro, sempre havia a possibilidade dela sempre ter estado lá, e nós simplesmente não percebemos antes, porém, não só isso era um plano arriscado para o assassino, como também a possibilidade dos mais observadores, como Naomi e Kylie, de perceberem e estragarem o plano era alta. Continuo pensando que ela não fora lançada lá de cima, contudo, se eu quero provar isso, tenho de pensar, em uma teoria plausível. Se ela não foi jogada da torre, então a única forma dela ter aparecido pendurada lá…
Albert: E se o assassino pendurou-a, pelo lado de fora? - sugeri, sem formular ainda, em uma teoria completa.
Yui: De fora do prédio? - indagou, em um tom de deboche – Você acha que o assassino escalou o prédio, como o homem-aranha, carregando Penélope crucificada em suas costas?
Albert: Não há dúvidas, que aquela escopeta, presa na parede, destruiu o painel da torre. - falei vagarosamente, enquanto pensava – Ela fez aquilo, após a porta ser selada. Por isso houve a necessidade, de colocar um cronômetro nela.
Louise: Mas é como Yui disse, não há como ter usado-a para atirar Penélope da torre. - contra-argumentou, como se eu houvesse esquecido disso.
Albert: Exatamente, por isso eu penso que ela deve ter sido pendurada, pelo lado de fora. - rebati.
Kylie: Ok, eu entendo que isso possa fazer sentido, mas ainda há muitas barreiras que impedem isso de acontecer. - agora, até Kylie posicionou-se contra mim – Primeiro, para fazer isso, o assassino teria que escalar, até quase o topo da torre, e descer até o chão, tudo isso apenas no período de tempo, em que investigamos o salão. Não só isso, a mola que prendia Penélope estava presa a um gancho, do lado de dentro da torre.
Albert: Mas e se a mola já estivesse posta? - imaginei, tentando fazer a ideia ter sentido – Assim, tudo o que o assassino precisaria fazer é prender a fivela da cruz, na mola.
Yui: Você fala como se fazer isso fosse fácil, o homicida ainda teria que escalar o prédio, com Penélope, em suas costas. - começo a pensar, se houve mesmo a necessidade de escalar… - Não bastando esse problema, mas também há de considerar que o painel da torre não havia sido quebrado, nesse momento. Portanto, não havia como passar a mola para o lado de fora.
Naomi: Desculpa Yui, mas isso eu tenho que discordar de você. - falou educadamente – Havia sim uma forma de passar a mola para o lado de fora, antes do relógio ter sido estilhaçado, por completo. - Yui nem perdeu tempo interrogando-a, resolvendo simplesmente olhá-la com curiosidade – Nós achamos um pedaço de vidro, que pertencia ao relógio, do lado de dentro da sala.
Yui: E o que isso prova? - perguntou, olhando-a de cima.
Naomi: Nada, mas… - Naomi retraiu-se – Eu acho que o assassino cortou o vidro, e retirou esse pedaço de antemão. Dessa forma, ele poderia passar a mola para o lado de fora. - respirei aliviado, vendo que havia mais uma prova que indicava, que eu estava certo.
Louise: De fato, aquele pedaço tinha uma forma circular muito peculiar, para ter sido feito, com um tiro de escopeta. - acrescentou Louise – Então definitivamente é possível, que a mola tenha sido colocada para fora, antes de Penélope ter sido pendurada.
Yui: Está bem, mas isso não acaba com o problema do culpado ter tido que escalar o prédio, para conseguir esse ato. - recordou, ainda com o rosto franzido.
Essa seria um dos momentos, em que eu teria que imaginar uma possibilidade inédita. Enquanto Naomi e Yui discutiam, comecei a pensar se havia mesmo, a necessidade do assassino escalar o prédio para pendurar Penélope. Meu primeiro pensamento, foi o de que o homicida usara uma janela, de um dos andares superiores, para alcançar a ponta da mola e afivelar a cruz. No entanto, isso não era possível, pois o último andar que possuía algum tipo de janela era o quarto, no laboratório de química, o que por sua vez estava muito distante da torre.
Eu deveria pensar em algo mais inusitado. Algo como pular de paraquedas, de um lugar mais alto, e prender o crucifixo na queda. Claro, essa ideia era absurda, por vários motivos, mas era um começo. O prédio central era a estrutura mais alta do campus, logo, o assassino não pode pular, de um lugar para o outro. Começo então a relembrar minha teoria da janela, pensando em todas as salas do prédio que sabemos sobre. O quinto e terceiro andares são completamente fechados. O quarto andar possui apenas uma janela, porém, ela é muito distante da torre. Já o segundo andar também não possui nenhuma janela, contudo, ele não é fechado, pois possui uma montanha-russa instalada, em um das salas, esta cujo o percurso passa pelo exterior do prédio… Espera! Será que essa é a resposta!?
Albert: E se o assassino não teve que escalar!? - indaguei entusiasmado, chamando a atenção de todos, que por sua vez não souberam como responder – A montanha-russa do segundo andar! Ela contorna o prédio inteiro, pelo lado de fora!
Kylie: Como isso funcionaria? O carrinho da atração move-se rápido demais para que alguém tivesse tempo de fazer algo, durante o percurso. - após entender a minha ideia, Kylie imediatamente contestou-a.
Albert: Não durante o percurso inteiro. - eu tinha propriedade para falar sobre isso, pois eu já fui no passeio do brinquedo, junto a Chris – No início do percurso, o carrinho sobe vagarosamente, até o topo do prédio, consequentemente, passando pela torre do relógio!
Louise: Isso faz muito sentido! - Louise sorriu.
Yui: Não. Não faz. - eu já esperava que Yui apontaria contradição, por isso, restava-me ouvir a sua defesa – Para que a atração inicie, é necessário que todos os passageiros estejam usando o cinto de segurança. - disse, limpando a garganta – Os trilhos passam a uma distância considerável das paredes da construção, principalmente da torre. Portanto, seria necessário que o assassino não estivesse, com o cinto de segurança, para alcançar a mola pendurada. Na verdade, mesmo que ele esteja solto, eu duvido muito que ele tenha conseguido alcançar a mola.
Naomi: Esse é um argumento sólido. - ressaltou – Será que ele pode ter usado alguma ferramenta, como uma vara, para pescar a mola?
Kylie: Isso requer muita precisão e habilidade, e mesmo que o carrinho mova-se devagar, o movimento apenas tornaria essa performance mais complicada. - explicou, coçando a cabeça – Se o assassino tivesse tempo para andar várias vezes, na montanha-russa, talvez ele optaria por essa abordagem. Entretanto, como ele teria que fazer isso, apenas enquanto nós estávamos no salão, então não acho que ele escolheria algo tão arriscado.
Louise: Talvez com um gancho seria mais fácil. - pensou.
Yui: Ainda sim, seria muito difícil pescar a mola. - falando assim, sinto como se o instrumento usado fosse uma vara de pescar.
Louise: Realmente. E também há o problema da Penélope não poder ter usado o cinto. - acrescentou.
Naomi: Eu acho que um corpo morto não precisa usar um cinto de segurança para iniciar a montanha-russa. Nesse caso, Penélope deve ter contado, como uma bagagem do passageiro. - ela deve estar certa, em relação a isso.
Yui: Do que adianta poder levar Penélope no carrinho, se o assassino não alcançar a mola. - insistiu, de expressão fechada.
Kylie: Eu estive pensando, como é estranho o fato do assassino ter usado uma mola para pendurar Penélope. - ignorando Yui, Kylie começou a expor uma dúvida – Ele poderia ter usado uma corda, ou uma corrente. No entanto, ele usou uma mola, o que é bem inusitado por si só. - disse mordendo o lábio – Não consigo achar nenhum outro motivo, por ter usado especificamente uma mola, a não ser aproveitar-se do fato que ela estica.
Naomi: Por isso eu penso que essa hipótese da montanha-russa seja verdade.
Louise: Mas não adianta. É quase impossível alcançar a mola do carrinho. - ao ouvir Louise desesperançosa, forço minha mente um pouco, fazendo com que uma pista importante venha à tona.
Albert: E se o homicida houvesse usado um ímã!? - sugeri, mesmo sabendo que esse era provavelmente o caso.
Naomi: Agora que você mencionou, nós achamos um eletroímã, no corredor do segundo andar. - a costureira arregalou os olhos – Ele pode ter usado isso para atrair a mola, mesmo de longe.
Albert: Eu pensei exatamente isso! - exclamei, feliz por não ser o único que chego, em tal entendimento.
Kylie: Aquele ímã teria a potência para atrair a mola, de tão longe?
Louise: Eu e Naomi testamos ele em um parafuso, assim que o encontramos. - mencionou, sem dizer que eu estava com elas, nesse momento – Naomi colocou o parafuso, no final do corredor, enquanto eu estava no início dele. O ímã conseguiu atrair o objeto metálico com facilidade, mesmo ele estando do outro lado do andar.
Albert: Na verdade, você só fez isso porque queria brincar com ímã. - brinquei, lembrando da loira grudando e desgrudando o ímã, em várias superfícies, apenas por diversão.
Louise: Mas foi por isso que a gente tem essa evidência, agora! - protestou, envergonhada.
Yui: Então, de acordo com você, o assassino entrou no carrinho da montanha-russa, com o corpo de Penélope já crucificado. - Yui recapitulou, como se houvesse defendido essa teoria, desde o início – Durante a subida, ele usou o ímã para atrair a mola que ele havia deixado pendurada da torre, de antemão. Por último, ele afivelou a cruz a mola, fazendo com que o corpo fosse erguido para cima.
Kylie: Falando desse jeito, começo a entender o porquê do assassino ter preso Penélope, em dois crucifixos, ao em vez de apenas um. - olhei para ela, pedindo silenciosamente para que ela falasse esse porquê – Se Penélope fosse puxada pela mola, sem dois crucifixos cobrindo-a para protegê-la, o defunto estaria suscetível a bater nas paredes do prédio, dando-o mais hematomas, entregando o plano por completo.
Após a declaração de Kylie, o debate morreu por um momento. Havíamos provas concretas, de que o plano de usar a montanha-russa para erguer Penélope era verdade. Sendo assim, era mais do que óbvio que só havia uma pessoa que podia ter cometido esse crime. Dessa forma, tudo o que podíamos fazer agora era apontar os dedos, e acusar o único suspeito em potencial. No entanto, ninguém quis ter esse desgosto de criminar, aquela pessoa. Suspirei, sabendo que era eu que teria que fazer isso.
Albert: Yui…! - disse sério – Você é a única pessoa que pode ter feito tudo isso.
Silêncio. Eu esperava que Yui perguntasse para mim, o porquê de eu acusar ele, ou algo genérico que os outros assassinos também disseram, após serem expostos. No entanto, Yui sabia que enrolar-nós não adiantaria, muito menos confundir-nos. Todos já haviam entendido, que ele era o único que podia ter cometido o crime, portanto, ao em vez de continuar lutando, eu vi o que jamais esperaria. Yui sorriu, e dando de ombros, admitiu derrota.
Yui: Ok, não há nada que eu possa dizer para defender-me. - ele ajeitou o cabelo – Está bem, chega de fazer vocês perderem tempo. Eu admito, sou o assassino.
Louise: O que!? - indagou surpresa – Tão rápido!?
Yui: Já aceitei a minha derrota. Eu sempre soube que eu não sairia vivo neste caso, principalmente porque eu não tive tempo nenhum para planejar o julgamento. - Yui percebeu que ele teria que explicar-se melhor para que o entendêssemos – Em resumo, Penélope matou Harry hoje de manhã. Ela faria o mesmo comigo, só que eu soltei-me antes e contra-ataquei. Eu era o infectado, portanto, assim que a matei, não pude resistir ao meu impulso, por isso aquelas marcas de mordidas. Thomas chegou na hora, então, nocauteei-o para que ele não falasse para vocês que eu matei a youtuber.
Naomi: Isso é uma confissão muito repentina. - até a japonesa estava incrédula.
Yui: Isso tudo aconteceu de manhã. Eu fiz o máximo que pude para sobreviver, mas o tempo não estava a meu favor. - falou, em um tom de tristeza – Sinto que, pelo menos, valeu a tentativa. Fico feliz que vocês sobreviverão, no meu lugar.
Louise: Saber que você admite de bom grado, apenas torna isso pior para nós. - Louise ficou depressiva, acreditando em toda palavra que ele falava. Eu temia que ela traria a tona a ideia de sacrificar-se, novamente – Você não teve escolha, afinal, você estava apenas defendendo-se.
Kylie: Eu imagino que todo ser humano tem o desejo de sobreviver, então sua reação foi legítima. - aparentemente, Kylie também estava desconfiada, mas como eu, não sabia o que dizer – Felizmente, você não chegou a machucar permanentemente outra pessoa, além de Penélope.
Yui: Eu não queria matar outra pessoa, pois quando o fiz com a youtuber, senti-me horrível. - Yui abraçou o próprio braço – Se eu não sobrevivesse, eu, pelo menos, deixaria a menor tragédia possível. Por isso, não matei Thomas, quando tive a oportunidade. - ou talvez, porque as regras proibiram-no…
Louise: Agora que ele já confessou, podemos votar agora? - perguntou, desanimada – Eu quero logo terminar com isso.
Albert: Espere. Eu gostaria que Yui explicasse melhor os acontecimentos. - Yui encarou-me, com um pouco de irritação – Não que duvide dele. Eu só acho que não podemos confiar o nosso destino, em apenas uma confissão, sem analisar antes.
Yui: Mas eu já expliquei tudo para vocês. - protestou – O que mais vocês querem que eu esclareça?
Albert: A sua explicação fora muito branda. - contestei, tentando não estressá-lo – Eu só quero mais detalhes. Como por exemplo… - pausei, tentando pensar em algo que não fora dito, até agora – Como, exatamente, você matou Penélope?
Yui: Eu a matei com um tiro na testa, simples assim. - ele decidiu colaborar, com minha interrogação.
Albert: Isso foi antes, ou depois de crucificá-la? - insisti.
Yui: Antes, é claro. Eu não conseguiria crucificá-la, se ela não estivesse morta, ou desmaiada, em primeiro lugar. - isso era uma questão de lógica simples, droga.
Kylie: Então porque os crucifixos haviam buracos de bala, no local equivalente a testa dela? - Kylie comprou meu papel.
Yui: Eu queria dar a impressão que ela levou um tiro, quando estava crucificada, e isso a fez cair da torre. Por isso, fiz dois buracos nas tábuas de madeira, usando a própria arma. - Yui continuou a responder as perguntas, incessantemente – O arquivo Monokuma já esclareceu isso. A bala usada para matá-la ficou presa, dentro de seu crânio.
Senti um desconforto, em minha espinha. Algo que ele havia falado soava estranho, e eu já sabia o que era. Eu entendia pouco de balística, mas o pouco que eu sabia seria o suficiente para expô-lo. No entanto, primeiro, tenho que confirmar algo.
Albert: E em que horário Harry e Penélope morreram? - se ele respondesse o que eu espero que diga, eu poderia mostrar a sua mentira, na frente de todos.
Yui: Eu matei Penélope as 9:30, mais ou menos. Já Harry, ele deve ter sido morto alguns minutos antes. - eu não precisava da hora exata, pois já havia ouvido o necessário.
Albert: Você está mentindo. De novo. - encarei-o com ódio, pois estava ficando cansado de seu joguinho.
Yui: Como assim!? - ele fez-se de surpreso.
Albert: Penélope não pode ter morrido, hoje de manhã. - as garotas ficaram surpresas – Se esse fosse o caso, a arma de fogo que teria sido usada para matá-la seria a arma do dia, uma escopeta. - meu conhecimento era limitado, mas era a arma que eu possuía – Se você tivesse atirado com uma escopeta, na testa dela, com certeza ela não possuiria apenas um furo no local.
Louise: Isso é verdade. Uma escopeta teria destruído o crânio dela! - a loira voltou-se contra Yui.
Albert: Ela foi morta com uma arma que possui baixa potência. Mais especificamente, a micro SMG que encontramos, durante a investigação. - a lista do aluguel não havia sido decorada por completo, mas eu sabia qual era a arma oferecida ontem.
Naomi: Se aquela arma não fora usada ontem, ela teria sido recolhida. Conforme diz as regras. - só o fato, de nós termos achado aquela pistola metralhadora, prova que aquela foi uma arma do crime.
Monokuma: Exatamente! - Monokuma concordou, mantendo-se imparcial – Mesmo se alguém estivesse segurando a arma, mas não houvesse matado ninguém com ela, eu teria recolhido-a de qualquer forma.
Albert: Então Yui. - rosnei – Quando os dois morreram?
Yui: Eu fui pego mentindo novamente! - ao em vez de responder-me, o ruivo começou a falar, em voz alta, com um tom agudo – Hoje não é o meu dia!
Louise: Para com isso! - Louise gritou – Nós já sabemos que você é o assassino, por que continuar escondendo a verdade!?
Yui: Não sei. Talvez eu só seja um mentiroso patológico, quem sabe? - essa é realmente a estratégia dele? Se fingir de maluco?
Kylie: Yui, você disse que não queria que nós perdêssemos tempo. Sendo assim, só admita tudo de uma vez, sem mentir. - até mesmo Kylie já estava, em seu limite.
Yui: Mas eu já admiti tudo! - protestou, fazendo biquinho com os lábios – Ah, eu esqueci de dizer que quem matou Harry não foi Harry, mas sim Jessica! Isso mesmo, ela está viva!
Naomi: Se você não for levar esse debate a sério, votaremos em você, agora mesmo. - ameaçou, cruzando os braços.
Yui: Façam o que quiser, não vai fazer diferença. - ele riu.
Albert: Espere Naomi! Se tudo o que ele falou foi mentira, então devemos desvendar a parte do caso que permanece um mistério. - protestei, pedindo calma.
Louise: O que mais tem-se a discutir? Ele é o assassino, e não há dúvidas sobre isso! - esse pensamento simplista nos mataria, e eu tinha certeza.
Kylie: E se for mentira? - indagou, mostrando real preocupação – Ainda há pontos que não sabemos nada sobre!
Como acontecia em todo julgamento, sempre havia um momento em que o grupo ficava dividido, em que atitude tomar. Esse era um desses momentos. Louise, Naomi e o próprio Yui queriam votar nesse exato momento, o que por si só era preocupante. Enquanto isso, eu e Kylie, sendo os únicos sensatos, com concordávamos que deveríamos esclarecer alguns fatos antes. Eu deveria convencer as duas garotas a serem prudentes.
Yui: Quais outros pontos vocês querem discutir? - indagou.
Albert: O fato dos dois assassinatos terem acontecido, no dia de ontem, abre nossas possibilidades para nós. - rebati.
Louise: Mas Yui já confessou ser o assassino! Por que ele mentiria sobre isso? - questionou, emotiva.
Kylie: Ele pode estar tentando proteger o real assassino. Não sabemos ao certo, mas não devemos tomar a palavra dele como única verdade. - a psicanalista tomou a palavra.
Naomi: Yui é a única pessoa que pode ter pendurado o corpo de Penélope. - isso era verdade, mas…
Albert: Isso não significa que ele matou-a. O assassino pode ter sido outra pessoa, e ele apenas foi um cúmplice. - uma possibilidade infeliz.
Yui: Continuar a debater é uma perda de tempo. - disse, em deboche.
Albert: Não é perda de tempo, quando nossas vidas estão em jogo! - com isso, espero ter encerrado esse debate estúpido, de uma vez. Todos ficaram quietos, o que significava que os outros finalmente concordam comigo.
Louise: O que vocês querem debater!? - perguntou impaciente – Vocês fizeram toda essa discussão, agora deem um tópico para debatermos!
Kylie: A exata hora da morte é um bom começo. - sugeriu.
Naomi: Isso é óbvio. Como já sabemos, os meninos estavam dentro da estátua de Atena, por isso, Penélope e Harry foram mortos, no prédio central. - Naomi começou a racionalizar – Isso não pode ter ocorrido, antes das dez da noite, pois até esse horário nós estávamos inspecionando a construção.
Yui: Então vocês dizem que eles morreram, entre 22:00 e 00:00. Faz sentido. - concluiu a última pessoa que precisávamos que falasse – Agora que vocês tem o horário, pode-se fazer um processo de eliminação para saber, quem está sujeito a suspeitas.
Louise: Eu estive com Albert o tempo inteiro! - Louise falou imediatamente, com medo de ser acusada. Sem escolha, eu assenti.
Kylie: E eu procurei pelas armas com Naomi. - ou seja, do nosso grupo, apenas mais um faltava.
Louise: E quanto a Thomas? - finalmente perguntou.
Naomi: Nós encontramos com ele, um pouco antes da meia-noite. - lembrou.
Yui: Então a janela em que o assassinato pode ter ocorrido diminui. - como eu queria, que ele calasse a boca – Afinal, Thomas foi nocauteado pelo assassino.
Albert: Isso não significa nada. Ele pode ter visto tudo horas depois do assassinato ter ocorrido. - Yui estava tentando confundir-nos, logo, não devo prestar atenção a ele.
Naomi: Então as únicas pessoas que não tem álibi são aquelas que estão envolvidas, no evento. Thomas, Yui e as duas vítimas. - Naomi soltou um longo suspiro – Parece que voltamos a estaca zero.
Kylie: Ao em vez de discutirmos os álibi, eu gostaria de falar algo que esteve incomodando-me, desde que Yui assumiu-se como culpado. - declarou, pensativa.
Albert: O próprio Yui? - brinquei.
Kylie: Não. - negou, com uma pequena risada – É sobre os vídeos que foram postados, no canal de Penélope.
Louise: O que tem de importante sobre eles? - perguntou, confusa.
Kylie: Penélope definitivamente morreu antes das dez da manhã, sendo assim, quem postou o vídeo que vimos hoje de manhã? - por incrível que pareça, ninguém havia tocado nesse assunto, até agora.
Louise: Yui, é claro. Ele era o único dos envolvidos que estava vivo, ou acordado, nessa hora. - até Louise conseguia raciocinar isso.
Kylie: Desculpe-me, fiz a pergunta errada. - falou educadamente – Como Yui conseguiu acesso ao canal de Penélope? Ele não tinha um computador, nem a senha de usuário.
Yui: Eu tenho telepatia. - insistiu, em falar coisas sem sentido.
Naomi: Se ele estava no prédio principal, ele pode ter usado o supercomputador, do quarto andar. - bem pensado – E talvez o canal dela já estava aberto, na máquina.
Louise: Ou talvez o vídeo nem tenha sido enviado por ele, e sim ele já estava pré-programado para ser postado naquele horário. - esse debate já está começando a ficar ridículo.
Albert: Isso está absurdamente errado! - exclamei – Pessoal, nós achamos um papel com o e-mail e senha do canal de Penélope, na lixeira.
Louise: Ah, eu tinha esquecido-me completamente disso. - ela gargalhou, envergonhada.
Kylie: Isso eu já havia entendido. Mas como Yui conseguiu aquele papel, em primeiro lugar? - indagou, inquieta.
Yui: Eu achei no corpo dela. - fitou o teto, fingindo não mentir.
Albert: Pare de mentir. - grunhi – Não há sentido em Penélope carregar no bolso, um papel com algo que ela deveria saber de cabeça.
Kylie: Precisamente. - concordou – Ele também não pode ter torturado Penélope para obter a informação, pois como já foi estabelecido, ela foi morta com um tiro rápido na testa, em uma tentativa de autodefesa.
Louise: E quanto ao tornozelo de Penélope? Ele estava quebrado, pode ter sido fruto de uma tentativa de tortura. - ah sim, esquecemos completamente desse hematoma, no corpo da garota.
Naomi: Talvez ela tenha quebrado o tornozelo, quando foi erguida pela mola. - imaginou, esquecendo-se de um detalhe.
Kylie: Os crucifixos estavam ali justamente para prevenir isso.
Louise: Ela pode ter quebrado o tornozelo, antes do incidente. - propôs.
Kylie: Também não acho que seja o caso. - negou – Em múltiplos momentos, ela teve que arrastar Yui e Harry desacordados, o que seria impossível se ela mal conseguisse andar.
Agora que começaram a falar sobre isso, um questionamento apareceu em minha mente. Eu não achava que Louise estava errada, porém, para que ela estivesse certa, outra questão necessitava ser trazida a tona. Desde o início, eu acreditei que Penélope tinha um papel de vilã nesse caso, nesse momento, começo a questionar se isso é mesmo verdade. Yui afirmou que a youtuber era a sequestradora, mas será que isso foi mais uma de suas mentiras?
Albert: Eu… - gaguejei, incerto – Não acho que foi Penélope que sequestrou Yui e Harry. - disse de uma vez.
Yui: O que? - riu, em desdém – Foi Penélope quem orquestrou tudo isso, não há dúvidas sobre isso. - se ele discorda de mim, então estou no caminho certo.
Naomi: Eu tenho que concordar com Yui. - disse com pesar – Penélope sequestrou os dois meninos, e matou Harry na noite de ontem. Pensei que isso já estava estabelecido.
Albert: Quando isso foi estabelecido? - questionei, esperando uma resposta imediata – Nós assumimos que foi Penélope que fez tudo isso, porque nós a mentalizamos como a culpada disso tudo. No entanto, não há nenhuma prova concreta de que foi ela quem fez isso tudo.
Louise: E os vídeos?
Albert: Os vídeos não possuíam a imagem dela, muito menos sua voz. Ainda por cima, nós encontramos aquele papel com a senha de seu canal. - definitivamente, o culpado pelos sequestros torturou-a para pegar aquela informação – A outra coisa que servia, como evidência para fazer-nos acreditar nisso, era o testemunho de Yui, o que não possui mais veracidade agora.
Kylie: Você tem razão. Em nenhum momento, Penélope veio até nós e declarou-se responsável pelo sequestro. - sua visão clareou, ao perceber que estava errada esse tempo inteiro – Nós simplesmente assistimos o primeiro vídeo, e assumimos que era verdade.
Louise: Então, o real sequestrador foi quem postou os vídeos! - exclamou, rangendo os dentes enraivecida.
Naomi: Mas quem seria o sequestrador? - indagou.
Albert: O assassino, imagino eu. - repliquei de maneira simples.
Louise: Se o sequestrador é o assassino, então voltamos aos suspeitos de sempre, Harry, Thomas ou Yui. - eliminando Penélope da lista.
Kylie: Nesse caso, devemos ver qual atitude do assassino elimina os outros dois da lista. Algo que apenas um deles pode ter feito. - Kylie começou a roer as unhas – Vamos traçar um curso de ações do sequestrador.
Louise: Está bem. - assentiu – A primeira coisa que ele fez foi sequestrar Penélope, depois, hipoteticamente Harry e Yui, o que passou-se anteontem. Para dopar os meninos, ele fez eles respirarem clorofórmio.
Naomi: Isso qualquer pessoa pode ter feito. - ainda mais considerando que Harry e Yui podem ter fingido, o próprio sequestro.
Louise: O que ele fez em seguida foi colocar as suas vítimas, dentro da estátua de Atena. - como já debatido anteriormente.
Naomi: De novo, qualquer um dos suspeitos pode ter feito isso. - havia também outro ato que não fora mencionado, mas que não posso deixar passar.
Albert: Devo lembrar que o sequestrador drogou suas duas vítimas, durante o tempo em que elas ficaram sob sua custódia. - lembrei.
Louise: Mas isso foi dito apenas por Yui. Com certeza era uma mentira! - do outro lado da bancada, o ruivo continuou sorrindo.
Albert: Seria, se não houvesse evidências que suportassem isso. - penso que o testemunho de Yui fora uma mistura maluca, de meias verdades com meias mentiras, sendo assim, a parte de que ele acordara tonto devia ser verdade – Naquela mesma lixeira em que encontramos o papel com a senha, nós também achamos uma seringa usada. Eu acho que ela deve ter sido usada para injetar alguma substância tranquilizante, em Penélope, Yui e Thomas.
Louise: Thomas também!? - surpreendeu-se.
Albert: Pense bem. Se ele também foi nocauteado ontem a noite, o assassino deveria ter feito outra coisa para mantê-lo desacordado, até agora. - eu já sei onde eu quero levar essa discussão, mas primeiro, devo explicar tudo pouco a pouco – E o aquivo Monokuma confirma isso.
Naomi: Mas qual substância o sequestrador usou para drogá-los? - indagou em voz baixa.
Albert: Vocês lembram-se daquela planta que encontramos, no laboratório de química? - perguntei a todos – Eu acho que o estrato daquela planta fora usado para obter o tranquilizante.
Louise: Também acho. Quando eu coloquei-a em minha boca, minha língua ficou dormente. - por que, de repente, Louise começou a comportar-se como Penélope?
Albert: Aquela planta foi obtida direto da estufa, pois não havia nenhum exemplar dela no armazém. - até onde eu podia chegar, essa era a única conclusão lógica – Todos sabem que Harry era o único que conhecia a estufa, como a palma da sua mão. Se alguém fez o tranquilizante com as próprias mãos, tem que ser ele.
Naomi: Essa ideia não liga-se com os fatos! - Naomi, que estava calada até agora, exclamou em uma explosão repentina – Qualquer um poderia ter feito aquele tranquilizante. Penélope foi torturada para que ela dissesse a senha de seu canal. O mesmo pode ter acontecido com Harry, em relação a planta.
A costureira parecia determinada em rejeitar com todas as forças, a possibilidade do Harry ser o sequestrador, da mesma maneira que negou o fato do Izaya ser o assassino. De qualquer forma, esse debate se tornará necessário, mais tarde.
Albert: Se o plano do sequestrador era manter as vítimas desacordadas desde o início, então seria ilógico pedir uma receita com uma delas, logo após sequestrá-la. - havia vários problemas lógicos, no argumento de Naomi – Sem falar que ele poderia usar qualquer medicamento, ou químico, pelo campus, mas decidiu usar o produto de uma planta. Ele não escolheria fazer isso, se não estivesse confortável e acostumado a fazê-lo.
Naomi: Esse conhecimento não era limitado a Harry, pois o real sequestrador pode ter roubado o catálogo de plantas que ele mesmo fez. - de fato, aquele catálogo vive caindo, em mãos erradas.
Kylie: Naomi… - chamou, sem saber ao certo como interrompê-la – Eu encontrei o catálogo dele intacto em seu quarto, na primeira vez em que entramos lá.
Albert: Se eu não engano-me, isso foi quando Yui já havia desaparecido. - dei sequencia ao que Kylie começou – Ou seja, a esse ponto, o assassino já devia estar com o tranquilizante em mãos. O que significa que ele não pode ter usado o catálogo.
Naomi: Então… - ela suspirou, desamparada – Harry parece ser mesmo o sequestrador. Parece que não há ninguém que esteja envolvido nesse caso, que seja realmente inocente.
Louise: Espera, então se Harry é o sequestrador, então foi ele quem matou Penélope, e não o contrário! - Louise concluiu automaticamente.
Naomi: Nós ainda não sabemos sobre isso. Thomas e Yui ainda podem ter sido os responsáveis, por matar Penélope. - pediu por cautela.
Kylie: Se Harry é o sequestrador, então Yui era um dos reféns, sendo assim, ele não pode ter sido o responsável por matar Penélope que foi a primeira vítima, nessa situação. - respirou profundamente – E quanto a Thomas…
Albert: Thomas também não pode ter sido o responsável, por matar Penélope. - a evidência estava, na ponta da minha língua – O assassino de Penélope deveria ser o infectado, pois seu corpo possui ferimentos que indicam que ela foi mordida vorazmente. O exame de sangue de Thomas deu negativo para o parasita, logo, ele não pode tê-la matado.
Louise: Então foi Harry que foi atirou na testa de Penélope. Sendo assim, nosso trabalho fica bem mais fácil, já que temos que apenas descobrir quem matou Harry! - falou como se isso fosse fácil.
Naomi: Sendo assim, os únicos suspeitos restantes são Thomas e Yui. - isso sem considerar a hipótese de suicídio, o que seria bem absurda.
Yui: Quem será o assassino? Imagino que vocês já devam saber isso, desde o início. - provocou – No final, vocês passaram tanto tempo discutindo, e os resultados continuam os mesmos.
Kylie: Você está sugerindo que você matou Harry? - indagou.
Yui: Thomas foi drogado, pela mesma substância que Harry injetou em mim. Como vocês mesmo estabeleceram, o jardineiro era o único que tinha o conhecimento, de como preparar a substância. Dessa forma, Thomas foi nocauteado antes de Harry morrer, o que significa que eu sou a única pessoa elegível a ser o assassino. - a insistência de Yui em ser votado como o culpado, preocupar-me seriamente.
Louise: Então quer dizer que discutimos esse tempo inteiro para nada? Nós podíamos ter votado em Yui, desde o início! - reclamou.
Yui havia encurralado-me novamente. Na minha cabeça, não fazia sentido Yui ser o assassino. Mais uma vez, as pistas apontavam para ele, contudo, a ideia de um assassino confesso que continua a mentir, mesmo depois de ser exposta, incomodava-me muito. Eu poderia terminar tudo aqui e encerrar o caso, mas sei que mesmo que ele seja executado, eu ainda teria um gosto amargo na minha boca, pelo resto da semana. Se ele for mesmo o assassino, então eu, pelo menos, quero saber a verdade, vinda da boca dele.
Albert: Yui, se você mesmo matou Harry, então diga-me, por que mentiu mais cedo? - ele não era contra a ideia de ser votado, sendo assim, ele deveria ter falado a verdade.
Yui: Pois assim Harry morreria como um inocente. Como Naomi falou, ninguém é apenas uma vítima, nesse caso. - forcei a mim mesmo, tentando entender o que havia passado, na mente dele – Seria melhor que vocês votassem em mim, acreditando que, pelo menos, uma das vítimas não deixou-se corromper a loucura desse jogo.
Albert: Certo… - disse, descrente – Agora que você não tem mais motivos para mentir, você poderá contar a história completa.
Yui: Pelo meu ponto de vista? Está bem. - ao concordar, Yui limpou a garganta, preparando seu monólogo. - Na noite em que eu sumi, eu estava voltando para meu dormitório, quando uma figura misteriosa veio por trás de mim e colocou um pano, com um cheiro estranho, no meu rosto. Depois de alguns segundos, sem conseguir lutar, apaguei.
Louise: Então não era Penélope, como você havia dito. - ressaltou.
Yui: Estava escuro, e a figura pegou-me por trás. Naquele momento, até eu pensei ser Penélope, devido ao que havia acontecido mais cedo. Entretanto… – coçou a cabeça – Quando eu acordei naquele lugar escuro, no interior da estátua, eu percebi Penélope ao meu lado, na mesma situação que eu. Como eu já disse, eu estava muito tonto, portanto, não posso dar muitos detalhes sobre essa parte.
Kylie: Muito bem, prossiga. - assim como eu, Kylie também percebeu que Yui soava muito mais mais sincero.
Yui: Eventualmente, o efeito da droga passou, quando eu acordei, na torre do relógio. - mais uma de suas mentiras, ele não havia acordado no meio do quinto andar, como ele havia dito – Quando despertei, Harry estava sobre o cadáver de Penélope, mastigando o seu ombro.
Louise: E pensar que Harry era mesmo o infectado… Se eu tivesse tido a ideia do exame antes! - Louise culpou-se, fazendo-me lançar um olhar reconfortante para a loira.
Yui: Nesse momento, Thomas entrou na sala despreparado, e Harry acertou um cano velho na cabeça dele, fazendo com que ele desmaiasse. - o tom do ruivo mudou, mostrando uma incerteza – Quando ele começou a injetar o extrato da planta, que ele possuía consigo, na veia de Thomas, eu senti que as amarras que prendiam meu pulso estavam frouxas. Libertando-me, peguei a arma que Harry havia usado, provavelmente para matar Penélope, e atirei em Harry múltiplas vezes, matando-o.
Naomi: E ele não percebeu você fazendo isso? - questionou, desconfiada.
Yui: Harry deve ter matado Penélope, em uma execução, sendo assim, a arma estava perto de seu corpo, que por sua vez, estava próximo de mim. Tudo o que eu tive que fazer foi soltar meus braços e esticar-me até pegar a arma, simples assim. - ele pausou mais uma vez, ajeitando a sua postura – O resto vocês já sabem. Eu achei a nota com a senha do canal de Penélope, no corpo de Harry. Quando compreendi o que o jardineiro estava fazendo, bolei um plano para tentar livrar a minha culpa.
Comecei a coçar minhas próprias mãos, tentando assimilar tudo o que Yui havia falado. Fazia sentido, porém, ainda havia algumas pontas soltas que estavam-me deixando ansioso. Eu não acreditava nele, nem um pouco. A desculpa que ele havia dado-me a pouco era estranha. Querer passar Harry como inocente? Eu não tenho fé nisso.
Louise: Então eu acho que essa é a conclusão. - disse desamparada – Podemos votar agora?
Yui: Se Albert estiver de acordo. - encarou-me, tentando esconder sua raiva.
Concentrei-me, em meus mais profundos pensamentos. Eu poderia concordar em votar agora, e terminar com isso de uma só vez, o que seria a coisa mais razoável que eu posso fazer. Tenho que continuar a pressionar Yui… Havia vários pontos que pareciam convenientes demais para serem verdade, como o fato das amarras dele estarem frouxas e ele só ter percebido isso, naquele exato momento.
Albert: O cano que Harry usou para acertar Thomas, ele fazia parte do sistema de água da torre. - tentei pensar em algo rápido, antes que qualquer decisão precipitada fosse tomada – Por que Harry teria o trabalho de arrancar o cano para nocautear Thomas, sendo que ele podia tê-lo matado com a arma?
Yui: O cano já estava solto, antes de Thomas chegar. - respondeu rapidamente – Sobre o porquê dele não ter matado o coveiro naquela hora, não tenho a menor ideia. Talvez matar-me fosse a prioridade dele, e ele não quisesse passar do limite de três vítimas. Eu imagino que tenha sido por isso.
Albert: Mas… - levantei a mão, pedindo por tempo para pensar, em outro inquérito.
Yui: Albert… - ele respirou fundo – Por que você não confia em mim?
Albert: Porque você mentiu esporadicamente mais cedo! - respondi, sem hesitar.
Yui: Se é só por isso, saiba que não tenho mais motivos para mentir. Eu já fui exposto e não tenho mais nada a perder. - disse em um tom calmo.
Albert: Você só está agindo de forma estranha, e sei que você está escondendo mais alguma coisa. - aleguei, mesmo sabendo que isso não era um argumento.
Yui: Sendo assim, então prove! - de repente, Yui explodiu em raiva, gritando de forma que até Louise estremeceu – Você disse que “sabe” que eu estou mentindo, mas você não providenciou nenhum fundamento! Mostre-me que eu estou errado, ou pare de perder o tempo de todo mundo!
Expor as mentiras dele mais uma vez. Certo, eu posso fazer isso. Vamos lá Albert, pense em algo! Ele está fazendo todo esse drama, por um motivo. Ele quer que votemos nele, mas por que? Ele morrerá de qualquer jeito. Será… Que ele quer proteger alguém?
Albert: Mais cedo, você disse que Thomas não poderia ser o assassino, pois apenas Harry poderia fazer a substância para drogá-lo. - comecei a falar, tentando arranjar coragem, dentro de mim – Mas agora, você disse que Harry já estava, com uma quantidade extra, dessa substância consigo. Sendo assim, Thomas pode ter sido nocauteado depois de Harry morrer, e outra pessoa drogou-o usando o extrato já preparado.
Yui: Agora você vai dizer-me que Thomas é o assassino!? - indagou, furioso – Eu já disse-lhe diversas vezes! Eu, Yui Yoshida, sou o assassino desse caso! Por que você não consegue compreender algo tão simples como isso!? - seu tom de voz levantou mais ainda, colocando toda sua alma nas suas palavras. Aparentemente, eu atingi ele, bem na ferida.
Albert: Eu não disse que Thomas era o assassino! - retruquei, esforçando para que minha voz sobressair-se, em relação a dele – Eu apenas estou dizendo que Thomas também pode ser o assassino!
Yui: Se ele é o assassino, então por que ele deixou-se ser desmaiado!? - rosnou.
Albert: Porque você desmaiou ele! - imediatamente, arrependi de ter falado isso, pois não tinha provas para mascarar esse fato.
Yui: E por que eu faria isso!? - mais enraivecido do que nunca, ele nem esperou por uma resposta minha – Você está sempre acusando-me e inventando teorias malucas, na sua mente! Você não tem provas para nada! Todas as pistas apontam para mim, e eu mesmo confesso o crime, o que mais você quer!?
Albert: Eu utilizei lógica para mostrar que Thomas também pode ser o assassino! - eu sabia, no fundo do meu coração, que eu não estava errado.
Yui: E daí se ele pode!? - sua pele avermelhou, com o sangue subindo para sua cabeça – Eu estou confessando, nesse exato momento, que eu matei Harry! Enquanto isso, nada, nem nenhuma evidência mostra que Thomas é o assassino!
Não, isso estava errado. Havia sim uma prova que mostrava Thomas podia ser o assassino, enquanto ele não. Essa prova teria a capacidade de desmontar toda as mentiras dele, sobre o que aconteceu, na hora em que Harry morreu, e tem a ver com a própria arma do crime!
Albert: Não, há sim uma evidência! - com toda a força do meu pulmão, gritei para silenciar Yui de uma vez. O ruivo, ao ouvir isso, tremeu de pé, temendo o que eu falaria em seguida – A arma usada para matar Harry não foi a micro SMG, e sim a adaga de rituais que encontramos, na torre.
Yui: Como… - ele gaguejou – Como você pode dizer que aquela era a arma, sendo o corpo de Harry fora esmagado, não deixando traços de nenhum ferimento anterior!?
Albert: Simples. - respondi – Ela estava suja de sangue, indicando que ela definitivamente foi usada. Nem Penélope, nem Thomas possuíam ferimentos providos de uma lâmina. Sendo assim, a adaga só pode ter sido usada, em Harry.
Naomi: Desculpa Albert, mas como isso prova que Thomas é o assassino, e não Yui? - Naomi perguntou educadamente, confusa.
Albert: O lugar original daquela adaga era o terceiro andar. - repliquei, como se só isso respondesse a pergunta – Thomas subiu do andar térreo, até a torre, sendo assim, ele pode ter pego a faca no caminho, coisa que Yui não poderia – as outras meninas estavam quietas, apenas perplexas pela discussão – Isso sem falar que, mesmo que Yui tivesse acesso à adaga, ele não poderia usar, já que, de acordo com a história dele, apenas suas mãos estavam desamarradas.
Louise: A menos que ele tenha matado Harry esfaqueando-o no pé! - brincou a loira, sendo ignorada por todos.
Kylie: Então Yui mentiu de novo! - exclamou, só que calma – Agora faz sentido o porquê de você ter omitido a verdade, esse tempo todo. Seu objetivo, o tempo inteiro era acobertar Thomas.
Yui: Eu… Não… - murmurou.
Naomi: Você mencionou que Thomas chegou na torre despreparado, mas como já foi provado, foi ele quem trouxe a adaga para cima. - Yui tentou remover a adaga de sua história, o tempo inteiro. O que indica que ele não queria que lembrássemos dela – Honestamente, acho muito mais fácil de acreditar que Thomas matou Harry, do que você ter libertado-se a cometido o crime.
Yui: Mas… Foi eu que matei Harry! - Yui estava, desesperadamente, respondendo qualquer coisa que vinha-lhe à mente, na esperança de ganhar tempo para inventar alguma desculpa.
Albert: Eu imagino que, após Thomas matar Harry, ele libertou-lhe. No entanto, por algum motivo, você resolveu nocauteá-lo. - conclui, esperando uma resposta – Por que você fez isso?
Yui: Não foi eu que nocauteei Thomas, foi Harry! Em seguida, eu matei-o com a adaga! - ao em vez de responder minha pergunta, o ruivo continuou a inventar suas histórias.
Louise: Então você admite que a adaga foi a arma do crime. A adaga pega por Thomas, em primeiro lugar. - Yui estava começando a embolar-se cada vez mais, em suas próprias mentiras, gerando mais provas contra Thomas a cada palavra.
Yui: Eu não disse isso! Eu só confundi-me! Eu usei a arma para dar um tiro nele! - pausou por um momento – Sim! Foi isso que aconteceu!
Albert: Yui. - interrompi-o – Pare com isso, já está ficando ridículo.
Yui: O que está ficando ridículo!? Eu apenas estou falando a verdade! - o ruivo estufou o peito, falando com um falso vigor, tentando esconder o fato de que seus olhos começaram a ficar marejados.
Albert: Então nesse caso, afirmo que você mesmo esqueceu-se da verdade. - declarei, evitando contato visual com o garoto – Sendo assim, explicarei tudo novamente para você. Dessa vez, apenas contando as verdades que as pistas mostraram-me.
*
Ato 1: Após Penélope ter sido exposta, na frente de todos, Harry, o infectado pelo parasita, começou a planejar um plano diabólico. O jardineiro decidira sequestrar Penélope e Yui, apagando-os com clorofórmio. Levando as duas vítimas desmaiadas para o quinto andar do prédio principal, ele escondeu-as dentro da grande estátua de Atena, fazendo um buraco na estrutura oca para colocá-los dentro. Para garantir que ambos ficassem desacordados, durante todo o tempo, ele preparou um tranquilizante a partir de uma planta e injetou-o nos dois reféns.
Ato 2: Harry torturou Penélope, quebrando seu tornozelo, com o intuito de conseguir o nome de usuário e senha, de seu canal do YouTube. Com as informações anotadas, ele postou um vídeo na plataforma, por meio do supercomputador do quarto andar, buscando usar a si mesmo e Yui como iscas para o resto de nós.
Ato 3: Na noite de ontem, Harry levou suas duas vítimas para o topo da torre do relógio, dentro da sala dos mecanismos. Lá, ele executou Penélope, com um único tiro de uma micro SMG na testa. Sendo ele o infectado, o jardineiro começou a devorar a carne da garota, dando a seu cadáver aqueles horríveis machucados em seus ombros. Enquanto isso, o verdadeiro assassino desse caso começou a suspeitar, do esconderijo do sequestrador. Pegando a adaga ritualística do terceiro andar, ele subiu até a torre, chegando lá, avistou Harry cometendo seu crime brutal. Com a adaga, o assassino esfaqueou Harry precisamente, matando-o de uma vez.
Ato 4: Yui, que estava presente em ambos os assassinatos, foi libertado pelo próprio assassino. Por motivos ainda desconhecidos, o mixólogo pegou um cano do sistema de água da torre, e usou-o para nocautear o culpado distraído. Ele então arrastou o desmaiado, até o corredor da torre e, ao achar a seringa com o tranquilizante no corpo de Harry, injetou a substância no homicida para que ficasse mais tempo desacordado.
Ato 5: Ao achar a nota com a senha do canal do YouTube, no cadáver do jardineiro, Yui então começou a executar seu próprio plano para retirar a culpa do verdadeiro culpado. Primeiro, ele fez um buraco no painel de vidro do grande relógio, pendurando uma comprida mola para o lado de fora, esta que estava presa ao lado de dentro, por meio de um gancho. Com isso feito, ele passou a preparar os dois cadáveres para seu plano. Harry foi preso a engrenagem do relógio que seria usada às dez da manhã, junto a ele, uma corda que estava amarrada a uma tábua de madeira posicionada a cair exatamente, sobre os puxadores dos portões da sala. Penélope, por sua vez, teve uma preparação mais complicada. Primeiro, Yui preparou dois crucifixos de madeira, fazendo um buraco na extremidade superior de cada superfície, usando uma escopeta para fazer os buracos, de forma que eles mostrassem terem sido feitos, por uma arma. Ele então prendeu o cadáver de Penélope entre os dois crucifixos, usando pregos para prender seus pés e mãos. Como um toque final, ele colocou uma fivela na extremidade inferior da cruz.
Ato 6: Na manhã de hoje, Yui preparou-se para o final de seu plano. Primeiro, prendeu a escopeta que ele havia pego, acima dos portões da sala dos mecanismos, apontando para o painel de vidro no lado oposto. Saindo da torre pela última vez, o mixólogo arrastou o corpo de Penélope, junto com algumas provas que ele quis esconder, para os andares inferiores. Infelizmente, ele esquecera de levar a evidência mais importante, a adaga que foi usada para matar Harry. Quando o relógio finalmente bateu às dez horas, o corpo de Harry foi esmagado pela engrenagem, na qual ele fora preso, fazendo o relógio parar completamente, e a corda que ele possuía partir-se, fazendo com que a tábua selasse os portões por dentro. Com o relógio eternamente preso nas dez horas, Yui usou o supercomputador para enviar um vídeo que nos atrairia para sua armadilha.
Ato 7: Ao ver que todos nós havíamos entrado, no suposto esconderijo de Penélope, Yui carregou o corpo da garota, até a montanha-russa do segundo andar. Levando o cadáver consigo no passeio, ele usou um eletroímã potente para atrair a mola que ele havia deixado de fora, durante a parte mais lenta do passeio. Com a mola em mãos, Yui afivelou a cruz de Penélope na peça pendurada, erguendo o cadáver para perto da torre. Como o corpo estava entre as duas peças de madeira, nenhum outro hematoma foi inferido no balanço.
Ato 8: Por último, Yui escondeu todas as evidências que entregavam seu plano, sem preocupar-se com o eletroímã. Jogou a nota do canal de Penélope, junto com a seringa de Harry, no lixo. Escondeu a micro SMG do dia anterior no aluguel de armas, na esperança de que ninguém a encontraria. Nesse momento, enquanto nós investigamos o salão de apresentações, o cronômetro preso à escopeta, na torre do relógio terminou seu tempo, fazendo com que a arma disparasse contra o painel de vidro, quebrando por completo. Nós, assustados pelo barulho, fomos até o prédio principal, onde encontramos Yui que fez-se de desentendido, até mesmo quando os corpos de Penélope e Harry foram encontrados.
*
Albert: Apesar de todo o seu planejamento, o assassino continua sendo o mesmo. - declarei, colocando Yui em um xeque-mate – Thomas Morgan, o Coveiro de Nível Super Colegial, é o culpado por matar Harry.
A essa altura, eu não duvidava mais de qualquer loucura que Yui faria. Eu não sabia se ele continuaria negando inutilmente, ou se ele enlouqueceria de vez e atacasse um de nós, aqui e agora. No entanto, tudo o que eu queria era que desistisse dessa farsa de uma vez, e reconhecesse sua derrota. Ao em vez disso, o ruivo ficou parado, imóvel, perdido em seus pensamentos mais profundos. Foi um longo período de quietude, em que e as meninas entreolhamo-nos, perguntando-nos por olhares se a mente do garoto havia quebrado de uma vez.
Louise: Yui, fale alguma coisa logo, se não votaremos agora mesmo! - impaciente, Louise ameaçou.
Yui: Por favor, não…! - em um grito abafado, Yui levantou a cabeça – Escutem-me primeiro, depois tomem suas decisões.
Kylie: Então agora você vai ser sincero? - indagou, um pouco decepcionada.
Yui: Eu quero que vocês votem em mim, mesmo sabendo que eu não sou o assassino. - arregalei meus olhos, já reconhecendo esse discurso antes.
Albert: O que!? Por que faríamos isso!? Nós seremos executados! - exclamei, pensando que o mixólogo havia deixado-se levar pela loucura.
Yui: Meu plano, desde o início, era fazer com que Thomas saísse vivo desse julgamento, e que todos nós fossemos executados, no lugar dele. - confessou, de uma vez.
Naomi: Por que? - perguntou, de maneira simples.
Yui: Harry faria comigo, o mesmo que fez com Penélope. - relembrou, com pesar – Quando eu estava prestes a ser morto, Thomas esgueirou-se por trás e cortou a garganta dele com a faca. Logo após isso, ele libertou-me. - Yui começou a coçar-se, em ansiedade – Ele então disse que se entregaria para vocês, pois ele não queria sobreviver, na custa das vidas dos outros.
Louise: Se nem ele tinha a vontade de sobreviver, então por que você fez toda essa maluquice para salvá-lo!? - questionou, irritada.
Yui: Porque eu quero acabar, com esse ciclo infinito de sofrimento. - respondeu, de uma única vez – Nove casos de assassinato já passaram-se aqui. Dezoito pessoas já perderam suas vidas, por causa desse jogo de assassinatos maldito! - exclamou, expondo todo o seu rancor – Isso só vai continuar, até apenas uma pessoa sobrar. Essa é verdade!
Naomi: Eu… Entendo como você está sentindo-se. - Naomi mostrar entendimento desses sentimentos estava preocupando-me.
Yui: Quando Thomas salvou-me, e disse que sacrificaria a si mesmo por todos, eu fiquei perplexo com tamanho altruísmo. Foi então que eu conclui que, entre todos nós, Thomas era a pessoa que mais merecia sobreviver. - ele colocou a mão contra o próprio peito, como se estivesse sentindo um forte aperto, em seu coração.
Kylie: Então, você incapacitou Thomas para que ele não pudesse participar do julgamento, e bolou todo aquele plano para tirar as pistas de cima dele. - acrescentou, sabendo que estava certa.
Yui: Eu só queria que alguém, em que eu podia confiar, fosse a pessoa que sairia daqui vivo. - a dor em sua voz era clara – Na noite de anteontem, Harry não veio até mim. Eu fui até ele. Por acaso, eu encontrei-o no prédio principal, carregando Penélope até o andar superior. Quando o jardineiro notou-me, ele desacordou-me. Por um momento, eu pude ver em seus olhos, que a loucura desse jogo havia corrompido sua cabeça. Até mesmo Harry, aquele garoto que só preocupava-se com plantas, não foi capaz de manter a mente sã! - Yui pausou – Por isso, eu quero que Thomas sobreviva! A única pessoa que permaneceu-se íntegro, até agora!
Louise: Yui… - murmurou.
Yui: Por favor! - exclamou – Votem em mim como o assassino! Não há sentido em continuar tudo isso! Se continuarmos vivos, nós apenas mataremos um a um, até que a última pessoa a sobrar também esteja corrompida!
Louise: Yui! - exclamou – Eu… Vou votar em você. - disse de uma vez.
Kylie: Louise!? - Kylie ficou confusa, vendo que a loira havia caído, na fala de Yui.
Louise: Eu estive pensando isso, por muito tempo. - a menina sorriu de lado – Eu não quero mais viver, se minha vida resume-se a andar pelas paredes de campus e ver as pessoas que eu gosto morrerem, uma a uma!
Kylie: Louise! Você precisa ter esperança! - Kylie protestou, falando a frase mais genérica possível.
Louise: Ter esperança de que!? - indagou – Esperança de que eu vou ver todos vocês morrerem, até que sobre apenas eu!? Se for assim, eu prefiro morrer agora!
Albert: Não foi isso que ela quis dizer! - tenho que pensar em algo, rápido – Você precisa ter esperança que conseguiremos sair daqui, todos juntos!
Louise: Isso é apenas uma ilusão! - gritou, prestes a desabar – Monokuma venceu… - Louise começou a chorar, em uma explosão repentina de lágrimas e soluços – Ele venceu, no momento em que ele colocou todos nós aqui, dentro dessa prisão!
Kylie: É isso que ele quer que nós pensemos! - cerrou os punhos.
Yui: Ele quer que nós pensemos, em matar uns aos outros, e ele conseguiu isso. - replicou, fitando o chão – De qualquer forma, vocês dois não precisam concordar conosco. Nós só precisamos de mais um voto, afinal – Yui olhou para Naomi, com esperança em seus olhos – Naomi, você quer continuar a viver essa vida de sofrimento, e forçar-nos a aguentar isso, junto a você?
Naomi: Eu não sei… - falou em voz baixa, quase não sendo ouvida – Eu não sei! - a costureira gritou, sendo essa a primeira vez que eu a via desse jeito, desde o caso de Izaya.
Kylie: Naomi! - exclamou, em uma mistura de decepção e preocupação – Não deixe esses pensamentos entrarem, em sua cabeça!
Naomi: Por um lado, eu quero sobreviver. Eu quero encontrar minha família novamente, viajar o mundo, lançar uma nova linha de moda inverno… - eu sentia que Naomi estava, a cada palavra, mais perto de quebrar-se em lágrimas – E o mais importante, concretizar o último pedido de Izaya. - de dentro de seu quimono, ela retirou a carta que Izaya dera para ela, no dia de sua execução – Mas por outro lado, eu não aguento mais investigar corpos de nossos colegas diariamente.
Kylie: Eu também não suporto mais isso, mas… - as palavras de Kylie passaram em branco.
Naomi: Eu atingi meu limite, quando Aiko foi morta. Eu vi carne e osso da minha amiga, jogados pelos destroços daquele prédio. - ela continuou a encarar a carta de Izaya – Depois, Penélope foi exposta como uma psicopata insana, e eu… - seus pensamentos estavam confusos. Em toda a melancolia do momento, Naomi mal conseguia expressar seus sentimentos – Eu não sei mais o que fazer!
Yui: Naomi, vamos começar a votação, está bem? Apenas faça o que seu coração mandar. - Yui olhou para a japonesa com compaixão, sabendo exatamente como ela sentia-se.
Com um pouco de hesitação, Yui levantou a mão, voltando-se para Monokuma em seu trono. Meu sangue congelou por um momento, e um calafrio subiu em minha espinha. Eu sentia que o urso não pediria minha permissão, ou a da Kylie para começar a votação. Naomi seria o voto de Minerva, e a garota nem conseguia pensar direito, sendo completamente dominada, pelos sentimentos negativos da atmosfera do salão.
Comecei a tremer na bancada, quando o urso o urso olhou para Yui e assentiu com a cabeça, sabendo exatamente o que ele pediria. Eu estava com medo, muito medo. Tanto medo que eu nem percebi o barulho de um sino tocando, no exato momento em que Monokuma começaria a falar.
Meu cérebro demorou, mas finalmente reconheceu o barulho, como sendo do elevador do salão. Quando virei-me para ver o que estava acontecendo, vi a porta do elevador abrindo-se. Para minha surpresa, entre as luzes neon na escuridão, lá estava Thomas de pé, segurando um saco de gelo contra o ferimento de sua cabeça. Monokuma, que estava prestes a dar início a votação, parou para que o atrasado pudesse estabelecer-se no debate. Lentamente, o coveiro caminhou até seu respectivo lugar, na bancada circular.
Thomas: Não bastando dar-me uma pancada na cabeça, ainda injetam um tranquilizante em mim. - reclamou, enquanto andava – Graças a isso, estou com uma enorme dor de cabeça.
Yui: Thomas…! - gaguejou.
Thomas: Antes de qualquer coisa, devo perguntar. - falou, reposicionando o saco de gelo – Vocês já sabem que eu sou o assassino, certo?
Albert: Sim! - disse rapidamente, implorando por socorro.
Thomas: Ótimo. Então podemos todos chegar a uma conclusão de votar em mim, e deixar-me ser executado, de uma vez? - pediu em um tom brincalhão, o que contrastava seu humor das últimas semanas.
Yui: Não! - gritou – Eu, Louise e Naomi já decidimos. Você não será executado!
Thomas: Por que tanta insistência? - perguntou, não compreendendo Yui.
Louise: Porque não aguentamos mais, viver essa vida miserável aqui dentro! - respondeu, por Yui – Nós queremos que, pelo menos, um de nós seja capaz de sobreviver.
Thomas: Mas eu não quero sobreviver, se isso significa acabar, com mais vidas inocentes. - vendo que sua justificativa não fora efetiva, Thomas começou a pensar em outra forma, de convencer a loira – Escutem, Louise, Yui e Naomi. Monokuma não pode prender-lhes para sempre.
Louise: Claro que ele pode! Ele tem total controle sobre…! - sem poder terminar sua frase, ela foi interrompida.
Thomas: Se ele pudesse, então por que vocês acham que ele tem, a cada caso, jogado motivações cada vez mais radicais, em cima de nós? - indagou, sem esperar por uma resposta – Ele claramente tem um objetivo, em ver-nos matando uns aos outros, e ele precisa alcançar isso rápido. A cada dia, seu tempo fica mais curto, por isso ele está ficando desesperado, e lançando tudo o que ele tem, em cima de nós.
Naomi: O que você quer dizer com isso? - perguntou, entre um soluço.
Thomas: Eu digo para vocês terem paciência, que em breve, vocês terão a oportunidade de sair daqui, todos juntos. - seu sorriso era confortável e caloroso.
Louise: E se ele lançar mais motivações!? - continuou.
Thomas: E vocês não são fortes e inteligentes o suficiente para contornar essas situações? - mais uma vez, ele não esperou por uma resposta – Louise, foi você quem teve a ideia de fazer um exame para identificar, o infectado pelo parasita. Aquilo foi uma jogada inteligente, tanto que até mesmo Monokuma ficou preocupado, e proibiu o teste. - lembrou – Você foi mais inteligente que Monokuma, e fez algo que nem ele conseguiu prever. Quem controla-o tem controle sobre esse lugar, mas não é perfeito.
Louise: Você está dizendo… - hesitou – Que podemos encontrar as fraquezas dele?
Thomas: Pode ser difícil, mas é possível. - Thomas franziu as sobrancelhas, em dor – Sem falar que, esse foi o último motivo que Monokuma conseguiu arranjar. Ele mesmo disse isso, lembram? - imediatamente, veio-me a memória de Monokuma falando que, depois desse caso, não iria mais inventar motivos para nós.
Louise: Você acha que é verdade? - claramente, Louise não acreditava nisso, mas apenas queria um conforto temporário.
Thomas: Eu acredito que deve haver um pouco de verdade, naquela afirmação. - suspirou – Vocês só precisam continuar tentando. Com determinação e vontade de viver, pelo menos vocês terão uma chance. - pausou – Não é isso que vocês mais querem, as suas vidas de volta?
Naomi: Sim. - choramingou.
Thomas: Então vamos terminar isso de uma vez. - voltou-se para Monokuma – Agora, você já pode começar a votação.
Monokuma: Finalmente, que demora! - reclamou – Todos estão de acordo? - todos que estavam presentes no salão assentiram, menos Yui – Preparem-se todos, pois está na hora da votação!
Como eu já esperava, meu tablet começou a vibrar, e eu, avidamente, retirei-o de meu bolso e, ao ver que o aplicativo de votação já estava aberto, cliquei sem hesitação na figura de Thomas, sabendo que eu fazia a escolha certa. Agora, eu estava tranquilo, sabendo que as duas meninas haviam sido convencidas por Thomas, e agora votariam nele como culpado. Na pior das hipóteses, nós teríamos uma votação quatro contra dois, o que seria uma vitória para mim.
Segundos depois, o aplicativo exibiu a máquina caça-níquel, a qual girou a role até que as três casas parassem, na figura com o rosto de Thomas. Meus pulmões voltam a funcionar, ao saber que a votação havia dado certo, e a maioria, de fato, votou no coveiro. Felizmente, eu viveria mais um dia.
Monokuma: Vocês estão corretos novamente! - comemorou, em voz alta – O assassino desse caso é Thomas Morgan! Em uma votação inédita de cinco votos certos, contra um para Yui Yoshida!
Após a fala de Monokuma, tudo ficou em silêncio. Alguém insistiu em tentar executar todos, deixando Thomas como o único sobrevivente. Nós sabíamos quem havia feito isso, aquele que ficou sem palavras, desde que o coveiro apareceu no elevador. Ninguém sabia o que falar para essa pessoa, com medo dela enlouquecer e tentar algo imprudente.
Thomas: Yui. - Thomas chamou, sem medo do que o ruivo pensaria – Por que você tentou tão enlouquecidamente, salvar-me?
Yui: Porque, se um de nós fosse sobreviver, eu queria que fosse você. - ao ver que não foi compreendido, Yui continuou – Você salvou a minha vida e, em seguida, tentou sacrificar-se para que todos nós sobrevivêssemos. Nós, pessoas que você nem ao menos conhece direito. - Yui balançou a cabeça – Em apenas um ato, você mostrou-se a pessoa mais incrível que eu conheci, até hoje. Por isso, eu julguei que você merecia sobreviver.
Thomas: É estranho você falar isso, mesmo sabendo a verdade sobre mim, durante todo esse tempo. - fiquei intrigado ao ouvir isso.
Yui: Então você sabia. - disse, surpreso.
Albert: Do que vocês estão falando? - não aguentando mais os enigmas, perguntei, de uma vez.
Thomas: Bom, imagino que não tenha problema eu falar isso para todos, agora. - Thomas deu de ombros – Eu não o Coveiro de Nível Super Colegial. Na verdade, fui titulado como o Assassino de Aluguel de Nível Super Colegial.
Louise: Então você é como Lilian e Sayuri! - ressaltou.
Kylie: Você não parece um assassino. - disse Kylie, tentando não soar ofensiva.
Thomas: A verdade é, em toda minha vida, eu apenas matei uma pessoa, sem contar Harry. - espera, ele não era o “superassassino”? - Eu fui criado só por minha mãe, esta que fazia parte de uma máfia contrabando de animais.
Albert: Ainda não vejo-lhe como um assassino de aluguel. - comentei, antes que a história terminasse.
Thomas: Como a mulher não importava-se comigo, ela deixou que a gangue criasse-me para que eu servisse-os como assassino. E assim, eu passei os primeiros anos da minha vida, sendo criado para matar. - esse treinamento explica como ele foi capaz de resolver grande parte dos casos, sozinho – No entanto, na primeira vez em que atirei na cabeça de alguém, eu senti uma enorme repulsa por mim mesmo.
Louise: E o que você fez depois disso?
Thomas: Eu fugi e abriguei-me na casa de meu avô. Felizmente, a máfia não correu atrás de mim, e logo esqueceram-se de mim. Com o tempo, eu tranquei essas memórias sombrias. No entanto… - Thomas passou para os eventos mais recentes – Quando eu fiz o desafio do pesadelo, no terceiro andar, todas essas memórias horríveis voltaram para minha mente.
Naomi: E o que era o desafio? - perguntou, curiosa.
Thomas: Basicamente, eu tive que beber um alucinógeno. Aquela coisa fez todas as paredes derreterem, fazendo-me voltar para os meus piores dias. - falando assim, parece que esse desafio foi feito justamente para Thomas. Entretanto, eu senti que havia algo mais sobre isso, o qual Thomas não sentia-se confortável para falar para nós.
Kylie: Então é por isso que você ficou tão depressivo, durante os últimos dias. - Kylie fitou o garoto, com compaixão.
Thomas: Depois de lembrar-me daquilo, eu perdi completamente minha vontade de viver. Tudo o que eu queria era que alguém escolhesse-me como alvo de assassinato, e acabasse de vez comigo. - ele cruzou os braços – Mas então, ver vocês tão determinados a sobreviver, lutando cada dia para conseguir suas vidas de volta, fez-me perceber que a vida é muito mais preciosa, do que as memórias do passado.
Yui: Thomas… - murmurou, em um tom deprimente.
Thomas: Eu não podia deixar vocês, que agarraram-se durante esse tempo, na esperança de sobreviverem, simplesmente morrerem. Principalmente Yui que, desde o momento em que chegamos aqui, fez o melhor que pode para tentar salvar todos. - o garoto caminhou até o ruivo, colocando a mão em seu bolso e tirando de lá, o que parecia ser a chave de um carro, ou um maquinário, porém, com um formato ainda mais estranho – Por você ter sobrevivido até agora, eu quero que você fique com isso. - disse, entregando o aparelho para o garoto.
Monokuma: Ei! - exclamou, irritado – O que é isso!?
Thomas: Acho que você já sabe o que é, certo? Aquela coisa que eu roubei de você! - relembrou, em um tom de deboche – Você não imaginou que, ao dar-me acesso a todo lugar do campus, por ter ganho o desafio do pesadelo, eu seria capaz de conseguir algo importante de você.
Monokuma: Seu…! - Monokuma colocou suas garras amostras, sob seu macacão – Eu deveria pegar essa coisa da sua mão de Yui agora, e mandá-lo direto para a punição. No entanto… - o urso acalmou-se – Eu não ligo. Você não conseguiu utilizar isso durante todo esse tempo, agora, vocês terem isso não incomoda-me tanto.
Yui: Como eu devo usar isso? - sussurrou, esperando que Monokuma não ouvisse.
Thomas: Eu não sei ao certo. - respondeu, de maneira simples – Mas a única coisa que eu sei é que essa “chave” tem a capacidade de derrubar, os sistemas de Monokuma.
Monokuma: Então você sabe para o que serve, pelo menos, mais ou menos. - ele riu – E pensar que, por um descuido meu, eu quase deixei que esse jogo acabasse muito mais cedo. - o urso voltou sua cabeça robótica para o assassino. Então, essa chave, de fato, tem a capacidade de acabar com esse jogo – Não pense que eu deixarei sua transgressão passar em branco.
Yui: O que você vai fazer!? - indagou aflito, com a voz cada vez mais falha.
Monokuma: Você sabe muito bem o que eu vou fazer! - chacoalhou em antecipação – Eu preparei uma punição muito especial para o “Coveiro de Nível Super Colegial”, Thomas Morgan! Ou melhor, para o “Assassino de Aluguel de Nível Super Colegial”!
Thomas: Então, eu imagino que esse seja o fim. - por uma última vez, ele olhou para Yui – Antes de começar, eu quero fazer uma última coisa para que eu possa descansar em paz.
Sem que ninguém esperasse, o rosto de Thomas aproximou-se do de Yui. O ruivo, surpreso, não soube o que fazer e deixou-se levar pelo momento. Thomas continuou a chegar mais perto, até que os lábios dos dois garotos encontraram-se, selando o momento em um beijo caloroso, o qual fez os dois fecharem os olhos. Os braços de Yui entrelaçaram-se na cintura de Thomas, como se implorasse que o outro não fosse embora. Eventualmente, o momento chegou ao fim, e Thomas saiu de perto do mixólogo para direcionar suas últimas palavras para nós. Todos nós.
Thomas: Eu quero que vocês lembrem-se sempre que, dentro de cada um de vocês, há um espírito que deseja viver. Portanto, nunca deixem esse urso fazê-los desistir de tudo. O poder dele sobre vocês está quase acabando, tudo o que vocês tem que fazer é ter um pouco mais de paciência e esperança. - até o último momento, o garoto olhou para nós, como se estivesse tentando imprimir nossos rostos em sua cabeça, para que seus últimos momentos não sejam tão dolorosos.
Monokuma: Vamos dar tudo o que nós temos, é hora da punição! - gritou escandalosamente, já sacando seu martelo.
Sem hesitar, o urso bateu com o martelo, no botão vermelho que aparecera na sua frente. Dado isso, o chão abaixo de Thomas abriu-se em um alçapão, fazendo com que o garoto caísse para o fundo desse salão horrível. Nós apenas assistimos o garoto sumir naquele buraco escuro, e então o alçapão fechar-se de uma vez, parecendo que nada havia acontecido ali.
Quando nós tiramos o foco do chão, notamos que Monokuma já havia desaparecido. As luzes finalmente acenderam, substituindo aqueles lasers coloridos. Claro, a claridade tinha um propósito, facilitar a nossa visão, na hora de ver a punição de Thomas. Os telões de LED abaixaram e ligaram automaticamente, já exibindo o título da execução de hoje.
*
Ghost in a Can
Execução do Coveiro/Assassino de Nível Super Colegial
*
Thomas encontrava-se preso, dentro de um lugar escuro e apertado, onde tudo o que conseguimos era seu rosto que estava sendo focado pela câmera. A tela passou a exibir o lado de fora, o que tratava-se de um belo campo gramado, com algumas lápides postas, uma bem distante da outra. Monokuma estava pilotando um guindaste, o qual erguia um caixão de chumbo, contornado por correntes de ferro. Thomas estava ali dentro, provavelmente sem saber o que acontecia, do lado de fora. O guindaste então moveu o caixão, para cima um enorme e profundo buraco no chão.
De uma vez, o urso soltou o caixão, fazendo-o cair até o fundo do buraco. Foi uma longa queda, mas eventualmente, Thomas conseguiu chegar ao fundo. Dentro do recipiente, o coveiro sentiu a queda terminar, com uma brusca pancada. Lá em cima, o guindaste começou a mover freneticamente objetos pesados para o buraco, e depois largá-los, fazendo-os cair em cima do caixão onde Thomas estava.
Primeiro, um carro foi jogado no buraco, em seguida, um contêiner, depois uma enorme árvore. A tortura segue, empilhando cada vez mais coisas pesadas, em cima do caixão. A cada colosso, Thomas sentia um tremor. Um avião, um navio, um tanque de guerra, uma casa inteira e até mesmo o que parecia ser um meteoro. Abaixo do solo, Thomas começou a sentir as paredes do caixão racharem.
O empilhamento continuou, até que a pilha ficou tão grande a ponto de chegar ao nível do solo. Nesse momento, o guindaste deu um toque final, colocando uma pequena rosa no topo, em homenagem ao enterrado. O caixão já estava no seu limite, e bastou o peso da delicada flor para que ele cedesse, esmagando Thomas com tudo e matando-o de uma vez.
Quando achamos que tudo já havia acabado, acima do buraco, uma luz azul mística tomou forma. O espírito de Thomas apareceu, na frente das câmeras, pronto para ir ao outro mundo. Antes que o fantasma pudesse fazer qualquer coisa, Monokuma apareceu, vestindo um colete bege e portando um aspirador de pó nas costas.
Monokuma pulou na frente do espírito, ligando seu aspirador de pó que apontava para ele. Thomas começou a ser sugado com toda força para dentro. O puxão era tão potente que tudo o que o espírito pode fazer foi exibir uma expressão de extrema frustração, antes de ser puxado para dentro da mangueira.
O urso desligou o aparelho e tirando-o de suas costas, abriu um compartimento na base. De lá, ele retirou uma latinha, a qual parecia ser usada para vender molho de tomate. Sem nenhum tipo de respeito, Monokuma jogou a lata para o lado, como se fosse um pedaço de lixo qualquer.
Os telões finalmente desligaram, indicando que a execução havia acabado. Apesar da brutalidade da punição, eu não sentia-me pesado ou triste. Pelo contrário, eu sentia-me extremamente determinado e renovado, preparado para encarar qualquer loucura que Monokuma jogasse contra nós. Perguntei-me se era apenas eu que estava dessa maneira, mas ao olhar em volta, percebi que os outros demonstravam a mesma expressão de esperança no rosto.
Esse era o desejo de Thomas. Nós não devíamos ver a sua morte com tristeza, mas sim como um combustível para fazer-nos seguir em frente. De fato, esse jogo estava quase no fim, e todos nós sabíamos disso. Não havia mais como Monokuma negar que ele não estava em apuros. Chegou a hora de finalmente o confrontarmos, e dá-lo um ultimato.
Monokuma: Espero que ninguém abra aquela lata tão cedo. - comentou, sem perceber que olhamos diretamente para ele.
Yui: Então Monokuma. - Yui foi o primeiro a falar – Seus motivos acabaram, nós temos essa chave que pode acabar com todos os seus planos, e sua ajudante está morta.
Monokuma: Minha ajudante? - indagou, confuso – Ah, você está falando de Penélope! Ela nunca foi minha ajudante!
Louise: Nunca foi!? - todos nós surpreendemo-nos.
Monokuma: Não mesmo! - negou – Não sei de onde vocês tiraram essa conclusão!
Kylie: De qualquer forma! - Kylie deu sequência – Seu jogo está quase no fim! Conte para nós toda verdade, e deixe-nos sair de uma vez!
Monokuma: Você realmente acha que vai ser tão fácil assim? - provocou – Contudo, eu admito, o programa de intercâmbio está quase chegando ao fim. - falou, tristemente – Se vocês querem tanto sair, então eu darei uma oportunidade para vocês, se… - pausou dramaticamente.
Albert: Se o que!? - pressionei, impaciente.
Monokuma: Se vocês encontrarem o motivo secreto! - ele gargalhou.
Naomi: O motivo secreto? - pensou – Você está falando do motivo do último caso? Eu pensei que você tinha removido ele!
Monokuma: Ele nunca foi embora. - continuou a rir, só que em um tom mais baixo.
Louise: Eu topo! - Louise deu um passo para frente – Se isso significar sair daqui com todos vivos, eu acharei esse motivo e neutralizarei ele!
Monokuma: Como são determinados. - ele encarou cada um de nós, com seu olho vermelho brilhante – Está bem. Eu prepararei um último julgamento de classe, com algumas regras especiais. Quando vocês acharem o motivo secreto, eu explicarei tudo melhor para vocês.
Albert: Então diga-nos, onde está o motivo secreto!? - ordenei, esperando que ele obedecesse-me.
Monokuma: Dizer onde, ou o que é o motivo secreto, acabaria com toda a diversão. - protestou – Entretanto, se vocês estiverem com dificuldade para achá-lo, pensem bem, em qual era exatamente o plano de César.
Naomi: O plano de César? - indagou – O plano dele de assassinar Penélope, com a bomba?
Infelizmente, Naomi não recebeu sua resposta, pois Monokuma havia desaparecido como de costume, deixando-nos sozinho no salão. Vendo que não havia mais sentido ficar aqui, encaminhamo-nos para o elevador, calmamente, prontos para voltar ao campus sobre o solo.
O dia de hoje fora repleto de emoções, sendo a maioria delas simplesmente tristeza e melancolia. Contudo, agora finalmente conseguimos achar a esperança que havíamos perdido, durante os últimos dias. Esse inferno está colapsando, e o nosso sofrimento finalmente chegando ao fim.
Se sairmos daqui juntos, não será o final que sempre desejando, pois ainda assim, muitos perderam a vida entre essas grades. Porém, essas mortes não devem acorrentar-nos a derrota, pois ainda temos nossas vidas para lutarmos por. Thomas está morto, mas sua mensagem final foi a de sobrevivência. Ele estava certo, nossas vidas eram preciosas de demais para deixarmos esse urso estragá-las.
O fim estava próximo, e eu já sabia de uma coisa: Nós iremos sobreviver.
Estudantes restantes: 5
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