Alguns minutinhos depois do horário combinado, por volta de oito da manhã, Ino encontrou com Karin e Anko, que já estavam aguardando-a na porta da delegacia. Não demorou para que as três estivessem dentro de um carro, à caminho da residência do falecido cientista. O enterro estava marcado para as onze da manhã.
O silêncio imperava, o clima não estava nem mesmo minimamente amigável. Uma policial e uma jornalista investigativa vigiando uma criminosa, atentas a cada um dos movimentos dela. Diante de tal cenário, só poderia prevalecer a tensão.
Por mais curto que fosse o trajeto, pareceu durar uma eternidade para as três ali.
Passados quinze minutos, elas adentraram a residência do falecido Orochimaru.
Karin não permitiu que Anko se prolongasse na sala ou na cozinha, uma vez que a prisioneira poderia muito bem saber onde encontrar objetos afiados naqueles cômodos. A policial não deveria dar a menor brecha para uma possível rebelião ou fuga.
Ino as seguia, tirando fotos e escrevendo algumas notas. Vez ou outra tentava fazer certas perguntas para Anko, relacionadas ao pai dela e à morte dele. Todavia, a cientista não se mostrou aberta a responder nada sem a presença de um advogado, não colaborou com a jornalista.
No quarto, foi Karin quem abriu o guarda-roupa e selecionou o que Anko vestiria no enterro, bem como foi a própria policial também que pegou toalha e outros itens de higiene pessoal. Durante o banho da prisioneira, Karin iria se manter frente à porta entreaberta do banheiro, atenta a qualquer som que pudesse ser suspeito.
Aparentemente, tudo estava sob controle e Anko de fato estava disposta a cumprir com o acordo de se comportar. Karin e Ino quase chegaram a relaxar um pouco, pelo menos até o momento em que as luzes da casa se apagaram e a energia acabou. O chuveiro parou.
Imediatamente as duas invadiram o banheiro para certificar-se de que Anko não se aproveitaria da situação para fugir pela janela ou algo assim. Era difícil de ela ter conseguido isso, mas com algum auxílio, seria plausível.
No fim das contas, as duas se deparam apenas com a mulher enrolada na toalha e uma expressão de fúria.
— Droga! Tanto tempo tomando banho naquele lugar horrível, e quando finalmente tenho um momento de razoável privacidade, com produtos de higiene decentes, essa merda acontece. — Anko pestanejou entredentes, com os braços cruzados.
Karin se aproximou rapidamente de Ino e colocou algo no bolso do casaco dela.
— Preciso investigar do que se trata. Tá parecendo coincidência demais, deve ter mais alguém por aqui. — a policial anunciou para a jornalista. — Sendo assim, fique de olho nela e se necessário, use isso aí que deixei contigo.
Ino assentiu, sem hesitar. Todavia, não estava nada confortável com aquela situação e esperava não precisar usar o objeto ao qual Karin se referiu. Tratava-se de uma faca pontiaguda e afiada.
Anko já estava vestida, sentada no vaso sanitário com expressão de tédio e mau-humor.
Enquanto aguardava o retorno de Karin, Ino encontrava-se num dilema interno.
Se por um lado a sua maior responsabilidade naquele momento era ficar alerta a cada um dos movimentos de Anko, por outro sua veia de jornalista pulsava, de maneira que dentro dela estava grande a vontade de ser simpática para tentar arrancar informações sobre a prisioneira e sua relação com o falecido pai.
No fim das contas, não foi preciso que Ino tomasse uma decisão... Antes mesmo disso acontecer, Anko acabou por puxar assunto:
— Você que é a namorada do delegado? — a cientista perguntou, deixando Ino surpresa. Como era possível esse questionamento partindo de uma pessoa que estava presa já havia alguns meses?!
— Quem te disse isso? — Ino, propositalmente, não respondeu.
A outra riu com deboche, incrédula com a ingenuidade de Ino.
— As companheiras de cela conversam, sabia? E o Sasuke é muito desejado por onde passa, inclusive entre as prisioneiras. Elas estão sempre observando e fofocando sobre ele.
Ino não conseguiu ficar à vontade com aquela conversa e manteve-se o tempo todo com uma mão próxima ao bolso no qual Karin deixara a faca antes de ir investigar o apagão.
— Sim, sou namorada dele. — a jornalista por fim respondeu, pensando que aquela não era como se fosse uma informação tão relevante e ultrassecreta. Além disso, nem mesmo adiantaria negar, já que Anko havia perguntado sabendo qual era a resposta.
— Também circula um burburinho de que esse é um amor de adolescência, que foi interrompido e agora retomado. Parece até coisa de filme romântico clichê, uma gracinha. — Anko comentou, sorrindo de uma maneira esquisita. — Sabe, eu também tenho uma história parecida... Quer saber?
Ino olhou para ela, analisando com atenção a expressão dela. A jornalista ficou surpresa ao identificar certa ansiedade ali. Concluiu que a prisioneira realmente desejava contar-lhe essa história. Seria alguma pista referente à morte do pai dela ou à acusação que recebeu?
— Acho justo, já que você aparentemente já sabe muito sobre a minha história. — Ino disse de maneira casual, sem deixar transparecer o quão curiosa estava.
Entretanto, antes que Anko começasse a falar, Karin anunciou o seu retorno.
— Cheguei. Percorri a casa toda e os arredores. Não encontrei ninguém suspeito, nem nenhum vestígio da presença de alguém. Aparentemente foi uma comum queda de energia.
Sem dar muita atenção à volta da colega, Ino se dirigiu à Anko:
— E então? O que você ia me dizer?
Anko cruzou os braços e franziu o cenho, demonstrando contrariedade.
— Não vou dizer mais nada. Não gosto dessa Karin, não confio nela.
Ao ouvir tais palavras, a jornalista respirou fundo, tentando ter paciência e reviver o momento de confidências entre elas. Todavia, Karin não colaborou... A policial fuzilou a prisioneira com o olhar.
— Cale a boca e se coloque no seu lugar.
Depois desse momento de tensão entre as duas, Anko não disse mais nada e apenas deu continuidade em seu banho. Logo após ela ficar pronta, as três já iriam ao cemitério.
Enquanto aguardavam, Ino não pôde deixar de ficar intrigada. O papo com Anko não pareceu-lhe vazio ou sem significado. “Qual é o objetivo por trás dessa conversa?”, a jornalista pensava.
...
O dia estava ensolarado, bastante quente.
Num cemitério cercado de grandes árvores é que o caixão de Orochimaru seria enterrado.
Nos portões de entrada, seguranças da prefeitura – se passando por porteiros do cemitério – estavam entregando uma lembrancinha para aqueles que chegavam no enterro: um pingente em formato de tubos de ensaio, sob o pretexto de que aquele presente serviria para manter viva a memória sobre o cientista.
Entretanto, dentro de cada um deles havia uma escuta, ligada diretamente ao setor de Inteligência da polícia de Konoha. Dessa maneira, os funcionários da delegacia estavam aptos a ouvir todas as conversas, e, sempre que necessário, reportariam aos policiais em campo para que se aproximassem dos envolvidos em diálogos suspeitos.
Faltava apenas cinco minutos para a cerimônia começar.
Naquele dia, Ino não seria a única jornalista. A imprensa teve autorização para cobrir esse acontecimento. Muitos dos repórteres entrevistavam Kabuto, Izumi e outros funcionários do CPEC que lá estavam. A maior vontade dos profissionais da mídia era conseguir falar com Anko e com os policiais envolvidos na investigação, mas não tinham permissão para fazê-lo.
Nesse evento, Ino não tinha nenhum tipo de função dupla. Encontrava-se trabalhando apenas como uma simples repórter; com a diferença de que se desejasse entrevistar a filha do falecido cientista, bem como o superintendente, o delegado e seus funcionários, ela poderia.
Além de que também tinha no ouvido um fone, conectado ao dos outros policiais, já que o seu envolvimento com o caso a colocava em certo risco. Era uma forma que Sasuke tinha arranjado para estar sempre verificando o seu estado.
A jornalista vagava despreocupadamente por toda a extensão do local, tirando fotos, conversando, anotando tudo.
O delegado, o irmão mais velho e sua equipe apenas observavam atentamente cada um dos que lá estavam presentes, seguindo as orientações que recebiam por parte do setor de Inteligência. Todavia, novamente Sasuke tinha a sua própria missão secreta. Contudo, nem mesmo Itachi estava a par dessa vez.
O chefe da polícia tinha já uma desconfiança, quase que uma certeza, acerca do verdadeiro culpado. Na verdade, se a hipótese dele estivesse correta, havia mais de uma pessoa envolvida nesse crime.
Também, segundo suas teorias, os responsáveis pela morte de Orochimaru iriam se aproveitar da cerimônia para escapar. Por esse motivo, Sasuke fizera uma solicitação a Naruto, pedindo por reforços, ao que o prefeito concordou. Assim, seguranças da prefeitura cercavam todo o espaço do cemitério.
No exato horário marcado, funcionários da funerária adentravam o cemitério carregando o caixão e se aproximaram do local no qual encontrava-se a cova para enterrá-lo.
Um padre, contratado por Kabuto, tinha a função de dizer algumas palavras de despedida para a alma de Orochimaru e de conforto para os que ficaram.
Diante desse cenário, a cerimônia oficialmente teve início.
— Estamos reunidos aqui hoje para nos despedir de um grande ser humano, não só em nível profissional, como também pessoal. Muitos foram os seus feitos na ciência em prol da humanidade. E, pasmem, embora Orochimaru fosse um cientista renomado, tinha uma religião. Eu era o padre na igreja que ele frequentava. Ao contrário do que maior parte da população pensa a respeito dele, pude comprovar com meus próprios olhos que era um homem generoso, de bom coração.
Esse comentário do padre gerou reações diversas: algumas pessoas não conseguiram conter risos irônicos... outros, entretanto, concordaram com o que o religioso dizia.
Os policiais, devidamente posicionados seguiam as coordenadas recebidas no fone de ouvido e observavam com atenção todos ali.
De última hora, com a cerimônia já em andamento, uma mulher e uma criança se aproximavam do local no qual o enterro acontecia. No instante em que os viu, Sasuke acreditou que suas hipóteses estavam prestes a ser confirmadas.
A moça estava vestida de maneira bastante formal e tinha entre os braços uma pasta de couro. A criança ao lado dela possuía olhos em tom caramelo, e os cabelos em uma coloração branca, exótica para alguém de tão pouca idade.
— Ino? — ele perguntou, contando que a namorada o ouviria pelo fone de ouvido.
Ela respondeu de prontidão:
— Estou ouvindo.
— Certo. Viu aqueles que acabaram de chegar, não é mesmo? Vá rapidamente e os leve até um local reservado, onde outros repórteres não possam chegar.
— Me parece meio estranho, mas ok, vou fazer isso. — logo após dizer tais palavras, Ino pôs-se a cumprir com a ordem do delegado.
A mulher e a criança concordaram facilmente em acompanhá-la a um lugar mais calmo. O objetivo deles, aliás, era exatamente esse... Que alguém da imprensa estivesse disposto a ouvir a história que tinham para contar.
Então, os três se locomoveram de maneira discreta até uma lanchonete que havia no cemitério. Naquele momento, além deles, só havia os funcionários ali.
As adultas pediram café e a criança um milk-shake.
Uma vez que receberam seus pedidos e estavam devidamente acomodados, a conversa teve início:
— Muito prazer, eu me chamo Ino Yamanaka e, como podem perceber por essa grande bolsa e a minha câmera, sou jornalista. — ela disse, no habitual tom de simpatia, acompanhado por um sorriso nos lábios.
Os outros dois sorriram de volta para ela e se apresentaram também.
— Eu me chamo Kurenai, sou assistente social. — disse a mulher, dona de longos fios pretos de cabelo e de olhos em um tom de vermelho bastante intenso.
Percebendo que o menino ao seu lado encontrava-se bastante envolvido com o milk-shake que tomava, Kurenai decidiu apresenta-lo:
— Esse aqui é o Mitsuki, uma criança que vive no orfanato que eu administro.
— Certo. Embora me pareça um pouco óbvio, após essas apresentações, preciso que você me diga: qual a relação de vocês com o Orochimaru? O que os traz aqui hoje? — Ino perguntou, já com o caderninho em mãos. O olhar analítico da jornalista se alternava entre Kurenai e Mitsuki.
— Bom, o Mitsuki seria adotado por ele, faltava pouco para concluírem o processo. Orochimaru fazia visitas regulares ao menino, sempre supervisionadas por mim. Ao que tudo indicava, o dono do CPEC estava em busca de um herdeiro pra empresa dele. Sempre ficava conversando com o futuro filho sobre ciências, pesquisa, levava para as visitas tubos de ensaio e ingredientes básicos para ocasionar reações químicas.
Ino reagiu com surpresa e arqueou levemente as sobrancelhas.
— Futuro herdeiro?! Mas eu ouvi dizer que ninguém herdaria o CPEC, que haveria todo um processo seletivo para decidir quem se tornaria o responsável lá. Além disso, ainda assim... E quanto a Anko? — foram os questionamentos imediato por parte da jornalists.
— Isso tudo era balela que o Orochimaru contava para se preservar. Inclusive, nem mesmo a filha dele soube disso por muito tempo. Foi o namorado dela quem teve conhecimento disso e contou para ela. – Kurenai contava tudo sem nenhum embaraço. – De qualquer forma, a relação entre a Anko e Orochimaru não andava bem, segundo ele mesmo me contava, pelo menos pelos últimos dois ou três anos. Tinham muitas divergências quanto a condução do CPEC, experimentos em humanos ou animais, sobre os limites para a ciência, etc.
— Entendo. Havia ainda algumas dúvidas ainda quanto a culpa de Anko nessa situação com os sequestros e o uso de humanos para testes, mas isso não só confirma que ela é responsável por esse crime quanto me leva a acreditar que matou o próprio pai, também.
Kurenai assentiu, concordando com as colocações de Ino.
— Enfim, vim aqui justamente na intenção de falar com um jornalista e chamar a atenção dos policiais. Acredito que devam investigar mais profundamente a morte do Orochimaru e não descartar a possibilidade de assassinato.
Embora Ino desejasse revelar para Kurenai que já estavam fazendo-o, precisava manter o sigilo. Contudo, quanto mais ouvia a mulher, mais sentia que peças de um quebra-cabeça iam se encaixando.
Kurenai falou bem baixinho:
— E o namorado da Anko tá envolvido nisso tudo também, viu? Por favor, fale com algum policial sobre isso.
Ino estava prestes a fazer a próxima pergunta, quando identificou nos rostos de Kurenai e de Mitsuki expressões de pavor. Não demorou para que ela sentisse algo gelado pressionando sua cabeça.
— Que desperdício precisar te matar! Se tivesse aceitado o meu convite no passado, talvez hoje não estaria nessa situação.
A jornalista sentiu calafrios e palpitações aceleradas ao ouvir a voz de Kabuto, e também deduzir que o objeto pressionado contra ela tratava-se de uma arma.
— Larga essa arma e se afaste da Ino imediatamente. — quem disse tais palavras foi Sasuke, que imediatamente chegou no local apontando uma pistola na direção do cientista. A voz grossa e forte dele encontrava-se levemente trêmula ao se deparar com aquela cena.
Kabuto, entretanto, movimentou-se velozmente e conseguiu mudar a própria posição e a de Ino, colocando-a à frente dele, entre o cientista e o delegado.
Sasuke chegou a calcular como atirar em Kabuto sem comprometer Ino, mas o risco era muito grande para fazê-lo. Se o cientista se mexesse novamente, seria bem possível que o tiro acabasse atingindo a jornalista.
No curto tempo em que o chefe de polícia analisava a situação, Kabuto se aproveitou dos dilemas que o homem enfrentava e logo atirou na região da costela de Ino.
Saiu correndo desesperadamente, enquanto que Sasuke ficou paralisado por alguns segundos. Precisava socorrer a namorada, mas também necessitava de ir atrás do bandido e acabar com ele, especialmente depois de ter atirado naquela pessoa tão preciosa para o policial.
— Você, mulher, chame uma ambulância com extrema urgência e não saia do lado dela nem por um segundo que seja até que os médicos e outros policiais cheguem aqui. — após sair do estado de choque, o delegado ordenou para Kurenai. Ela assentiu, ainda atordoada com o que tinha acontecido. Foi tudo tão rápido! E em algum nível, se sentia culpada.
—Vai logo atrás dele! — pediu Ino, com o pouco de força e consciência que lhe restava naquele momento. – Não aceito que esse tiro seja em vão.
Sem mais hesitar, Sasuke foi atrás de Kabuto sentindo o peito ferver. Em partes por medo e tristeza, porque não suportaria novamente perder alguém que amava... Depois da morte dos pais, acreditou que nunca mais amaria ninguém ao ponto de sentir essa dor novamente. Entretanto, lá estavam esse amor e essa dor, dominando-o novamente.
A outra parte do coração dele encontrava-se incendiada pelo ódio. Não permitiria que aquele lixo humano saísse impune. Não como os bandidos que assassinaram os seus pais no passado saíram. Se tornou policial para privar que outras pessoas tivessem essa sensação de que a justiça não seria feita. Agora, se via numa posição de poder fazer essa justiça acontecer. Mas, droga! Como era difícil precisar deixar para trás a sua amada gravemente ferida para conseguir realizar tal objetivo.
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